“Comentário à declaração de Mons. Fisichella” – pe. Berardo Graz

[Atendendo ao pedido que recebi por email, publico os comentários do revmo. pe Berardo Graz, do clero de Guarulhos, SP, sobre o artigo de Dom Rino Fisichella que foi publicado no Osservatore Romano domingo passado.]

Acredito que Mons. Fisichella escreveu a declaração, publicada no “L’Osservatore Romano” do dia 15/03/09, a partir das notícias que chegaram até ele sobre o caso da menina estuprada e submetida a aborto de gêmeos. Se Mons. Fisichella tivesse recebido informações mais corretas e detalhadas de como se desenrolou o fato não teria escrito o que escreveu.

Cito e comento algumas passagens da mensagem de Mons. Fisichella:

1) “No caso de Carmen se confrontaram a vida e a morte” .

Não é verdade! Tanto assim que o IMIP (Instituto Materno Infantil de Pernambuco), após intervenção de Dom José Cardoso Sobrinho, arcebispo de Recife, declarou que a menina não estava correndo risco de morte e também por isso permitiu que fosse transferida. O risco se acentuaria no final da gravidez, mas é por isto que o parto, antecipado por causa dos gêmeos e precedido pelo acompanhamento do pré-natal, seria por cesariana, como acontece na grande maioria das quase 30.000 gravidezes (exatamente 27610 em 2006 pelo DATASUS), em adolescentes abaixo de 14 anos, a cada ano no Brasil.

2) “Carmen deveria ter sido em primeiro lugar defendida…”.

É o que exatamente e eficazmente Dom José fez, porque obrigou a direção do IMIP a revelar a verdade sobre o falso risco de morte da criança, mentira através da qual se quis cativar a opinião pública, na sua grande maioria contrária ao aborto, para que se tornasse favorável a este crime contra a vida. Esta mentira continua dominando a Mídia e através dela a população em geral, para que aos poucos a grande maioria concorde com o aborto na gravidez na adolescência, porque acarretaria risco de morte. Estas são as estratégias do movimento abortista que há cinquenta anos está internacionalmente influenciando todos es estados para que até 2015 o aborto seja legalizado em todas as nações e declarado e praticado como direito humano, com o aval da ONU. Este é o clima que estamos respirando no Brasil nos últimos anos, graças principalmente ao atual governo, conivente e colaborador destas estratégias.

Nada disso a declaração de Mons. Fisichella menciona, acredito por falta de informações, pois a atitude de Dom José Cardoso, desmascarando esta trama de mentiras, não somente tentou defender “Carmen”, mas também as várias “Carmens”, que estão sendo instrumentalizadas para que o aborto seja cada vez mais aceito pela população normalmente contrária. Nestes dias uma nova “Carmen”, moradora de Guaratinga na Bahia, está arriscando de cair na trama dos abortistas que querem a todo custo que aborte <i>nonostante</i> ela seja contrária.

Dom José foi corajoso e ensina a coragem de não nos calarmos, como cristãos e católicos, na frente destas tremendas injustiças e autênticas violações dos direitos humanos. A mãe da “Carmen” deu o seu consentimento ao aborto, claramente coagida pela equipe do IMIP que falsamente apresentou o caso como perigo de morte. O pai da menina nem pôde falar com os médicos, tendo o direito de expressar o seu consentimento ou não ao procedimento, direito que lhe foi negado, o que segundo a lei brasileira torna ilegal o aborto de “Carmen”.

Mons. Fisichella faz uma bonita defesa sentimental da menina mas manifesta não conhecer a trama inescrupulosa das estratégias abortistas, que ao invés Dom José enfrentou com firmeza e coerência e , quando a vida dos dois nenêns já estava perdida, truncada pela “guilhotina” do aborto, com a firmeza e a coerência do bom pastor lembrou a excomunhão de quantos colaboraram com este crime, pois a caridade não pode ser vivida fora da verdade, e é isto que dá “credibilidade” à nossa Igreja e a seus pastores.

3) “O respeito devido ao profissionalismo do médico é uma regra que deve envolver todos e não pode consentir chegar a um julgamento negativo sem antes considerar o conflito criado em seu íntimo”

Concordo com esta afirmação de Mons. Fisichella, mas me pergunto: que profissionalismo e que conflito viveram os médicos do IMIP que deixaram que o caso fosse gestido por uma assistente social, que não considerava os nenêns como vidas humanas a serem defendidas, mas somente a vida da “Carmen” supostamente em perigo de morte?

Que profissionalismo e que conflito viveram os médicos que nem quiseram ter contato e explicar o caso para o pai, para o pároco da menina e para o Conselho Tutelar de Alagoinhas, que cuidaram diretamente dela até levá-la ao hospital, para que fosse atendida?

