Resposta da Pastoral da AIDS

[Recebi hoje uma resposta do “Assessor Pastoral da AIDS” ao email “sobre moral sexual e campanha contra a AIDS”, que publiquei aqui, e havia também enviado uma cópia para a supracitada Pastoral. Reproduzo-o abaixo na íntegra.

Data venia, não convence. Ele não o afirma com todas as letras, mas deixa claramente entrever que a “informação clara, completa e oportuna” à qual se refere inclui, sim, o incentivo e/ou apoio, ainda que indireto, ao uso dos preservativos. Perguntei-lhe se ele possuía algum material utilizado pela Pastoral para divulgação; caso receba alguma resposta, publicá-la-ei aqui.

Lembro-me das minhas conversas sobre casuística com um sacerdote zeloso meu amigo. “Padre, se eu tenho um amigo não-católico, que vai sair esta noite para o motel com a namorada, e que a forçaria a abortar caso ela engravidasse, eu posso dar-lhe um pacote de camisinhas?”; “Não”. A consulta foi casual, e não sei se há casos equivalentes nos manuais de teologia moral ou nos documentos da Pro Doctrina Fidei, mas a resposta pareceu-me extremamente razoável. Dúvida: o mesmo vale para o caso de contágio com AIDS? IMMO, sim; mas há algum parecer mais abalizado do que o meu?]

Paz e Bem!

Prezado Jorge,

Segue alguns pontos de esclarecimento sobre seus questionamentos das declarações na imprensa sobre a Pastoral da Aids.

1. O discurso da Pastoral da DST/AIDS da CNBB segue o discurso católico, ou é “mais moderado” do que este?

A Pastoral da Aids é um serviço da igreja Católica que atua em sintonia com a CNBB, pois tem como Presidente Dom Eugênio Rixem, e trabalha em respeitando e planejando suas ações de acordo com as diretrizes e definições das dioceses locais. Creio que o discurso e a prática da Pastoral segue a mesma linha evangélica e profetica das diretrizez da CNBB e dos documentos dos bispos elaborados em Aparecida.

“Consideramos de grande prioridade fomentar uma pastoral com pessoas que vivem com HIV/aids, em seu amplo contexto e em seus significados pastorais: que promova o acompanhamento integral, misericordioso e a defesa dos direitos das pessoas infectadas; que implemente a informação, promova a educação e a prevenção, com critérios éticos, principalmente entre as novas gerações, para que desperte a consciência de todos para o controle desta pandemia. Desde a V Conferencia pedimos aos governos o acesso universal dos medicamentos para a aids nas doses necessárias” (DA 421).

2. Caso seja “mais moderado”, é moralmente lícito incentivar (ainda que indiretamente) o uso do preservativo como um “mal menor” no combate à AIDS?

A Pastoral da Aids e o contexto de onde o senhor teve as dúvidas é um contexto e uma discussão de resposta a uma epidemia que passa por via sexual, está no campo de uma doença sexualmente transmissível. Nós atingimos pessoas cristãs, católicas e não católicas, por isso a Pastoral procura em seu trabalho oferecer “informação clara, completa e oportuna” conforme orientou Nosso Papa João Paulo II em documento específico.

3. Ainda, caso seja “mais moderado”, é lícito a um organismo ligado à CNBB ser “mais moderado” do que a Igreja à qual ele, supostamente, serve?

Caro Jorge, o esforço feito pelos cristãos agentes da Pastoral da Aids neste grande desafio de seguir os ensinamentos de Jesus de acolher, ser misericordioso e defender a vida onde ela esteja mais ameaçada é muito grande. Há em todo o agente Pastoral um grande amor a Jesus, um forte respeito a Igreja e um amor misericordioso com o sofrimento e a dor das pessoas. São profetas que agem seguindo fielmente o chamado de Jesus e mantendo a comunhão com a Igreja.

4. Caso as supracitadas informações sejam falsas e a Pastoral da DST/AIDS esteja em perfeita sintonia com o ensino moral da Igreja Católica, a CNBB não vai publicar uma nota desmentindo as informações que estão sendo veiculadas na mídia secular?

