Inventando oposições

Sobre um comentário que foi aqui feito, referente a algumas declarações da CNBB, cumpre dizer quanto segue:

1. A notícia foi publicada, entre outros lugares, no Diário de Pernambuco (CNBB desautoriza excomunhão), na Folha de São Paulo (Para CNBB, excomunhão não vale para mãe de menina estuprada por padrasto) e em G1 (Para CNBB, ninguém foi excomungado em caso de aborto de menina de 9 anos).

2. A notícia que realmente interessa, no entanto, é aquela que foi publicada no próprio site da CNBB (CNBB fala sobre o caso a menina violentada em Alagoinha).

3. Basta dar uma simples olhada nos links acima citados para se ver que as notícias reproduzidas pela mídia secular não têm nada a ver com o que a CNBB efetivamente disse. Qualquer pessoa com mais de dois neurônios consegue ver perfeitamente isso.

4. As reportagens foram cretinamente distorcidas pela mídia; o Marcio Antonio já fez comentários muito pertinentes sobre o assunto no seu “Eles não sabem o que escrevem”.

5. A notícia veiculada no site da CNBB – ao contrário das que saíram na mídia – afirma categoricamente que a excomunhão “precisa, sim, ser tratada”; portanto, contrariando frontalmente as notícias publicadas pela mídia secular, a CNBB não “desautorizou” excomunhão alguma, nem afirmou que “ninguém foi excomungado”, nem nada parecido.

6. É importante registrarmos aqui o nosso repúdio à má fé na manipulação das informações, feita por uma mídia que deseja dar a entender que a CNBB estaria dizendo uma coisa diferente daquela que foi dita por Dom José Cardoso e, assim, semear, aos olhos do público, uma discórdia inexistente no seio da Igreja.

7. Que a excomunhão automática dependa de alguns componentes subjetivos é uma obviedade que nunca foi negada por ninguém. Aliás, nunca houve, por parte do Arcebispo de Olinda e Recife, uma declaração canônica contendo os nomes dos excomungados; tudo o que fez Sua Excelência foi, sempre, afirmar que “quem provoca aborto, seguindo-se o efeito, incorre em excomunhão latae sententiae” – o que é uma citação literal do Código de Direito Canônico (tampouco negada pela CNBB).

8. De onde se evidencia, pela segunda vez, que estão inventando oposições entre as declarações de Dom José Cardoso e as da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, com o intuito de desacreditar a Igreja Católica ante a opinião pública.

9. Quanto às declarações do Secretário-Geral da CNBB, Dom Dimas Lara Barbosa, segundo as quais (em G1): “[n]ão sabemos quem tinha consciência ou não” e “[a]té mesmo na equipe médica, depende do grau de consciência”, isso, como dito acima (n. 7), é verdade; no entanto, e data venia, esta declaração assim feita é inconveniente e desnecessária, porque (1) enseja distorções por parte da mídia anti-católica (como as mencionadas acima), por não deixar claro que não há oposição entre isso e o que declarou Dom José Cardoso; (2) pode confundir os fiéis, fazendo-os pensar, p.ex., que, se a “consciência” do abortista faz com que ele “não ache errado” o aborto que faz, ele não incorre na pena canônica, o que é falso; e (3) se o raciocínio de que as excomunhões não podem ser declaradas porque elas dependem de fatores subjetivos for levado às últimas conseqüências, vamos chegar à absurda conclusão de que nenhuma excomunhão pode nunca ser declarada, dado que os fatores subjetivos por definição escapam ao julgamento objetivo.

10. Por fim, é de se lamentar profundamente a confusão provocada pela forma como as notícias foram veiculadas; reafirmamos tanto quanto dissemos aqui ao longo dos últimos dias, e oferecemos – mais uma vez – o nosso apoio ao Arcebispo de Olinda e Recife, Dom José Cardoso Sobrinho, de novo vítima das insídias de uma mídia que está determinada a crucificá-lo em praça pública pelo simples fato de ter sido Sua Excelência – até o fim – fiel à Igreja de Nosso Senhor.

11 comentários em “Inventando oposições”

  1. Jorge,

    Sempre acompanho as discussões em seu blog.Parabens pelo trabalho.
    Apenas um pequena observação: Quando você quer defender uma posição como a desse post e utiliza de malabarismos para “inocentar a CNBB e os seus”, seus créditos diminuem muito e faz-nos repensar suas defesas em outras causas, como por exemplo no post “sobre o esplendor da hipocrisia” onde voce aparentemente mandou bem. Pois é, o fato de voce querer sempre ver as coisas pelo seu lado bom, pode as vezes deixar faltar a caridade. Com isso não quero dizer que a imprensa não distorceu a noticia (mas eles sempre distorcem!), mas a reação de apoio das pessoas da CNBB foi no mínimo confusa. Tem uma segunda opinião sobre esse assunto no site http://contraimpugnantes.blogspot.com/ . Você pode ter aceitado bem as declarações dadas, mas muitos católicos gostariam de declarações claras, assumidas, de bispos que possam honrar os Santos que deram a vida pela Santa Igreja.
    Abraços.

