24 – Simone Weil

24 frases de Simone Weil. Não a conhecia; sei que é escritora francesa, filha de “judeus não-praticantes”, agnóstica na infância, religiosa no final da vida (embora não católica). Encontrei a seguinte frase como de sua autoria: “Eu não sou católica; mas considero a idéia cristã, que tem suas raízes no pensamento grego e no curso de séculos tem alimentado todas as nossas civilizações européias, como algo ao qual não se pode renunciar sem se tornar degradado”.

As frases a seguir foram retiradas deste original inglês e traduzidas pelo prof. Carlos Ramalhete; são em número de 24, uma para cada hora do dia, das 00:00 às 23:00. A despeito do comentário feito por um amigo, segundo o qual a primeira frase tem teor gnóstico, publico por três motivos; primeiro, porque no geral o conteúdo das frases é muito bom, segundo porque o deslize doutrinário da primeira frase pode-se justificar pelo fato de não ser católica a autora e, terceiro, porque é possível encontrar um sentido não-gnóstico na frase: afinal, em certo sentido, é bem verdade que as coisas visíveis escondem as invisíveis…

* * *

24 frases de Simone Weil

1. Deus só pôde criar escondendo-Se. De outro modo, só haveria Ele.

2. Uma ciência que não nos aproxima de Deus de nada vale.

3. Uma doutrina não serve para nada por si só, mas é indispensável se não quisermos ser enganados por falsas doutrinas.

4. Um ato cruel é a transferência a outros da degradação que trazemos em nós mesmos.

5. Uma mente fechada na linguagem está presa.

6. Todos os pecados são tentativas de preencher vazios.

7. A beleza sempre promete, mas nunca dá nada.

8. O mal, quando estamos em seu poder, não é percebido como mal, mas como necessidade, ou até dever.

9. Quando dois seres que não são amigos estão perto um do outro não há encontro, e quando amigos estão distantes não há separação.

10. O poder é tão impiedoso para com quem o tem, ou crê tê-lo, quanto para com suas vítimas; estas ele esmaga, aquele ele intoxica. Na verdade, ninguém o tem.

11. O humanismo não estava errado ao pensar que a verdade, a beleza, a liberdade e a igualdade tem valor infinito, mas ao pensar que o homem pode obtê-los para si sem a graça.

12. Lutando contra a angústia, nunca se produz serenidade; a luta contra a angústia produz apenas novas formas de angústia.

13. Nada pode ter como destino algo diverso da sua origem. A ideia contrária, a ideia de progresso, é um veneno.

14. A genialidade verdadeira nada mais é que a virtude sobrenatural da humildade no campo do pensamento.

15. A forma contenpoânea da grandeza verdadeira é baseada em uma civilização estabelecida sobre a estpiritualidade do trabalho.

16. A destruição do passado talvez seja o maior de todos os crimes.

17. O mais alto êxtase é a mais completa atenção.

18. Há uma, e só uma, coisa na sociedade moderna que é mais hedionda que o próprio crime, e é a justiça repressiva.

19. Para ser um herói ou heroína, é preciso dar uma ordem a si mesmo.

20. Estar enraizado talvez seja a necessidade mais importante e menos reconhecida da alma humana.

21. Colocar como padrão de moralidade pública uma noção que não pode ser definida ou concebida é abrir as portas a todo tipo de tirania.

22. O que um país chama de interesses vitais não é o que ajuda seu povo a viver, mas o que o ajuda a guerrear.

23. Menosprezar a inteligência é degradar o ser humano por inteiro.

24. A partir do momento em que um certo tipo de gente foi colocado pelas autoridades temporais e espirituais fora do rol daqueles cuja vida tem valor, nada é mais natural ao homem que o assassinato.

7 comentários em “24 – Simone Weil”

  1. Gostei. Na minha opinião, a primeira frase faz sentido até na perspectiva católica, se vista pela lógica. Se Deus se fizesse perceptível da maneira que é o mundo visível, veríamos apenas Deus, porquanto Sua grandeza é insuperável. Deus só pode tornar perceptível Sua criação visível se Se “oculta” dela.

