O problema inexistente

Auguro que a este gesto meu [a retirada das excomunhões] siga o solícito empenho por sua [da FSSPX] parte de levar a cabo ulteriores passos necessários para chegar à plena comunhão com a Igreja, dando testemunho assim de fidelidade verdadeira e verdadeiro reconhecimento do magistério e da autoridade do Papa e do Concílio Vaticano II.
[Bento XVI, audiência geral de quarta-feira última (28/01)]

Estas foram as palavras ditas pelo Santo Padre, o Papa Bento XVI, na audiência geral da quarta-feira passada, que ensejaram as notícias que circularam no meio católico segundo as quais o Papa havia pedido aos lefebvristas que reconhecessem o Concílio Vaticano II. No dia seguinte, quinta-feira 29 de janeiro, o Rorate Caeli publicou uma notícia (aqui reproduzida) que dizia ter Dom Fellay reconhecido teologicamente o Vaticano II (segundo informações do cardeal Castrillón Hoyos). Estranhamente, não vi nenhuma repercussão mais séria sobre estas declarações que me parecem, todavia, de importância capital.

Antes de mais nada, é preciso assumir que não se tem (pelo menos eu não tenho) muito claro o que vem a ser “reconhecer teologicamente” o Vaticano II, mantendo no entanto reservas sobre alguns pontos do Concílio. Isso pode significar qualquer coisa. No entanto, tenho esperanças de que signifique algo próximo da maneira como eu próprio vejo o Concílio, que não é de modo algum “invenção minha” mas, ao contrário, é a posição mais sensata que eu observo nos meios católicos que freqüento.

Trata-se de uma coisa simples: em suma, pode ser definido como reconhecer no Concílio aquilo que ele se propõe a ser, nem mais e nem menos. Baseia-se em alguns princípios, entre os quais dois são, a meu ver, fundamentais: (a) a radical incapacidade de que a Doutrina da Igreja tenha sido “adulterada” e (b) a legitimidade da decisão da Igreja de apresentar a Doutrina Católica da maneira como ela foi apresentada. Passemos rapidamente em revista estes (no meu entender) dois princípios chaves.

Quanto ao primeiro, trata-se da atitude de se reconhecer intelectualmente, a priori, antes mesmo de se debruçar sobre os textos conciliares, que a Doutrina da Igreja não foi modificada pelo simples fato de que ela não o pode ser. Assim, o esforço intelectual passa a ser não  o de “caçar heresias” nos textos do Vaticano II (expediente muitas vezes utilizado por alguns que se pretendem defensores da Igreja), mas sim o de buscar interpretar o que foi dito na única maneira em que é lícito interpretá-lo, i.e., em plena conformidade com tudo o que foi dito anteriormente pela Esposa de Nosso Senhor. Não se trata de um debate para se saber “se o Vaticano II foi heterodoxo”; esta resposta prescinde de qualquer debate porque, por definição, um Concílio Ecumênico legítimo não pode trair a Fé da Igreja. Não adianta perder tempo com isso; deve-se ter como um axioma, como um a priori, como um princípio basilar a ser estabelecido antes de todo o resto, que o Concílio não pode ter alterado a Fé Católica Imutável. Pôr isso em dúvida é perder tempo e correr o risco de se chegar a conclusões disparatadas.

Portanto, é verdade por definição que o Vaticano II não alterou a Fé da Igreja. No meio do turbilhão de idéias heterodoxas que encontramos nos meios católicos dos nossos dias, é preciso afirmar ousadamente a Fé Católica, não admitindo que os inimigos da Igreja utilizem-se indevidamente de textos conciliares para justificar as suas loucuras. É preciso dizer que “a Igreja de Cristo subsiste na Igreja Católica” não contradiz de nenhuma maneira a verdade anteriormente afirmada de que a Igreja de Cristo é a Igreja Católica e somente Ela; é preciso dizer que as pessoas se salvam única e exclusivamente por meio da Igreja Católica, ou pertencendo-lhe às estruturas visíveis ou à Sua “alma” nos casos de Ignorância Invencível, e que dizer que o Espírito de Cristo não se recusa servir-se das seitas e dos cismas como meios de salvação não significa de nenhuma maneira afirmar um inexistente “poder salvífico” paralelo àquele que detém a Igreja de Nosso Senhor; é preciso dizer que os “elementa ecclesiae” que possuem as seitas e cismas não lhes são próprios, sendo portanto equiparáveis aos “vestigia ecclesiae” com a diferença terminológica de que “vestígio” indica uma reminiscência de algo que já se foi um dia, não havendo propriamente “vestígio” de catolicismo em um protestante que nunca foi católico; é preciso dizer que o homem possui uma Natureza Decaída devido ao Pecado Original, e que nenhuma “semente divina” no sentido de natureza sobrenatural intrínseca é-lhe imanente; é preciso dizer que a liberdade religiosa equipara-se, para os falsos cultos, à tolerância religiosa, com a diferença terminológica de que o Estado em Si considerado não tem potestade para arbitrar entre o bom e o mau (embora tenha capacidade para reconhecer a Igreja como verdadeira) e, portanto, não “tolera” propriamente os falsos cultos (quem os tolera é a Igreja); é preciso dizer que os bispos não têm um poder colegial próprio que seja independente do Primado do Romano Pontífice; é preciso, enfim, reafirmar com ousadia tudo que é de Fé Católica e Apostólica, a despeito do que alguns “defensores do Concílio” digam. E isso pode e deve ser feito sem nenhum escrúpulo de consciência, porque não pode ser um verdadeiro defensor do Concílio quem, ao mesmo tempo, ataca a Fé de sempre da Igreja que, conforme vimos, simplesmente não pode ser modificada nem por um Concílio Ecumênico.

Quanto ao segundo princípio, trata-se da atitude de filial submissão ao Magistério da Igreja, abstendo-se a Igreja Discente de arvorar-se Igreja Docente e de criticar como intrinsecamente maus alguns textos conciliares. Trata-se, se for para dizer em duas palavras, de, primum, afirmar a possibilidade de interpretação do Vaticano II em consonância com toda a Tradição da Igreja e, secundum, afirmar a potestade da Igreja de utilizar-Se dos termos que melhor Lhe aprouver para a expressão da Verdade Revelada, por mais que eles nos pareçam inadequados ou por mais que nos pareça que termos melhores pudessem ter sido escolhidos.

Ainda que existam, de fato, termos melhores que poderiam ser aplicados e maneiras melhores de se dizerem as coisas que foram ditas, não é este o ponto. O que deve ser salvaguardada é a ortodoxia (no sentido de “existência de interpretações ortodoxas”) das coisas que foram ditas da maneira como foram ditas; isto é que é o fundamental. Aqui, trata-se de evitar a atitude de (infelizmente!) não poucos católicos segundo os quais as “ambigüidades” conciliares excluem a possibilidade de interpretação ortodoxa do Vaticano II. Deixemos por ora de lado as discussões sobre as supostas ambigüidades, sua gênese e seus remédios; não é para que neguemos a possibilidade de interpretações disparatadas do Concílio. Mas é para que não neguemos a possibilidade de interpretações ortodoxas dele.

Postas estas duas coisas de maneira muito clara, verifica-se então que a questão central das discussões com rad-trads e com modernistas simplesmente não existe, porque por definição a Fé da Igreja não pode ser modificada por um Concílio Ecumênico Legítimo. Isto nos permite montar o seguinte silogismo:

Um Concílio Ecumênico Legítimo não pode modificar a Fé da Igreja (maior);
O Concílio Vaticano II foi um Concílio Ecumênico Legítimo (menor);
Logo, o Concílio Vaticano II não pode ter modificado a Fé da Igreja (conclusão).