  2. Prezado “srl”,

    Agradeço a manifestação, e aproveito o ensejo para esclarecer que, absolutamente, não estou embevecido de satisfação com as declarações vindas da CNBB, e me incluo também no rol dos “católicos [que] gostariam de declarações claras, assumidas, de bispos que possam honrar os Santos que deram a vida pela Santa Igreja”.

    Logo quando saíram as primeiras notas da CNBB sobre o caso, eu comentei aqui o seguinte:

    A CNBB publicou duas notas sobre o assunto (uma dos bispos da Regional Nordeste 2 e outra da CNBB como um todo). Têm o mérito de afirmarem claramente (ao menos!) que a Conferência é contrária ao aborto; faltou, contudo, na minha opinião, pelo menos duas coisas fundamentais: (a) um apoio explícito a Dom José Cardoso (que está sendo crucificado pela mídia); e (b) corroborar a sua declaração, dizendo que, sim, todos os envolvidos no crime incorreram em excomunhão latae sententiae.

    Neste post daqui, fiz também questão de expôr a minha opinião sobre as declarações do Secretário-Geral da CNBB, que está longe ser simplesmente uma “boa aceitação”.

    No entanto, a minha – digamos – falta de ênfase no assunto deve-se a que, na minha opinião, com certas coisas não vale a pena escandalizar-se e indignar-se sempre, pois que senão corremos o risco de infartar logo. Ademais (e falando bem sinceramente), alguém esperava algo muito melhor do que o que foi feito?

    Rezemos.

    Abraços,
    Jorge

  3. Prezado Jorge,

    Obrigado pela resposta. Fiquei feliz em lê-la. Por algum motivo achei que você estava satisfeito com a atitude das pessoas que representam a CNBB, neste caso. Uma vez esclarecido, vamos à luta.
    Abraços.

  4. Jorge, li o posto do Danillo Augusto e sinceramente – e infelizmente para nós católicos -acho que ele está correto. Ia colocar aquele posto no meu blog, mas irei buscar algum lugar que se tenha as falas das autoridades da CNBB sem “cortes”, e tirar minha conclusão. Por isso tirei ela do blog.

    Mas até mesmos na CNBB a notícia saiu como “artigo” e nao na íntegra e sei que deve ser difícil encontrar toda a gravação, dificultando assim entender realmente o que eles queriam dizer.

    No entanto, fica claro que houve um “disse e não disse” sobre Dom José que como você bem colocou nem foi citando na primeira Nota, e por tanto, não houve apoio explícito a ele. Uma tragédia ao meu ver.

    Acho que a CNBB peca por omissão numa hora desta, onde deveria dizer bem claro, para todos, a verdade que salva.

    PAX

    JM

  5. Prezado Jorge,

    Embora a mídia seja uma porcaria quase total, não acredito que neste caso a mídia inventou oposição. Por isso discordo de você.
    A declaração que saiu hoje nos jornais do Bispo da alta cúpula da CNBB é o motivo. Não importa o texto dos jornalistas no caso, mas sim a declaração da CNBB.
    A CNBB declara-se contra o aborto. Mas, isso é o mínimo do mínimo… depois de fazer campanha da fraternidade falando da vida… não poderia dizer outra coisa.
    Mas, o silêncio da CNBB em aglutinar todos os bispos junto a Dom Sobrinho e a forma como se falou da excomunhão (passando mais a idéia de que nem mesmos os médicos estão excomungados…) é uma prova de oposição da CNBB em relação a Dom Sobrinho.
    O silêncio, muitas vezes, é cúmplice…
    E pra bom entendedor…
    De modo que a CNBB mantendo-se numa posição dúbia — e só tem razão de ser essa posição para veladamente não endossar a atitude heróica de Dom Sobrinho — faz um gol-contra (mais um…).

  6. Eduardo,

    Eu concordo integralmente (e, aliás, desde a semana passada que digo isso) que faltam coisas importantes na posição tornada pública da CNBB; mas não dá para ignorar a absurda distorção feita pela mídia secular porque, apesar de tudo e ao contrário do que foi amplamente noticiado, não houve nenhuma declaração da CNBB desautorizando a atitude de Dom José Cardoso! Não acho razoável aceitarmos isso calados.

    Quanto ao desnecessário que foi dito e ao necessário que deixou de ser dito, bom… nada de novo sob o sol, infelizmente.

    Abraços,
    Jorge

  7. Jorge,

    Quando comecei a ler a notícia ontem no G1, fiquei (confesso) com raiva da CNBB. Mas, depois que li a notícia no site da CNBB, fiquei mais aliviado. A notícia do G1 dizia claramente que a CNBB havia dito que não houve excomunhão!

    Lamentável a atitude da mídia e minha, de não ver a notícia sobre outros focos. Ainda preciso aprender muito… E são pessoas como você que nos ensinam.

    Abraços em Cristo,

    Everth.

  8. Decepcionante e insuficiente foi a declaração da CNBB na minha modesta opinião. Faltou uma chamada “no aço” ao Presidente da República que afrontou a Igreja e aos católicos.

    Tentou mais apaziguar, quando creio que é hora de guerrear, guerrear por Cristo e pela vida humana. Mesmo que a custa de perseguições e calúnias.

    Sinto-me profundamente feliz de ter em nossa pátria um bispo como D. José Cardoso.

    Paz a todos.

    Luciano

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