Que profissionalismo e que conflito viveram estes médicos, que negando-se ao contato com os familiares, colaboraram porém para que, à revelia do pai e do advogado delegado dele, a menina com alta a pedido assinado pela mãe, analfabeta e pressionada psicologicamente pela dramaticidade do falso quadro de perigo de morte, fosse seqüestrada pelo grupo feminista Curumim, que a levou a um outro hospital sem revelar o nome (a ginecologista foi junto com a criança a e mãe para este outro hospital, identificado depois como CISAM – ou Maternidade da Encruzilhada), para que o aborto fosse realizado antes que as autoridades judiciais o impedissem?

Que profissinalismo e que conflito viveram os médicos que atuam numa instituição, seja o IMIP e depois o CISAM, que sonegaram as informaçãoes e, no caso do CISAM, sustentou  a mentira de negar a presença da menina, enquanto ela estava sendo submetida ao aborto?

Claro, Mons. Fisichella não podia estar de posse de todas estas informações! Mas se oferece agora uma boa oportunidade para que todos nós, como Igreja de Jesus Cristo, nos informemos melhor e mais profundamnte sobre toda a trama que a partir da criação do Conselho Populacional (1952), por iniciativa da fundação Rockfeller e das outras fundações norte-americanas, está divulgando a mentalidade abortista no mundo inteiro, sutentando a prática do aborto em situação ilegal, para que depois seja aceita como válida sua legalização. Tudo isto tem como finalidade o controle populacional, nova e tremenda arma do capitalismo internacional para a implantação em nível mundial da lógica do mercado, derrubando barreiras morais e religiosas que atrapalham a sua efetivação. A defesa dos direitos da mulher é só pretexto para tornar aceitável para o grande público a legalização do aborto, sendo este o procedimento mais eficaz para se controlar ou diminuir o crescimento de uma população.

O grupo Curumim assim como outras duzentas ONGs, favoráveis ao aborto, esterilização, contracepção e direitos homossexuais, estão atuando há quase vinte anos no Brasil, financiadas por dinheiro estrangeiro principalmente das fundações norte-americanas, para que o aborto seja legalizado e uma estratégia é fazer com que toda gravidez na adolescência seja considerada risco de morte e portanto, ampliando o conceito de aborto necessário ou terapêutico, não punido pelo Código Penal, seja encaminhada para a realização do aborto impropriamente chamado de “aborto legal”.

Para isto nos últimos anos se multiplicaram em todos o Brasil os serviços de “aborto legal”. Tenta-se tornar legal o aborto em caso de malformações fetais (ex. anencefalia) e é por isto que a proposta será avaliada pelo STF. Nas faculdades de medicina ensina-se aos futuros médicos para que orientem as mães, que estejam gerando um filho defeituoso, a solicitarem ao juiz a permissão paro o aborto. O Minstério da Saúde já fez convênio com o IPAS, organização internacional que divulga o aborto, para que a cada ano mil novos médicos sejam treinados sobre as técnicas de aborto.

O governo Lula desde o começo, afirmando de tratar o aborto como problema de saúde pública (afirmação mentirosa pois o número de mortes maternas não depende da  clandestinidade do aborto, mas do atendimento durante a gravidez, parto e pós parto), colabora ativamente com a agenda internacional de implantação do aborto e não mede esforços para convencer os brasileiros, em sua maioria contrários a esta prática, para que se convençam que a lei do aborto é uma coisa boa. Daí as esquizofrênicas declarações do Presidente Lula, que afirma que como cristão é contra o aborto, mas como chefe de estado deve promovê-lo para salvar vidas humanas. É o joguinho da dupla moral oportunista, pois o que interessa ao Presidente é não perder a colaboração econômica do FMI e das outras organizações internacionais, que para ajudar o terceiro mundo exigem que se adote a agenda abortista, em vista do controle populacional. Mais uma vez o Brasil está sendo vendido aos interesses internacionais.

A tática do sequestro de adolescentes grávidas para que abortem a todo custo para favorecer a agenda abortista já foi usada em 2003 na Nicarágua, na Bolívia também, e agora no Brasil e isto não acontece por acaso, mas de caso pensado. Precisamos abrir mais os olhos, nos organizarmos melhor na defesa da vida e não sermos ingénuos.

A firme tomada de posição de Dom José Cardoso Sobrinho é um sinal positivo de como a nossa Igreja, em colaboração com outras forças religiosas e sociais, pode se opôr a esta agenda de neo-paganismo que quer nos fazer engolir o aborto, a libertinagem sexual, o matrimônio gay e a eutanásia, que também faz parte da agenda do controle populacional, apelando para um falso conceito de liberdade.

