O disfarce dos lobos

Vindo sabe-se lá de qual recôndito do inferno, um certo “Anjo” apareceu aqui no Deus lo Vult! para defender o indefensável e contrariar a Igreja de Nosso Senhor no tocante ao homossexualismo. Lançando mão de um vazio jogo de palavras e citando “autoridades” desconexas da Igreja e a Ela frontalmente contrárias, pretende este sujeito ter autoridade de ensino e pregar a própria moral à margem da Moral Católica, apresentando-a no entanto como se fosse a mais pura expressão do Cristianismo.

A coerência é em si uma virtude, que se pode encontrar também entre aqueles que não cerram fileiras com a Igreja de Cristo. É coerente que um homossexual, que não queira renunciar aos seus maus hábitos, opte por não ser católico; no entanto, é profundamente indignante quando este homossexual, não contente em ter a sua própria concepção de mundo, quer negar à Igreja o direito de ter a Sua e, por meio de um palavrório vazio, tenta obscurecer a clareza da posição católica sobre o assunto e apresentar o anti-catolicismo como se catolicismo fosse. As “Católicas Pelo Direito de Decidir” fazem, sobre o tema do aborto, a mesmíssima coisa que o tal site da “Diversidade Católica” faz sobre o tema do homossexualismo: ambos os grupos de pessoas apresentam a própria visão de mundo (clara e insofismavelmente contrária à católica) como se fosse a visão da Igreja. Urge desmascarar os mentirosos.

O tal “Anjo” citou um artigo (desgraçadamente, da autoria de um padre) chamado “Eles também são da nossa estirpe”, publicado numa revista da Vozes da década de 60, no qual é apresentada uma “teologia” (i)moral completamente independente e destoante da Teologia Moral Católica. Convém insistir: uma coisa é a apresentação das próprias idéias como sendo próprias, e outra muito diferente é apresentá-las indevidamente como se fossem de outrem. Neste último caso, é fraude e engodo. É exatamente o que o padre Jaime Snoek faz no artigo citado.

Separemos desde logo os termos: a mera atração sexual por pessoas do mesmo sexo não é, em si, pecado. Quer isso seja chamado de “inclinação desordenada”, quer de “homofilia nuclear”, quer de “homossexualidade” [reservando “homossexualismo” para as relações sexuais], ou qualquer outra coisa. A nomenclatura utilizada para designar a coisa não muda a coisa em si; e, dentro do que ensina a Igreja, é muito clara a diferença entre “sentir” e “consentir”, não sendo passíveis de moralidade os atos que são involuntários. Não precisaria, portanto, o reverendíssimo sacerdote gastar tanto tempo na definição e utilização de termos estranhos ao leitor mediano, quando poderia simplesmente dizer as coisas de modo direto e acessível a todas as pessoas. Aliás, vale salientar que as discussões sobre a origem da “homofilia” e sobre as diferentes designações que manifestações distintas dela podem receber não têm nada a ver com o ponto em litígio, que é a licitude moral dos atos anti-naturais.

O que realmente interessa no artigo vem a partir da página 797, sob o título de “A Homofilia Perante a Moral”. Para fugir da clareza cristalina da posição católica e torcer a evidência das Escrituras e da Tradição, o pe. Snoek tergiversa sobre três sub-tópicos: a Bíblia, a Atitude das Igrejas e a Reflexão Teológica. Não se sabe qual dos três é mais digno de lástima.

Sobre a Bíblia, o problema é muitíssimo evidente, porque quem detém autoridade para a interpretação das Escrituras Sagradas é a Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo, e ponto final. Torcendo de maneira absurda os mais claros textos escriturísticos, quer do Antigo Testamento, quer das Epístolas de São Paulo, ao final das contas o que o pe. Snoek faz é, simplesmente, expôr a sua própria e particular interpretação (não importa se referendada por fulanos ou sicranos, é mesmo assim interpretação particular pelo simples fato de não ser interpretação da Igreja). Não é necessário entrar no mérito da validade das suas interpretações, até porque isso não é possível, pois ou se reconhece uma autoridade capaz de dar a última palavra, ou haverá tantas interpretações quanto cabeças interpretantes. Basta mostrar que a interpretação da Igreja – única intérprete autorizada das Escrituras Sagradas – difere radicalmente da interpretação proposta pelo artigo da revista da Vozes. Citemos o Catecismo:

