Os avestruzes comunistas

Gostaria de tecer alguns comentários sobre um artigo do Olavo de Carvalho, publicado no seu site na semana passada, chamado Orando com os avestruzes. Soube apenas a posteriori (graças a um outro artigo do Veritatis Splendor anteontem publicado) que as palavras “despejadas na rede” e comentadas pelo filósofo eram da autoria do Pedro Ravazzano, e foram feitas em uma lista de emails da qual o Pedro participa.

Pois bem; para não demorar-me, o artigo do Olavo apresenta, a meu ver, três problemas.

1. A patente desproporção. Como é que um artigo numa lista de emails privada à qual sabe-se lá quantas pessoas têm acesso recebe uma resposta no site do Olavo de Carvalho e no Diário do Comércio, 24 de março de 2009? Isto torna absolutamente pertinente a queixa do Ravazzano na réplica publicada pelo Veritatis: “De todo o modo, sempre é pertinente frisar que, nessa confusão, que eu caí de pára-quedas – afinal não esperava que um simples comentário fechado tomasse grandes proporções – jamais ultrajei ou ofendi o Olavo e sua família, e queria ser tratado da mesma maneira”.

2. A falsa oposição entre militância anticomunista e vida interior. Também sobre isso falou o Pedro, dizendo: “Olavo coloca como se eu tivesse feito uma integral condenação do anticomunismo militante quando, na verdade, apenas afirmei que aqueles católicos que desconheciam as condenações da Igreja ao comunismo, mas viviam em entrega a Deus e seguiam piedosamente os princípios e preceitos cristãos, tornavam-se anticomunistas naturalmente”. É perfeitamente natural – aliás, é necessário – que um católico, se bom católico, tome posição frontalmente contrária ao comunismo, mas a recíproca não é verdadeira: nada garante que um “anticomunista” torne-se ipso facto um bom católico. E simplesmente ser “anticomunista”, rasgue as vestes quem o quiser, não salva ninguém: esta é a verdade. É necessário ser católico, e bom católico – e a missão da Igreja, por evidente, é forjar católicos, e salvar as almas uma a uma.

Não é respeitoso para com a vida espiritual referir-se a ela da forma como o fez Olavo de Carvalho. Não é justo chamar as pessoas que estão sinceramente preocupadas em praticar a sua Fé de avestruzes e insinuar negligência delas no combate ao comunismo. As palavras do Olavo – p.ex., “[c]omo pode a vida religiosa ter-se prostituído a tal ponto que um fiel católico já não enxerga nada de ofensivo em acreditar que os mais de trinta milhões de mártires e combatentes cristãos sacrificados pela sanha comunista na Rússia, na Polônia, na Hungria, na China, em Cuba e um pouco por toda parte merecem apenas as nossas orações, se tanto, em vez da nossa firme disposição de correr o mesmo risco que eles correram?” – são meras hipérboles de retórica. Primeiro, porque passa a impressão de que temos todos a obrigação moral de pegarmos em armas e fazermos incursões milicianas a Cuba para derrubarmos o regime comunista, o que é gritantemente falso. Sim, os mártires são honrados, mas ninguém deve lançar-se em busca do martírio, óbvio – isso sim seria tentar a Deus. Segundo, porque todo o artigo do Olavo é baseado no boneco de palha já trazido à luz: não existe – a não ser na cabeça do Olavo – nem sombra de um “lavar as mãos” com requintes de pacifismo no discurso católico.

3. A apresentação do Vaticano II como bode expiatório. Parece brincadeira: a culpa de tudo recai nas costas do Concílio! Não sei como ainda não surgiu uma demonstração incontestável de que o aquecimento global, a crise financeira, a eleição de Barack Obama, o nobel de Saramago, os atentados de 11 de setembro e os massacres da Faixa de Gaza foram causados pelo Concílio Vaticano II. Não duvido que alguém se aventure a fazê-la. No entanto, e isso é muito de se lamentar, o Olavo presta um grande desserviço à Igreja ao vir com as acusações do tipo:

O cardeal Pallavicini ensinava que “convocar um concílio geral, exceto quando exigido pela mais absoluta necessidade, é tentar Deus”. Desde a fundação da Igreja até a década de 60 do século findo, realizaram-se vinte concílios. Nenhum deles incorreu nesse pecado. Cada um, segundo enfatizava o cardeal Manning, “foi convocado para extinguir a heresia principal ou para corrigir o mal maior da respectiva época”. O primeiro a desprezar essa exigência, e a desprezá-la não por descuido, não por um lapso, não por negligência, mas por vontade expressa e por firme decisão de seus convocantes, foi o Concílio Vaticano II.