Outra conclusão diferente não cabe. Não faz o menor sentido discutir-se a ortodoxia do Concílio, porque tal problema é inexistente; por definição, o Concílio, se é Concílio Legítimo, é ortodoxo. Se não fosse ortodoxo, não seria Concílio Legítimo (seria algo do tipo do “latrocínio de Éfeso” ou outra coisa similar). Esta é a única maneira que eu conheço de se encarar catolicamente a crise atual. Tenho esperanças de que as declarações de mons. Fellay de que “reconhece teologicamente” o Vaticano II apontem para alguma coisa parecida com isso. Reconhecendo a radical impossibilidade de modificação da Fé da Igreja por um Concílio Ecumênico, pode-se enfim buscar a interpretação dos textos conciliares da única maneira em que é lícito interpretar-lhes: em consonância com todo o Magistério da Igreja, sem rupturas, sem “novidades”, sem heresias. Permita Deus que a FSSPX possa enveredar por este caminho, já tantas vezes apontado pelo Papa Bento XVI, única via que pode conduzir as negociações entre a Igreja e a Fraternidade a um bom termo.

92 comentários em “O problema inexistente”

  1. Caríssimo Sandro,
    Pax!

    Engana-se. Não mudei absolutamente nada. Continuo defendendo que a posição do “Magistério pós-conciliar” é rigorosamente a mesma daquela do “Magistério pré-conciliar” – aliás, esta sempre foi a minha tese, e parece-me ser a única minimamente razoável – à exceção de nuances terminológicas.

    Quanto aos meus “legítimos irmãos protestantes”, continuam hereges a caminho do Inferno, caso saibam que a Igreja Católica é a Igreja de Cristo e n’Ela não queiram entrar ou perseverar, como o Vaticano II ensinou. Rezo pela conversão deles e debato com eles para que abjurem as suas heresias. Quanto às orações em comum pedindo a sua conversão à Igreja – únicas que o Vaticano II prescreveu – infelizmente não tenho praticado por ausência de “companheiros de oração”. Rezo sozinho, mesmo assim, que Deus ouve. Quanto aos “projetos de paz”, unindo-se contra inimigos comuns, sempre foram praxis católica; por exemplo, na Idade Média, católicos romanos e cismáticos ortodoxos marcharam juntos contra os infiéis muçulmanos, não?

    Abraços,
    em Cristo,
    Jorge Ferraz

  2. Salve Maria

    Que Boa Notícia

    O Sr. Me traz Sr. Felipe Coelho.

    Bom saber que Rodrigo está bem encaminhado
    e que estará fora do Brasil em breve.

    Que Deus realmente o abençoe, derrando lhe a graça e a paz que tanto ele precisa.

    Nós de Anápolis, sentiremos muito a sua falta.
    Afinal ele nos ajudou a resolver um problema que nos afligia a muito tempo.

    A resistente Anápolis agora está mais resistente do que nunca e é a unica cidade deste País que tem Missa Tridentina todo dia.

    Graça e Paz

  3. Regina familiae, ora pro nobis!

    Prezado Senhores:

    Lendo “os diálogos” acima, observa-se um verdadeiro arbitrarismo de opiniões daqueles que orgulhosamente se intitulam sedevacantistas.
    Como ensinaram os santos, o traço comum dos apóstatas e hereges é o se radicar nas posições extremadas. Como se isso significasse o atingir ao topo das pretensões humanas. (Não tomo aqui como hereges e apóstatas os sedevacantistas, não por enquanto!)
    De fato, basta compulsar a história dos hereges, v.g., tertulianistas, cátaros, protestantes, e se terá muito claramente o ponto comum: o enaltecer-se. É assombroso como gostam das meticulosidades, por isso as enormes quantidades de citações breves e fechadas. Ó semelhança!
    Criticam os que criticam, por não criticarem como eles!
    Na verdade, é muito mais risível vê-los dizer, que chorar os seus disparates.
    Não compreendo como podem conversar com os que creem que Bento XVI é papa!? Ai, se os sedevacantistas americanos soubessem com quem os Felipes, Sandros etc conversam por aqui. E pior, diriam outrossim: como esses pretensos sedevacantistas são tupiniquins!
    O feliz de tudo isso é o que nós católicos extraímos: a miséria humana é imensurável. E o homem se posta com galhardia. Portanto, como devemos pedir a misericórdia divina, e, como a Beata Elisabeth da Trindade, ser louvores de glória.
    Que a Santíssima Virgem Maria, o Santíssimo José, pai putativo de Nosso Senhor, Santo Agostinho, Santo Tomás de Aquino (que, conquanto genialíssimo, não sabia a língua francesa, por mais que na França permanecera quinze anos. A famosa “abstractio mentis”.), São Luís, rei da França, (este é para nós, pais de família!), São Camilo Lélis, São João da Cruz, Santa Teresa de Jesus, minha padroeira, intercedam por nós, e nos convertam, santifiquem e nos salvem.

    Agradecimentos,

    Alexandre M. Fernandes

  4. Prezado Jorge, salve Maria.

    Que pena que me enganei com você. Eu realmente achava que você havia assumido a interpretação que os papas da igreja conciliar aplicam ao Vaticano II, mas pela sua resposta percebi que você continua aplicando a sua própria interpretação.
    De qualquer forma, apenas para não atrapalhar o bom andamento que nosso irmão Felipe Coelho vem dando a esta página, darei a você a devida resposta sobre o ecumenismo conciliar na nossa página particular de debate sobre o Vaticano II. Para quem não a conhece, eis o endereço:

    http://januacoeli.wordpress.com/debate-vaticano-ii/

    Desta forma, sem que nos desviemos do assunto aquo, o que poderia atrapalhar as boas mensagens que Felipe vem postando, poderemos continuar a debater lá. Finalizando, daqui a alguns dias você verá a minha resposta na página citada, apropriada para tal refutação. Vamos ver se o ecumenismo conciliar escapa da condenação dos santos padres da Igreja ou se ele é, como todo o restante do concílio, uma mistura daquilo que a Igreja sempre ensinou misturado com graves erros condenados.

    Um abraço,

    Sandro de Pontes

  5. Sandro,

    Por gentileza não faça isso. Aquela página é para tratar sobre a liberdade religiosa.

    Se deseja tratar sobre o ecumenismo, avise-me, que eu organizo uma página específica sobre o assunto.

    Abraços,
    Jorge

  6. Caríssimo Sandro,

    Mudei o menu no alto do blog, colocando um genérico “aux armes” no lugar onde, antes, havia apenas o nosso debate. Entrando nele, é possível encontrar uma lista de páginas, e é lá que está a original na qual discutimos sobre a liberdade religiosa. Fi-lo por questões de organização.

    Criei também lá uma página específica para tratar sobre o ecumenismo, que pode ser acessada pelo menu superior (do jeito que acabei de dizer) ou diretamente pelo link:

    http://januacoeli.wordpress.com/aux-armes/ecumenismo-sandro-pontes/

    Peço que nos dirijamos para lá, a fim de discutirmos sobre ecumenismo, nos mesmos moldes do debate anterior.

    Abraços,
    Jorge

  7. Prezado Jorge, salve Maria.

    Gostei do que fez. Assim poderemos debater tranquilamente.
    Vamos nos esforçar para manter o alto nível, certo?
    Não nos esqueçamos que somos filhos de Nossa Senhora.
    Um abraço,

    Sandro Pelegrineti de Pontes

  8. Muito prezado Jorge, Ave Maria Puríssima!

    Volto, depois de tanto tempo, para tratar da permanência da visibilidade e hierarquia da Santa Igreja depois de décadas de vacância da primeira Sé.

    Perdoe-me o modo meio “talmúdico” de contestá-lo, isto é, por meio de longas citações a modo de comentário e refutação de afirmações suas, citadas em primeiro lugar. (É que para mim é mais prático, no momento, copiar e colar traduções de meus arquivos, do que fazer um longo texto, bem pesado em cada expressão, e com começo, meio e fim.)

