Mais en passant: o ateu, o Natal, o aquecimento, a consciência

Ateu invade igreja e ofende cristãos. “A Justiça da Espanha condenou nesta sexta-feira um ateu a um ano e dez meses de cadeia por interromper um batizado no momento da oração do Credo. […] O Tribunal descarta a possibilidade de que o réu sofresse problemas mentais e a sentença não admite apelações”.

– Via Wagner Moura: o carteiro da judeia. Exemplar imaginário de um jornal da época do nascimento de Nosso Senhor. Os depoimentos do lado inferior esquerdo da página são impagáveis: o cético, o modernista, o cientificista.

– Reinaldo Azevedo sobre o aquecimento global. “Atenção! Londres não via nevasca igual desde 1895  — é, a maior em modestos 114 anos. A Costa Leste dos EUA está sob metros de neve. Os serviços entraram em colapso. Washington não teve a maior nevasca dos último 100, 200 ou 300 anos, não. Assistiu à MAIOR DE SUA HISTÓRIA. Obama teve de apressar a sua volta de Copenhague, onde foi debater o aquecimento global, por causa do excesso de… frio! Na Europa, o  clima já matou 50 pessoas em três dias; nos EUA, 8”.

– Não gosto do Olavo falando sobre moralidade e consciência; cheira-me relativista. Também não gosto muito das idéias malucas dele, totalmente contrárias à subsidiariedade mais básica, segundo as quais devemos deixar de lado os problemas pontuais para nos concentrarmos nos ataques ao conjunto. Mas ele está certo quando diz que a destruição do senso moral por meio do bombardeamento de contradições é deliberada. “Escândalos de adultério espoucam a toda hora na mesma mídia que advoga o abortismo, o sexo livre e o gayzismo. A contradição é tão óbvia e constante que nenhum aglomerado de curiosas coincidências poderia jamais explicá-la. Ela é uma opção política, a demolição planejada do discernimento moral”.

Publicado por

Jorge Ferraz (admin)

Católico Apostólico Romano, por graça de Deus e clemência da Virgem Santíssima; pecador miserável, a despeito dos muitos favores recebidos do Alto; filho de Deus e da Santa Madre Igreja, com desejo sincero de consumir a vida para a maior glória de Deus.

23 comentários em “Mais en passant: o ateu, o Natal, o aquecimento, a consciência”

  1. Obrigado pelo link ao meu blog.

    Deus te abençoe.

    Marquei o teu blog e espero vir cá mais vezes.

  2. Os ateus de plantão irão chamar esse cara de fanático, e, fanático por ser ateu, como falam sobre os cristãos? Ou usarão dois pesos e duas medidas?

  3. Prezado Jorge, Laudetur Dominus!

    Não entendo como a idéia do Olavo de Carvalho, de uma ataque em conjunto, possa ir contra o princípio da subsidiariedade. Você poderia, por favor, me explicar.

    Não sei se você acompanha os textos dele. Mas eu acompanho e posso dizer que ele não é relativista, pois no seu ensaio filosófico mais relevante – o livro “Jardim das Aflições” – ele põe a consciência moral no fundamento mesmo do próprio conhecimento humano. Aplicações desta tese você pode ver aqui e aqui.

    Pax et Salutis

  4. Alguns exemplos do relativismo do “filósofo” Olavo de Carvalho (grifos nossos):

    «A filosofia moral, ou ética, deve para mim tomar o seguinte rumo:
    I. Distinguir entre os códigos morais historicamente vigentes em diversas épocas e sociedades e a moral essencial, universal, que se obtém por simples redução fenomenológica. Aqueles compõem-se de normas, no sentido de Kelsen, e esta compõe-se de princípios. A discussão filosófica da moral deve ater-se ao campo dos princípios. Assim, o relativismo antropológico, sociológico e histórico pode conciliar-se com o dogmatismo dos princípios. Estes tornam-se conhecidos do investigador por abstração, mas em si não são abstratos: são o conteúdo concreto, o sentido efetivo por trás das normas historicamente vigentes. Estas é que, expressando de maneira indireta e às vezes simbólica o conteúdo dos princípios, são abstratas em relação a eles.»
    http://www.olavodecarvalho.org/apostilas/amorosa.htm

    «3. Em moral, sou anarquista. Acredito que há princípios morais universais, permanentes, que a inteligência discerne por baixo da variação acidental das normas e costumes, e acredito, enfim, que há o certo e o errado. Mas, por isso mesmo, impor o certo é errado, a não ser em caso de vida ou morte. O sujeito que faz o certo só por obediência e sem compreendê-lo acaba por transformá-lo no errado. “Experimentai de tudo e ficai com o que é bom”, recomendava S. Paulo Apóstolo, meu amado guru. É uma questão de viver e aprender. Mas como podemos aprender, se um tirano paternalista nos proíbe de errar? Por isto deve haver a mais ampla liberdade de escolha e de conduta, e a autoridade religiosa deve se limitar a ensinar o certo, com toda a paciência, sem tentar expulsar o pecado do mundo à força.»
    http://www.olavodecarvalho.org/textos/compideo.htm

    «Há catolicismo, sim, no Brasil, mas reduzido às suas manifestações mais externas e menos espirituais: o moralismo sexual enervante» (CARVALHO, Olavo de. O Futuro do Pensamento Brasileiro. Rio de Janeiro, Faculdade da Cidade Editora, 1997. p. 54)

    «Uma bela campanha moralista, por desagradável que fosse (e para mim também o seria, pois pessoalmente sou mais pela liberação), faria mais para conter o avanço da Aids do que a distribuição de trilhões de camisinhas. Neste momento da história, qualquer campanha moralista, por boboca que nos pareça, é um empreendimento digno de louvor, uma contribuição à salvação da espécie humana. Se amanhã ou depois a população do Brasil aderir em peso aos Pentecostais, ao Bispo Macedo ou à Renovação Carismática, a Aids estará vencida entre nós. Isto é uma obviedade que só os intelectuais não enxergam.»
    Nota em: http://www.olavodecarvalho.org/livros/negramsci.htm#nota11