Dada a conclusão do artigo, caberia perguntar o quê, exatamente, o Olavo tencionava com ele. Abrir, por algum motivo desconhecido do grande público, uma polêmica incompreensível com um jovem de Salvador? Inverter a importância das coisas e colocar a militância anticomunista sozinha (e não a imitação de Cristo) como o valor máximo a ser buscado nesta vida? Ou simplesmente ter um pretexto para atacar um Concílio Legítimo da Igreja Católica?

101 comentários em “Os avestruzes comunistas”

  1. Prezado Assunção, salve Maria.

    Você escreveu:

    “(…) Nem eu nem você nem ninguém aqui tem condição de determinar se o Papa Paulo VI, a quem acredito você jamais escutou pregar (perda sua, lamento por você) é herege ou não”.

    Pois eu discordo. Creio eu ter o direito de julgar a heresia. Creio eu também que inúmeros santos doutores e teólogos mostraram ao longo dos séculos que um leigo pode se furtar a obedecer aqueles que detem, pelo menos aparentemente, a autoridade.
    Grandes teólogos dizem que resistir a um papa tendo dúvidas lícitas sobre ele ou sobre sua eleição não é cisma e muito menos heresia. Mas você diz que é.
    Com qual opinião devemos ficar? Com a sua ou a desses teólogos?
    Um abraço,
    Sandro de Pontes

  2. Caríssimo Epiphanius, Ave Maria Puríssima!

    Tomo a liberdade de responder ao seu post, embora direcionado ao Sandro, porque, entre outras coisas, você também se refere a mim. Não significa isso que eu concorde com tudo que o Sandro escreveu aqui, aliás, e ele bem sabe disso.

    Quanto ao seu “P.S.”, estou pronto a defender qualquer uma daquelas acusações, com provas exaustivas tiradas dos escritos do Prof. Fedeli, contrapostas aos ensinamentos da Santa Igreja que o condenam. Penso, inclusive, que será uma das maiores obras de caridade que está em meu alcance fazer, para ajudar ao próprio.

    Mas passemos ao que, de longe, mais interessa.

    De cara, você se contradiz: ora fala que um sedevacantista “está, também, no “extremo” da doutrina, nos casos “raríssimos” sobre os quais alguns teólogos dão opiniões”, ora que este mesmo sedevacantista precisa de orações “para seu retorno à Santa Igreja de Cristo”.

    Tomarei, benevolamente, a primeira parte como sua opinião, relevando a segunda como mero ranço fedélico, que rezo lhe seja passageiro. Não obstante esse passo em falso, é preciso reconhecer que a sua intervenção elevou muitíssimo o nível do debate.

    Cheguei ao sedevacantismo, meu caro Epiphanius, justamente analisando escritos anti-sedevacantistas como os que você cita, mas conferindo cada citação e procurando ouvir também a defesa dos réus, coisa que você infelizmente não fez, como logo veremos. Parece-me este o melhor método para formar um juízo nestas questões, ao invés de seguir as variações de humor de um confesso inacertante e notório caluniador:

    “(…) aquele que ouviu todos os argumentos em conflito, tal como se fossem as partes de uma causa, tem de se encontrar em melhor posição para julgar”
    (ARISTÓTELES, Metafísica, III, 1 – 995 b).”

    Agindo assim, uma das coisas que mais me impressionaram foi como a polêmica anti-sedevacantista, mesmo depois de tantas décadas, ainda se via forçada a apelar a tantos erros crassos e mesmo citações forjadas, para defender sua posição.

    Os textos que você cita, longe de serem exceção (e exceções existem), são das provas mais eloquentes desse tipo de literatura.

    Que você tenha uma noção inadequada de Magistério (aliás, típica das pessoas de sua posição, especialmente leitores do site Montfort, que infelizmente difunde muitos erros graves nesse particular), se confirma por você ter aprovado a seguinte enormidade, que mostrarei a seguir ser nada menos que uma tremenda fraude (não sua, bem entendido, mas do panfleto em que você ingenuamente confiou):

    ”Mas acrescento, todavia, uma [citação] que talvez o senhor desconheça: “É possível que algum documento pontifício ou conciliar contraste diametralmente ensinamentos infalíveis do passado”, (Cf Diekamp, Theologiae Dogmaticae Manuale, Desclée, Parigi-Roma, 1933, vol. I, p. 68, apud: SISI NONO, CONCILIO VATICANO II, ROTTURA O CONTINUITÀ? Da ciò che “non-vincola” si può essere “svincolati”).”
    (EPIPHANIUS, da MONTFORT)

    Esse texto, de autoria do pseudônimo “Ilarione”, certamente faz o heróico Don Putti “revirar no túmulo”, vendo o que fizeram com seu outrora grande jornal os hoje apoiadores de Bento XVI: esse artigo não só está repleto de erros graves, que se você não fugir outra vez da discussão, ficarei feliz de dissecar um a um, mas tem ainda citações falseadas (sim, mais de uma!) como esta, que simplesmente clama aos Céus!