Prezado irmão, concordamos com teu pensamento, porém sabemos que parte da mídia tem interesse em polêmicas para que possa vender e de que nada vai mudar pois o motivo das materias é exatamente para criar polêmica, confundir e na maioria das vezes impedir que as pessoas vejam os gestos e trabalho maravilhoso que a Igreja está fazendo a partir dos agentes das Pastorais. É melhor gastar tempo com o trabalho prático e deixar que Deus cuide do resto. Ele sabe o que realmente acontece e seguramente dará força para que como Igreja saibamos continuar corajosos na nossa missão de acolher e acompanhar o doente que sofre.

Cordialmente

Frei Lunardi

Publicado por

Jorge Ferraz (admin)

Católico Apostólico Romano, por graça de Deus e clemência da Virgem Santíssima; pecador miserável, a despeito dos muitos favores recebidos do Alto; filho de Deus e da Santa Madre Igreja, com desejo sincero de consumir a vida para a maior glória de Deus.

31 comentários em “Resposta da Pastoral da AIDS”

  1. Essa última parte é a melhor. É a linha de toda a Igreja do Brasil – não comente, não ligue pra isso, precisamos de santos (ou profetas, nesse caso), blábláblá… Já ouço a mesma coisa sempre que apresento algum questionamento.
    Nós somos desencorajados a olhar com mais “profundidade” justamente para não vermos a sujeira no meio dos “gestos e trabalho maravilhoso que a Igreja está fazendo a partir dos agentes das Pastorais”. Chega a ser infantil o modo como os “assessores”, diocesanos ou nacionais, lidam com as opiniões contrárias. E isso acontece na Igreja “profética”, pluralista e democrática que eles tanto amaram construir nos últimos 50 anos.
    A Pastoral da AIDS continuará a desenvolver a campanha pelo preservativo, como diversas declarações dos seus membros deixam claro. E a doutrina da Igreja? Isso nem poderia ser chamado de secundário, pois nem entra na lista deles. O que importa mesmo é “diversidade” de opiniões.
    No final da nota tiramos a seguinte conclusão:
    … (?)

  2. Vejam o que esse frei respondeu na seguinte reportagem http://www.soropositivo.org/arquivo-de-noticias/3869-para-frei-luiz-carlos-lunardi-decisao-de-usar-ou-nao-o-preservativo-%E2%80%98e-pessoal%E2%80%99.html quando perguntado a respeito do uso do preservativo:
    “No momento do ato sexual, não está nem o governo para dizer ‘use o preservativo’ e nem a igreja para dizer ‘não use’. A decisão é pessoal. A consciência é o poder último da pessoa”
    Acho que ele é incapaz de responder com um simples sim ou não, pois parece que ele gosta de se esquivar de perguntas polêmicas.
    Reparem que essa pseudo-resposta poderia ser dada para qualquer assunto, se ele fosse perguntado se o aborto é lícito moralmente talvez ele diria:
    “No momento de decidir sobre o aborto, não está nem o Obama para dizer ‘faça o aborto’ e nem a igreja para dizer ‘não aborte’. A decisão é pessoal. A consciência é o poder último da pessoa”

  3. A resposta desse ”frei” é a típica resposta de um seguidor da ”teologia” da libertação!

    Talvez Jorge você aprenda que essa Pseudo-Conferência Episcopal é declaradamente anti-católica, e não adianta mandar cartinhas para lá reclamando que eles (os ”bispos” vermelhos ou os seus ”sacerdotes”) sempre irão responder com O Capital de Karl Marx ao lado.