2357 A homossexualidade designa as relações entre homens ou mulheres, que experimentam uma atracção sexual exclusiva ou predominante para pessoas do mesmo sexo. Tem-se revestido de formas muito variadas, através dos séculos e das culturas. A sua génese psíquica continua em grande parte por explicar. Apoiando-se na Sagrada Escritura, que os apresenta como depravações graves a Tradição sempre declarou que «os actos de homossexualidade são intrinsecamente desordenados». São contrários à lei natural, fecham o acto sexual ao dom da vida, não procedem duma verdadeira complementaridade afectiva sexual, não podem, em caso algum, ser aprovados.
[Catecismo da Igreja Católica, 2357]

Mais claro, impossível. Para a Igreja, a Sagrada Escritura “apresenta [os atos de homossexualidade] como depravações graves”. Para o pe. Snoek, no entanto, parece ser “bastante claro que estas proibições [entre elas, “a severa condenação da homofilia”], no seu contexto, foram inspiradas pela idéia de pureza cultural, abolida pela Nova Lei”. São portanto duas posições contrárias e inconciliáveis. É, aliás, revelador que o artigo em análise cite o Catecismo Holandês, ao invés do Romano, para justificar a sua posição injustificável: fica, portanto, evidente que a posição do pe. Snoek não está de acordo com a posição da Igreja de Roma. Que se apresentem teorias escabrosas e imorais, vá lá, toleremos; mas não queiram enganar os incautos, fazendo crer que tais teorias são referendadas pela Igreja de Cristo.

Sobre a Atitude das Igrejas, incrivelmente, o autor do texto vai buscar a atitude das… igrejas protestantes! Uma única palavra retirada da Tradição da Igreja, dos escritos dos Padres, dos Decretos dos Concílios Ecumênicos, dos documentos papais, nada disso consegue o pe. Snoek aduzir em favor da sua tese. E é óbvio que não consegue, porque ela – como já foi dito – é radicalmente incompatível com o Cristianismo. Estranho que este padre queira apresentar as suas conclusões estapafúrdias como sendo católicas; baseando-se na livre-interpretação das Escrituras Sagradas e citando atitudes de igrejas protestantes, deveria o reverendíssimo sacerdote ser coerente com a sua argumentação e abraçar o protestantismo. No entanto, prefere disfarçar-se de católico para, assim, enganar mais pessoas e arrastar mais almas para longe do estreito caminho que conduz à Salvação.

Haurindo as suas premissas de fontes tão lamacentas, o que se poderia esperar da Reflexão Teológica que propõe o sacerdote? Nada além de falsas conclusões oriundas de falsas premissas, de desprezo ao ensino do Magistério da Igreja e de descalabros completos – não tenho mais fôlego para comentar, e isso só iria tornar este post (ainda mais) maçante. É suficiente ter bem claro que as posições defendidas pelo padre Jaime Snoek em particular e pelo site “Diversidade Católica” em geral estão em franca oposição à Moral da Igreja, e imagino que isso já tenha ficado mais do que evidente. Movido por um sentimento (justo) de compaixão para as pessoas que sofrem de problemas homossexuais, esforça-se contudo o pe. Snoek não para libertá-las de seu pecado, e sim para aprisioná-las ainda mais nos seus maus hábitos, ensinando-as não a lutarem contra as tentações, mas a se entregarem de maneira vil a elas. Assusto-me ao imaginar o mal que este tipo de atitude pode causar: ao invés de reconduzir as ovelhas desgarradas aos prados verdejantes, esforça-se o lobo vestido de pastor para convencer as ovelhas que é uma coisa muito boa viver cercada por lama nos pântanos e charcos do mundo.

42 comentários em “O disfarce dos lobos”

  1. Lucas, sua primeira colocação foi no sentido de desmerecer o uso da palavra pecado.

    —-

    André, o critério não é o que eu acho, mas aqueles referenciais que a própria Igreja usa.

    “(a) atos contrários à Lei Natural, feitos deliberada e conscientemente, podem ser não-pecaminosos?”