    Eis a prova.

    Comecemos pela fonte italiana de onde você admite ter tirado aquela citação atribuída triunfalmente ao teólogo Diekamp (os negritos a seguir são meus; os itálicos, do original):

    « La soluzione del problema posto dal concilio ci sembra questa: il concilio Vaticano II, in quanto pastorale (quanto al modo di insegnare non vincolante e quindi non infallibile) contiene e può contenere degli errori, senza ledere per questo l’indefettibilità della Chiesa e la non contraddittorietà della dottrina cattolica con se stessa.

    “È possibile che qualche documento pontificio o conciliare contrasti diametralmente con insegnamenti infallibili del passato” scriveva F.Diekamp (Theologiae Dogmaticae Manuale, Desclée, Parigi-Roma, 1933, vol. I, p. 68) ed Arnaldo Xavier Da Silvera osserva: “Evidentemente, se anche questo secondo pronunciamento è infallibile, questa opposizione è impossibile. Ma se non lo è, autori come s. Roberto Bellarmino, Suarez, Cano e Soto, prendono in considerazione questa ipotesi come teologicamente possibile[4]. Ed è chiaro che il cattolico dovrebbe restare fedele alla dottrina tradizionale” (Cristianità, Piacenza, n. 9, 1975, pp. 3-7).

    Ora questo è il nostro caso […] »

    (ILARIONE, Concilio vaticano II, rottura o continuità? Da ciò che “non-vincola” si può essere “svincolati”, SìSìNoNo.org, N° 1 – 15 Gennaio 2008).

    Como se vê aí, a fonte do tal “Ilarione” é um artigo de Arnaldo Xavier da Silveira publicado no n.º 9 da revista Cristianità. Trata-se do artigo “Qual’è l’autorità dottrinale dei documenti pontifici e conciliari?”, como se pode confirmar facilmente, consultando o site da própria revista: http://www.alleanzacattolica.org/indici/cr_indici_2.htm

    O original brasileiro dessa tradução italiana, por sua vez, é: “Qual a autoridade doutrinária dos documentos pontifícios e conciliares?, publicado na revista Catolicismo, n.º 202, outubro de 1967.

    Ora, desse artigo, dispomos de uma tradução quase integral para o espanhol, feita pelo Rev. Pe. Rafael Navas Ortiz, hoje do I.B.P., que a publicou na internet, já vão quase nove anos, no “YahooGroup” de um Frei Nelson Medida, O.P.:

    ¿Cual es la autoridad doctrinaria de los documentos pontificios y conciliares?, publicado em 7 de setembro de 2000, no Brasil dia de N.Sa. Aparecida, em: http://espanol.groups.yahoo.com/group/fraynelson/message/1280

    Vá lá, clique nesse link, meu caro Epiphanius, para ver que hilariante o original de sua citação de terceira mão, tirada do habilidoso prestidigitador que assina “Hilário”…

    Transcrevo a seguir a “prova do crime”.

    Contexto: o autor, Arnaldo Xavier (que omite, sintomaticamente, tratar do Magistério Ordinário Universal, suspeito eu que por ele desconfiar que isso o levaria irremediavelmente ao sedevacantismo) trata, porém, longamente das condições exigidas para que uma determinada verdade ensinada pelo Magistério Ordinário Papal possa se tornar infalível pela sua constante reiteração.

    Dentre outras condições, ele menciona as duas seguintes, que transcrevo integralmente (os destaques são todos meus):

    « – Aquello que durante mucho tiempo es pacíficamente enseñado en todo el orbe católico adquiere fácilmente la característica de enseñanza infalible.

    Según la fórmula clásica de San Vicente de Lerins, debemos creer en aquello que fue enseñado siempre, en todos los lugares y por todos: “quod semper, quod ubique, quod ab omnibus”. Pues la asistencia del Divino Espíritu Santo fallaría si una doctrina enseñada bajo estas tres condiciones pudiese ser falsa. Es preciso, sin embargo, no entender el adagio en sentido exclusivo, esto es, como si la infalibilidad por la continuidad de una misma enseñanza sólo existiese cuando se verificasen esas tres condiciones. Ver al respecto; Dieckamp, p. 68.

    – El carácter ininterrumpido de la serie. Si una doctrina de varios Papas es contradicha por uno de sus sucesores, o por un Concilio, antes de constituirse en enseñanza infalible, es claro que la serie queda rota. Tal factor negativo puede influir ponderablemente en el establecimiento de la continuidad.