    «Se, como diz Sto. Tomás, “o amor é o desejo de eternidade do ser amado”, então não se trata de extinção mútua, e sim de mútua salvação. Talvez seja mais fácil compreender isto desde o ponto de vista islâmico, onde o ato sexual aparece como um sacramento e não como o mero exercício de um direito outorgado por um sacramento prévio (tanto que no Islam não existe noção de “casamento religioso”). Esta concepção não é aliás estranha de todo ao cristianismo, onde os nubentes, e não o sacerdote, são os oficiantes do sacramento do matrimônio. A rigor, qualquer par de homem e mulher que, no intuito de união indissolúvel, se entregue ao ato do amor deve ser considerado casado, segundo a interpretação mais profunda do dogma. Apenas, a contingência histórica desviou o foco da questão, fazendo com que a idéia de matrimônio se associasse cada vez mais a um ritual público e cada vez menos à efetiva união carnal — com o que se perdeu todo senso primordial da relação homem-mulher e o casamento se tornou uma espécie de salvo-conduto para a prática do mal menor.»
    Nota em: http://www.olavodecarvalho.org/apostilas/simone.htm#nota4
    (Observem: Olavo de Carvalho diz que a moral cristã “perdeu todo o senso primordial da relação homem-mulher”)

    «As pessoa imaginam às vezes que o diabo só faz você comer a mulher do próximo. Isso aí é o de menos, você pode comer a mulher de vários próximos e ainda assim ir para o céu» (Olavo de Carvalho, Aula do Seminário de Filosofia de Olavo de Carvalho, Junho de 1998, Bloco 8, p.20, citado in:
    http://www.montfort.org.br/index.php?secao=cadernos&subsecao=religiao&artigo=guenon&lang=bra

    «Santo Afonso de Ligório platonizou a moral cristã, transformando-a num sistema dedutivo, axiomático, fazendo um mal desgraçado» (Olavo de Carvalho, Crítica e Conselhos a Igreja Católica, in aula do Seminário de Filosofia de Olavo de Carvalho, Junho de 1998, Bloco 8, p. 19).

  5. Prezado Jonas, Laudetur Dominus!

    São citações curiosas. Algumas eu conhecia outras não. Mas onde você vê demonstrações de relativismo, eu vejo contemporizações que pretendem fugir do legalismo, pois se você reduz a moral a sentenças cristalizadas em fórmulas, você “automatiza” todo o dever moral individual e abole o livre arbítrio. E isso, qualquer fariseu pode fazer.

    Como ele diz na citação em que procura definir sua pestura em relação à moral, ele acredita que exista o certo e o errado. E o que define os relativistas é justamente o fato de eles não acreditarem nisso.

    Pax et Salutis

  6. Prezado amigo

    Pelo menos você concorda comigo que são de fato citações curiosas, citações muito curiosas de um “filósofo” alegadamente “conservador”. Um conservadorismo a favor da liberação sexual, este é o “conservadorismo” tupiniquim, temporariamente estacionado na Virgínia (“as aves que aqui gorgeiam, não gorgeiam como lá”). Um conservadorismo prafrentex, como se dizia nos anos 1970, quando o “filósofo” se contentava em ser tão-somente astrólogo e escrevia para a revista Planeta.

    Mas o relativismo não está apenas nos olhos de quem vê, mas no próprio escrito do “mestre” (uallah!), que diz pretender conciliar “o dogmatismo dos princípios” com “o relativismo antropológico, sociológico e histórico”. O papo velho de que “as regras morais são relativas, mas os princípios são imutáveis” no ziriguidum do samba do “filósofo” doido.

    Um dos truques manjados do Olavo é dar a seus textos um tom suficiente ambíguo de modo que um leitor católico possa absorver aberrações (como esta de que o matrimônio católico “perdeu todo o senso da relação primordial homem-mulher”) e dar-lhes um sentido católico, que não fira o seu sensus fidei.

    Agora imaginemos, porém, se as citações que extraí dos textos do Olavo viessem, não com a indicação de seu verdadeiro autor, mas como sendo assinadas por frei Betto e Leonardo Boff. Acredito que você não veria então nesses textos simples “contemporizações para fugir do legalismo”. Porém, faça, por gentileza, este exercício interessante: procure se nesses trechos do Olavo que citei há algo que não poderia ter sido dita pela dupla Betto & Boff.

    Ademais, combater o “dogmatismo” e o “legalismo” (ou o “moralismo”) sempre foi um bom subterfúgio para atacar a fé e a moral, engazopando os incautos. Quantos não são os que se insurgem contra a ordem e a decência na liturgia, atacando o suposto “legalismo”? A banda vermelha da CNBB também não se insurge contra um pretenso “legalismo”, ao defender como legítimas as ilegalidades do MST? Afinal de contas, de “legalismo” ninguém gosta, o que faz dessas palavras excelentes apelos retóricos.

    E nessa de criticar “a redução da moral a sentenças cristalizadas em fórmulas” há outro problema. Os teólogos modernistas, nos princípios do século XX, e os progressistas, no pós-Vaticano II, também acharam que a fé estava reduzida a “sentenças cristalizadas em fórmulas dogmáticas” e se propuseram a “atualizar a vivência da fé” em novas fórmulas, diferentes das tradicionais. Deixaram de usar, por exemplo, a palavra “transubstanciação” (mais um termo “cristalizado”) e passaram a buscar “novas formas linguísticas” para exprimir o dogma da presença real. Não dá pra eu contar toda essa história aqui, mas sugiro que você faça uma pesquisa a respeito da polêmica do Catecismo Holandês, por exemplo, campeão nesse quesito de combater “a redução da fé e da moral a sentenças cristalizadas em fórmulas”.

    Em verdade, quando as sentenças tradicionais não fazem mais sentido para nós, o que devemos fazer é ir atrás do sentido perdido, que nelas permanece escondido, e não trocá-las por palavras de sentido diverso. Como disse São Vicente de Lerins, “non nova, sed nove” (não coisas novas, mas novamente, isto é, de maneira nova).

    “Automatizar o dever moral” também não é um problema, apesar da incompreensão que isso possa causar no liberalismo do século. A virtude leva a perfeição o ato moral e consiste num hábito. Quem chega a possuir perfeitamente uma virtude não precisa mais fazer esforço para praticá-la, mas a pratica espontânea e automaticamente, como se fosse uma coisa natural — até porque, como dizia Aristóteles, o hábito é uma segunda natureza. A perfeição da castidade, da justiça etc. é ser automaticamente casto, justo etc. Um pianista que tivesse que concentrar a atenção para tocar as teclas certas do piano seria muito mau pianista, ou um principiante. Se tocasse corretamente, sem precisar prestar a atenção nas teclas, então diríamos que o tal é uma virtuose do piano. O fim último da vida humana não é evitar o pecado, isto é apenas a nossa primeira obrigação e o primeiro requisito para podermos alcançar verdadeiramente o fim último: unir-se a Deus pelo conhecimento (aqui na terra, pela fé; no Céu, pela luz da glória) e pela caridade (que jamais se acabará). Mas por ser pré-requisito essencial deve ser cumprido integralmente: a vida moral (a via purgativa) é pré-condição da vida ascética (a via iluminativa) e da vida mística (a via unitiva).