    Evidente. A Lei Natural é um simples indicador de que algo não está segundo o ideal proposto, mas a maneira concreta de lidar com isso pode ou não ser pecaminosa. Uma pessoa ficar alimentada e hidratada artificialmente também é algo que vai contra a natureza e, ao mesmo tempo, retirar tal hidratação e alimentação é que seria pecado, pois no confronto de princípios vale mais a da manutenção da vida. Do mesmo modo, no caso de uma pessoa sem vocação ao celibato temos de lidar com a discrepância entre o real e o proposto da melhor maneira possível.

    “(b) a Igreja Infalível, que é Mestra em Moral, pode acaso ter apresentado aos fiéis, durante dois mil anos, uma ‘conclusão equivocada’?”

    O caso aqui não de erro, mas de aplicação errada de um princípio verdadeiro.

    “(c) o ‘amor homossexual oblativo’ ao qual tu te referes inclui as relações sexuais entre homossexuais? Concorda que ‘amor oblativo’ é uma atitude certamente meritória para a Vida Eterna? As relações sexuais entre homossexuais podem ser, portanto, meritórias? Deus, portanto, premia com méritos na Glória coisas que são contrárias à Lei Natural que Ele mesmo estabeleceu, é isso mesmo que tu estás dizendo?”

    É isso mesmo que estou dizendo e é isso mesmo que boa parte dos teólogos morais atuais, goste você ou não, também diz.

    Esse papo com a Lei Natural é, de fato, algo bem comum nesse tipo de debate. Uma coisa que raramente é observda é que mesmo havendo um fim ontológico tomado como Lei Natural, a natureza dada de cada indivíduo também tem de ser levada em conta no julgamento moral.

    Se isso não é feito, chega-se a uma contradição básica: a expressão da condição sexual, que é involuntária e, portanto, despida de pecado, é sempre e em toda parte pecaminosa! Ora, posso passar horas e horas tentando encontrar a analogia de alguma outra doutrina católica que revele essa noção. Em termos filosóficos, ela é incoerente, fundamentalmente incoerente. A analogia poderia ser considerada a deficiência, mas no âmago daquilo que seres humanos deficientes podem ser (o que significa sua vida emocuional e espiritual), a Igreja não só afirma a igual dignidade das pessoas deficientes no tocante a isso, mas nos estimula a vê-la e afastar o preconceito que consiste em não crer que uma pessoa deficiente possa levar uma vida humana plena e integrada ainda que não possa andar ou seja afetada por alguma outra deficiência.

    Porém a “deficiência” que nos pedem que acreditemos ter é fundamental para nossa integridade como seres dotados de emoções. Ora, tentei compreender a essência dessa doutrina porque minha vida está em jogo nela: Deus convida a um fim último para mim e para outros que tem relação com nossa essência de seres criados à sua imagem e semelhança e de pessoas chamadas a mar a si mesmas e aos outros. Sou impelido, de maneira natural, a amar e cuidar de outra pessoa. Esse é o âmago da Lei Natural. Somos chamados ao compromisso e à fidelidade, e vejo isso em tudo que me cerca no “mundo gay”. Muitos vêem assim, infelizmente não há esforço para se levar esse dado do sensus fidelium para o debate de mais alto nível.

  2. Anjo,

    Porque insiste no erro?

    Depois de tudo o que aqui foi escrito ainda não percebeu que está errado? E não sou eu que o digo, mas a Igreja de Cristo.

    Pare, pense e decida o melhor para si. E a sua pessoa não é só corpo, não são apenas sentimentos e emoções. É também alma. Alma que foi criada por Deus e que a Ele vai voltar. Vai deixar que as mesquinhices mundanas continuem a manchar a vida em Deus?

    Nosso Senhor interrogou: “De que vale a um homem ganhar o mundo inteiro se perder sua alma?” (Mc 8, 36).

    De que vale ter tudo o que quero neste mundo (incluindo as coisas ilícitas), se vier a perder a alma? Sinceramente, é lógico que prefiro não ter nada aqui desde que venha a ter o Tudo dos tudos: Deus.

    Pensa mesmo que Deus vai dar mérito para um “amor” que vai contra a Lei Natural por Ele estabelecida?…

    Quanta contradição e relativismo moral!