  4. O marxismo subversivo aberto dos Bispos da CNBB, órgão anti-clerical, porque tudo quanto non clericat é ensinado através de seus documentos inovadores sempre remetem ao erro e enganam muitos através de palavras bonitas e textos muito bem elaborados, mas que na verdade disseminam erros pelo mundo cristão afora. É verdade que a ordem dos frades menores e também os dominicanos foram assediados pela teologia da libertação perigosíssima já que propagam heresias de todos os gêneros. Sabemos que as sagradas escrituras nos adverte que devemos ter um compromisso de fé sempre com o nosso sim ou o nosso não diante de determinadas circunstâncias e das mais variadas situações do quotidiano. Por tal, o reverendíssimo frei vacilou em sua resposta, a voz da Igreja não ecoou em seus lábios. Claro, a AIDS é um assunto grave, muito sério e precisa ser tratado com responsabilidade. Ensinar que o único método para livrar muitos seres humanos deste grande mal é senão dizer em alto e bom som que a castidade, a união natural, esta que agrada a Deus, pode salvar o Brasil e o mundo desta terível doença. Não há uma outra possibilidade. E rezar para que os cientistas, os mesmos que dizem que a camisinha é eficaz, sejam iluminados por Deus e um dia descubram a cura. Antes, nós, anatematizando e rejeitando toda a hipocrisia da CNBB e dos religiosos adeptos da teologia da libertação e de outras correntes dessacralizantes reconheçam uma única verdade, ou seja, a Sagrada tradição e as Sagradas Escrituras.

  5. Que resposta frouxa.

    Que triste ler isso.

    Olha, meu desejo é que a Igreja Católica no Brasil seja formada por POUQUÍSSIMAS pessoas, mas que sejam católicas “de verdade”.

    Só assim para a AIDS diminuir: vivendo o Evagelho, tal como a Igreja ensinou. Não… não basta “respeitar” a Igreja como diz a resposta da carta. Temos que obedecer em t-u-d-o. Sim, isso é ser católico… o resto… é resto.

    paz

    Julie Maria

  6. Pelo o que eu li o bispo não está defendendo o casamento homossexual mas um plebiscito e um amplo debater nacional para ver se o povo português quer ou não que haja o casamento gay em Portugal.

  7. Pois, pois. O bispo lusitano não está a defender união homossexual coisa nenhuma. A matéria não diz isso. O Quintas é um analfabeto funcional.

    Outrossim, ainda que exista algum bispo que defenda “casamento” homossexual ou qualquer bobagem do tipo – e provavelmente existe -, isso não quer dizer absolutamente nada. Vale o que diz a Igreja, e não o que dizem bispos que contrariam a Igreja. Acho impressionante que ainda haja pessoas aqui que não entenderam isso.

    Abraços,
    Jorge

  8. Salve!!

    A CNBB segue a si prórpria: sua teologia, sua doutrina, seus líderes! Roma não importa, como ficou claro na resposta frouxa do frei… ele obedece às diretrizes da sacrossanta CNBB!
    Até quando o Vaticano se fará indolente diante das cenferências episcopais??

    Que N. S. do Perpétuo Socorro nos valha!!

  9. Há duas formas de mortificação, uma sem causa e outra com causa. A sem causa nos vem livremente pelo amor à Cruz de Cristo. A com causa nos vem por via de um pecado anterior ou para não realizar um pecado futuro por egoísmo e se faz necessária para a conversão. Um aidético casado teria de assumir a segunda via para com sua esposa e oferecer renunciar ao sexo como mortificação para a redenção de sua alma e de outras almas amadas. Se não o faz e ainda se revolta, afirma seu pecado anterior e um egoísmo para com sua esposa e para com o Corpo de Cristo, assim como o sexo (sempre conjugal) não serve apenas ao prazer dos cônjuges (caráter unitivo), mas também ao aumento do Reino (caráter procriativo) que se relaciona ao seguimento e ao testemunho que corroboram e reforçam a evangelização.

  10. Jorge,
    acho que a resposta sobre o uso autorizado dos preservativos deveria se limitar aos casais regularmente casados nos quais um dos cônjuges contraiu a Aids ou outra doença sexualmente transmissível e pretende satisfazer as obrigações matrimoniais sem transmitir a doença ao parceiro.
    Sds.,
    de Marcelo.

  11. Jorge:

    Então no caso de uma pessoa contrair AIDS, mesmo que seja acidentalmente (uma transfusão de sangue, por exemplo), a solução (ou “castigo”, pode-se pensar) para ambos seria o celibato compulsório?