    Isso é mais fácil de perceber no período até a vinda de Cristo, mas também faz sentido depois dela. Apesar de Deus ter-se feito “visível”, apenas O percebemos pela fé, que vê o invisível, não o visível. Muitos viram o Cristo com seus próprios olhos e não creram. Isso também é verdade na Eucaristia: Deus está verdadeiramente presente, porém o cético, que apenas vê o visível, não crê e encontra apenas pão.

    “Adoro te devote, latens deitas…”

  2. Continuando a ideia do Pedro, tem aquela frase mais ou menos assim de São Pedro Julião Eymard: Deus se faz invisível ao olhos nas espécies eucarísticas se não não suportáriamos sua glória, majestade e morreríamos.

    Gostei muito das frases e daria para meditar cada uma delas…

    Obrigada pelo post.

    JM

  3. Na verdade, deve-se prestar atenção a que a frase n. 1 não está falando do misterio da Encarnação ou da Eucaristia, nem de nenhum evento sobrenatural. Ela está falando da criação. Ela diz literalmente que “Deus só pode criar escondendo-se.” Isto é rigorosamente o oposto da concepção católica da criação, como também o oposto da concepção racional da natureza. Segundo a concepção católica, Deus criou o universo para manifestar sua propria gloria. Isso está lá nos paragrafos 293 e 294 do Catecismo da Igreja Católica e foi solenemente definido como dogma de fé pelo Concilio Vaticano I. Sendo dogma de fé, a proposição que o contrarie é herética.

    A proposição de Simone Weil também contraria explcitamente a Sagrada Escritura: “As coisas invisiveis de Deus, depois da criação do mundo, compreendendo-se pelas coisas feitas, tornaram-se visíveis, e assim o seu poder eterno e a sua divindade” (Rm 1,20). Portanto, a criação não oculta Deus, antes o manifesta: “Os céus proclamam a gloria do Senhor, e o firmamento, a obra de suas mãos” (Sl 18,2).

    A frase de Weil ainda contraria a razão humana, que tem nas coisas criadas um meio para chegar naturalmente ao conhecimento de Deus.

    Por outro lado, se a frase n. 1 contraria a Sagrada Escritura, o dogma da fé católica e a razão natural, coincide, todavia, na tese central do gnosticismo a respeito da criação, ainda mais se considerarmos a segunda parte da frase: “Deus só pôde criar escondendo-Se. De outro modo, só haveria Ele.”

    Esta é a tese da Cabala, o gnosticismo judaico, segundo o qual, para Deus criar o mundo, teve que fazer um “buraco” em si mesmo. Para o cristianismo, a natureza criada é uma teofania, uma manifestação de Deus. Para o gnosticismo, o mundo criado é o não-Deus — Deus não está presente no mundo. Vejam esse trecho em que o estudioso judeu Gershom Scholem descreve a Cabala luriânica:

    Isso significa que a existência do universo é possível devido ao processo de contração em Deus. Luria começa pondo uma questão que parece naturalista e, se quiserem, um tanto crua. Como pode existir um mundo se Deus está em toda parte? Se Deus é ‘tudo em tudo’, como podem existir coisas que não são Deus? Como pode Deus criar o mundo do nada se não existe o nada? Este é o problema. A solução tornou-se, apesar da forma crua com que ele a apresentou, da mais alta importância na história do cabalismo posterior. De acordo com Luria, Deus foi compelido a dar espaço ao mundo, abandonando, por assim dizer, uma região dentro d’Ele, uma espécie de espaço primordial místico de onde Ele se retirou” (SCHOLEM, Gershom. As grandes correntes da mistica judaica. São Paulo, Perspectiva, 1995. p. 291).

  4. Muito prezados amigos em Cristo, Ave Maria Puríssima!

    “Tzim-tzum”, mesmo, tudo indica. Excepcional este comentário, Dr. Rodrigo!

    Discordo do senhor em muita coisa (Vaticano II, Dupanloup…), mas sua coragem e lucidez nesses assuntos que tenho lido ultimamente me surpreendem, especialmente desde que vi seu comentário pondo os pingos nos “ii” no tópico
    http://januacoeli.wordpress.com/2009/01/29/o-que-a-imprensa-nao-mostra-israel-e-hamas/

    Quem sabe um dia o senhor, estudando bem a Nostra Aetate, não passa para o nosso lado, o dos tradicionalistas? ;D

    Enfim, lembrei-me de um artigo de Olavo de Carvalho citando e criticando (algumas vezes bem, outras mal) Simone Weil.