    Em boa hora percebi o quanto estava enganado e o quanto Deus no ama para que, através da Sua Igreja, dê o perdão a quem sinceramente o peça.

    Mas ainda vai a tempo. Por intercessão de Nossa Senhora, não é assim tão difícil sair dessa vida. E mesmo sendo difícil (que é!), que o seja!

    Mãe Puríssima, rogai por nós, nesta hora de aflição!

    Um abraço de Portugal!

    João

  3. Caro Anjo

    Você esta dizendo que para um heterossexual é anti natural o homossexualismo e para um homossexual é anti natural o heterossexualismo?

  4. João, não há erro algum. Todas as colocações feitas só revelam a falta de aprofundamento ou preconceito sobre a questão. Acho que quem não está lendo é você, pois repete o que já tinha falado sem levar em conta o desenvolvimento dos argumentos (tanto é assim que, em hipótese alguma, defendi que os sentimentos virem critério moral).

    —-

    Claro que não Lucas, ou melhor, depende da perspectiva. Leia com calma o que já escrevi.

  5. Caríssimo ‘Anjo’…

    Referente ao que assim você disse:

    “André, o critério não é o que eu acho, mas aqueles referenciais que a própria Igreja usa.”

    Poderia me relacionar de maneira explícita ‘aqueles referenciais que a própria Igreja’ utiliza para levar uma pessoa em sã consciência a acreditar que o homossexualismo, mesmo sendo antinatural, e conseqüentemente errado em si mesmo (para não dizer pecado, pois acredito que possa você ter alguma ‘vertigem’ com essa palavra), possa ser ao mesmo tempo certo?!

    E quando disse assim:

    “A Lei Natural é um simples indicador de que algo não está segundo o ideal proposto, mas a maneira concreta de lidar com isso pode ou não ser pecaminosa.”

    Aqui meu caro, a Lei Natural, este ‘ideal proposto’, não nos foi dado por um ser limitado e imperfeito, passível de erros, como o ser humano por exemplo, mas sim pelo próprio Deus, ou seja, pelo ser supremo, máximo, ilimitado e eterno, a própria sabedoria, perfeitíssimo, não sendo suscetível a errar NUNCA, e a não se enganar e nos enganar NUNCA. Pois bem! Sendo Ele, Deus, assim com é, nada do que criastes (ou propõe) pode ser algo errado e tudo que fez e ordenou (propôs), o fez de forma perfeitíssima e correta. Sendo assim, não seria uma tanto quanto ilógico não seguir esta proposta?! Isso para não dizer que seria mesmo uma tremenda e absurda prepotência,… é claro se considerarmos que, o sujeito esteja em sua plena e deliberada consciência de tal seguimento da proposta. Para não dizer mesmo uma baita burrice.

    Agora, se ‘a maneira concreta de lidar com isso pode ou não ser pecaminosa’, ou seja, pode ou não ser pecado, é bastante evidente que o homossexualismo é em si mesmo um pecado, e o é intrinsecamente matéria grave pois ofende diretamente aos preceitos de Deus (o decálogo, ou os dez mandamentos que é a expressão máxima e clara de sua vontade para nós), mais especificamente o sexto mandamento: NÃO PECAR CONTRA A CASTIDADE.

    O que ‘pode ou não’ mudar nisso é sua gravidade, podendo ser grave ou venial (mortal ou leve, em sua conseqüência na alma), e isso está bastante obvio no ensinamento da Sã Doutrina da Santa Mãe Igreja, quando nos diz que para ser pecado mortal, são requeridos três condições no ato pecaminoso ao mesmo tempo. São eles: que haja MATÉRIA GRAVE, ou seja, ferir diretamente o decálogo, coisa que o homossexualismo o é em si mesmo; PLENO CONHECIMENTO, ou seja, saiba que o ato em sim é pecado; e por fim PLENO CONSENTIMENTO, ou seja, sujeito da ação não esteja livremente e não obrigado a realizar o ato em si.

    Então meu caro ‘Anjo’, o homossexualismo em si mesmo é pecado, e a melhor a ‘maneira concreta de lidar com isso’, não é NUNCA atenuando o pecado, mas sim o ELIMINANDO!. Caso contrário, seria um ‘passar a mão na cabeça’, um perfeito anestésico da consciência alheia, ou pior ainda, de sua própria consciência.