    Ademais, o livre-arbítrio não pode ser abolido porque faz parte da natureza humana, e todo o mundo tem o seu. Mas, atente-se: ele é a faculdade de escolher entre o bem e o mal, não a de escolher o bem e o mal. O bem e o mal são dados ao livre-arbítrio, não construídos por ele.

    Finalmente, o que define os relativistas não é o fato de eles não acreditarem no certo e no errado. Esta é a afirmação dos cépticos, não a dos relativistas. Cito o filósofo Mário Ferreira dos Santos (negritos meus):

    «Afirma o cepticismo que não há nenhuma verdade. Para o subjectivismo e para o relativismo há verdades, mas de validez limitada; isto é, não há verdade universalmente válida.
    Para o subjectivismo, a verdade está limitada ao sujeito que a conhece e julga.
    (…) Para o subjectivismo individual só há verdades individuais; para o subjectivismo geral, há verdades supra-individuais, não, porém, universalmente válidas. A validez é apenas para o gênero humano.
    O subjectivismo geral identifica-se, assim, ao psicologismo e ao antropologismo.
    Há certo parentesco entre o relativismo e o subjectivismo, pois, para aquele, toda verdade é relativa; tem uma validez apenas limitada.
    O subjectivismo torna o conhecimento humano dependente de factores internos (emergentes) do sujeito cognoscente. O relativismo torna-o dependente de factores externos (predisponentes): influência do meio, do espírito, do tempo, tema da sociologia do conhecimento etc.).
    Entre os sofistas, encontramos relativistas e subjectivistas. Protágoras dizia que “o homem é a medida de todas as coisas; das que são, enquanto são, e das que não são, enquanto não são”.
    Homem, como medida, é o ponto de apoio do subjectivismo psicologista.
    Modernamente, Spengler é relativista. “Só há verdades em relação a uma humanidade determinada”, e incluía em sua afirmação até as verdades da ciência» (SANTOS, Mário Ferreira dos. Teoria do Conhecimento; gnosiologia e criteriologia. São Paulo, Logos, 1960. pp. 39-40).

    Como Mário diz depois, o relativismo pode ser reduzido, por suas consequências lógicas, ao cepticismo, mas é distinto dele. O cepticismo proclama que “não há verdade”. O relativismo, “a verdade de cada um”. Para o céptico ninguém tem a verdade; para o relativista, todo o mundo tem a sua verdade.

    O relativismo se distingue do subjectivismo porque este coloca a verdade na dependência de fatores internos ao sujeito, enquanto o relativismo coloca-a na de fatores externos ao sujeito. O kantismo, na terminologia de Mário Ferreira dos Santos, poderia ser caracterizado como um subjetivismo geral. O marxismo, por sua vez, seria uma forma de relativismo, pois faz depender a cultura, a religião e a política (superestrutura) das relações econômicas (infra-estrutura social). O nazismo também seria outra forma de relativismo (a verdade da raça, o apelo dos fatores biológicos, e não mais o dos sociológicos).

  7. Também não creio que ele seja relativista, aliás é justamente contra o relativismo que ele escreve muitos de seus artigos. Mas nem por isso os católicos devem concordar com ele em todos os pontos.
    Como todos nós sabemos, existem várias heresias além do relativismo e ele cai em erro quando ele recusa a necessidade de se casar na Igreja dizendo que há “uma interpretação mais profunda do dogma” e também quando critica Santo Afonso de Ligório que é uma grande referência na Teologia Moral, ao meu ver até indispensável.
    Entretanto, concordo com alguns pontos que o Olavo colocou, nem todas as citações estão erradas, aliás ALGUMAS DAS frases destacadas pelo Jonas poderiam até serem erradas dependendo do contexto, mas no contexto que o Olavo colocou não vejo erro, ainda mais relativismo moral.
    No mais, não achei muito honesto dar destaque a essas frases isoladas, um bom exemplo é quando ele diz que é possível praticar adultério e fornicação (embora ele tenha falado de uma forma bem chula) e ir para o Céu, ninguém pode baseado somente nessa frase dizer que ele está errado, pode-se fazer isso (entenda poder não como um direito mas como mera possibilidade) desde que se confesse e se arrependa depois do ato, acaso Jesus não veio para salvar os pecadores? Obviamente se ele quis dizer que Deus não liga para isso, está totalmente errado e até incentivando um comportamento pecaminoso, mas eu particularmente duvido que ele ache correto alguém trair e praticar fornicação.

  8. Prezado Rodrigo

    Sugiro que você leia novamente, e com mais atenção, o texto do Olavo onde ele ousa falar de filosofia moral. Se quiser lê-lo inteiro, está aqui:
    http://www.olavodecarvalho.org/apostilas/amorosa.htm

    Como se vê acima, ele distingue claramente entre “normas morais” e “princípios”, afirmando que, se estes são imutáveis, aquelas são dependentes das condições históricas, sociológicas e antropológicas. Isso pode não ser relativismo integral — nem eu disse que o Olavo é um relativista integral — mas não se pode negar que ele defende aí a relatividade das normas morais. Resta saber como se daria a distinção entre princípios e normas no pensamento de Olavo de Carvalho.

    Uma pista está no próprio texto do Olavo:

    «II. Os princípios universais assim encontrados devem obedecer aos seguintes quesitos:
    a. Têm de ser identicamente os mesmos em todas as morais historicamente vigentes.
    b. Tem de estar subentendidos, como pressupostos lógicos, na aplicação prática dessas normas, em todos os casos historicamente considerados.
    »

    Neste contexto, a proibição do homossexualismo, por exemplo, seria simplesmente uma norma relativa, variável em função das condições históricas e sociológicas, uma vez que não é encontrada identicamente em todas as morais historicamente vigentes — na Grécia Antiga a pederastia era a forma corrente da iniciação sexual de um jovem nobre e hoje em dia quantos não são os ambientes que não vêem nada de moralmente errado no homossexualismo? Sem falar de outras práticas, como os sacrifícios humanos, o divórcio etc. Historicamente não se constata a proibição dessas práticas em todas as culturas, embora a Igreja ensine que a indissolubilidade do matrimônio, por exemplo, não é apenas um preceito revelado, mas é de direito natural.