    Vamos então.

    1) “Tu tocaste exatamente no ponto: para mim, parece sim evidente que uma ‘vacância prolongada’ de décadas ao longo das quais usurpadores estiveram no Trono de São Pedro implicaria na perda da Visibilidade da Igreja.” (Jorge Ferraz, http://januacoeli.wordpress.com/2009/02/02/o-problema-inexistente/#comment-5681 ).

    Sobre a visibilidade, em geral e especialmente na situação atual, sed contra:

    “…sabemos, ou pelo menos suspeitamos, que a profecia de Nossa Senhora em La Salette se cumpriu, que é de que a Igreja está em eclipse. Um eclipse é o obscurecimento de um corpo pela interposição de outro. Sabemos por diversas fontes que, em algum ponto de sua história, a Igreja será de fato obscurecida por uma grande fraude envolvendo a criação de uma ‘igreja’ fraudulenta concebida para enganar, se possível, até mesmo os Eleitos.

    Os excertos seguintes são de um texto para seminários de um padre americano no entre-guerras. Rev. E. Sylvester Berry, D.D., The Church of Christ, An Apologetic and Dogmatic Treatise [A Igreja de Cristo, Um Tratado Apologético e Dogmático], Herder, St. Louis and London, 1927 & 1941:

    “As profecias do Apocalipse mostram que Satanás imitará a Igreja de Cristo para enganar a humanidade; ele colocará uma igreja de Satanás em oposição à Igreja de Cristo. Anticristo assumirá o papel do Messias; o profeta dele atuará no papel de Papa, e haverá imitações dos Sacramentos da Igreja. Haverá também prodígios mentirosos em imitação dos milagres feitos na Igreja” (p. 119)

    E “parece não haver razão pela qual uma falsa Igreja não possa se tornar universal, mesmo mais universal que a verdadeira, ao menos por um tempo.” (p.155)

    E os próximos excertos são de The Divine Plan of The Church [O Plano Divino da Igreja], subintitulado: “Where Realised, and Where Not” [Onde Se Encontra, e Onde Não], de autoria do Rev. John MacLaughlin, Burns & Oates, London, 1901; capítulo VI, sobre a indefectibilidade, págs. 93-94:

    “Concedemos, ademais, que pode ter havido ocasiões no passado (e tais intervalos podem ocorrer no futuro) quando, pela oposição de antipapas e uma variedade de circunstâncias adversas, foi difícil para os indivíduos por aquele momento determinar onde a verdadeira fonte de ensinamento autoritativo poderia ser encontrada. Isso, porém, não muda o estado da questão no mais mínimo que seja; a única verdadeira Igreja ainda estava em algum lugar do mundo do mesmo jeito, e em plena posse de todas as prerrogativas essenciais dela, ainda que, durante um momento contingente – por causas transitórias – ela possa não ter sido facilmente discernível ao menos observador. Assim como já houve tempos em que uma densa fumaça ou neblina tornou impossível ao observador ordinário dizer o local exato que o sol ocupava no céu, muito embora todos soubessem que ele estava lá em algum lugar, e soubessem também que ele logo voltaria a tornar a localização exata de sua presença visível para todos, e que, assim que a neblina se dissipasse, os raios dele viriam direto para a terra novamente, e todos veriam que ele permanecia identicamente o mesmo astro luminoso que antes brilhava.”

    Do melhor comentário ao Código de Direito Canônico, o de Wernz-Vidal, aprendemos que “a visibilidade da Igreja consite no ato de que ela possui tais sinais e notas identificadoras que, quando diligência moral é empregada, Ela pode ser reconhecida e discernida, especialmente da parte dos legítimos oficiais dela.”

    Assim, devemos eliminar de nossas mentes algumas noções falsas:

    1. A Igreja precisa sempre ser óbvia. Não existe essa doutrina. A doutrina é que a Igreja será sempre visível, que significa que quando diligência moral é empregada, ela pode ser identificada.

    2. A Igreja precisa sempre ser o corpo religioso mais universal. Não existe essa doutrina. A Igreja é universal, mas alguma outra falsa igreja pode por um tempo ser mais universal, em extensão.”

    (John F. LANE, Post de 9 de junho de 2007, em: http://strobertbellarmine.net/forums/viewtopic.php?t=419 ; trad. F. Coelho).

    2) “Principalmente pelo fato de que há uma grande diferença entre uma vacância propriamente dita (quando não há Papa eleito) e uma usurpação do Trono Pontifício (quando supostamente há um anti-Papa, reconhecido pela esmagadora maioria da Igreja Universal).” (Jorge Ferraz, http://januacoeli.wordpress.com/2009/02/02/o-problema-inexistente/#comment-5681 ).

    Distinguo: universalmente reconhecidos pacificamente – concedo; universalmente reconhecidos de modo violento, em grande parte mais nominal que real, como é o caso dos “papas conciliares” – nego.

  9. 3) “É no entanto por reductio ad absurdum que rejeito esta tese, pois a conclusão a que ela chega é… injuriosa ao catolicismo. Não dá para conceber uma Igreja sem Hierarquia Legítima” (Jorge Ferraz, http://januacoeli.wordpress.com/2009/02/02/o-problema-inexistente/#comment-5635 ).

    Um bom resumo da minha posição quanto a isso está na citação que segue, se bem que cada frase dela pediria um longo comentário…

    “Esse tema da jurisdição episcopal é muito amplo, muito difícil e muito sério, e eu sinceramente não acho que quero entrar nele e em todas as suas ramificações neste fórum neste momento.

    Mas penso que eu deveria dizer que eu não acredito nessa noção de jurisdição episcopal suprida por Cristo a quem quer que tenha ordens episcopais válidas e professe a Fé Católica em tempo de crise. Nem acredito que os bispos tradicionais emergenciais tenham algum poder a mais do que eu de eleger um papa, ou seja, nenhum poder. Nem tampouco acredito que seja possível que todos os bispos católicos sobreviventes nomeados validamente deixem de existir, e esse ponto é considerado dogmático por todos os teólogos de que tenho conhecimento que advertem para esse fato.

    Onde, porém, existe um bispo católico sobrevivente designado devidamente eu não sei, nem exige a Fé Católica que eu o saiba. O profeta Elias acreditava que ele era o último adorador sobrevivente do verdadeiro Deus, mas Deus disse a ele: “Reservei-me sete mil homens que não dobraram o joelho a Baal”. Uma vez que tenhamos inculcado em nossa cabeça que não temos de salvar a Igreja, mas de ser salvos pela Igreja, o mistério deixa de perturbar. A crise acabará, e Deus porá um fim nela, por meio de homens que serão ou designados regularmente pela Sua Igreja ou então farão milagres para dar testemunho de sua missão extraordinária.

    Os Papas algumas vezes deram a bispos o poder de transmitir não somente as ordens episcopais mas também o mandato apostólico aos candidatos da escolha destes [bispos] em terras perseguidas, e isso pode ser parte da solução. Mas não sabemos de nenhum detalhe. Não sabemos que poderes foram dados a quem na China, embora pareça muitíssimo provável que alguns poderes extraordinários tenham sido concedidos a alguém para consagrações episcopais. Parece extremamente improvável que o poder especial não-especificado delegado ao Arcebispo Thuc pelo Papa Pio XI (e não XII) se referisse a consagrar bispos a qualquer momento e em qualquer lugar. Ele certamente jamais alegou isso. Mas alguém em algum lugar pode ainda possuir tais poderes derivados de um verdadeiro papa.

    Estamos no meio de uma crise e um mistério e Deus não nos pediu que resolvêssemos o mistério. Ele nos pede que mantenhamos a Fé. Que Ele nos conceda a todos a graça para tanto.”

    (J.S. DALY, Post de 11 de junho de 2006, em: http://www.strobertbellarmine.net/forums/papal-elections-in-extraordinary-circumstances-p952.html#p952 ; trad. F. Coelho).