    ¿Es posible que algún documento pontificio o conciliar se oponga frontalmente a enseñanzas infalibles del pasado? Es evidente que, si el nuevo pronunciamiento es también infalible, tal oposición no puede existir. Pero, sí no lo es, autores de peso – como San Roberto Bellarmino, Suárez, Cano y Soto- encaran tal hipótesis como teológicamente posible. Y es manifiesto que el católico debería entonces permanecer fiel a la doctrina infalible. Esa hipótesis llevaría a los estudiosos a la cuestión multisecular, en que se han empeñado especialmente los mayores teólogos de los Tiempos Modernos, de la posibilidad de un Papa hereje.

    Ver al respecto, Adriano II, alloc. 3; Inocencio III, col. 670; San Roberto Bellarmino, “De Rom. Pont” 2, 30; 4,6 ss.; Suarez, “De Fide, d.x.s.6. “De Legibus”, lib. IV, c. 7; Cano, ad. 12; Soto, d, 22, q.2, a.2; San Alfonso de Ligorio, p. 232; Balmes, pp. 78-79; Billot, pp. 609 ss.; Wernz-Vidal, pp. 517 ss.; Straub, p. 480; Dublanchy, col. 1714; Salaverri, pp. .698, 718; Journet, Vol. 1, pp. 625 ss.; voL II, p. 1063 ss.; Kung, pp. 292 ss.; Mondello, “La Dottrina…” »

    Como vê, caro Epiphanius, a tal “nova citação” que você triunfalmente apresentou ao Sandro como refutação cabal do sedevacantismo não passava de uma completa escamoteação!

    EM SUMA: No original, a frase atribuída ao teólogo a Diekamp pelo pseudônimo “Ilarione” (que, para cúmulo, a cita entre aspas!):

    1 – não foi dita jamais por esse teólogo, que, na página citada (“p. 68”), tratava de outro assunto;

    2 – não era uma afirmação, mas uma pergunta;

    3 – pergunta esta cuja resposta positiva, segundo o autor do artigo original (Arnaldo Xavier), longe de levar ao tradicionalismo-sedeplenismo que você e o falsário Ilarione defendem, caro Epiphanius, conduz, pelo contrário, diratemente à hipótese do papa herege,

    que os teólogos citados em seguida discutem se é:

    (a) deponendus (tese minoritária, inventada tardiamente por Caetano fazendo distinções onde não há diferença e seguida por Suarez, refutada cabalmente por São Roberto Bellarmino, mas seguida mesmo assim – por esprit de corps? – pelos dominicanos, sem dúvida eminentes, como João de S. Tomás, Billuart, o muito menos seguro Journet, etc.)
    ou
    (b) depositus (Bellarmino, Santo e Doutor da Igreja, Afonso de Ligório, Santo e Doutor da Igreja, Francisco de Sales, Santo e Doutor da Igreja, todos os Santos Padres da Igreja, 99% dos teólogos anteriores ao século XVI, a grande maioria dos canonistas até hoje, sendo doutrina concorde com o Código de Direito Canônico de São Pio X, promulgado por Bento XV, e com as encíclicas dos Papas Leão XIII e Pio XII)!

    Que tal, amigo caríssimo?

    Assim que você se retratar por essa citação tão desastrada quanto se pretendia definitiva, o que me parece claramente um dever seu, pois você a divulgou e ela é falsa (como espero lhe ter provado), prosseguirei então, com muito gosto, mostrando os demais erros dos textos que você candidamente cita, fundado em sua crença (que já foi a minha!) de que o sedevacantismo estaria “obviamente” errado e de que os principais teóricos sedeplenistas tinham bases solidíssimas.

    (Por exemplo, as citações de Billuart e Garrigou tampouco são exatamente o que este outro pseudônimo, “Dominicus” de Avrillé, faz parecer; e, se conseguirmos chegar em nossa análise até o texto do Pe. Boulet, que você também cita, aí então será uma festa de refutações: adianto-lhe, desde já, como aperitivo, que a citação-bomba de Pio IX que ele faz é, também ela, apócrifa, tirada da pior literatura anti-infalibilista! Aliás, obrigado por me lembrar desse texto tão divulgado: relê-lo, depois de tantos tempo, fez-me recordar de onde nosso amigo comum Alexandre parece ter tirado aquela objeção nonsense que refutei um pouco pasmo em http://januacoeli.wordpress.com/2009/02/02/o-problema-inexistente/#comment-6415 ).

    …but can you handle the truth?