    E o que eu poderia dizer de mais grave em tudo isso, caro “Anjo”, é o fato de uma pessoa sabedora de todas estas coisas, se aproximar da Santa Comunhão Eucarística, neste estado pecaminoso (o homossexualismo). O que pode acarretar “comer sua própria condenação eterna”. Sic! Perceba irmão o quanto antes, quando ainda se tem o tempo de conversão, para que não seja tarde demais.

    E deixo logo abaixo o que nos ensina a Santa Mãe Igreja, Mestra em Moral, pela sua Sã Doutrina, a verdadeira definição de PECADO:

    “§1849 A definição do pecado
    O pecado é uma falta contra a razão, a verdade, a consciência reta; é uma falta ao amor verdadeiro para com Deus e para com o próximo, por causa de um apego perverso a certos bens. Fere a natureza do homem e ofende a solidariedade humana. Foi definido como “uma palavra, um ato ou um desejo contrários à lei eterna”.

    §1850 O pecado é ofensa a Deus: “Pequei contra ti, contra ti somente; pratiquei o que é mau aos teus olhos” (Sl 51,6). O pecado ergue-se contra o amor de Deus por nós e desvia dele os nossos corações. Como o primeiro pecado, é uma desobediência, uma revolta contra Deus, por vontade de tornar-se “como deuses”, conhecendo e determinando o bem e o mal (Gn 3,5). O pecado é, portanto, “amor de si mesmo até o desprezo de Deus”. Por essa exaltação orgulhosa de si, o pecado é diametralmente contrário à obediência de Jesus, que realiza a salvação.“
    (Catecismo da Igreja Católica)

    Que Deus, Nosso Senhor Jesus Cristo, pela poderosa intercessão de Nossa Senhora de Fátima, nos cumular da Graça maior da conversão.

    Abraços e até mais ‘ver’.

    André Víctor

  6. Anjo,

    Quanto a (a), Santo Tomás de Aquino diz que “ser contra a Lei Eterna” é, exatamente, o que existe de formal no pecado (cf. Summa, I-IIae, q. 71, a.6). Diz também que toda lei se deriva da Lei Eterna (cf. Summa, I-IIae, q. 93, a.3) e, em particular, a Lei Natural é uma participação n’Ela (cf. Summa, I-IIae, q. 91, a.2). Agir contra a Lei Natural é, por conseguinte, agir contra a Lei Eterna e, se feito deliberada e conscientemente (para caracterizar um ato humano), é sim pecado. Ademais, a Igreja ensina que “nunca é lícito, nem sequer por razões gravíssimas, (…) ter como objeto de um ato positivo da vontade aquilo que é intrinsecamente desordenado e, portanto, indigno da pessoa humana, mesmo se for praticado com intenção de salvaguardar ou promover bens individuais, familiares, ou sociais” (Humanae Vitae, 14); portanto, as tuas afirmações são simplesmente contrárias à Teologia Católica.

    Uma intervenção humana para salvar a vida (como no caso citado da alimentação intra-venosa) não é contra a Lei Natural mas, precisamente ao contrário, a favor dela, na medida em que, intentando preservar a vida, é conforme a Reta Razão.

    Quanto a (b), postular que a Igreja pode semper et ubique ter apresentado aos fiéis uma aplicação errada de um princípio (dizendo que é pecaminoso um ato que não o é) é subverter completamente a possibilidade de se ter uma Igreja que seja referência em Moral, porque então quaisquer ensinamentos morais da Igreja poderiam ser, igualmente, “aplicações erradas” de princípios corretos. Por que não o aborto? Por que não a contracepção? Por que não o sexo fora do Matrimônio?

    Quanto a (c), nem há o que comentar, porque a conclusão a que chegas é flagrantemente absurda: um Deus que, livremente, estabelece leis, prescrevendo o que deve ser feito e o que deve ser evitado, para depois premiar a desobediência mesma daqueles que O desobedeceram livre e conscientemente! Seria algo como um Rei baixar um decreto proibindo qualquer coisa no seu reino e, depois, trazer à corte e encher de honrarias precisamente aqueles que desobedeceram – “oblativamente”! – ao decreto real pelo fato mesmo de o terem desobedecido; seria, aliás, muitíssimo mais absurdo do que isso, porque o Rei em questão é Deus Perfeito e Sumamente Justo e o Decreto em questão é a Lei Eterna e Imutável.