    Na sua distinção entre princípios e normas, Olavo parece relativizar o conteúdo da moral, universalizando somente a forma. Com efeito, ele diz que os princípios “estão subentendidos, como pressupostos lógicos, na aplicação prática dessas normas, em todos os casos historicamente considerados”. Ora, isso me faz lembrar a teoria do “direito natural de conteúdo variável” de Stammler:

    «Foi com base nesses pressupostos formais que Stammler elaborou a sua conhecida doutrina do “direito natural de conteúdo variável”, que teve vários sequazes no Brasil, convindo lembrar que Clóvis Bevilaqua, apesar de fundalmentalmente empírico na sua orientação geral, não lhe recusava adesão.
    Segundo o mestre de Die Lehre von dem richtigen Rechte, o direito natural não é simples duplicata do direito positivo, mas é formado pelas categorias puras que governam a priori a experiência histórica, empregando-se aqui a priori no sentido kantiano de universal e válido como condição transcendental da experiência jurídica possível.
    O conteúdo do direito natural, no entanto, varia de lugar para lugar e de época para época. O que é jurídico hoje pode não se pôr como jurídico amanhã, mas, nessa mudança contínua de conteúdos, há algo no direito que possibilita as mudanças: — são as categorias lógicas fundamentais do querer, que condicionam as realizações sociais no sentido do ideal do justo» (REALE, Miguel. Filosofia do Direito. São Paulo, Saraiva, 2002. p. 340).

    É curioso como o Olavo, apesar de criticar tanto o kantismo, no texto comentado e também em outros, chega a conclusões bastante semelhantes à dos neokantianos em matéria de filosofia moral. Dos neokantianos, pois a ética do imperativo categórico original de Kant, apesar de seu formalismo, ou em razão dele, não admitia variações em seu conteúdo em função do tempo e do espaço.

    Antes que os defensores de Olavo me interpretem mal, não estou dizendo que a teoria do Olavo é a mesma de Stammler: simplesmente estoui apontando a semelhança de conclusões entre as duas.

    Mas há outros pontos no mínimo “curiosos” neste texto do Olavo. Observe quando ele diz:

    «O mundo físico, com sua luz “corpórea”, é a morada mesma do Espírito. Ou, como disse Paul Éluard,
    há outros mundos, mas estão neste.

    Em oposição, assim, ao “materialismo espiritual” que critico asperamente em O Jardim das Aflições, estabeleço um “espiritualismo material”: o “materialismo” de um mundo feito de Espírito, transparência, inteligibilidade.»

    E compare com o que ele diz no obituário do professor Miguel Reale:

    «Não digo que terei saudades dele, pois nunca senti saudades dos amigos mortos: posso estar maluco, mas tenho o nítido sentimento de que ainda estão comigo, tão vivos na minha paisagem interior quanto o estão na memória de Deus que a todos nos abrange e sustenta. O que quer que tenha entrado na existência, mesmo que por um só instante, não pode nunca mais retornar ao nada, que é alheio a toda existência. Só pode transpor-se a uma outra escala de tempo, imóvel e fixo na eternidade, mais autêntico e real do que nunca. “Tel qu’en lui-même enfin l’éternité le change.”»
    http://www.olavodecarvalho.org/semana/060417_1dc.html

    Peraí, os mortos vivem apenas na memória de Deus, como qualquer outra coisa que tenha entrado na existência? E a imortalidade pessoal da alma humana? Isso, como muitas outras coisas em Olavo, me cheira a averroismo. Averróis, o mais famoso dos comentadores maometanos de Aristóteles, distorceu o pensamento do Filósofo para afirmar que a alma humana individual não é imortal porque existiria um único intelecto agente para toda a humanidade, partilhável potencialmente por todos os homens.

    Neste blogue encontrei um resumo interessante da filosofia averroísta, onde se pode ler:

    http://filosofia-medieval.blogspot.com/2008/01/aristteles-entre-os-rabes.html
    «Desta forma, os filósofos árabes circunscreveram o intelecto agente num local e deram-lhe um nome. Este intelecto agente, que eles concebem como o intelecto único de toda a humanidade, é onde todos os outros estão imersos.
    A alma, afirma Averrois, “não está dividida segundo o número dos indivíduos; é a única e a mesma em Sócrates e em Platão: o intelecto não possui individualidade; a individuação procede da sensibilidade”. Será que Averrois ou qualquer outro filósofo árabe queria dizer que este intelecto agente era uma “humanidade permanente e viva”?
    »

    O intelecto único de toda a humanidade, onde todos os outros estão imersos… Hum… «Há outros mundos, mas estão neste. Estabeleço um “espiritualismo material”: o “materialismo” de um mundo feito de Espírito, transparência, inteligibilidade.»

    Não preciso dizer que o averroísmo foi duramente combatido por Santo Tomás de Aquino e outros filósofos cristãos, tendo o Aquinatense escrito contra ele o famoso De Unitate Intellectus Contra Averroistas.

    Aliás, a “teoria dos quatro discursos”, que o Olavo apresenta como sua grande contribuição à filosofia, também me parece chupinhada de Averróis. É curioso que Olavo cita, na nota 2 do texto que a apresenta, como dois precursores da teoria os nomes de Avicena e Santo Tomás de Aquino, os quais, segundo o astrólogo, não teriam porém atinado com toda a importância da coisa:
    http://www.olavodecarvalho.org/livros/4discursos.htm
    Contudo, o fato é que a essência da teoria dos quatro discursos está exposta em dois tratados de um personagem não citado pelo Olavo nesse trabalho: Averróis, que expôs sua interpretação dos discursos de Aristóteles nas obras Kitâb Fal al-maqâl e Kashf al-manahidj. Detalhe: Olavo de Carvalho sabe árabe, que aprendeu quando praticante do sufismo maometano.

  9. Adendo

    «No mais, não achei muito honesto dar destaque a essas frases isoladas, um bom exemplo é quando ele diz que é possível praticar adultério e fornicação (embora ele tenha falado de uma forma bem chula) e ir para o Céu, ninguém pode baseado somente nessa frase dizer que ele está errado, pode-se fazer isso (entenda poder não como um direito mas como mera possibilidade) desde que se confesse e se arrependa depois do ato, acaso Jesus não veio para salvar os pecadores? Obviamente se ele quis dizer que Deus não liga para isso, está totalmente errado e até incentivando um comportamento pecaminoso, mas eu particularmente duvido que ele ache correto alguém trair e praticar fornicação.

    Esta citação eu colhi no trabalho feito pelo professor Orlando Fedeli sobre o gnosticismo de Olavo de Carvalho, trabalho aliás definitivo e demolidor, cuja leitura recomendo:
    http://www.montfort.org.br/index.php?secao=cadernos&subsecao=religiao&artigo=guenon&lang=bra

    Se houve “pouca honestidade” aí, você deve imputá-la ao professor Orlando, acusação que, no caso, e tendo em vista as circunstâncias, não me parece ter qualquer procedência.