    Incidentalmente, há um site que pretende listar toda a hierarquia da Igreja Católica no qual é possível vê-la por ordem cronológica de consagração episcopal, e há mais de uma centena de Bispos consagrados antes de 1965, por exemplo, sendo absurdo presumir que todos apostataram.

    Enfim, espero que você esteja aliviado vendo que minha posição é bem pouco atraente a quem a considere friamente, de modo que nosso debate fica assim bem mais fácil de ser levado adiante, concorda?

    É que penso ter encontrado o erro fundamental tanto seu como dos demais que compartilham de sua posição (aqui no Brasil, se não me engano, nos fóruns onde se discute estas coisas e que também escrevem para o site VS, Rui Machado e Thiago Moraes), o qual consiste num princípio de interpretação de textos magisteriais, mas deixo isso para daqui a uns dias, se Deus o permitir.

    Um abraço,
    Em JMJ,
    Felipe Coelho

  10. Regina familiae, ora pro nobis!

    Respondam-me os sedevacantes, se estas afirmações procedem dos senhores, ou se mera semelhança?
    1. “Si el Papa es um precito y malo y, por consiguiente, miembros del diablo, no tiene potestad sobre los fieles que le haya sido dada por nadie, sino es acaso por el César.”
    2. “El pueblo (mais notoriamente os sedevacantistas) puede a su arbitrio corregir a los señores que delinquen.”
    (1 e 2: Errores de Juan Wicleff – Condenados em el Concilio y por las Bulas “Inter cunctas” e “In eminentis”, de 22 de febrero de 1418.)

    Há mais:
    1. “El Papa no es verdadero y claro sucesor de Pedro, principe de los Apóstoles, si vive com costumbres contrarias a Pedro; y si busca la avaricia, entonces es vicario de Judas Iscariote. Y com igual evidencia, los cardenales no son verdaderos y claros sucesores del colegio de los otros Apóstoles de Cristo, si no vivieren al modo de los apóstoles, guardando los mandamientos y consejos de nuestro Señor Jesucristo.”
    2. “Si el Papa es malo y, sobre todo, se es precito, entonces, como Judas, es apóstol del diablo, ladrón e hijo de perdición, y no es cabeza de la Santa Iglesia militante, como quiera que no es miembro suyo.”
    3. “El Papa y el prelado malo e precito es equivocadamente pastor y realmente ladrón y salteador.”
    4. “Si el Papa vive de modo contrario a Cristo, aun cuando subiera por la debida y legítima elección según la vulgar constitución humana; subiría, sin embargo, por otra parte que por Cristo, aun dado que entrara por una elección hecha principalmente por Dios. Porque Judas Iscariote, debida y legítimamente fué elegido para el episcopado por Cristo Jesús Dios, y, sin embargo, subió por otra parte al redil de las ovejas.”
    (De “1” a “4”: Errores de Juan Hus – Condenados en el Concilio de Constanza – 1414-1418 – y en las Bulas antedichas).

    Atenciosamente,

    Alexandre.

  11. Caríssimo amigo Alexandre, Ave Maria Puríssima!

    Nada a ver. Como de costume…

    “22. Não se deve, porém, julgar que já durante o tempo da peregrinação terrestre, o corpo da Igreja, por isso que leva o nome de Cristo, consta só de membros com perfeita saúde, ou só dos que de fato são por Deus predestinados à sempiterna felicidade. Por sua infinita misericórdia o Salvador não recusa lugar no seu corpo místico àqueles a quem o não recusou outrora no banquete (Mt 9,11; Mc 2,16; Lc 15,2). Nem todos os pecados, embora graves, são de sua natureza tais que separem o homem do corpo da Igreja como fazem os cismas, a heresia e a apostasia. Nem perdem de todo a vida sobrenatural os que pelo pecado perderam a caridade e a graça santificante e por isso se tornaram incapazes de mérito sobrenatural, mas conservam a fé e a esperança cristã, e alumiados pela luz celeste, são divinamente estimulados com íntimas inspirações e moções do Espírito Santo ao temor salutar, à oração e ao arrependimento das suas culpas.”
    (Sua Santidade o Papa PIO XII, Encíclica Mystici Corporis Christi, de 1943, http://www.vatican.va/holy_father/pius_xii/encyclicals/documents/hf_p-xii_enc_29061943_mystici-corporis-christi_po.html ).

    E então, quando vamos tomar um chopp (e nossas filhas, certamente, gostariam muito de brincar juntas também fora da escola, elas que são tão amigas!), para você poder solucionar todas as suas dúvidas acerca de minha posição pessoalmente (assim fez Santo Irineu com os gnósticos valentinianos, já que você gosta de me comparar com hereges…), de modo a poder inclusive atacar-me com mais propriedade (e por que não? adversários melhores sempre nos dignificam!), além de não ter de passar por embaraços como este em blogs lidos por muitos?

    Um grande abraço,
    Em JMJ,
    Felipe Coelho

    PS: Em meu último post, onde “no ato” leia-se “no fato”; onde “1965” leia-se “1969”.

    PS2: E então, caríssimo Jorge, você ao menos me concede, à luz das citações que eu trouxe nos últimos dias, que o sedevacantismo não implica nem no cisma nem na heresia da ausência atual quer da Hierarquia legítima, quer da Visibilidade da Igreja? Um abraço, AMDGVM, FC

  12. Caríssimo Felipe, Salve Maria!

    Perdôo-te o talmudismo nas respostas, inclusive com uma certa dose de interesse, porque também preciso de perdão pela tardança em responder-te as mais das vezes. Não tenho em meu favor os “meus arquivos” para ajudar-me nas respostas, sendo a mim necessário sempre escrevê-las de uma ponta a outra, nos horários vagos, quer provocando com isso demoras que, a despeito de justificáveis, são indesejáveis, quer sacrificando a qualidade dos escritos, que nunca podem passar por revisões. Mas, enfim, continuemos fazendo o que dá para ser feito.

    Aliás, gostaria de pedir que tu fizeste uma revisão nos teus textos, porque recebi-os duplicados (ou triplicados), e talvez eu não tenha tido a devida atenção na hora de deixar somente a versão “mais completa”. Havendo qualquer problema, peço que me avises.

    Sobre os três pontos, de maneira tão sucinta quanto me é possível:

    1) Sobre a visibilidade da Igreja:
    Não vejo como, dos excertos citados, se pode inferir que a Igreja de Satanás seria colocada no lugar da Igreja de Cristo com conseqüente desaparecimento desta (volto já a falar em “desaparecimento”). A primeira citação (que começa com “sabemos, ou pelo menos suspeitamos (…)” e que eu não sei de quem é), data venia, rejeito, pois não me incluo neste “sabemos” que o autor expõe. A profecia de La Salette, além de ser Revelação Privada (e, por conseguinte, não ser necessária à Salvação) fala, além do clássico “Roma perderá a Fé”, coisas como montanhas sendo engolidas e luas avermelhadas, o que não me consta que tenha acontecido; portanto, não vejo segurança nem prudência em adotar, à revelia da Igreja, uma interpretação literal do “Roma é a sede do Anticristo” que consta numa profecia cujos demais aspectos claramente ainda não se cumpriram.

    Os dois excertos seguintes falam, respectivamente, da Igreja de Satanás colocada no lugar da verdadeira e do, digamos, “obscurecimento” da Igreja. Quanto ao primeiro, como disse acima, não me parece ser possível inferir dela o “desaparecimento” da Igreja Verdadeira; quanto ao segundo (e aos dois pontos por ti sistematizados), sobre o “obscurecimento”, concordo com eles, mas a situação “pintada” pelos tradicionalistas de hoje em dia (sedevacantistas ou “sedeplenistas”) simplesmente não se encaixa nem nessa definição!