Pe. Berardo Graz
sacerdote da diocese de Guarulhos SP,
membro da comissão diocesana e regional em defesa da vida,
formado em medicina e cirurgia na Itália, mas sem CRM no Brasil,
cidadão italiano e brasileiro

8 comentários em ““Comentário à declaração de Mons. Fisichella” – pe. Berardo Graz”

  1. Em resumo, Dom Fisichella deveria procurar informar-se melhor antes de sair por aí dizendo bobagens e fazendo o jogo da mídia anti-clerical e dos abortistas.

  2. Definitivamente não entendi essa parte:

    “Tudo isto tem como finalidade o controle populacional, nova e tremenda arma do capitalismo internacional para a implantação em nível mundial da lógica do mercado, derrubando barreiras morais e religiosas que atrapalham a sua efetivação.”

    Desde quando comunismo/esquerdismo internacional virou “capitalismo”? É verdade que há os que se valem da “lógica de mercado” como critério derradeiro para definir o que é certo e errado, mas isto não é o “capitalismo” per si.

    Quem quer ‘derrubar barreiras morais e religiosas’ são os revolucionários socialistas e globalistas! Chamá-los por outra identidade (mesmo aquela, falsa, que usam para avançar a agenda revolucionária) revela, no mínimo, desconhecimento do assunto.

  3. Victor,

    Acredito que o pe. Berardo está se referindo ao relatório Kissinger. Sobre o assunto, ver, p.ex.:

    http://www.providaanapolis.org.br/liminat.htm

    http://www.providaanapolis.org.br/kissinger.htm

    http://noticias.cancaonova.com/noticia.php?id=235421

    O comunismo é “intrinsecamente perverso”; mas não podemos nos esquecer de que o capitalismo não é “intrinsecamente santo”. Confiança irrestrita, quem merece é a Doutrina Social da Igreja.

    Aliás, sobre o assunto, vale muitíssimo a pena ler a obra de Fulton Sheen chamada “O problema da liberdade”:

    http://www.veritatis.com.br/article/3789

    Abraços,
    Jorge

  4. Jorge,

    Obrigado pelo seu comentário. Concordo plenamente que, ao passo que ‘o comunismo é “intrinsecamente perverso’, o capitalismo não é “intrinsecamente santo”’.

    Mas a política de controle populacional em particular não é essencialmente “capitalista” apenas porque o Relatório Kissinger, que a promove, origina-se dos Estados Unidos, baluarte do capitalismo. Muito pelo contrário, a atuação de Henry Kissinger sempre teve um forte pendor comunista. As diretrizes preconizadas naquele relatório não podem ser associadas diretamente ao “capitalismo”, mas à politica internacional americana que ele defendia, de inspiração esquerdista.

    Ou seja, vemos uma idéia oriunda do pensamento comunista embalada num pacote rotulado de “capitalista”. Isto é a típica inversão revolucionária projetada deliberadamente para confundir.

    Portanto, continuo sem entender como é que o padre – que mostra não ser ingênuo e revela que conhece a teia de interesses por trás do episódio – deixa passar uma oportunidade de mencionar e condenar o maior inimigo do Cristianismo em toda a sua história e o substitui pelo “capitalismo internacional”, que definitivamente não é o originador destas políticas.

    Que achas?
    Saudações,
    Victor

  5. Victor, você se esquece do básico!

    A ligação do capitalismo com o comunismo é antiga e está bem detalhada por muitos historiadores.

    Interessante é que no fundo tanto o capitalismo liberal como o comunismo são sistemas bastantes utopicos! Por exemplo:

    O comunismo acha, utopicamente, que o Estado irá resolver todos os problemas da sociedade; e o capitalista liberal, também utopicamente, acha que o liberalismo na economia, irá resolver os problemas economicos da sociedade!

    A única diferença é que o comunismo (socialismo) já demonstrou que falhou em todos os sentidos; economicos, sociais, familiares,… enquanto os capitalistas liberais ainda não perceberam, e nunca deram um único exemplo onde a sociedade viveu bem melhor com uma economia liberal!

    O máximo que eles (capitalistas liberais) conseguem é falar de ”Era Regan” nos EUA! Mas não se ver claramente aí um exemplo de capitalismo liberal.

    Ao separar a moral da economia, o próprio capitalismo, além de financiar, permite que o próprio socialista cresça. Utopicamente, o capitalista liberal se esquece que os homens são pecadores, e muitos irão querer enriquecer de forma desonesta.

    Tanto o capitalismo liberal como o socialismo, são frutos da mesma mentalidade utopica dos homens!

    Aliás, você já estudou a vida dos ”pais do capitalismo moderno”?

    Você não acha estranho que alguns ali sejam ateus!

    Uma coisa que me estranha é que o próprio Charles Darwin (que era biologo), afirmou que a sua maior influência, foi o capitalismo moderno!