    Um abraço,
    Em JMJ,
    Felipe Coelho

  3. Prezado Felipe, salve Maria.

    Parabéns pela resposta. Mas de tudo o que o nosso amigo Epiphanius disse, seria interessante você explicar, se fosse possível, a seguinte citação, absolutamente verdadeira:

    “(…) o Cardeal Billot disse: “Entretanto, Deus nunca permitirá que a Igreja inteira reconheça como Pontífice alguém que não o é realmente e legalmente. Portanto, enquanto um papa é aceito por toda a Igreja, e unido a ela como a cabeça está unida ao corpo, não se pode colocar em dúvida uma possível eleição defeituosa. Porque a aceitação universal da Igreja cura radicalmente qualquer eleição viciada” (Tractatus de Ecclesia Christi, Vol. I, pp. 612-613, apud Pe. Boulet, Sedevacantism, disponível na internet). Na época de João XXIII, houve adesão universal a ele ou não?”.

    Prezado Felipe, estas palavras colocadas pelo Epiphanius são absolutamente verdadeiras. Eu até pretendia responder, mas já que você está aqui, não teria cabimento eu fazê-lo (somente o farei caso você por algum motivo deixe de fazê-lo).
    Independente disso, quero deixar uma coisa bem claro para você e para todos: eu não defendo que a bula de Paulo IV esteja em vigência. Talvez eu não tenha deixado isso suficientemente claro. Eu, em momento nenhum, disse que ela está em vigencia. Em todos os momentos em que a citei, eu sempre realcei que o fazia “independente da polêmica dela estar ou não ab-rogada”. Desta forma, penso realmente que ela não está em vigor, e a minha intenção foi, pura e simplesmente, debater sobre o que ela prescrevia aos fiéis de sua época, ainda que ab-rogada hoje. Simplesmente isso. Porém, ao mostrar claramente que ela previa o que de fato previa, e que é bastante óbvio o que ela previa, fica evidente que a Igreja entendeu um dia que os fiéis tem condições de reconhecer a heresia e a pertinácia de uma autoridade superior, desde bispos até papas, e sendo desta forma, esta possibilidade tem que continuar existindo até os dias de hoje, porque caso contrário Paulo IV teria dado, por assim dizer, uma “missão impossível” de ser realizada pelos fiéis, a saber, a possibilidade de identificar um anti cristo sentado na cátedra de Pedro ANTES DA DECLARAÇÃO OFICIAL DA IGREJA.
    Somente isso.
    Um abraço,
    Sandro

  4. Caríssimo Sr. Sandro Pontes!!

    “Pois eu discordo. Creio [EU] ter o direito de julgar a heresia. Creio [EU] também que inúmeros [SANTOS DOUTORES] e [TEÓLOGOS] mostraram ao longo dos séculos que um leigo pode se furtar a obedecer aqueles que detem, pelo menos aparentemente, a autoridade.
    [GRANDES TEÓLOGOS] dizem que resistir a um papa tendo dúvidas lícitas sobre ele ou sobre sua eleição não é cisma e muito menos heresia. Mas você diz que é.
    Com qual opinião devemos ficar? Com a sua ou a desses teólogos?”

    Meu caro Sr. Sandro Pontes!! Definitivamente você acredita ter uma autoridade acima da autoridade de um Papa? Autoridade esta dada diretamente por Jesus Cristo?

    Meu caro… veja em que ‘buraco’ estás se metendo!!! Reconhecer créditos e autoridade a quem não as tem, em vez de ouvir a quem realmente tem, é por demais abusar da sorte. É absurdamente e gritante o erro em que insistes em se apegar!! (Sic!)

    Meu caro… deixar de ouvir a Igreja e se atrelar com ‘grandes teólogos’ QUE CONTESTAM A VERDADEIRA TEOLOGIA, é por demais absurdo!!! É por demais ridículo!!!

    Meu caro… só seria um ‘grande teólogo’ se se submetesse ao verdadeiro ‘TEÓLOGO’ que é o Papa.

    Definitivamente, o Sr. carece, e muito, mas muito mesmo de… HUMILDADE!!!

    Não percebes o Sr. que estás num subjetivismo, e pior ainda, somado com um relativismo extremo?! E que só lhe resta, como efeito de tudo isso, o CAOS!! Onde ninguém tem a verdade, a não ser, o seu [EU]!??

    Que Nossa Senhor Jesus Cristo, possa lhe dar a Graça da Humildade!!!

    Abraços e até mais ‘ver’.

    André Víctor

  5. Prezado André Victor, salve Maria.

    Não adianta nada lhe responder. É a mesma coisa que falar com uma parede.
    Desta forma, obrigado pelas suas considerações. Fico feliz que esteja lutando pelo bem da Igreja, defendendo-a de seus inimigos, embora as vezes não saiba distinguir quem de fato é inimigo (como o senhor Ratzinger) de quem de fato é amigo (como os sedevacantistas em geral).