  12. Alien,

    Sinceramente, acho que não existe solução. Alguns prelados chegaram a propôr uma tolerância ao uso dos preservativos nestes casos, mas isso não foi definido.

    Existe, aliás, um outro problema, que é o fato de que o pequeno percentual de falha do preservativo se transforma, com a constância e com o tempo, em um risco muito maior.

    E ainda: eu não sei se é pecado um casal casado na Igreja no qual um dos cônjuges é aidético ter relações sexuais sem camisinha. Há o imperativo de que se deve cuidar da própria vida, mas há igualmente o direito dos cônjuges sobre os corpos um do outro, e o sentido unitivo do Matrimônio, que não podem ser negligenciados.

    O celibato compulsório é sem dúvidas a solução teórica mais perfeita, mas é bíblico que o homem não pode se negar à mulher (e nem esta ao esposo), a não ser de comum acordo e não por muito tempo. Um celibato vitalício me parece contradizer a essência do matrimônio.

    Em suma: eu não sei qual é a solução para este caso. Rezemos ao Deus Altíssimo, que dá o frio conforme o cobertor.

    Abraços,
    Jorge

  13. Jorge,

    Creio que em casos bem específicos, o celibato vitalício não contradiz a essência do casamento, o que dizer da Santíssima Virgem e de São José, seu castíssimo esposo? Talvez a solução para esse caso específico seja imitar nada mais e nada menos do que a Santíssima Virgem Maria e São José. E em determinados casos, para aqueles que querem ter filhos, abre-se a porta para a adoção de crianças sedentas de um lar.
    Eu digo só nesse caso, porque a ordem divina também nos exortou a crescer e nos multiplicar como você bem colocou.

    []’s

  14. ora, ora, o bispo defende o plebiscito sobre a união homossexual porque concorda com a permissão.
    e uma vez que os bispos estão pensando em fazer o plebiscito, é indício que um grupo na Igreja – senão a Igreja – está considerando refletir sobre o assunto. em breve haverá alguma decisão da Igreja permitindo a união homossexual, da mesma forma que permitiu a reconversão dos Anglicanos.

  15. Profeta do profano levantou uma questão muito séria, sobre a reconversão dos anglicanos, fato espantoso, formidável. Mas, não se compara com a gravidade na possibilidade da aceitação da união homossexual. Mas, não deixa de ser coerente em sua colocação a este respeito já que existe na Puc um encontro mensal de “católicos gays” presidido por um frade. Me parece que eles até comungam das mãos do frade, e naõ estão lá par serem curados, a proposta é outra segundo o próprio blog diversidade católica, contudo não é um órgão oficial da Igreja, o que minimiza as coisas, que fique bem claro. O caso da Sagrada Família pode ser tomado como exemplo? Talvez, mas, não é contexto, não serve este santo exemplo. Seria prova de amor aceitar não utilizar o preservativo, em caso de um dos cônjuges ser portador do vírus HIV? Ou seria, suicídio e homicídio coletivo? é complicado. Cogitou-se sobre a possibilidade do uso de preservativos para este caso, porém, apenas cogitou-se e afirmam os entendidos que o preservativo não é 100% eficaz. Seria um risco consciente e responsabilidade de ambos? Também não sei. Abrir mão de relações íntimas seria mais adequado? Talvez… Seria prático e simples? Certamente não. O que não pode é a Igreja pregar uma doutrina falsa e cristãos especularem.

  16. Jorge,

    Se um dos cônjuges é soro-positivo, o outro tem sim o direito de se preservar de contrair a doença, negando o débito conjugal.

    O Código de Direito Canônico dá o perigo corporal como causa, inclusive, para o afastamento de um cônjuges da vida em comum:

    “1153 § 1. Si uno de los cónyuges pone en grave peligro espiritual o corporal al otro o a la prole, o de otro modo hace demasiado dura la vida en común, proporciona al otro un motivo legítimo para separarse, con autorización del Ordinario del lugar y, si la demora implica un peligro, también por autoridad propia.”