    1. quando diligência moral é empregada, ela pode ser identificada: para se encontrar uma Igreja cuja hierarquia visível é… invisível, e não se sabe onde ela está, e uma falsa hierarquia se apresenta em seu lugar, não é necessário somente “diligência moral”: é essencial uma inspiração de Deus, um milagre, alguma coisa verdadeiramente extraordinária. Esta “visibilidade esotérica”, apenas para os iniciados, não se pode considerar como sendo um mero “obscurecimento”.

    2. alguma outra falsa igreja pode por um tempo ser mais universal: concorda-se, mas a extensão da “Igreja a-hierárquica”, formada pelas pessoas que não sabem (e nem querem saber) onde está a Hierarquia verdadeira, unidas por algum vínculo que, por definição, exclui a submissão hierárquica, tampouco se pode dizer que seja “universal”: assim sendo, a universalidade seria também uma nota da “igreja invisível” protestante, por exemplo.

    2) Sobre o reconhecimento do Papa:

    Quanto a reconhecidos de modo violento, em grande parte mais nominal que real, como é o caso dos “papas conciliares”, bom, se, por “mais nominal que real”, tu estiveres te referindo à desobediência ao Papa, eu concedo; mas desde quando isso é motivo para que se impugne uma eleição pontifícia?!

    3) Sobre a Igreja a-Hierárquica:

    Quanto à frase: [o]nde, porém, existe um bispo católico sobrevivente designado devidamente eu não sei, nem exige a Fé Católica que eu o saiba, isso é uma meia-verdade. Para a comunhão de Fé, realmente, não é necessário saber onde está a hierarquia, mas a Igreja é uma comunhão de Fé, Sacramentos e Governo – afinal, é o tríplice múnus da Igreja – e, por conseguinte, não dá para ter “comunhão de Governo” rejeitando expressamente as autoridades eclesiásticas que se apresentam como tais e sem apontar onde estão as verdadeiras; e, concedendo que tal emaranhado intelectual fosse possível, ele exigiria um tão grande esforço para ser até mesmo justificado a posteriori que certamente o acesso a ele estaria muito distante da simples “diligência moral” exigida para que se encontre a Igreja de Nosso Senhor – comprometendo, assim, a visibilidade da Igreja Católica, mesmo nos moldes que tu apresentaste.

    Enfim! Quanto à atractibilidade das tuas teses, em momento oportuno respondo-te no outro post. Mas fiquei curioso sobre qual seria o meu “erro fundamental”. Podes dizer-mo?

    Abraços,
    Jorge

    P.S.: Só agora li o teu comment recém-publicado. Quanto à ausência da Hierarquia Legítima, sim, as tuas teses não implicam nela; já quanto à visibilidade da Igreja (e mesmo quanto à comunhão com Ela), ao contrário, de verdade não me parece possível conciliá-la(s) com as teses sedevacantistas.

  13. Regina Familiae, ora pro nobis!

    Felipe, outrora grande amigo!

    Agradeço-lhe o convite para um brinde. Porém, o que brindaremos? O ser você órfão, e eu, o de não o ser? Como brindarmos, quando o que nos tange é um ponto nevrálgico, fulcro de nossas crenças, que nos separa, como separáveis e inconciliáveis o platonismo e o aristotelismo?! Contudo, espero o dia em que juntos conclamaremos para todos o deplorável Concílio Vaticano II, em suas premissas e conclusões, mas suspensos os juízos pessoais.
    Com relação ao fato de você dizer que passo embaraços, em razão das minhas colocações, convenhamos, Felipe. São ironias, com conteúdos verdadeiros. E feitas para que você as leia. Ademais, embaraço? Embaraço seria eu interpelar um teólogo ou um filósofo, tendo eu tão pouco conhecimento em ambas disciplinas. Que embaraço existe de “por em frente” a Felipes, Jorges etc. Quem são estes? Pessoas que passam o tempo em conversas de pouca valia. Onde acham que as suas colocações são de importância vital para a Santa Igreja! “Vanitas Vanitatis”. (Do Jorge, creio que não é o espírito taxativo que o anima.)
    O que importa é como cumprimos o nosso estado, querido por Deus. Somos pais, e muito mais valem os nossos exemplos (“exempla trahunt”) do que palavras jogadas ao vento. Mais vale sentir a compunção a saber exprimi-la (“Imitatio Christi”).
    Devemos fazer como aquele santo que abandora o ‘especulativismo’, pois presenciara monges-colegas em debates escolásticos pelo dia inteiro, deixando as obrigação monásticas por algo que julgavam ser maior.
    Por tudo isso, ainda aguardo você.

    Alexandre.

  14. Sr. Moderador
    Por favor retire meu comentario.
    E o penultimo.

    Obrigado.
    Freitas

  15. Muito prezado Jorge, Ave Maria Puríssima!

    Sem dúvida, o apostolado admirável que você vem exercendo escusa toda tardança em responder a essas discussões complicadas. Não se preocupe com isso.

    Passo agora a comentar sua resposta, pela qual lhe agradeço muito. Tratarei apenas do primeiro ponto, a visibilidade da Igreja, que me parece o principal, deixando os outros dois para um comentário futuro, se Deus quiser.

    1. Antes, porém, noto que você me faz uma concessão decisiva:

    “Quanto à ausência da Hierarquia Legítima, sim, as tuas teses [sedevacantistas] não implicam nela” ( Jorge Ferraz).

    Sendo assim, não tem cabimento você falar depois em “desaparecimento” da Igreja ou em “Igreja a-hierárquica” supostamente implicados pelo sedevacantismo: dado que ainda há hierarquia – como é o caso enquanto houver nem que sejam um ou dois Bispos, verdadeiros sucessores dos Apóstolos, no pleno sentido do termo –, dado que ainda há hierarquia, dizia eu, e você mo concedeu, então a Santa Igreja continua viva e na posse de todo o necessário para se restaurar a seu antigo esplendor: não desapareceu. Nem desaparecerá.

    Encontra-se apenas obscurecida, “eclipsada” (N. Sa. de La Salette e de Fátima) por uma falsa hierarquia (a Igreja Conciliar), temporariamente, pois temporário é todo eclipse.

    2. Você, porém, insiste em falar em “desaparecimento” e “Igreja a-hierárquica”, o que me causou uma certa perplexidade, tanto em vista da sua concessão que acabo de citar, quanto pelo fato de que jamais usei nem usaria esses termos, que não refletem meu pensamento, e que inclusive implicariam em flagrante heresia.

    Relendo sua resposta, porém, parece-me que descobri o problema: consiste este em você não distinguir entre encontrar a verdadeira Igreja e encontrar os verdadeiros hierarcas da Igreja, confusão esta que o leva, então, a falar de “desaparecimento” da Igreja e de “Igreja a-hierárquica” durante uma vacância prolongada, e que o vejo expressar, especialmente, neste trecho:

    “para se encontrar uma Igreja cuja hierarquia visível é… invisível, e não se sabe onde ela está, e uma falsa hierarquia se apresenta em seu lugar, não é necessário somente ‘diligência moral’: é essencial uma inspiração de Deus, um milagre, alguma coisa verdadeiramente extraordinária. Esta ‘visibilidade esotérica’, apenas para os iniciados, não se pode considerar como sendo um mero ‘obscurecimento’.” ( Jorge Ferraz).

    Não um mero obscurecimento, a seu ver, logo um verdadeiro “desaparecimento”, e portanto uma “Igreja a-hierárquica”, é isso?

    Acontece que aquela distinção que mencionei é fundamental, pois quando falamos da visibilidade da Igreja, estamos falando especialmente do fato de Ela sempre poder ser encontrada por quem quer que procure, com a devida diligência moral, localizar onde está a verdadeira Religião, a única querida por Deus.