    Um abraço,

    Sandro de Pontes

  6. Caro Felipe,
    Salve Maria!

    Admito, sem problema algum, que o artigo de onde tirei a citação transcreveu incorretamente um artigo de Arnaldo da Silveira. Espero que este meu erro ajude, pelo menos um pouco, a pagar meus pecados.

    Não vou entrar em polêmicas com você, dado que isso tudo poderia se prolongar indefinidamente. Entretanto, estranha-me que você tenha, com tanta pressa, apodado o autor do artigo de falsário, mesmo sem saber se o erro por ele cometido foi involuntário ou não. Também sua afirmação de que Arnaldo da Silveira omite tratar do Magistério Ordinário Universal não me parece correta, já que, na seção mesmo da referida frase de Diekamp, o autor está tratando de fatores que influem no estabelecimento da continuidade de um ensinamento para que este seja considerado infalível, e isso acerca do Magistério Ordinário (“¿Qué lapso es necesario para que determinada verdad se pueda decir infalible por la continuidad del Magisterio ordinario?”). Por fim, no que tange à minha citação de Diekamp, ao contrário do que pode ter transparecido, ela não se pretendeu definitiva e uma refutação cabal do sedevacantismo. Seria pueril pensar que a posição de um único teólogo pode dar uma resposta definitiva na doutrina católica. O que quis foi acrescentar mais uma citação àquelas que já haviam sido coligidas pelo Arnaldo no artigo “Resistência…”. Seria mais uma entre as outras.

    Por fim, também creio que não me contradisse quando disse que os sedevacantistas estariam no “extremo da doutrina”, ao mesmo tempo em que rezaria para o retorno deles à Igreja. Você parece ter entendido o seguinte: como eles estão no extremo da doutrina, eles ainda estão dentro da Igreja. Provavelmente expressei-me mal. O que quis dizer foi o seguinte: os sedevacantistas, tomando a posição que julgam correta, estão, e creio que eles mesmos admitirão, no extremo da doutrina, em uma situação atípica. Entretanto, penso que essa tomada de posição não é correta, ao menos no caso concreto atual, daí a minha oração.

    Enfim, e novamente, gostaria de afirmar que a citação que fiz do teólogo Diekamp, tirada do jornal SISINONO, não foi por ele escrita.

    In Christo,

    Epiphanius.

  7. Caríssimo Epiphanius, Ave Maria Puríssima!

    Muito nobre a sua retratação, pela qual o parabenizo, rezando a Deus Nosso Senhor que eu saiba ter a mesma elevação caso me surja oportunidade semelhante… que bem poderia ser você a me proporcionar?

    Mas não, você julga que uma polêmica comigo, sobre este assunto, se arrastaria “indefinidamente”… e me pergunto o que o faz pensar isso.

    Pois estou convencido, pelo contrário, de que um tal debate progrediria razoavelmente rápido e logo chegaria a termo, ainda que sem concordarmos nós em tudo (embora eu nutra alguma esperança disso), ao menos tendo demarcado, com toda a certeza, a extensão exata de nossa discordância.

    Seja como for, no que você já escreveu neste seu último post e no anterior já há matéria suficiente para eu tentar convencê-lo a corrigir também outras afirmações suas, como por exemplo esta que você acaba de fazer sobre o Magistério Ordinário Universal, que contém um grave erro.

    (Eis que voltamos àquela minha primeira “acusação”, de que você, assim como outrora eu, quando estava onde você hoje está, e inúmeros outros, tem uma noção completamente errada do Magistério da Santa Igreja.)

    Ao contrário do que lhe foi ensinado e se encontra amplamente difundido na literatura tradicionalista mais antiga, e até hoje nos escritos do Prof. Fedeli no site Montfort, o “Universal” aí (no “Magistério Ordinário Universal”) diz respeito tão-somente ao espaço: basta-nos constatar que os Bispos do mundo todo e o Papa impõem, em qualquer momento da história, um ensinamento de Fé e Moral, para assim sabermos, com certeza, que esse ensinamento pertence ao Magistério Ordinário Universal e é, portanto, infalível; e isso sem qualquer necessidade de considerar a continuidade temporal desse ensinamento, que não entra na definição do Magistério Ordinário Universal, mas que é decisiva, em contrapartida, na consideração da eventual infalibilidade do Magistério Ordinário Papal, duas coisas bem distintas.