  6. Oi Renato Lima,

    Concordo em número, gênero e grau com você. A questão que trato não é exatamente essa. Chamo a atenção a um caso particular. No caso específico da promoção internacional do controle populacional e abortismo, de onde se origina o esquema de crenças que lhe dá sustentação? É o capitalismo internacional sua fonte e origem? Ou é ele, nesse assunto específico, o vetor pelo qual se transmite o programa ideológico oriundo de outras paragens?

    A Fundação Rockfeller, a Fundação Ford e similares são financiadores e instrumentos de propaganda ideológica comunista. O papel do “capitalismo internacional” na disseminação do abortismo é, portanto, essencialmente de servir como veículo e de prover uma roupagem liberal a uma idéia essencialmente comunista, ou assim me parece.

    Similarmente, Henry Kissinger era secretário de Estado da maior nação capitalista mas seu ideário era pautado por crenças evidentemente comunistas, a julgar pelas suas ações. Foi ele quem organizou a retirada das tropas americanas do Vietnã, que levou à morte de milhões de vietnamitas do sul. Foi ele quem liderou a aproximação entre os EUA e a China comunista. Foi ele quem tomou a liderança em levar os americanos a vender tecnologia militar aos soviéticos.

    De onde posso suspeitar, portanto, que surgiu o conjunto de crenças apresentadas no Relatório Kissinger? Tendo a pensar que o capitalismo, neste caso, foi meramente a roupagem e pretexto pela qual o programa comunista se manifestou. As idéias são de lavra esquerdista mas são apresentadas como capitalistas/americanas/liberais para o caso de a implementação do programa não dar certo e então se poder jogar a responsabilidade no colo do “capitalismo”, esse eterno malvado.

    É por isso que a menção ao “capitalismo internacional” no texto do Pe. Berardo me soou como dissonante do contexto mais amplo de sua excelente mensagem. Ora, já se enfrenta um grande problema no Brasil e na Igreja pela insistente referência ao capitalismo como “o originador dos males”. Quando se surge uma oportunidade de mencionar o mal maior no contexto brasileiro, a culpa é novamente jogada nos ombros do “capitalismo internacional”. É evidente que este também é um ator, mas, NESTE CASO ESPECÍFICO, me parece ser ele um ator coadjuvante.

    É preciso dar nome aos bois. O grande problema no Brasil é a influência comunista, que usa múltiplos disfarces. Mas parece que a palavra “comunismo” é tabu; afinal, o Muro caiu! Não vamos falar muito essa palavra! Podemos até dispensar palavras duras a Lula, mas falar de “comunismo”, “revolução”, “socialismo”? Ah, é melhor não.

    Por esta razão fiquei um tanto quanto sem entender porque os holofotes foram dirigidos, nesta feita, ao capitalismo.

  7. Victor, gostei que o sr. confirmou que sim, o capitalismo participa, com o socialismo, de mazelas na humanidade, quando escreveu: ”É evidente que este também é um ator, mas, NESTE CASO ESPECÍFICO, me parece ser ele um ator coadjuvante.”

    No caso da questão Henry Kissinger, não foi o comunismo que o possibilitou fazer a sua jornada eugenista, mais o próprio capitalismo!

    Agora, quem foi que disse que o cristão tem que escolher entre o capitalismo e o socialismo?

    Quem foi que disse que o capitalismo é um sistema econômico cristão, como muitos querem passar?! O socialismo é sim diabólico, mais o socialismo é o capitalismo levado ao seu extremo.

  8. 115. Outros, porém, se mostram tímidos e incertos quanto ao sistema econômico conhecido pelo nome de capitalismo, do qual a Igreja não tem cessado de denunciar as graves consequências. A Igreja, de fato, apontou não somente os abusos do capital e do próprio direito de propriedade que o mesmo sistema promove e defende, mas tem igualmente ensinado que o capital e a propriedade devem ser instrumentos da produção em proveito de toda a sociedade e meios de manutenção e de defesa da liberdade e da dignidade da pessoa humana. Os erros dos dois sistemas econômicos e as ruinosas conseqüências que deles derivam devem a todos convencer, e especialmente aos sacerdotes, a manter-se fiéis à doutrina social da Igreja e a difundir-lhe o conhecimento e a aplicação prática. Essa doutrina é, realmente, a única que pode remediar os males denunciados e tão dolorosamente difundidos: ela une e aperfeiçoa as exigências da justiça e os deveres da caridade, promove tal ordem social que não oprima os cidadãos e não os isole num egoísmo seco, mas a todos una na harmonia das relações e nos vínculos da solidariedade fraternal.

    http://www.vatican.va/holy_father/pius_xii/apost_exhortations/documents/hf_p-xii_exh_19500923_menti-nostrae_po.html

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