    ————————

    Agora, gostaria de fazer um outro comentário: atitudes irresponsáveis e inconseqüentes como estas que tu estás fazendo aqui podem provocar gravíssimos danos às almas dos fiéis que, por Deus e para Deus, foram criadas. Até mesmo este teu discurso imprudente é pecaminoso, por ser anti-católico e irracional (como foi à exaustão mostrado) e por ensejar um desgarramento dos fiéis que precisam de Deus, e não de sofismas auto-indulgentes e sedutores.

    Uma amiga, que lia este debate, comentou em certo ponto que os gays precisavam de acompanhamento por parte da Igreja, uma pastoral ou coisa parecida. Concordo integralmente com ela. O drama que um homossexual atravessa deve ser, sem dúvidas, muito sério, como eu provavelmente nem sou capaz de imaginar; e estas pessoas, que precisam tanto de um acompanhamento responsável, são as mais das vezes marginalizadas e ficam à mercê de fábulas pregadas por pseudo-mestres que não suportam a Sã Doutrina da Salvação (cf. IITm 4, 3-4). Ao invés de encarar os próprios sofrimentos como uma oportunidade de santificação, preferem fugir deles e, desistindo de lutar, imaginam poder entrar no Reino dos Céus sem fazer violência contra si próprios.

    O que tu vens fazendo aqui é desprezar o ensino da Igreja e até mesmo a razão humana, com comparações absolutamente descabidas (disciplinas eclesiásticas com doutrina moral, desordens físicas com desordens morais, intervenções humanas que visam preservar a vida com vícios contra a natureza), tudo isso para justificar uma atitude que te é cômoda e confortável. O que contraria frontalmente o Cristianismo, a Teologia Católica e até mesmo a Razão Natural é postular coisas como a licitude de se agir contrariando a Lei Natural, a possibilidade do ensino moral da Igreja ser composto por “aplicações erradas” de princípios, e a afirmação (que raia à blasfêmia) de que Deus coroe de méritos um pecador pelo fato mesmo de cometer pecados em consciência e deliberadamente.

    Sim, a condição homossexual é uma desordem que, em si, não é pecaminosa, como sempre ensinou a Igreja; passíveis de moralidade são os atos humanos que um sujeito concreto realiza. Os homossexuais são também chamados à santidade e à vida junto com Deus, evidentemente, e isso se consegue com amizades desinteressadas, com frequência à oração e aos sacramentos, com o exercício da vontade a fim de adquirir paulatinamente o auto-controle, com acolhimento e sem discriminação. Precisam de ajuda e de acompanhamento especiais, adequados à sua condição; mas esta ajuda precisa estar conforme a Reta Razão e a Igreja de Cristo, posto que, caso contrário, não é ajuda e sim engodo. E as propostas que tu e a tua “boa parte dos teólogos morais atuais” apresentam falham miseravelmente, quer quanto à Igreja, quer mesmo quanto à Razão. Gostaria de pedir-te sinceramente que repensasse as tuas atitudes, diante de Deus, sem sentimentos de auto-indulgência e sem orgulho ferido; os homossexuais já carregam uma cruz pesada o suficiente para que pessoas como tu as tornem ainda mais difíceis de serem carregadas.

    Abraços, em Cristo,
    Jorge Ferraz

  7. André, os subsídios para você entender o que eu disse já estão dados neste debate e no anterior. Mas se você quer ficar no nível catequético, paciência…

    —-

    Vamos de baixo para cima Jorge.

    Em primeiro lugar, eu não passo mais por drama nenhum. Estou muito bem, sendo gay e católico. Todos esses seus últimos parágrafos derivam de concepções equivocadas (o que venho demonstrando aqui) e de suposições sobre o que é ser gay.

    Anda bem que a base da Igreja já faz um trabalho voltado para os homossexuais. Veja um exemplo:

    http://www.diversidadecatolica.com.br/bibliografia_revista_aime.pdf

    Aqui em Recife não temos algo tão aberto, mas contamos com iniciativas semelhantes em algumas paróquias, iniciativas de pessoas que reconhecem que o caminho para a santidade só se efetua numa integração verdadeira do ser, em todos os seus elementos, inclusive o sexual/afetivo (depois disso é que temos o espaço para o sacrifício).

