No mundo animal…

A coisa mais ridícula do mundo! Impressionante! Não conheço Paulo Rangel, mas é forço admitir que ele parece ser uma pessoa com extremo bom senso – coisa rara hoje em dia.

O “Blog ANIMAL – Em Defesa dos Direitos de Todos os Animais” lançou uma campanha na qual conclama os seus leitores a enviarem uma carta de protesto à presidência do Partido Social Democrata (partido português), em repúdio a algumas declarações do sr. Paulo Rangel numa entrevista que foi publicada no sábado passado. O que foi que o “Presidente do Grupo Parlamentar do PSD” fez para provocar o ódio dos defensores dos direitos de todos os animais? Bom, ele teve a ousadia de dizer algumas frases como:

– “Não faz sentido haver um Dia do Cão.”
– “Também não [faz sentido haver um Dia dos Animais]”.
– “Um cão nunca deixa de ser um cão. Trocaria a vida do meu cão pela vida de qualquer pessoa em qualquer lado do mundo, mesmo não a conhecendo. Uma pessoa vale sempre mais do que um animal.”
– “Os animais merecem protecção mas não são titulares de direitos.”
– “Não são eles que têm esse direito [de ser bem tratados e protegidos]. Nós é que temos essa obrigação.”
– “Para mim essa é uma concepção errada [a de que os animais devem ter direitos]. Acho que só as pessoas devem ser titulares de direitos.”
– “Os animais [também sofrem], mas não sofrem como nós.”
– “A caça ou as touradas, enquanto tradições com determinadas características e determinados limites, são toleráveis. Fazem parte da Cultura.”
– “Muitas tradições não acabaram e estas [caça e touradas] são daquelas que para mim não devem acabar.”
– “Faço uma separação ontológica entre as pessoas e os animais.”
– “Num contexto cultural devidamente integrado, certas tradições [como a caça e as touradas] – ainda que possam chocar algumas pessoas – são admissíveis. É a minha posição.”
– “Não sou contra [a exibição de touradas na RTP].”
– “Desde que devidamente contextualizado [a transmissão de touradas pela RTP, televisão do Estado, expondo as crianças à violência contra os animais], não vejo nisso qualquer problema.”
– “A menos que esteja em causa a extinção de espécies, não acho mal [utilização de peles para confecção de vestuário].”
– “A dignidade humana é um valor superior ao da dignidade dos animais. O Homem é ontologicamente diferente dos restantes animais.”

Ora, são afirmações completamente verdadeiras e impressionantemente sensatas. Como podem declarações deste calibre provocar manifestações de repúdio de quem quer que seja? No entanto, a carta de repúdio proposta pelo “Blog ANIMAL” (que nome adequado!) ainda tem a capacidade de questionar, como se estivesse diante de uma blasfêmia intolerável:

Como é possível alguém poder pensar desta maneira nos dias de hoje? Como pode, além do mais, um importante dirigente político e parlamentar ter uma visão tão pré-científica e racionalmente oca dos animais e da importância que têm? E, mais do que isso, como pode alguém que ocupe este cargo cometer o erro grosseiro e monumental de produzir declarações deste calibre e continuar em funções?

Isto deve ser uma piada de português, não é possível. A tal ANIMAL se define como “uma organização não-governamental de defesa dos direitos fundamentais dos animais não-humanos”. De fato, parece que os direitos dos “animais humanos” são completamente alheios à compreensão de mundo desta ONG nonsense. Eu simplesmente não acredito que alguém pode discordar de afirmações auto-evidentes como “[u]ma pessoa vale sempre mais do que um animal” e “[o] Homem é ontologicamente diferente dos restantes animais”. Ninguém está propondo o extermínio dos animais, a extinção das espécies, o sadismo puro e simples, nem nada disso – o sr. Rangel está apenas fazendo a (justíssima e devida) separação entre os animais e o homem. É incompreensível a revolta do Blog ANIMAL. No Brasil do projeto MATAR, no entanto, talvez haja necessidade de convidar Paulo Rangel para que ele faça aqui o discurso do óbvio… e, infelizmente, é até possível que os “animais” tupiniquins proponham algum repúdio parecido com o da ONG lusitana.