    Além disso, você não se deve esquecer que arrepender-se depois de um pecado mortal exige uma interferência extraordinária da graça divina, de modo que quem, segundo o linguajar do sr. Olavo, comeu a mulher de vários próximos, ou mesmo de um só, não tem como arrepender-se como é necessário, nem fazer uma confissão válida, só com suas próprias forças naturais. Tanto que a Igreja ensina que a justificação do ímpio é um milagre maior que a própria criação do mundo. E pelas opiniões do “filósofo” sobre matrimônio e liberação sexual, pode-se muito bem montar o possível contexto em que deve ser interpretada a tal citação.

  10. Não confio em Olavo de Carvalho em relação a doutrina católica, ele já deu mostras de que não segue os dogmas católicos fazendo pouco caso do Sacramento do Matrimônio, só estava tentando mostrar que ele não é relativista em relação a moral, no que você discorda, ainda preciso analisar melhor essa minha posição, como você mesmo disse, ele deixa em aberto algumas questões importantes como diferenciar princípios e normas morais, talvez essa sua luta contra o homossexualismo não seja pelos mesmos motivos dos católicos. Se ele coloca a proibição ao homossexualismo como uma posição que pode ser alterada conforme fatores históricos, culturais e sociais, então seria incoerente ele criticar os movimentos homossexuais coisa que ele tanto faz em seus artigos.
    Quanto às críticas do professor Orlando, cheguei a dar uma olhada na polêmica entre ele e o Olavo, mas preciso entendê-las melhor antes de dar uma opinião mais embasada. Só achei que os grifos foram exagerados e tendenciosos, o que não impede que a análise dos textos seja honesta.

    “Além disso, você não se deve esquecer que arrepender-se depois de um pecado mortal exige uma interferência extraordinária da graça divina, de modo que quem, segundo o linguajar do sr. Olavo, comeu a mulher de vários próximos, ou mesmo de um só, não tem como arrepender-se como é necessário, nem fazer uma confissão válida, só com suas próprias forças naturais. Tanto que a Igreja ensina que a justificação do ímpio é um milagre maior que a própria criação do mundo. E pelas opiniões do “filósofo” sobre matrimônio e liberação sexual, pode-se muito bem montar o possível contexto em que deve ser interpretada a tal citação.”

    Não entendi muito bem o que quis dizer, eu jamais neguei a necessidade da graça divina no arrependimento, seria até uma heresia, se for assim então para que defender a Confissão?
    Até onde eu sei, a Santa Confissão é um sacramento em que qualquer pecado é perdoado, sabemos bem disso, em nenhum momento eu comentei a respeito da dificuldade e da forma correta de se ter um pecado mortal perdoado, isso é outra questão. Só disse que a frase do Olavo por si só não estava errada, embora escrita numa linguagem chula. Está errado dizer que alguém que praticou um pecado contra a Castidade pode ir para o Céu? O próprio Cristo deu exemplo das prostitutas, nem preciso dizer mais nada… E olha que a prostituição é um pecado deplorável, ironicamente quase todos os libertinos, que acham normal a prostituição, se ofendem quando chamam suas mães por esse nome.
    Isso TECNICAMENTE FALANDO e foi nesse sentido que analisei a frase do O.C., sabemos que na prática, dado esse espírito relativista atual, uma pessoa que chega ao ponto de praticar adultério várias vezes dificilmente está praticando o catolicismo e ainda mais se confessando regularmente.
    Ainda discordo que o Olavo seja uma espécie de libertino em relação às questões sexuais, é justamente isso que ele critica, quando ele se disse anarquista em relação à moral, talvez tenha se expressado mal, porque na explicação dele, ele está se referindo ao rigorismo moral e a aplicação dos princípios na prática. Ele acha errado alguém impor a alguém que viva da forma certa, já que cada um tem o livre arbítrio de decidir entre fazer o certo e o errado, o que não significa de forma alguma que haja um direito natural ao erro.

  11. Prezado Rodrigo

    Existe modernamente uma confusão sobre o significado do livre-arbítrio. Por exemplo, a circunstância de uma lei proibir o homicídio, não retira o livre-arbítrio dos assassinos. Muito pelo contrário, reforça-o e acentua-o. O livre-arbítrio é faculdade pela qual podemos escolher entre o bem e o mal, mas ele não nos confere o direito de escolher o (que seja o) bem e o mal. Por isso impor o certo não é errado, especialmente quando se trata da autoridade eclesiástica (a Igreja), política (o Estado) ou doméstica (os pais). Quem tem autoridade tem o dever de impor o bem, a ordem moral objetiva, só podendo tolerar o mal para evitar males piores.

    E hoje em dia há quem defenda, por exemplo, a legalização do aborto sob o pretexto do “livre-arbítrio” (não é o caso do Olavo, evidentemente; só quero ilustrar um caso limite de incompreensão do significado do livre-arbítrio). Ora, mas a lei estatal que proíbe o aborto não retira o livre-arbítrio de ninguém, pelo contrário o evidencia, ao reforçar a responsabilidade pelo ato com penas temporais, ademais das penas sobrenaturais (o inferno) e canônicas (instituídas pela Igreja) já para ele estabelecidas.

    Em resumo: livre-arbítrio é a faculdade de escolher entre o bem e o mal, tal como dados pela ordem moral objetiva. Não é a faculdade de criar nossos próprios valores, nossa própria moral.

    E pode ser muito bem que o Olavo combata o movimento homossexual (e não o homossexualismo em si) por motivos diversos daqueles que impulsionam os católicos. Leia isto:

    «Mas, por absoluta incompreensão desse ponto, os adversários do movimento gay, quase sem exceção, têm cometido dois erros monstruosos.
    Primeiro: Combatem, junto com o movimento, a homossexualidade em si. Politicamente , isso é loucura. O movimento gay existe há algumas décadas e só em alguns lugares do planeta; o homossexualismo existe por toda parte desde que o mundo é mundo. O primeiro pode ser derrotado; o segundo não pode ser eliminado. Condicionar a vitória sobre o movimento gay à erradicação do homossexualismo é adiar essa vitória para o Juízo Final.
    Segundo: Procurando atenuar a má impressão de autoritarismo dogmático que essa atitude inevitavelmente suscita, apressam-se a declarar que respeitam os direitos dos gays e que desejam apenas preservar, lado a lado com eles, os direitos da consciência religiosa. Com isso, igualam o inigualável, negociam o inegociável, nivelam a liberdade de consciência a uma “opção sexual”, à preferência por determinado tipo de prazer erótico. Será preciso lembrar a esses cavalheiros que, privado de satisfação erótica, o ser humano sofre alguma incomodidade, mas, desprovido da liberdade de consciência, perde o último resquício de dignidade, o sentido da vida e a razão de existir?
    Em suma: são intransigentes onde deveriam ceder, cedem onde deveriam ser intransigentes, inflexíveis e até intolerantes. Não há nada de mais em aceitar o homossexualismo como uma realidade social que não pode ser erradicada e que, se deve ser combatida, é com todos os cuidados necessários para não ferir e humilhar pessoas.»
    http://www.olavodecarvalho.org/semana/070604dc.html

    Ou seja, Olavo de Carvalho combate o movimento homossexual (não o homossexualismo em si) coerentemente, mas dentro de um ponto de vista próprio da ideologia liberal.