    Para reforçar essa distinção crucial, trago alguns argumentos a seguir. Se a você, porém, tiver bastado apenas que a distinção fosse feita, para lhe fazer ver que uma vacância prolongada – e o consequente falecimento da maior parte da hierarquia – não implicam, tampouco, na perda de visibilidade da Igreja, por favor, não hesite em saltar direto para o item 3 – Conclusão.

    (a) Prova pela razão iluminada pela Fé

    Num dos melhores manuais de apologética que há, lê-se:

    “A IGREJA ROMANA É UNA NO SEU MINISTÉRIO. – É fácil de ver e de reconhecer-se este atributo da Igreja. A unidade de fé conserva-se nela por meio de um ministério único, invariável e a todos patente; e o influxo deste ministério, juntamente suave e forte, deriva de Roma, centro do governo, e transmite-se por intermédio dos bispos e dos pastores, subordinados seus, a todas as regiões do globo, e alcança até ao último dos membros, que compõem a Igreja.”
    (Pe. W. DEVIVIER, S.J., Cours d’Apologétique Chrétienne, ou Exposition Raisonnée des Fondements de la Foi, versão portuguesa pelo Pe. Manoel Martins, S.J., Curso de Apologetica Christã. Exposição raciocinada dos fundamentos da Fé, 3.ª ed., precedida de Carta de Recomendação do Papa São Pio X, quando Patriarca de Veneza, à tradução italiana desta obra, São Paulo: Melhoramentos, 1925, p. 275).

    Ora, para sermos atingidos pelo “influxo deste ministério”, o qual “transmite-se … por todas as regiões do globo”, não é estritamente necessário, sobretudo durante uma crise como a nossa, que saibamos dizer onde estão os Bispos; muitas pessoas são convertidas por sacerdotes ou até mesmo por leigos e, por meio destes, têm acesso à comunicação desse influxo do ministério da Igreja, no que toca à doutrina e aos sacramentos ao menos em sua maioria; isso porque, entre a turvação ou secura da fonte e o reflexo disso no seu mais longínquo manancial, vai um longo e demorado percurso, como é evidente; ora, seu argumento parece implicar que, sem acesso direto e atual à fonte episcopal, não se poderia receber o influxo que outrora dela partiu, ou seja encontrar a Igreja e converter-se a Ela e manter-se n’Ela, mas isso é, como se vê, ilógico (impõe a necessidade de sincronia onde basta a diacronia), sem contar que é também contradito facilmente pela experiência.

    (Ao tratar do segundo ponto, trarei ainda uma citação famosa que corroborará perfeitamente isso, de Santo Antonino de Lisboa sobre o “grande cisma do Ocidente”, que é, a meu ver, o mais próximo de um precedente para nossa crise inaudita).

    (b) Prova pela história da Igreja

    Aliás, o mesmo Devivier chega a dizer o que segue, sobre o tempo do “grande cisma”:

    Ficou, por conseguinte, a Igreja entre os anos 1378 e 1417 sem unidade de governo. É verdade que durante esse tempo faltou à Igreja romana a unidade material de governo; mas a formal ou essencial nunca cessou de existir.” (DEVIVIER, op. cit., p. 276).

    Assim sendo, parece-me que fica amplamente justificada a propriedade da citação que eu já fizera, em minha resposta anterior a você (vide supra):

    “Do melhor comentário ao Código de Direito Canônico, o de Wernz-Vidal, aprendemos que ‘a visibilidade da Igreja consite no fato de que ela possui tais sinais e notas identificadoras que, quando diligência moral é empregada, Ela pode ser reconhecida e discernida, especialmente da parte dos legítimos oficiais dela.’ (F. X. WERNZ, S.J., e P. VIDAL, S.J.,Ius Canonicum, apud John LANE, trad. F. Coelho).

    O que continua plenamente aplicável aos dias de hoje, pelas razões mencionadas, mesmo após uma ruína tão grande da Igreja e uma tamanha defecção da hierarquia.

    Afinal, continuamos sendo ensinados pela Igreja e sendo nutridos por Seus sacramentos, pelos canais que vimos acima; o que nos falta são, apenas, momentaneamente, as decisões autorizadas da Igreja, mas a continuidade ininterrupta delas não foi prometida; pelo contrário, sua ausência temporária é justamente o cerne de nossa crise e a essência do castigo que vivemos hoje, o que me parece estar aos olhos de todos, quer sustentem termos hoje sede plena ou vacante.

    (c) Previsão pela Santíssima Virgem

    A propósito, veja que impressionante, meu caro Jorge, ao mesmo tempo que cogente, esta declaração feita pela Vidente de Fátima em sua última entrevista pública, em 1958, antes de ser brindada, por causa de suas declarações, com o isolamento e censura impostos pelo Vaticano, que só terminaram com sua morte, após a qual ainda teve seus aposentos e papéis vasculhados pela Congregação para a Doutrina da Fé, conforme noticiado na ocasião.

    “Padre, a Santíssima Virgem está muito triste, porque ninguém faz caso de sua Mensagem, nem os bons nem os maus. Os bons, porque prosseguem seu caminho de bondade, mas sem fazer caso dessa Mensagem. Os maus, porque, não vendo o castigo de Deus atualmente sobre eles por causa de seus pecados, prosseguem também em seu caminho de maldade, sem fazer caso dessa Mensagem. Porém, creia-me, Padre, Deus vai castigar o mundo, e vai castigá-lo de uma maneira tremenda. O castigo do Céu é iminente. O que falta, Padre, para 1960, e o que acontecerá então? Será uma coisa muito triste para todos; e não será uma coisa alegre (…) Padre, o demônio está desferindo uma batalha decisiva contra a Virgem; e, como sabe o que é que mais ofende a Deus e que, em menos tempo, lhe fará ganhar o maior número de almas, está tratando de ganhar as almas consagradas a Deus, já que, dessa maneira, também deixa o campo das almas desamparado e mais facilmente apodera-se delas. (…) Padre, não esperemos que venha de Roma uma convocação à penitência, da parte do Santo Padre, para o mundo todo; nem tampouco esperemos que venha da parte dos Senhores Bispos para cada uma de suas dioceses; nem sequer mesmo da parte das Congregações Religiosas. Não; Nosso Senhor já empregou muitas vezes esses meios, e o mundo não fez caso deles. Por isso, agora, que cada um de nós comece por si mesmo sua reforma espiritual; que tem de salvar não só a sua alma, mas salvar também todas as almas que Deus pôs no seu caminho. (…) De tal maneira que agora não existe problema, por mais difícil que seja, tanto temporal como, sobretudo, espiritual… que não possamos resolver agora rezando o Santo Rosário. Com o Santo Rosário nos salvaremos, nos santificaremos, consolaremos Nosso Senhor e obteremos a salvação de muitas almas.”
    (Irmã LÚCIA, Entrevista ao Pe. Augustín Fuentes em 26 de dezembro de 1957, que pôde visitá-la no Carmelo por permissão de Pio XII, apud Pe. Joaquín María ALONSO, C.M.F., arquivista oficial de Fátima, La verdad sobre el Secreto de Fátima, Fátima sin mitos, Madrid: Cor Mariae Centrum, 1976, pp. 103-106; reproduzida pelo site StatVeritas.com.ar, tradução e sublinhado nossos).

    (Deixo passar, por ora, seu minimalismo na consideração do peso das Aparições recentes da Santíssima Virgem para a nossa vida da Fé, pois nos desviaria do assunto em pauta, se bem que haveria muito o que falar para opor à rapidez com que você diminui a relevância de tão tarimbadas mensagens celestes).

    (d) Prova pelo Evangelho

    Também a Revelação vai contra sua inferência, caro Jorge, de que haveria uma necessidade de os Bispos serem facilmente encontráveis para que a visibilidade da Igreja fosse preservada.

    Afinal, no início havia doze Bispos somente, e a Igreja era já visível, sendo que em nenhum lugar está dito que não possam voltar a ser doze em algum momento da história, ou menos até que doze, por que não?