    E seu medo do debate não me surpreende, dado o comportamento das pessoas ligadas aos Legionários. Se seus argumentos são tão fortes assim a verdade estará patente para quem os ler…

    Agora, vamos tratar do seu reducionismo sobre a Lei Natural. Ao empregar o conceito normativo de “natureza” em relação ao comportamento sexual, você identifica sexualidade com genitalidade, produzindo uma ética biologicista, desintegrada da totalidade da pessoa.

    Eu não vou longe como alguns que desconsideram a noção mesma dessa normatividade. Isso não dá. Mas o que você e seus amiguinhos não sabem, por acharem que o catecismo, a “Fé Explicada” ou o CDC apresentam um receituário que abrange todas as situações concretas, é que há situações em que se tem de trabalhar com uma hierarquia de princípios.

    Afinal, de que adianta não aceitar a homossexualidade se isso vai me tornar uma pessoa intratável? Seria esse um caminho para a santidade?

    De que adianta não aceitar a própria sexualidade e aí só vivenciá-la de uma maneira doentia, às escondidas, se negando a possibilidade de amar, de crescer como ser humano?

    É importante compreender que mesmo o dado objetivo, o conhecimento real que nos vem pela Revelação divina, não está isento de ser também uma palavra humana, ou melhor, de ser uma experiência do “dar-se” amoroso de Deus que se realiza efetivamente por meio de ações e palavras humanas.

    Portanto, mesmo levando em conta o caráter normativo do ideal proposto, mesmo sabendo que “nunca é lícito, nem sequer por razões gravíssimas, (…) ter como objeto de um ato positivo da vontade aquilo que é intrinsecamente desordenado”, a moral sempre reconheceu que se não podemos modificar os princípios, podemos ter uma aplicação gradativa deles, tendo em vista o bem maior possível.

    Dou por encerrada minha participação aqui. Neste domingo vou te ver em alguma Missa Jorge (ou então outros membros do Regnun) e, como sempre, vocês (apesar das boas intenções) continuarão querubinicamente afastados da realidade. Nunca saberão do enorme número de gays e lésbicas que trabalham diuturnamente para a propagação do Evangelho.

    In Iesu et Maria semper

  8. Esse anjo é apenas um provocador, talvez com intenções mais profundas que a mera discussão da homossexualidade. Não acredito que seja católico. É só não fazer caso.

  9. Caríssimo ‘Anjo’…

    “André, os subsídios para você entender o que eu disse já estão dados neste debate e no anterior. Mas se você quer ficar no nível catequético, paciência…”

    Também eu para encerrar este assunto, pois não pretendo mais me delongar num diálogo com alguém que, já se manifestou tão ‘claramente’ (mesmo não sendo num nível catequético) sua posição intransigente, em não ‘querer’ perceber, e conseqüentemente viver, aquilo que é obvio,… concluo acreditando que você quer viver num mundo irreal ou de forma surreal.

    Você, caro ‘Anjo’, tenta ‘adaptar’ o mundo ao seu bel prazer (ou ao menos a sexualidade humana), não querendo respeitá-lo em sua ordem natural, achando que pelo simples fato de se ‘poder’ fazer diferente do já estabelecido por Deus na lei natural, ou melhor dizendo (desculpe-me o nível catequético, mas não consigo ‘subir’ de nível. Sic!), acreditando que a lei natural seja apenas ‘um simples indicador de que algo não está segundo o ideal proposto, mas a maneira concreta de lidar com isso pode ou não ser pecaminosa.’,… você aqui se confunde, utilizando um conceito errado de ‘liberdade’, onde liberdade não significa ‘permissividade’ e pelo fato de ocorrer o erro no mundo, isso não quer significar de que deve ser assim. Se nos apegarmos a um raciocínio deste tipo, poderemos chegaríamos ao ponto, de um dia ‘legalizar’ (torná-lo natural, digamos assim) o desejo sexual por animais, por coisas ou objetos, por mortos, e por aí vai… e vai… até nos depararmos com um outro desejo desordenado para podermos fazê-lo ‘natural’ também.