    E, por último, eu não disse que você negou a necessidade da graça divina no arrependimento. O que eu quis enfatizar é que a possibilidade de arrependimento após o pecado não deve ser esperada como algo natural. O natural é que o pecador não se arrependa (o que não significa que Deus, rico em misericórdia, não possa tornar mais frequente o ato extraordinário e sobrenatural do arrependimento, do que o ato natural da impenitência, mas isso por mera liberalidade divina, não porque seja a ordem natural das coisas).

  12. Analisando alguns artigos do senhor Olavo de Carvalho, a gente começa a ter um pouco de cuidado sobre o que ele escreve!

    É só lermos os artigos do senhor Olavo e percebemos algumas coisinhas:

    1. Ele está realmente encantado com o americanismo dos ”Pais Fundadores” da América!

    Às vezes eu acho que os americanos criaram esse título de ”Pais Fundadores” para tentar competir com os Pais da Igreja Católica.

    2. Ele morre de amores também pelo protestantismo americano!

    Não sei se é verdade, mas dizem que a esposa do senhor Olavo de Carvalho é protestante. Que católico é esse que deixa sua esposa (se realmente ela for protestante) se perder em uma seita portestante?

    3. A maioria das teorias conspirativas que ele (Olavo) acredita vem das seitas protestantes americanas, que ele abraça com muita rapidez!

  13. Lendo o seu artigo ”Dogma” e a mentira (http://www.olavodecarvalho.org/semana/000106jt.htm), percebi uma coisa estranha vindo desse senhor!

    Ele critica alguns católicos por tentar impedir que seja vinculado o filme ”Dogma”. Eu não vi esse filme, mas quem viu me disse que do início ao fim é um ataque ao catolicismo.

    Mas agora vamos tentar mudar um pouco a situação e o alvo!

    Imagine se começar a aparecer filmes mostrando as vidas pervertidas, gnósticas e assassinas dos reformadores protestantes como Lutero; Calvino e outros!

    Será que o senhor Olavo terá a mesma opinião?

    Será que ele também dirá que esses filmes dos depravados reformadores protestantes devem passar e que não sejam impedidos?

    Eu tenho para mim que não. Para mim ele escreverá que é perseguição religiosa contra os protestantes, e que esses tem todo o direito de impedir que os filmes venham a público!

    Mais uma coisa é certa: Ele não escreverá essa frase que demonstra até um pouco de um ”filósofo”de botequim:

    ”Aos primeiros devo responder: vocês têm todo o meu respeito, mas não o meu apoio. E aos segundos: vocês têm todo o meu apoio, mas não merecem o meu respeito.”

  14. O Olavo fala bastante de moral, mas observa muito pouco as regras de moralidade. É só dar uma olhada para o que ele fala (ou escreve) e para sua vida pessoal (bem tumultuada). Não existe coisa mais inútil do que falar de moral e não praticá-la. Quem contempla “a consciência moral” é, na verdade, um grande espertalhão.

    No seu site ele diz que: “Somente a consciência individual do agente dá testemunho dos atos sem testemunha, e não há ato mais desprovido de testemunha externa do que o ato de conhecer.” (www.olavodecarvalho.org)

    Ele não fala que “somente a consciência moral…etc”. O jargão dele é igual ao dos ocultistas da Rosa Cruz, ligados ao ramo da Teosofia: “O fim a que se destina a Filosofia Rosacruz é despertar a humanidade para o conhecimento das Leis Divinas, que conduzem toda a evolução do homem (…)” (http://www.fraternidaderosacruz.org/)

    Mas, enfim, todo gnóstico, vem com essa história de “conhecimento” e “consciência individual” como o ápice da “evolução espiritual humana”. E o Olavo, gnóstico, não poderia agir diferente nesse sentido.

  15. De fato, prezado Renato, é preciso muito cuidado ao ler os escritos de Olavo de Carvalho.

    1. Ele está realmente encantado com o americanismo dos ”Pais Fundadores” da América!

    É verdade, veja só:

    «Hoje, é impossível não perceber a aliança mundial de neocomunistas, anarquistas, neonazistas, radicais islâmicos e até budistas contra os EUA e Israel, as últimas fortalezas da civilização condenada, contra a qual, literalmente, vale tudo.»
    http://www.olavodecarvalho.org/semana/030712globo.htm

    As últimas fortalezas da civilização condenada. E a Igreja católica, onde entra? O dr. Plinio Corrêa de Oliveira, pelo contrário, preferia chamar os Estados Unidos de “o filho primogênito da Revolução”. No fundo, Olavo é só mais um sionista americanólatra. Ele acha que os judeus nem precisam converter-se à Fé cristã para se salvarem:

    «Se as coisas são assim, o advento da revelação cristã não as modifica em nada. O batismo cristão redime você do pecado original, mas não o transforma automaticamente em profeta. E mesmo o estado de graça, a que você tem acesso pelos sacramentos, só dura até o próximo pecado, que você quase infalivelmente tratará de cometer na primeira oportunidade. A corda da salvação cristã é jogada pelos céus a cada indivíduo separadamente, em vários momentos da sua existência, até que aprenda a agarrar-se a ela ou a largá-la em definitivo. É um benefício pessoal, temporário e condicional. Já a condição de povo profético foi dada aos judeus coletivamente, definitivamente e incondicionalmente. Eles próprios não podem revogá-la. Se pecam, se abandonam o caminho, se renegam o próprio D-us, isso não muda em nada o seu estatuto eterno.
    (…)
    No que diz respeito aos judeus em especial, uma conclusão daí se segue inapelavelmente. Se D-us, ao instituir o sacrifício da missa, quisesse abolir no mesmo instante o antigo sacrifício mosaico, Ele o teria feito de maneira explícita e inequívoca. Se Ele não o fez, o mandato da Igreja não revoga o de Israel. Daí por diante, judeus e cristãos seguem por seus respectivos caminhos, misteriosamente unidos e separados pela identidade da fonte e pela diversa missão que dela receberam. Não têm a obrigação de compreender-se integralmente, porque esta compreensão está acima das possibilidades humanas. Mas têm a obrigação de amar-se e ajudar-se mutuamente em tudo o que seja necessário para o bom cumprimento de seus respectivos mandatos.
    »
    http://www.olavodecarvalho.org/textos/visaojudaica_ago2004.htm

    Se eu não me engano, isso é doutrina dos dispensacionalistas protestantes, heresia combatida até pelos protestantes mais sérios:
    http://pt.wikipedia.org/wiki/Dispensacionalismo

    Curioso é que, n’O Jardim das Aflições, Olavo satanizava os Estados Unidos, como produto da Maçonaria. Agora ele ama e venera os States e prega a aliança entre Igreja católica e Maçonaria em seus programas de rádio. O que mudou para que a pena do “filósofo” mudasse de orientação?