    Assim também, a Igreja era visível na manhã de Pentecostes, enquanto toda a sua hierarquia descia silenciosamente a escada do Cenáculo, para o seu primeiro ato de apostolado. Logo, ainda que os sedevacantistas estejam certos acerca da extensão da crise atual, a Igreja permanece visível também hoje.

    Por fim, se Nosso Senhor indica que a Fé será, com toda a probabilidade, quase que extinta quando do Seu retorno – “Quando vier o Filho do Homem, julgais vós que encontrará Fé sobre a terra?” (Luc. XVIII, 8; trad. Matos Soares) –, é evidente que Ele não passa, aí, a impressão de que uma vasta hierarquia, em ótimo estado, ensinando ativamente Suas doutrinas, estará a postos para recebê-Lo quando Ele voltar!

    [continua…]

  16. (e) Prova pelos Teólogos

    Para concluir, cito alguns teólogos que, longe de verem a incompatibilidade para a qual você acena, apontam para o exato oposto. Comecemos pelo Pe. Emílio Dorsch:

    “A Igreja, portanto, é uma sociedade essencialmente monárquica. Isso, porém, não faz com que a Igreja não possa, por um tempo breve depois da morte de um Papa, ou mesmo por muitos anos, ficar destituída de sua cabeça [vel etiam per plures annos capite suo destituta manet]. A forma monárquica da Igreja também permanece intacta nesse estado…, mas, então, de um modo diferente, isto é, permanece incompleta e a ser completada. A ordenação do todo à submissão ao Primaz dela está presente, muito embora a submissão em ato não esteja… Por essa razão, é corretamente que se afirma que a Sé de Roma permanece depois que a pessoa que nela se assenta morre, pois a Sé de Roma consiste essencialmente nas prerrogativas do Primaz. Essas prerrogativas são um elemento essencial e necessário da Igreja. Com elas, ademais, o Primado continua nesse ínterim, ao menos moralmente. A perene presença física da pessoa do cabeça, todavia, [perennitas autem physica personis principis] não é da mesma estrita necessidade.
    (Aemil DORSCH, S.J., Institutiones Theologiae Fundamentalis, vol. II: de Ecclesia Christi, Innsbruck: Rauch, 1928, pp. 196-197, trad. F.Coelho, baseada na tradução em inglês feita pelo Rev. Anthony CEKADA, (Sedevacantism and Mr. Ferrara’s Cardboard Pope. Recognizing the pope — but “for display purposes only” [O sedevacantismo e o papa-de-papelão do Sr. Ferrara: reconhecendo o Papa, mas “apenas para fins de mostruário”], TraditionalMass.org, agosto de 2005).

    Voltando àquele episódio precursor de nossos tempos que foi o “grande cisma do Ocidente”, eis o parecer de outro teólogo famoso, o Pe. Zapelena, segundo o resumo que dele faz o Rev. Pe. Ricossa, discípulo do venerando Frei Guérard de Lauriers, O.P..

    “Alguns julgaram que todos e cada um dos três papas [durante o grande cisma do Ocidente] foram papas objetivamente dúbios e, portanto, não foram papas de modo nenhum [conforme o adágio: papa dubius, papa nullus (N.doT.)]; neste caso, a Cristandade não teria ficado nem com três papas (o que é impossível) nem com um papa e dois antipapas, mas sim com um longuíssimo período de sede vacante. Ao mesmo tempo que defende a legitimidade da obediência romana [i.e., vs. os pretendentes de Avinhon (N.doT.)], o teólogo jesuíta Zapelena não considera impossível a hipótese de que, sendo os três pretendentes ao Pontificado papas dúbios, teriam todos permanecido papas nulos, puramente putativos. Nesse caso, na Igreja teriam estado ausentes, em ato, a jurisdição e o magistério… e também os eleitores legítimos, de um ponto de vista puramente legal (todos os Cardeais e Bispos residenciais eram igualmente dúbios!)… Zapelena contenta-se em explicar como, numa tal hipótese, Cristo teria suprido a jurisdição tanto quanto necessário (para a eleição), em favor daqueles que detivessem ao menos um título colorado (= aparente), para que participassem naquele conclave atípico que acabou elegendo o Papa Martinho V (T. ZAPELENA S.J., De Ecclesia Christi, pars altera apologetico-dogmatica, Roma, Università Gregoriana, 1955, p. 115). A indefectibilidade e a visibilidade da Igreja não teriam sido comprometidas nem mesmo numa tal eventualidade, pois ainda permanecia possível proceder com uma eleição válida de um Papa.”
    (Pe. Francesco RICOSSA, em: Sodalitium, ano XIX, n.º 2, setembro de 2003, n.º 56, p. 25, trad. F. Coelho).

    Mais surpreendente ainda, o parecer do Rev. Pe. O’Reilly, sobre o qual, remeto ao artigo em que li, pela primeira vez, entre outras citações dele, as que traduzo adiante: cf. John DALY, Fr. O’Reilly On The Idea Of A Long-Term Vacancy Of The Holy See [A Ideia de uma Vacância Prolongada da Santa Sé, Segundo o Pe. O’Reilly], rev. e edit. por John Lane, outubro de 1999.

    “O Concílio [de Constança, que pôs um fim no ‘Grande Cisma do Ocidente’ (N.do.T.)] reuniu-se em 1914… Podemos aqui fazer uma pausa para investigar o que se deve dizer da posição, naquele tempo, dos três pretendentes, e dos direitos deles com relação ao Papado. Em primeiro lugar, houve durante todo esse tempo, desde a morte de Gregório XI em 1379, um Papa – com exceção, é claro, dos intervalos entre as mortes e as eleições para preencher as vacâncias destarte criadas. Houve, digo eu, em todo momento um Papa, realmente investido com a dignidade de Vigário de Cristo e Cabeça da Igreja, não importa quais fossem as opiniões que pudessem existir entre muitos quanto a se ele era o genuíno; não que um interregno cobrindo todo esse período [i.e. 1378-1414, portanto 36 anos (N.doT.)] teria sido impossível ou inconsistente com as promessas de Cristo, pois tal não é de modo nenhum manifesto, mas que, na realidade, não houve um tal interregno.”
    (Pe. Edmund James O’REILLY, S.J., The Relations of the Church to Society – Theological Essays [As Relações da Igreja com a Sociedade – Ensaios Teológicos], Londres: J. Hodges, 1882, p. 283; trad. F. Coelho).

    “Já tinha havido antipapas antes, de tempos em tempos, mas nunca com tal continuidade, nem jamais com tal obscuridade quanto a quem fosse o legítimo Pontífice, nem jamais com tantos seguidores.” ( Ibid., p. 287-288).