    Mas eu não vejo impedimento moral nenhum a que um casal soro-positivo use camisinha, pois o que a “Humanae vitae” condena é que o ato intrinsecamente desordenado seja objeto direto da vontade. Na ação de duplo efeito, sempre o efeito mau é previsto e tolerado. O uso de camisinha para preservar a vida do cônjuge pode ser encarado como uma ação de duplo efeito, visto que não é a camisinha (um utensílio) o objeto intrinsecamente desordenado, e sim a negação do fim procriativo.

    Rui

  17. Rui,

    Sim, que a parte sã pode usufruir da separação de corpos, é verdade.

    Que haja duplo-efeito na utilização da camisinha é bem controverso. Primeiro, porque parece-me que havia uma questão neste sentido sendo estudada por Roma há algum tempo e não me lembro de que tenha vindo alguma resposta. Não há exceção emanada do Magistério.

    Segundo, porque o efeito bom neste caso parece-me decorrer do efeito mau. A não-contaminação ocorre por meio do impedimento da efusão do esperma, e acho que isso é equivalente a evitar a concepção no ato conjugal. Numa causa de duplo-efeito clássica, o efeito mau tolerado não causa o efeito bom almejado.

    Terceiro, porque conheço, de um bispo católico (de verdade), parecer contrário em um caso análogo (a esposa sabia que o marido a estava traindo, temia pegar alguma doença e queria usar preservativos para se proteger).

    A prudência manda não “avançar” neste quesito. Principalmente em sendo leigos na internet.

    Abraços,
    Jorge

  18. Sim, Jorge, eu sei que a questão não foi julgada, mas o efeito bom não decorre do efeito mau. Ele decorre do objeto neutro: o uso da camisinha, que não é mau em si mesmo. A maldade está na finalidade de seu uso: evitar a concepção.

    Na ação de duplo efeito, o efeito mau é previsto e tolerado. Assim, o uso da camisinha é o ato neutro, com dois efeitos, dentre os quais o bom é querido diretamente (evitar o contágio da doença) e o efeito mau é apenas previsto e tolerado (o impedimento da concepção).

    Não sei se há alguma circunstância que eu deixei de considerar, mas aparentemente, a questão se resolveria da forma como eu coloquei.

    Rui

  19. Prezados amigos, Salve Maria Imaculada!

    Do que vocês estão falando?! Essa questão já foi infalivelmente julgada, sim, pelo Papa!

    “54. Mas, para tratarmos agora, Veneráveis Irmãos, de cada um dos pontos que se opõem aos diversos bens do matrimônio, falemos primeiro da prole, que muitos…afirmam dever ser evitada cuidadosamente pelos cônjuges, não pela honesta continência (permitida até no matrimônio, pelo consentimento de ambos os cônjuges), mas viciando o ato natural. […]

    55. Mas nenhuma razão, sem dúvida, embora gravíssima, pode tornar conforme com à natureza e honesto aquilo que intrinsecamente é contra a natureza. Sendo o ato conjugal, por sua própria natureza, destinado à geração da prole, aqueles que, exercendo-a, deliberadamente o destituem da sua força e da sua eficácia natural procedem contra a natureza e praticam um ato torpe e intrinsecamente desonesto.

    56. Não admira pois que, segundo atesta a Sagrada Escritura, a Majestade divina odeie sumamente este nefando crime e algumas vezes o tenha castigado com a morte, como recorda Santo Agostinho: “Ainda com a mulher legítima, o ato matrimonial é ilícito e desonesto quando se evita a concepção da prole. Assim fazia Onã, filho de Judá, e por isso Deus o matou” (Sto. Agost., De conjug., livro, II n. 12; cf. Gn 38, 8-10.).

    57. Por conseguinte, havendo alguns que, afastando-se manifestamente da doutrina cristã, ensinada desde o princípio e nunca interrompida, pretenderam publicamente proclamar, há pouco, doutrina diversa acerca deste modo de proceder, a Igreja Católica, a quem o próprio Deus confiou a missão de ensinar e defender a integridade e a honestidade dos costumes, posta no meio desta ruína moral para preservar de tanta torpeza a castidade da união nupcial, proclama altamente e de novo promulga pela Nossa boca: qualquer uso do matrimônio em que, pela malícia humana, o ato seja destituído da sua natural força procriadora infringe a lei de Deus e da natureza, e aqueles que ousarem cometer tais ações se tornam réus de culpa grave.