    Uma das pérolas dela, a propósito dessa concepção gravissimamente errônea dela sobre a Criação, na esteira do exposto pelo Dr. Rodrigo:

    “É que somos contradição, sendo criaturas, sendo Deus e infinitamente outros que Deus.”
    (S.WEIL, La Pésanteur et la Grâce, Paris, Plon, 1948, p. 112, apud
    http://www.olavodecarvalho.org/apostilas/simone.htm )

    Nada disso! Nem somos Deus nem somos infinitamente outros que Deus. Nem univocidade nem equivocidade, muito menos uma união dialética entre as duas como quer Simone Weil, mas analogia do ser, como é claríssimo tanto pela razão bem usada quanto pela Revelação.

    (Há nesse link de Olavo de Carvalho também um comentário bem blasfemo dessa pseudomística ao Pai Nosso, que não reproduzo.)

    Enfim, quem tem Santa Teresa, Santa Catarina, Elizabete da Trindade, etc., por que perder tempo lendo Simone Weil?

    Ou Thomas Merton… (Perdão, doutor, que não pude resistir a essa pequena provocação… que em nada diminui minha admiração pelo comentário, realmente admirável, que acabo de ler do senhor. Foi só para não perder o costume. :)

    Finalmente, meu caro Jorge, penso que já foi suficientemente de mau gosto pôr um judeu-cristão para comentar o caso Williamson, mas promover mística judaica de uma socialista já começa a ser demais, não?

    Em JMJ, FC

  5. Caríssimo Felipe Coelho,
    Salve Maria!

    Examinai tudo – retende o que é bom, não? E examinai não quem diz, mas antes, o que foi dito… :-)

    Aquilo que a mística judaica socialista possui de bom, que é verdade, pertence por direito à Igreja. E os testemunhos de não-cristãos que convergem para aquilo que a Igreja ensina configuram eloqüente testemunho em favor da Igreja. Quando eu citei aqui, p.ex., um rabino que defendia Pio XII, é óbvio que não estou promovendo o judaísmo, e sim a verdade histórica. Tendo deixado bem claro ab initio que a sra. Weil não era católica, não é a “mística judaica socialista” que estou promovendo neste blog católico, óbvio, e sim ressaltando a proximidade (sem negar que haja também discrepâncias) entre o pensamento da descendente de judeus e o da Igreja.

    Mas acho que debater isso não tem importância, primeiro porque tanto o que o Rodrigo disse quanto o que tu disseste está corretíssimo e foi muito esclarecedor (só tenho dúvidas sobre se foi realmente isso que a sra. Weil tentou dizer, mas isso são outros quinhentos), e segundo porque há defesas bem mais importantes a serem feitas.

    Um forte abraço,
    em Cristo,
    Jorge Ferraz

  6. Prezado Felipe, salve Maria!

    Agradeço as suas palavras. Que o Divino Espirito Santo se digne conceder-nos, pela poderosa intercessão da Virgem Maria, entrarmos em concordia também a respeito do Vaticano II.

    Quanto a Thomas Merton, faço minhas as palavras de meu amigo Jorge: Examinai não quem diz, mas o que foi dito.

    Olavo de Carvalho também é um problema serio. Já tive a honra de ser coberto de insultos pelo ilustre professor de astrologia:
    http://www.olavodecarvalho.org/textos/recados_educadissimos.htm

    Na verdade, Olavo apenas deu um exemplo da aplicação do 38o e ultimo estratagema do livro de Schoppenhauer que ele introduziu, anotou e comentou: Como vencer um debate sem precisar ter razão. Esse estrategema diz o seguinte: quando não podemos vencer nosso adversario com argumentos, e ele é imune a qualquer outra trapaça, o jeito é partir para a ofensa pessoal.

    Aliás, Olavo de Carvalho é muito “valente”, insultando as pessoas estando fora do alcance das leis brasileiras.

    Se o dono do blogue se interessar, posto aqui os comentarios que fiz em lista privada, que provocaram a incontinencia verbal do desbocado “filosofo”.

    Do servo inutil de Jesus em Maria,

    Rodrigo R. Pedroso.

  7. Pensando bem, acho melhor não postar. O “filósofo” não merece tanto a nossa atenção.

Os comentários estão fechados.