    Imagino a sua surpresa, meu amigo, e a de muitos tradicionalistas, lendo essa verdade no entanto elementar, a qual terá, inclusive, repercussões na questão da autoridade dos teólogos, contestada aqui pelo André Victor (cuja objeção me parece bastante compreensível, contrariamente à impressão do Sandro, e a quem, se eu tivesse o e-mail, enviaria um artigo que traduzi recentemente que é o mais didático que já encontrei sobre o assunto — bem inofensivo, nada de propaganda sedevacantista!), mas deixo a exposição de ambas as coisas para breve.

    * * *

    Por ora, passando a um assunto um tanto mais prosaico, sobre sua queixa, Epiphanius, de que eu apodasse o tal Ilarione de falsário, creio já ter dito, mas aproveito para reafirmar ainda mais explicitamente, que não fiz essa acusação movido apenas por aquela falsa citação — embora já fosse ela, por si só, convenhamos, bem difícil de desculpar –, mas, sim, por todo o artigo dele, que não passa de uma imensa mistificação, do começo ao fim:

    Conto nele nada menos que onze deturpações, além daquela já impugnada, a saber (ainda bem que grifei o artigo ontem!), sobre (1) a intenção declarada dos “papas conciliares”, (2) a relação entre estes e os peritos no que toca à autoridade do Vaticano II se Paulo VI fosse Papa, (3) o projeto manifesto de Bento XVI, (4) as declarações deste sobre o Vaticano II (5) e sobre o judaísmo, (6) a relação entre a Spe Salvi e o Vaticano II, (7) a recente nota sobre a evangelização da CPDF, (8) a noção de magistério “vinculante”, (9) a noção de infalibilidade, (10) a noção de “Igreja Conciliar”, (11) a relação entre apostolicidade e vacância prolongada.

    É só escolher um desses números, de 1 a 11, Epiphanius, que me esforçarei por expor a respectiva escamoteação com muito gosto, a você que o Prof. Fedeli preparou longamente para não enxergar tantos erros tão sérios (você que me indicou esse artigo!) desta péssima peça de propaganda pró-capitulação assinada pelo tal Hilário.

    (O qual, aliás, acho muito provável pertencer ao “mundo Ecclesia Dei”, tanto pelo ataque pouco velado que ele me parece fazer à tese do Rev. Pe. Calderón, FSSPX (no item Un “non-magistero”?, em que Ilarione defende o caráter magisterial do Vaticano II…), como também pela grande semelhança entre a argumentação hilária e o que tenho lido da lavra dos cabeças do IBP e de seus próximos.)

    E farei essa fácil demonstração, prometo aqui para não o assustar, sem me estender “indefinidamente”, como você teme, mas de modo tão breve e direto quanto foi meu último post; menos que isso, parece-me impossível, afinal, como você bem sabe, caro amigo, “uma asserção gratuita faz-se em três linhas, a sua refutação documentada exige talvez trinta páginas.” (Pe. Leonel FRANCA, S.J., O protestantismo no Brasil, 3.ª ed., Obras Completas – VII, Rio de Janeiro: Agir, 1952, p. 86).

    Todavia, o que mais me surpreendeu nesta sua queixa, caro Epiphanius, foi você não ter visto que é o próprio Ilarione quem faz, pura e simplesmente, a apologia da falsificação!

    Isso mesmo.

    Ilarione elogia a CDPF pela suposta habilidade que esta teria tido, em sua recente Nota sobre a Evangelização, no seguinte: “pur citando ampiamente Paolo VI, Giovanni Paolo II e il concilio Vaticano II si fa dire loro qualcosa di diverso [do que disseram originalmente] per quanto concerne il ritorno dal “dialogo” al dovere di convertire.”

    Eis aí, da maneira mais inequívoca, a apologia do crime, o elogio da fraude!

    Como, então, você pode se surpreender, Epiphanius, de eu apodar de falsário o autor dessas linhas (Ilarione), quando ele se deixa aí pegar em flagrante, sendo para todos os efeitos réu confesso e, pior ainda, impenitente?

    Sem contar que a imputação de fraude, feita por ele como quem faz um elogio, a essa Nota da CPDF, não está, tampouco ela, isenta de falsidade:

    Cf., sobre as duas notas recentes da CPDF, a sempre atual Carta 72, de maio de 2008, do Bispo Fellay (http://www.fsspx-brasil.com.br/page01-4-CAB72.htm ) e, sobre a reinterpretação do conceito de “evangelização” por Bento XVI, esta outra exposição certeira e concisa, infelizmente pouco conhecida, por um sacerdote da FSSPX: http://www.laportelatine.org/accueil/editos/2008/0802/0802.php .

    Leituras breves e muitíssimo instrutivas!

    Não suma, Epiphanius! Não abandone este seu velho amigo… Até porque, agora é tarde: certamente voltarei, para tratar dos temas que você levantou.