    58. Por isso, em virtude da Nossa suprema autoridade e do cuidado da salvação de todas as almas, advertimos aos sacerdotes que se entregam ao Ministério de ouvir confissões, e todos os outros curas de almas, que não deixem errar os fiéis que lhes foram confiados em ponto tão grave da lei de Deus, e muito mais que se conservem eles próprios imunes dessas perniciosas doutrinas e que, de nenhum modo, sejam coniventes com elas. Se, porém, algum confessor ou pastor de almas, o que Deus não permita, induzir ele próprio nestes erros os fiéis que lhe foram confiados, ou ao menos, quer aprovando, quer se calando culposamente, neles os confirmar, saiba que tem de dar contas severas a Deus, Supremo Juiz, de ter traído a sua missão, e considere que lhe são dirigidas aquelas palavras de Cristo: “São cegos e guias de cegos; e, se o cego serve de guia ao cego, ambos cairão no abismo” (Mt 15, 14; Santo Ofício, 22 de novembro 1922).

    (PIO XI, Encíclica Casti Connubii, http://www.capela.org.br/Magisterio/conubii2.htm).

    [No site http://www.vatican.va não tem em português]

    Em suma,

    “Conclusão. O onanismo conjungal, em qualquer forma que se pratique, constitui sempre pecado mortal.”

    O onanismo conjugal “opõe-se diretamente ao fim primário do matrimônio e à fidelidade conjulgal. Vai diretamente contra a natureza e, por isso, é intrinsecamente mau, já que a união conjugal se ordena, de si, à geração dos filhos e não se a pode destituir por engenho próprio dessa finalidade sem contrariar em absoluto a ordem natural das coisas estabelecida por Deus mesmo.”

    “Com o onanismo artificial não é lícitio cooperar nunca, pois se trata de uma ação intrinsecamente imoral desde o princípio. a mulher está obrigada a resistir e defender-se do seu marido como se se tratara de um invasor estranho (Ver a resposta da Sagrada Penitenciária de 3 de abril de 1916, II 3. Cf. Capello, n. 818), e se, apesar de sua resistência, é estuprada por força bruta, deve rechaçar o consentimento interior ao prazer que se produza.”

    “O bem comum exige que, de ordinário, não se deixe em sua boa fé os cônjuges que ignorem a malícia do onanismo (Veja-se a resposta da Sagrada Penitenciária de 10 de março de 1886).”

    O onanismo conjugal “é absoluta e intrinsecamente imoral e não há nem haverá jamais razão ou pretexto algum para autorizá-lo”

    (Frei Antonio ROYO MARIN, O.P., Teología Moral para Seglares, vol. II: Los Sacramentos, Madrid: B.A.C., 1958, pp. 663-670, nn. 622-632).

    Por fim, sobre as citadas dificuldades extremas de alguns casos em que a abstinência se impõe, o Pe. Royo Marin cita “el siguiente hermoso texto de Pío XII”, trecho que transcrevo por tê-lo encontrado, este sim, no site vatican.va:

    Pero se objetará que tal abstinencia es imposible, que tal heroísmo es impracticable. Esta objeción la oiréis vosotras, la leeréis con frecuencia hasta por parte de quienes, por deber y por competencia, deberían estar en situación de juzgar de modo muy distinto. Y como prueba se aduce el siguiente argumento: “Nadie está obligado a lo imposible, y ningún legislador razonable se presume que quiera obligar con su ley también a lo imposible. Pero para los cónyuges la abstinencia durante un largo periodo es imposible. Luego no están obligados a la abstinencia. La ley divina no puede tener este sentido.”