    E aqui vale lembrar que o erro não existe em si, mas sim a ausência da verdade, o que se faz ‘perceber’ como algo que exista. Assim como não há ‘escuridão’ mas sim a ausência de luz, ocasionando assim tal experiência, assim se faz também com o homossexualismo. Onde não há obediência a lei natural neste quesito, existirá tantas aberrações quantas forem possíveis serem imaginadas por uma mente fertilizada de conceitos errôneos. Aliás, pude perceber em seus comentários, mesmo não sendo ‘catequéticos’, ou seja, de baixo nível, de que você se perde em vários pontos por ter conceitos totalmente errados de Deus, de Igreja, de Liberdade, de Amor, etc. Em decorrência disto, você ‘distorce’ a realidade anestesiando sua consciência, não querendo se amoldar ou se adaptar ao mundo real já configurado na lei natural. Com isso você demonstra mesmo um egocentrismo, onde eu mudo e adapto o mundo ao meu conveniente e cômodo modo de viver, por não querer renunciar meus caprichos e vícios morais. E se desfazendo do meu modo ‘catequético’ de argumentar, comprova-se então, este seu pretensioso e ‘superior’ nível orgulhoso de ser. Sic!

    As coisas (o homossexualismo e tudo a que se refere) são tão básicas meu caro ‘Anjo’ que não se precisaria sair do nível catequético para serem explicadas, mas para contradizê-las, aí sim, se precisaria ‘subir’ tanto o nível, ludibriando as pessoas com palavras ‘cultas’ de tal forma, que aparentemente acredita-se ter conseguido mudar o erro em verdade.

    Perceba que ao relativizar aquilo que é absoluto, está caindo você mesmo, num erro: se tudo é relativo, não podes então, querer que outros acreditem no que escreve como sendo esta a verdade, pois se tudo é relativo, então cada qual com seu entendimento, e no final das contas o que vale é que todo mundo fica no seu vício mesmo, e ninguém tem nada a ver com isso, e viva a liberdade (sendo isso mais libertinagem do que propriamente liberdade).

    Que possas, mesmo que seja um dia, buscar em fontes seguras e confiáveis, no Sagrado Magistério da Santa Igreja de Cristo, a Católica, tudo aquilo que realmente importa para nossa felicidade verdadeira: a vida eterna.

    Abraços e até mais ‘ver’.

    André Víctor

  10. Anjo,

    Já que tu deste por encerrada a tua participação aqui, só me resta deixar claro que o debate foi travado até as últimas conseqüências, e todas as conclusões que foram tiradas, tu as subscreveste. Evidente que não há nenhum “medo” disso, muitíssimo pelo contrário – imagino que tenha ficado evidente para todo mundo a radical incompatibilidade entre o teu discurso e a Doutrina da Igreja. Sim, isto está patente para quem quiser ler, e alegro-me e fico bastante satisfeito com isso.

    O que não faz sentido – e, aí, eu não tenho tempo para semelhante futilidade – é prosseguir debatendo sobre coisas que estão equivocadas in radice e já foi mostrado que assim o são. Debater relativizando os princípios é inútil e não tenho interesse algum em semelhante canoa furada.

    Abraços,
    Jorge

  11. Ainda preciso dar uma olhada menos incompleta: outro padre católico com posicionamento heterodoxo a cerca da homossexualidade parece ser Daniel A. Helminiak, com seu livro “O que a Bíblia realmente diz sobre a homossexualidade“.

    Jorge Ferraz, no post:

    É, aliás, revelador que o artigo em análise cite o Catecismo Holandês, ao invés do Romano, para justificar a sua posição injustificável: fica, portanto, evidente que a posição do pe. Snoek não está de acordo com a posição da Igreja de Roma.

    Aproveito o espaço para lembrar-lhes meu comentário 28 January 2012 at 15:43. Aqueles parecem ser assuntos interessantes para investigação. Pe. Charbonneau teria sido um “pioneiro”?

    Não é o caso de novas discussões aqui (ou ali). E OFF-TOPICs ainda por cima! Depois de tanto tempo. Apenas acredito que intercambiar achados, links para estudo, pode ser conveniente…

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