    Inclusive aquele que o amigo Sandro pede passar à frente dos demais, sobre o qual adianto que a referida citação do Cardeal Billot pelo Rev. Pe. Boulet, repercutida por você, Epiphanius, longe de ser perfeita, está truncada de uma precisão essencial, induzindo os leitores tradicionalistas a um erro crucial — alguém ainda se surpreende? –, o qual aliás também fez fortuna num dos libelos anti-sedevacantistas do Prof. Fedeli, tendo sido repercutido triunfalmente por muito “amigo da Montfort” pelo Brasil como a melhor refutação da posição que adoto.

    Paciência, que, ajudados pela Santíssima Virgem, cedo ou tarde, chegamos lá.

    Um grande abraço,
    Em JMJ,
    Felipe Coelho

  8. Prezado Epiphanius, salve Maria.

    Faltou você fazer um comentário sobre a mensagem por mim postada no dia 13 de abril as 10h31min am, onde reconheci que discordar dos sedevacantistas não se constitui em cisma e nem em heresia, admitindo explicitamente que a questão é disputada, mas realçando que a recíproca também é verdadeira, ou seja, tendo os fiéis católicos razões sérias para desconfiar da legitimidade de um papa eles também poderão adotar uma posição que eu chamaria de “prudencial”, a saber, entender que o fulano em questão que se fantasia de papa e que de forma clara destrói a Igreja por meio de seus atos e de seus documentos supostamente pertencentes ao “magistério” também não se constitui em cisma e nem em heresia.
    Mas posso dizer que algo em sua última mensagem ao Felipe me deixou feliz. Você escreveu:

    “(…) Provavelmente expressei-me mal. O que quis dizer foi o seguinte: os sedevacantistas, tomando a posição que julgam correta, estão, e creio que eles mesmos admitirão, no extremo da doutrina, em uma situação atípica. Entretanto, PENSO QUE ESSA TOMADA DE POSIÇÃO NÃO É CORRETA, ao menos no caso concreto atual, daí a minha oração”.

    Prezado Epiphanius, posso lhe dizer, ou estaria me equivocando, que a sua mensagem aqui me causou imensa alegria? Porque você pensar que a nossa tomada de posição “não é correta” é algo, a meu ver, totalmente lícito. Quando no meio de uma guerra os soldados com dúvidas sobre como agir por falta de comando ou por duvidarem do comandante adotam medidas diferentes, ambos querendo a vitória, é lícito acharmos que a nossa maneira de agir, a qual tomamos baseando-a em nossa consciência, seja a mais apropriada. E é por isso que Dom Lefebvre e os demais tradicionalistas, embora não abram mão do bom combate da fé, recusando sistematicamente a missa nova e o Vaticano II, continuam crendo que os papas conciliares sejam realmente papas da santa Igreja Católica. Porém, em determinado momento, muito mais do que prezado Epiphanius, alguns soldados que continuam defendendo as mesmas posições contra o inimigo chegam a conclusão que o comandante, por desertar publicamente, abandonando o exercito, não pode mais manter o cargo de comandante, e até questionando se ele o foi um dia.
    Veja, crer nisso não nos faz menos digno do que aqueles que crêem que o comandante continua comandante. O que tem que acontecer é, enquanto soldados, uns mostrarmos aos outros o que nos motivou a adotar as posições que adotamos. Mas não podemos atirar uns nos outros. Isso somente daria a vitória ao inimigo, uma vez que os soldados feridos uns pelos outros de seu próprio exercito não seria uma atitude inteligente. Sim?
    Claro que eu não posso deixar de dizer-lhe que eu entendo que a posição de se submeter a um herege público e notório como Ratzinger (mais contumaz impossível) e de reconhece-lo como Papa legítimo também “não é correta” (pois heresia e jurisdição não caminham juntas), mas não significa que quem adota tal posição esteja em cisma ou heresia.
    Prezado Epiphanius, você e o Felipe têm inteligência e graça suficientes para conversarem sem se matar, e sem muito menos tendo por inimigo um ao outro. Não se recuse a fazer isso. Converse com ele. Escute os argumentos. Admita seus erros, caso detectá-los, e da mesma forma mostre os erros de Felipe. Não apenas peço, mas o peço de forma veemente, rogando-lhe: converse com ele. Não interrompa a troca de mensagens. Continue (ainda que de forma privada, se julgar melhor). Como ele diz: ouça os dois lados para poder ter melhores condições de julgamento.
    Um abraço,
    Sandro de Pontes

  9. Quem será que é Jorge Ferraz? um padre, um bispo, um professor de teologia, ou um abade de algum mosteiro, talvez frade dominicano ou franciscano? Gostaria de saber. Eleutério Gsspodin , Tres Passos RGS.

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