    De este modo, de premisas parciales verdaderas se deduce una consecuencia falsa. Para convencerse de ello basta invertir los términos del argumento: “Dios no obliga a lo imposible. Pero Dios obliga a los cónyuges a la abstinencia si su unión no puede ser llevada a cabo según las normas de la Naturaleza. Luego en estos casos la abstinencia es posible.” Como confirmación de tal argumento, tenemos la doctrina del Concilio de Trento, que en el capítulo sobre la observancia necesaria y posible de los mandamientos, enseña, refiriéndose a un pasaje de San Agustín: «Dios no manda cosas imposibles, pero cuando manda advierte que hagas lo que puedes y que pidas lo que no puedes y Él ayuda para que puedas» (Conc. Trid., sess. 6, cap. II: Denzinger, núm. 804; S. Agustín. De natura et gratia, cap. 43, n. 50: Migne, PL, 44, 271).

    Por eso no os dejéis confundir en la práctica de vuestra profesión y en vuestro apostolado por tanto hablar de imposibilidad, ni en lo que toca a vuestro juicio interno, ni en lo que se refiere a vuestra conducta externa. No os prestéis jamás a nada que sea contrario a la ley de Dios y a vuestra conciencia cristiana! Es hacer una injuria a los hombres y a las mujeres de nuestro tiempo estimarles incapaces de un continuado heroísmo. Hoy, por muchísimos motivos —acaso bajo la presión de la dura necesidad y a veces hasta al servicio de la injusticia—, se ejercita el heroísmo en un grado y con una extensión que en los tiempos pasados se habría creído imposible. ¿Por qué, pues, este heroísmo, si verdaderamente lo exigen las circunstancias, tendría que detenerse en los confines señalados por las pasiones y por las inclinaciones de la Naturaleza? Es claro, el que no quiere dominarse a sí mismo, tampoco lo podrá; y quien crea dominarse contando solamente con sus propias fuerzas, sin buscar sinceramente y con perseverancia la ayuda divina, se engañará miserablemente.

    http://www.vatican.va/holy_father/pius_xii/speeches/1951/documents/hf_p-xii_spe_19511029_ostetriche_sp.html

    Penso que tudo isso me exime de dar as razões por que o “duplo efeito” não se aplica de jeito nenhum nesses casos de onanismo conjugal, muito menos ainda artificial.

    Limito-me a recordar que até os progressistas que advogam o preservativo em casos de AIDS, que eu saiba, sempre argumentaram em prol do incentivo de um mal menor para evitar um mal maior (e isso o pe. Royo Marin refuta no vol. I, n. 550, 3.ª [p. 412]), e até a eles jamais lhes ocorreu o absurdo de argumentar que houvesse qualquer coisa de “bom” ou “neutro” num ato sexual com contracepção!

    Sempre no amor à Santa Igreja,
    Em JMJ,
    Felipe Coelho

  20. Sr. Felipe Coelho, me explique uma coisa, onanismo pelo que eu sempre soube é a ejaculação durante o ato sexual fora do corpo da mulher, em vez de consumar o ato dentro da mulher, o homem retira seu órgão sexual fora dela vindo ejacular fora dela, derramando seu sêmen no chão, porém atos sexuais em que venha consumar-se dentro da mulher não podem ser chamados de onanismo, mesmo que tal ato venha ocorrer fora do período fértil da mulher, ou será que se um tal ato venha ocorrer fora do período fértil da mulher é pecado?, ou será como assisti há muitos anos atrás em um novela de época, cuja estória se passava no século XVIII, um casal teve seu casamento anulado porque ambos fizeram sexo e não vieram gerar filhos, embora mais tarde houve a geração de um filho, porém a Igreja anulou tal casamento porque tanto o homem quanto a mulher sentiram prazer durante o ato sexual, então quer dizer que a Igreja dizia para os casais, marido e mulher fazerem sexo só para gerar filhos porém não poderiam sentir prazer, horas, se isto for verdade é um tremendo absurdo, seria o mesmo dizer para alguém que poderia comer um doce mas teria que negar em não sentir a doçura, ou mesmo alguém que viesse se banhar e dizer que estaria proibido de afirmar que sentiu a água esparramar em seu corpo, não acredito que a Igreja tivesse orientado os casais no passado desta forma, prefiro acreditar que seja uma invencionice televisiva, agora se for verdade, é um verdadeiro absurdo.

