Comentando o adeus do Arcebispo – 05

5 – O dia em que a prefeita não pôde comungar & “Colocá-lo após dom Hélder foi uma grande burrice”

Desta vez, nem é necessário falar muito. Os próprios artigos do JC redundam em elogios ao Arcebispo, pelo fato de que atacar um vício é enaltecer a virtude oposta. Ao “condenarem” Dom José Cardoso por ele fazer coisas que um Bispo Católico poderia e deveria fazer, isso é motivo de honra para Sua Excelência e de júbilo para os católicos verdadeiros.

Por exemplo, quando foi dito à prefeita comunista de Olinda que ela não poderia comungar. É claro que ela não pode, por ser comunista, dado que a comunhão é para os católicos e ninguém pode ser comunista e católico ao mesmo tempo. E não se trata de pecado oculto, senão de manifesto – posto que a opção política da prefeita de Olinda é pública – de modo que a comunhão pode e deve ser negada. O jornal chama isso de gesto pequeno e (…) uso da autoridade para fazer valer a sua vontade; mas os católicos sabem que se trata de um gesto eloqüente de fidelidade à missão de Pastor. Aplausos para Dom José!

O mesmo no que se refere à igreja das Fronteiras. Pouco importa se ela é símbolo maior do arcebispado de Dom Hélder ou não; o fato é que ela pertence à paróquia da Soledade e procurar conhecer os seus fiéis é uma prescrição feita ao pároco pelo Direito Canônico (cf. CIC 529 §1), sendo a coisa mais natural do mundo que o novo pároco da Soledade fosse até a igreja das Fronteiras. Aliás, o antigo pároco, quando soube do afastamento, fez um escândalo e, na homilia, garantiu que, se pudesse, dava uma surra no bispo e ameaçou voltar para a comunidade (…) quando dom José (…) se aposentar… isto poderia explicar porque o grupo de leigos das Fronteiras marcou posição e botou o padre para correr. Apesar das semelhanças, padre Renaldo – ao contrário do que eu supus a princípio – não era o responsável de facto pela igreja das Fronteiras (embora, por ser o pároco, fosse-o de direito). Mas, pelas atitudes das ovelhas, é possível imaginar o que elas estão aprendendo do pastor. Lamentável.

Por fim, o jornal tenta ridicularizar o arcebispo expondo um acidente que ele sofreu, [n]o enterro de dom Francisco Austregésilo, bispo emérito de Afogados da Ingazeira. Na versão impressa do jornal, há até uma foto! Qual é a relevância desta informação, ainda publicada com os gracejos do articulista? Expôr o Arcebispo ao ridículo, somente. Quando não há mais o que se falar, a zombaria pura e simples é o artifício do qual lança mão o JC…

A seguir, uma entrevista com Frei Betto! Estranho seria se este projeto de religioso que envergonha São Domingos estivesse de acordo com o Arcebispo! A divergência é mais uma vez eloqüente: para os católicos verdadeiros, é mais um indício de que quem está com a razão é Dom José Cardoso. Afinal, frei Betto, só nesta entrevista, diz as seguintes pérolas:

Dom José é reflexo de uma profunda vaticanização que tem ocorrido no episcopado brasileiro.

Eu acho criminoso você hoje ser contra o preservativo, você facilitar a disseminação de um vírus mortal e que não tem cura como o HIV. E querer impor uma atitude moral que é muito própria da Igreja Católica, mas não é conveniente para o conjunto da sociedade.

Deus não tem religião e a obra dele vai continuar, seja com a Igreja Católica ou seja sem ela.

Não há necessidade de se fazer mais comentários. Só registro, por fim, uma confissão de frei Betto: perguntado pelo repórter se o sucessor de Dom José pode dar ao arcebispado a cara de dom Hélder, responde o “religioso”: [s]e houver suficiente pressão dos leigos e padres, talvez. É impressão minha, ou a imprensa recifense – o Jornal do Commercio, em particular – está justamente a serviço dessa “pressão” que deseja, para Olinda e Recife, uma igreja diferente da Igreja Católica?