    2. Ele morre de amores também pelo protestantismo americano! Não sei se é verdade, mas dizem que a esposa do senhor Olavo de Carvalho é protestante. Que católico é esse que deixa sua esposa (se realmente ela for protestante) se perder em uma seita portestante?

    Sim, é verdade, caro Renato. A companheira do Olavo de Carvalho, no Brasil, congregava na Igreja Internacional da Graça de Deus, a seita pentecostal fundada pelo R.R. Soares, o cunhado do pEdir Maiscedo. Olavo ia com ela, a pretexto de acompanhá-la. Já imaginaram o “filósofo” batendo palmas no culto do R.R. Soares? A propósito, numa de suas últimas aulas no Brasil, Olavo de Carvalho recomendou, a seus alunos interessados em práticas de oração do cristianismo, o curso de fé do R.R. Soares… Nada há que se admirar, Olavo de Carvalho está para a filosofia, como R.R. Soares para a religião e a espiritualidade. Nos Estados Unidos a família De Carvalho continuou frequentando o culto protestante. Como é ecumênico esse crítico do Vaticano II!

    Quanto ao artigo por você citado
    http://www.olavodecarvalho.org/semana/000106jt.htm
    nele há também uma curiosa “defesa” que Olavo de Carvalho faz da TFP:

    «Não morro de amores pela TFP e não hesitaria, noutras circunstâncias, em argumentar que é estúpida e herética, mas não vejo sentido em bater em quem já está apanhando. A TFP, que nunca cometeu crime nenhum exceto o da babaquice, recebe da imprensa o tratamento que se dá a uma quadrilha de malfeitores, enquanto notórios seqüestradores, assassinos e assaltantes de bancos são premiados com dinheiro público e elevados ao céu das beatitudes por uma mídia comprometida e servil. Numa hora dessas, iria eu me associar covardemente à investida unânime de massas e elites contra um punhado de fanáticos inermes e encurralados?»

    Olavo chama os tefepistas de “estúpidos”, “babacas”, “fanáticos” e, pior que tudo, “heréticos”. Com um “defensor” assim, quem precisa de inimigos?

    Na polêmica que manteve com o professor Orlando Fedeli, Olavo também não desprezou a oportunidade para atacar, por tabela, Plínio Corrêa de Oliveira e seu pensamento sobre a Revolução:

    «Abusando das fontes científicas que cita, abusando da fé católica em cujo nome acusa e condena, o sr. Fedeli não faz senão impingir a seus discípulos um catolicismo de sua própria invenção – dele ou do dr. Plínio Corrêa de Oliveira.
    Não correspondendo, no conteúdo, à doutrina da Igreja, nem na forma àquilo que se entende por teoria científica, a doutrina dualista da Revolução e Contra-Revolução, seja na sua versão originária, seja na sua adaptação fedélica, não é nem religião nem ciência: é ideologia, no sentido estrito do termo.
    Daí o atrativo que exerce sobre jovens que buscam, não o conhecimento, nem a purgação de seus pecados, mas uma causa – uma causa em nome da qual possam, sem o mínimo abalo de sua boa consciência, mentir e pecar.
    Avaliado pelos critérios dessa ideologia, devo ser efetivamente um gnóstico e um herético, mas não vejo que importância possa ter isso desde o ponto de vista de uma Igreja e de uma ciência que ignoram solenemente o sr. Fedeli, o dr. Plínio e as idéias de ambos.»
    http://www.olavodecarvalho.org/textos/fedeli5.htm

    A propósito, a Igreja católica, tirante um padre da carismática Canção Nova, também ignora solenemente — e talvez com maior solenidade — Olavo de Carvalho e suas ideias.

    E Olavo, com essa história de “mente revolucionária”, cada vez mais adota um discurso semelhante àquele que criticou no dr. Plínio. É só uma pena que não cite a fonte bibliográfica…

  16. Jonas, você sabe me dizer se a família do Olavo ainda freqüenta seitas protestantes?

    Jonas, nesse artigo aqui http://www.olavodecarvalho.org/semana/091221dc.html

    o senhor Olavo deixa cair um pouco a sua máscara!

    Ele colocou uma frase do herege Lutero ”para não dizerem que puxo a brasa para a sardinha católica”.

    Quando li isso, me deu a impressão de que os seus amiguinhos protestantes já estão precionando o ”filósofo” para colocar mais ”pensamentos” portestantes nos seus artigos.

    Interessante é que nesse artigo aqui http://www.olavodecarvalho.org/semana/040327globo.htm ele parece dizer uma coisa totalmente diferente!

  17. Jonas, alguns anos atrás, o Olavo de Carvalho elogiava muito o Edir Macedo! Passou o tempo, agora ele praticamente deixou esse senhor de lado.

    Agora ele deu para elogiar muito o fanfarrão do Silas MALAFALA. Agora que você escreveu isso: Sobre o Olavo freqüentar a seita do R.R. Soares (do qual eu não sabia!). É melhor eu abrir mais ainda meus olhos sobre esse senhor!

  18. Prezado Jonas, Laudetur Dominus!

    Gostaria de ter mais tempo para examinar mais pausadamente tudo o que está sendo discutido aqui sobre o relativismo do Olavo de Carvalho. Infelizmente não tenho esse tampo disponível agora. Farei apenas algumas ressalvas que pertencem ao campo da opinião pessoal, que é terreno mais confortável.

    Agora imaginemos, porém, se as citações que extraí dos textos do Olavo viessem, não com a indicação de seu verdadeiro autor, mas como sendo assinadas por frei Betto e Leonardo Boff. Acredito que você não veria então nesses textos simples “contemporizações para fugir do legalismo”. Porém, faça, por gentileza, este exercício interessante: procure se nesses trechos do Olavo que citei há algo que não poderia ter sido dita pela dupla Betto & Boff.