  21. Rui,

    Não estou convencido de que seja uma causa de duplo-efeito. O que previne a contaminação não é simplesmente a camisinha, e sim o onanismo obtido mediante o uso da camisinha. E, se a camisinha [= a borracha] é neutra, o onanismo não é, mesmo que haja graves razões para se o praticar, como dizem os textos que o Felipe teve a gentileza de trazer.

    Abraços,
    Jorge

  22. O onanismo não é querido diretamente, Jorge, não é objeto direto da vontade. Veja o que diz Paulo VI:

    “A Igreja, por outro lado, não considera ilícito o recurso aos meios terapêuticos, verdadeiramente necessários para curar doenças do organismo, ainda que daí venha a resultar um impedimento, mesmo previsto, à procriação, desde que tal impedimento não seja, por motivo nenhum, querido diretamente.”

    A chave está na distinção direto – indireto. O efeito mau nunca pode ser querido diretamente para que dele se tire um efeito bom.

    O mesmo caso é o da legítima defesa, em que o efeito mau ou o ato de matar não é objeto direto da vontade, porque o que se quer mesmo é defender a vida. Isto é diferente de desejar diretamente o mau para tirar o bem, coisa que tanto Pio XII, quanto Paulo VI condenam.

    Abraços

    Rui

  23. E a Dra. Lenise também considerou assim, num tópico da comunidade “Católicos”. Como ela, eu não digo que a resposta seja absolutamente esta, pois deve-se deixar o julgamento a cargo da Igreja (pode haver circunstâncias que não foram consideradas), mas o debate não se resolve de forma tão simples, dizendo que é um ato mau para tirar um fim bom.

    Matar um inocente também é ato intrinsecamente mau, no entanto, isso pode acontecer indiretamente, inclusive, como efeito previsto do ato que se está a realizar.

  24. Rui,

    Não me parece claro que o onanismo não seja “querido diretamente”, uma vez que, no caso em pauta, o onanismo não é simpliciter um “segundo efeito”, e sim, precisamente o meio sem o qual não se evita a contaminação. E, quem quer os fins, quer os meios.

    Coisa diferente é uma causa com duplo-efeito, onde o efeito mau tolerado não é meio para a consecução do efeito bom. Por exemplo, um câncer no útero durante a gravidez que exige uma histerectomia que vai redundar na morte do feto: é a retirada do útero que vai curar a mulher, e não a morte do feto. Este é um efeito mau previsto e tolerado.

    Quanto aos métodos terapêuticos, penso que estes se distinguem bastante do uso de preservativos.

    Abraços,
    Jorge

  25. Ah, Sidnei,

    Por “onanismo” o Felipe não está falando do recurso aos períodos infecundos, e sim da utilização do preservativo: a retenção do esperma no látex é equivalente ao seu derramamento no chão. Em um e outro caso, dá-se ao esperma um destino distinto do seu fim natural.

    Quanto a esta novela, nunca ouvi falar de nada nem parecido. Prazer durante o ato conjugal nunca foi motivo para nulidade matrimonial, até porque foi Deus que acrescentou o prazer ao ato por meio do qual se transmite a vida. O pecado é inverter esta ordem e buscar o prazer pelo prazer, mas isto é outra coisa.

    Abraços,
    Jorge

  26. Jorge,

    Nesse caso, eu me pauto pela Humanae vitae, onde se diz ser de se excluir todo ato que, como fim ou como meio, impeça a concepção:

    “É, ainda, de excluir toda a ação que, ou em previsão do ato conjugal, ou durante a sua realização, ou também durante o desenvolvimento das suas conseqüências naturais, se proponha, como fim ou como meio, tornar impossível a procriação”

    A sua tese leva a admitir duas maldades intrínsecas, se é que me entende: o próprio onanismo em si mesmo, e o impedimento da concepção. Eu penso que toda maldade do ato se reduz a um único efeito: impedir a concepção.

    Abraços

    Rui

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