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Anexo 1 – .O adeus do arcebispo

O dia em que a prefeita não pôde comungar
Publicado em 04.07.2008

Dom José está acostumado com as manchetes de jornais. Suas polêmicas ganharam destaque e repercussão na imprensa ao longo desses 23 anos. Alguns episódios, no entanto, foram mantidos em sigilo pelas pessoas atingidas para evitar ainda mais desgastes. O JC conta agora duas histórias que revelam muito da personalidade do frade carmelita. O primeiro é o caso do arcebispo e a prefeita comunista. O segundo, a tentativa de tomada do reduto de dom Hélder: a Igreja das Fronteiras. Em comum, o gesto pequeno e o uso da autoridade para fazer valer a sua vontade.Novembro de 2004. Procissão de São Salvador do Mundo, padroeiro de Olinda. Como fazia há anos, a prefeita Luciana Santos acompanhava a missa em homenagem ao santo. Estava num banco da igreja, quando um emissário do arcebispo de dom José Cardoso, chegou junto e cochichou ao seu ouvido. Trazia um recado constrangedor. Ela não deveria entrar na fila de comunhão. Por ser comunista, não acreditava em Deus e não tinha o direito de receber o corpo de Cristo. Véspera de eleição, Luciana, candidata à reeleição, preferiu não criar caso. Não entrou na fila para comungar, nem falou nada para a imprensa. Assistiu ao restante da missa e foi embora.

Quando chegou ao Recife, dom Hélder não quis a suntuosidade do Palácio dos Manguinhos para fazer sua morada. Preferiu a simplicidade da Igreja das Fronteiras, na Boa Vista. Pois foi esse lugar, símbolo maior do arcebispado de dom Hélder, que dom José quis tomar no ano passado. Quando tirou o padre da Igreja da Soledade e colocou em seu lugar um jovem recém-ordenado, ele enviou o novo pároco para conversar com os leigos que tomavam conta das Fronteiras. Como a igreja faz parte da paróquia da Soledade, o padre chegou dizendo que queria conhecer suas ovelhas e que a partir dali passaria a celebrar as missas na igreja de dom Hélder. O grupo marcou posição e botou o padre para correr. E até hoje as missas são celebradas pelo padre João Pubben, o mesmo que nos últimos de dom Hélder ajudou o arcebispo a abençoar seu rebanho.

Em outubro de 2006, no Sertão, foi a vez do próprio dom José Cardoso passar por uma situação delicada. Só que a presença de fotógrafos impediu que o fato fosse esquecido pela história. No enterro de dom Francisco Austregésilo, bispo emérito de Afogados da Ingazeira, dom José caiu na sepultura, depois de tropeçar num batente. E precisou de ajuda para sair do buraco.

Anexo 2 – O. adeus do arcebispo

ENTREVISTA » FREI BETTO
“Colocá-lo após dom Hélder foi uma grande burrice”
Publicado em 04.07.2008

[O] escritor Frei Betto diz que a Igreja precisa se penitenciar. Admitir que errou e que foi um retrocesso ter colocado um homem como dom José Cardoso numa arquidiocese como a de Olinda e Recife. E avisa: se a Santa Sé continuar defendendo um pensamento anacrônico, vai perder ainda mais fiéis.

JC – Dom José é criticado pelo desmonte que promoveu na arquidiocese. Mas suas ações representam o pensamento cada vez mais conservador da Igreja de Roma. Há como avaliá-lo sem analisar os rumos que a Igreja tomou?FREI BETTO – Não. Dom José é reflexo de uma profunda vaticanização que tem ocorrido no episcopado brasileiro. Do ponto de vista mais específico da Arquidiocese de Olinda e Recife, foi um grande equívoco, depois de um dom Hélder, colocar ali um homem que é a negação de tudo que dom Hélder representou e realizou. Analisando por um olhar de marketing, foi uma grande burrice. Porque não dá continuidade a uma obra. A Igreja fica se queixando do avanço das outras igrejas neopentecostais. Mas, antes de criticar, deveria se penitenciar do seu recuo, do seu retrocesso, quando nomeia um homem como dom José para ficar à frente de uma arquidiocese que foi encabeçada por um dom Hélder Câmara por tantos anos.