    “O grande cisma do Ocidente sugere-me uma reflexão que eu tomo a liberdade de expressar aqui. Não tivesse esse cisma ocorrido, a hipótese de uma coisa dessas acontecer pareceria a muitos quimérica. Diriam eles que não poderia ser, que Deus não permitiria que a Igreja chegasse a uma situação tão lastimável. Heresias podem brotar, disseminar-se e durar dolorosamente muito, pela culpa e para a perdição de seus autores e fomentadores, e também para grande aflição dos fiéis, aumentada pela perseguição de fato nos muitos locais dominados pelos hereges. Que os Católicos ficassem divididos acerca da questão de quem é o Pontífice, porém, que a verdadeira Igreja permanecesse entre trinta e quarenta anos sem uma Cabeça plenamente consolidada [thoroughly ascertained], e representativa de Cristo na terra, isso não poderia ser. E, no entanto, foi; e não temos garantia de que não acontecerá novamente, embora possamos esperar fervorosamente que não aconteça. O que eu inferiria é que não devemos nos apressar em nos pronunciarmos sobre o que é que Deus pode permitir. Sabemos com absoluta certeza que Ele cumprirá Suas promessas; não permitirá que nada aconteça que destoe delas; que Ele sustentará Sua Igreja e a capacitará a triunfar de todos os inimigos e dificuldades; que Ele dará a cada um dos fiéis aquelas graças necessárias para que cada um sirva a Ele e obtenha a salvação, assim como Ele fez durante o grande cisma que estamos considerando, e em todos os sofrimentos e provações que a Igreja atravessou desde o início. Também podemos confiar que Ele fará muito mais do que Ele Se comprometeu a fazer por Suas promessas. Podemos nutrir a expectativa, com probabilidade que alegra, de sermos isentos no futuro de algumas das tribulações e infortúnios que se nos abateram no passado. Mas nós, ou nossos sucessores nas futuras gerações de cristãos, talvez veremos males mais estranhos do que os já experimentados, mesmo antes da aproximação imediata daquela grande recapitulação de todas as coisas na terra que precederá o dia do juízo. Não estou me fazendo passar por profeta, nem pretendendo ver prodígios de mau agouro, dos quais não tenho qualquer conhecimento. Tudo o que quero transmitir é que contingências relativas à Igreja, não excluídas pelas promessas divinas, não podem ser consideradas como praticamente impossíveis apenas porque elas seriam terríveis e aflitivas num grau altíssimo.
    (Ibid., p. 287-288).

    Impressionante, sim?

    Aliás, este final da citação parecer opor-se também àquelas suas afirmações, caro Jorge, feitas nos primeiros comentários deste tópico, a propósito de que de que o sedevacantismo seria demasiado “desesperante”, às quais, de início, me limitei a opor o bíblico “contra spem in Spe”, está lembrado?

    3. Conclusão:

    Creio ter demonstrado à saciedade que, mesmo estando correta a solução sedevacantista para o mistério da crise atual, não é somente a Hierarquia no pleno sentido do termo que permanece existente (como você me concedeu – v. item 1), mas também a visibilidade da Igreja não fica por isso comprometida (item 2), ficando assim provado que o sedevacantismo não leva nem à heresia de negar a perenidade da Hierarquia, nem à heresia de negar a perenidade da visibilidade da Igreja.

    Alguma objeção, ou você pode me conceder também este ponto, caríssimo Jorge?

    Isso me permitiria passar aos itens 2.º e, especialmente, 3.º de sua resposta, se bem que deste último me pareça mais apropriado tratar no tópico em que discutíamos a questão do cisma, no qual, depois de eu ter colado aquela minha tradução apressada do artigo “Chassons le schismatiques!”, você (ainda?) não fez qualquer comentário.

    Pois na hipótese de eu ser bem-sucedido nessa espécie de “preâmbulo” (impugnação das acusações de cisma e heresia dirigidas à posição tradicionalista em geral e, mais especificamente, também e a fortiori à sua variante sedevacantista), isso evidenciaria que nosso diálogo não é “ecumênico”, caro Jorge, mas, sim, uma quaestio disputata entre Católicos, de modo que ficaria bem mais fácil, assim, passarmos às questões candentes do Vaticano II e de Bento XVI, bem como do único método correto de interpretação das doutrinas de ambos (aqui o erro capital, a meu ver, ao qual me referi, tanto seu como de muitos outros que mais ou menos compartilham de sua posição: os princípios da sadia hermenêutica, tanto em geral, como dos documentos magisteriais em particular), questões estas que penso serem de interesse imensamente maior que estas minhas longas elucubrações sedevacantistas, que lhe parece?

    Um abraço,
    Em JMJ,
    Felipe Coelho

  17. Verdadeiramente admirável: o debate está muito interessante, gostaria de lê-lo até o seu termo.

    Embora não seja sedevacantista, percebo que parece ser defensável a existência de católicos com tendências tradicionais sejam sedevacantistas, embora tal posição não obrigue ninguém com obrigação de fé, nem seja lá muito comum…

    Me parece que essa é uma “questão disputada” mesmo :)

    Continuem, meus caros.

  18. Prezado Jorge,

    Salve Maria!

    O debate está muito bom e eu não quero desviar a atenção, mas gostaria fazer uma breve observação.

    No seu comentário de 09 Abr, você escreveu que:

    “Quanto às orações em comum pedindo a sua conversão à Igreja – únicas que o Vaticano II prescreveu – ”
    http://januacoeli.wordpress.com/2009/02/02/o-problema-inexistente/#comment-5797

    Creio houve um grande equívoco. Vamos ler o que o realmente se escreveu no Vaticano II:

    “Em algumas circunstâncias peculiares, como por ocasião das orações prescritas «pro unitate» em reuniões ecuménicas, é lícito e até desejável que os católicos se associem aos irmãos separados na oração.” (UR 8)
    http://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-ii_const_19651207_gaudium-et-spes_po.html

    Assim está escrita UR no site do Vaticano. Percebemos que o texto da UR não menciona o termo “conversão à Igreja” e sim o termo ambíguo “unidade”, o que não implica necessariamente em conversão. Aliás a palavra conversão somente aparece no documento UR nos termos “conversão do coração”, “conversão interior”. O termo não ambíguo “conversão à Igreja Católica” NÃO aparece no texto!

    Além disso, este tipo de oração é, segundo a UR, apenas UM EXEMPLO das tais “circunstâncias peculiares” em que deveríam os católicos se associar aos hereges na oração. O texto da UR utiliza a expressão “como por ocasião…”, deixando bem claro que a oração “pela unidade” é apenas UM EXEMPLO de oração que se deveria fazer em conjunto. Portanto, não procede a sua afirmação de que esta seria a ÚNICA oração em comum prescrita pelo Vaticano II. Ela foi a única EXPLICITAMENTE DECLARADA, deixando aberta a questão bem aberta para livres interpretações.

    O texto do Vaticano II, portanto, não diz de forma alguma aquilo que você lhe atribui. Tenho certeza que você deseja o mesmo que eu: o bem da Santa Igreja. Mas discordamos sobre o concílio. Você diz que ele precisa apenas ser bem interpretado. Eu digo que ele deve ser corrigido. E o texto citado acima demonstra esta necessidade de correção. Tanto que você procurou uma interpretação ortodoxa que não se encontra de forma alguma no texto do concílio. Você mesmo, ainda que inconsciente, procurou corrigir o texto do Vaticano II, que era muito defeituoso. Creio que este seja o caminho mais prático para acabar com todas as más interpretações: corrigir os textos defeituosos do VC II.

    Rezemos pela bem de toda a Igreja,

    AMDG,

    Márcio

  19. Regina Familiae, ora pro nobis!

    Como meu último texto postado neste blog, peço encarecidamente aos seus leitores, precipuamente àqueles (outrossim para os “espasmódicos”) que se obnubilaram por dúvidas causadas por um leitor sedevacantista, que não tomem os seus textos “papoclastas” como sérios e irreprocháveis. São textos com premissas verdadeiras e conclusões desviadas. Para tanto, dou-lhes como leitura tão somente os pequenos trechos de Sidney Silveira e Carlos Nougué sobre o tema (contraimpugnantes.blogspot.com); contudo, se quiserem mais – de extrema valia e necessidade (essenciais) – leiam os esclarecedores e concludentes textos dos sacerdotes Juan Carlos Ceriani e Calderón (http://www.statveritas.com.ar/Varios/SedeRomana1.htm). Acredito, como alma de amigo, que fariam muito bem aos senhores.
    Agradecimentos,
    Alexandre Fernandes

    Aviso: Senhor Leitor Sedevacantista, gostaria muito de que o Espírito Santo, por intercessão de Maria Santíssima, iluminasse-o e extirpasse os seus ébrios devaneios tertulianistas. Como gostaria de tê-lo novamente como amigo, para que pudêssemos – como antanho – conversar sobre assuntos elevados, à semelhança dos santos que assim o faziam.

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