JC – A perseguição a padres foi uma das marcas do arcebispado de dom José. Como falar em perdão e tolerância numa Igreja que pune e não respeita as diferenças de visão pastoral?

FREI BETTO – É uma boa pergunta para ser feita a ele. Não sei se ele fará essa penitência. Não é compatível com o evangelho novo exercer uma função pastoral na base da perseguição, da injustiça, e até mandando a polícia para situações que poderiam ser resolvidas pelo diálogo, sobretudo considerando que os sacerdotes são filhos da Igreja e não inimigos. Mesmo que eles não estejam de acordo com seus pastores.

JC – Uma das últimas polêmicas de dom José foi se posicionar contra a distribuição de camisinha no Carnaval deste ano. Como manter um discurso conservador no momento em que questões como aids, gravidez precoce e célula-tronco são tão urgentes para a sociedade?

FREI BETTO – Eu acho criminoso você hoje ser contra o preservativo, você facilitar a disseminação de um vírus mortal e que não tem cura como o HIV. E querer impor uma atitude moral que é muito própria da Igreja Católica, mas não é conveniente para o conjunto da sociedade. Então eu acho que realmente é outro anacronismo que precisa ser vencido.

JC – Qual o futuro da Igreja no Brasil, um país desigual e cujo rebanho de católicos está encolhendo?

FREI BETTO – Depende de a Igreja ser capaz de fazer uma autocrítica, conseguir se libertar da hegemonia do modelo paroquial, que é um modelo pré-moderno, pré-urbano, que parte do princípio de que as pessoas se relacionam pela proximidade geográfica, quando hoje meu melhor amigo pode morar em Tóquio e eu posso sair dessa entrevista e falar com ele pela internet. E tenho talvez mais diálogo do que com meu vizinho. Enfim, a Igreja Católica tem que repensar seus métodos pastorais de evangelização e a sua postura nesse mundo pós-moderno. Caso contrário, vai continuar encolhendo. Felizmente, Deus não tem religião e a obra dele vai continuar, seja com a Igreja Católica ou seja sem ela.

JC – Como será o perfil do possível substituto de dom José?

FREI BETTO – Possivelmente, não será uma pessoa tão conservadora. Eu ouvi de cardeais conservadores, que não vou revelar o nome, que foi um equívoco ter nomeado dom José para o Recife, mas que não poderiam dar o braço a torcer. Então, possivelmente será um bispo moderado. Eu colocaria na lista de apostas um nome: dom Geraldo Lírio, atual arcebispo de Mariana e presidente da CNBB. Não me surpreenderei se ele for transferido para o Recife. É um homem moderado.

JC – Ele pode dar ao arcebispado a cara de dom Hélder?

FREI BETTO – Se houver suficiente pressão dos leigos e padres, talvez. Geraldo foi meu amigo em Vitória (ES), quando era padre. Nós trabalhamos juntos. Mas, às vezes, eu temo que a mosca azul esteja rondando Geraldo.

4 comentários em “Comentando o adeus do Arcebispo – 05”

  1. Eu nunca li tanta asneira na minha vida como na deste comentário ao caderno especial sobre Dom José Cardoso. É lamentável existirem católicos com tanta cegueira espiritual como o que redigiu estas linhas acerca da matéria do JC!

  2. Prezado Ricardo,

    As asneiras que constam nesta série de comentários que estou fazendo ao Caderno Especial do Jornal do Commercio vêm entre aspas ou em itálico – são citações literais do supradito jornal.

    Concedo que é repugnante lê-las, mas perdoe-me; após o jornal publicá-las, o mínimo que eu poderia fazer era expô-las tais e quais elas são. E o acréscimo ao número de pessoas que terão lido as asneiras do JC será pequeno, posto que, afinal, o número de leitores do Jornal do Commercio não tem nem mesmo comparação com o de leitores deste meu blog.

    Abraços,
    em Cristo,
    Jorge Ferraz

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