    Talvez você considere que isto acontece por pura afinidade emocional ou ideológica. Mas, apesar de ser fácil ser assim, não é todo mundo que favorece um autor em detrimento de outro por pura afinidade. Acontece que, se um texto não encerra todo o seu significado na letra escrita, este deve ser buscado em outras fontes, sob pena de não se compreender o texto nem superficialmente. Este complemente pode ser a mera afinidade já citada, mas no meu caso não se trata dela. Neste caso eu sei a gama de idéias que fundamenta os discursos de Olavo de Carvalho e sei as que fundamentam Boff e Betto. Se falta algo no texto para clarificá-lo, é óbvio que vou julgá-lo por idéias já expostas em outros lugares. Não há nada de errado nisso.

    Ademais, combater o “dogmatismo” e o “legalismo” (ou o “moralismo”) sempre foi um bom subterfúgio para atacar a fé e a moral, engazopando os incautos.

    Se isto é apenas uma advertência, é muito válida. Se você afirma isto categoricamente, porém, é uma generalização injusta, pois nem todo mundo que usa este expediente o faz para atacar a fé e a moral. Pelo menos eu posso te garantir que não é o meu caso. Primeiro, eu não falei de dogmatismo. E nem poderia, pois ele é necessário a todo cristão. Mas o legalismo é tão prejudicial que o combate a ele está na raiz mesma da Religião. Nosso Senhor mesmo combateu o legalismo dos fariseus, perdoou uma pecadora pega em flagrante e tocou mesmo nos pontos mais sensíveis que uma interpretação meramente literal da escrituras poderia ocasionar, quais eram a questão de Ele se declarar Deus e de relaizar boias obras em dia de Sábado. Santo Atanásio é outro exemplo do que o legalismo pode fazer.

    Portanto, não generalize, pois se é certo que devemos contra-atacar estes erros contra a moral, também é certo que não se corrige um erro cometendo outro.In medio virtus, pelo menos neste caso particular.

    E nessa de criticar “a redução da moral a sentenças cristalizadas em fórmulas” há outro problema. Os teólogos modernistas, nos princípios do século XX, e os progressistas, no pós-Vaticano II, também acharam que a fé estava reduzida a “sentenças cristalizadas em fórmulas dogmáticas” e se propuseram a “atualizar a vivência da fé” em novas fórmulas, diferentes das tradicionais.

    Como eu disse, não é essa posição que eu defendo. Apesar de estarem intimamente ligados, dogma e moral não se confundem.

    Quem chega a possuir perfeitamente uma virtude não precisa mais fazer esforço para praticá-la, mas a pratica espontânea e automaticamente, como se fosse uma coisa natural[…]

    Ok, mas antes de haver toda esta ascese houve uma decisão tomada de maneira bem refletida. Quando falo de automatismo não falo do automatismo do hábito e sim o da decisão anterior a este.

    Ademais, o livre-arbítrio não pode ser abolido porque faz parte da natureza humana, e todo o mundo tem o seu.

    Novamente não falei em abolir o livre arbítrio de maneira absoluta, e sim em pensar de maneira automática até o ponto de renunciar ao uso do livre arbítrio.

    Justamente por não ter tempo de examinar a questão mais detidamente e em nome da honestidade intelectual, eu vou passar a tomar cuidado ao ler Olavo de Carvalho. E agradeço pelo aviso.

    Pax et Salutis

  19. Prezado Jonas, Laudetur Dominus!

    Gostaria de ter mais tempo para examinar mais pausadamente tudo o que está sendo discutido aqui sobre o relativismo do Olavo de Carvalho. Infelizmente não tenho esse tampo disponível agora. Farei apenas algumas ressalvas que pertencem ao campo da opinião pessoal, que é terreno mais confortável.

    “Agora imaginemos, porém, se as citações que extraí dos textos do Olavo viessem, não com a indicação de seu verdadeiro autor, mas como sendo assinadas por frei Betto e Leonardo Boff. Acredito que você não veria então nesses textos simples “contemporizações para fugir do legalismo”. Porém, faça, por gentileza, este exercício interessante: procure se nesses trechos do Olavo que citei há algo que não poderia ter sido dita pela dupla Betto & Boff.

    Talvez você considere que isto acontece por pura afinidade emocional ou ideológica. Mas, apesar de ser fácil ser assim, não é todo mundo que favorece um autor em detrimento de outro por pura afinidade. Acontece que, se um texto não encerra todo o seu significado na letra escrita, este deve ser buscado em outras fontes, sob pena de não se compreender o texto nem superficialmente. Este complemente pode ser a mera afinidade já citada, mas no meu caso não se trata dela. Neste caso eu sei a gama de idéias que fundamenta os discursos de Olavo de Carvalho e sei as que fundamentam Boff e Betto. Se falta algo no texto para clarificá-lo, é óbvio que vou julgá-lo por idéias já expostas em outros lugares. Não há nada de errado nisso.

    Ademais, combater o “dogmatismo” e o “legalismo” (ou o “moralismo”) sempre foi um bom subterfúgio para atacar a fé e a moral, engazopando os incautos.

    Se isto é apenas uma advertência, é muito válida. Se você afirma isto categoricamente, porém, é uma generalização injusta, pois nem todo mundo que usa este expediente o faz para atacar a fé e a moral. Pelo menos eu posso te garantir que não é o meu caso. Primeiro, eu não falei de dogmatismo. E nem poderia, pois ele é necessário a todo cristão. Mas o legalismo é tão prejudicial que o combate a ele está na raiz mesma da Religião. Nosso Senhor mesmo combateu o legalismo dos fariseus, perdoou uma pecadora pega em flagrante e tocou mesmo nos pontos mais sensíveis que uma interpretação meramente literal da escrituras poderia ocasionar, quais eram a questão de Ele se declarar Deus e de relaizar boias obras em dia de Sábado. Santo Atanásio é outro exemplo do que o legalismo pode fazer.

    Portanto, não generalize, pois se é certo que devemos contra-atacar estes erros contra a moral, também é certo que não se corrige um erro cometendo outro.In medio virtus, pelo menos neste caso particular.

    E nessa de criticar “a redução da moral a sentenças cristalizadas em fórmulas” há outro problema. Os teólogos modernistas, nos princípios do século XX, e os progressistas, no pós-Vaticano II, também acharam que a fé estava reduzida a “sentenças cristalizadas em fórmulas dogmáticas” e se propuseram a “atualizar a vivência da fé” em novas fórmulas, diferentes das tradicionais.

    Como eu disse, não é essa posição que eu defendo. Apesar de estarem intimamente ligados, dogma e moral não se confundem.

    Quem chega a possuir perfeitamente uma virtude não precisa mais fazer esforço para praticá-la, mas a pratica espontânea e automaticamente, como se fosse uma coisa natural[…]

    Ok, mas antes de haver toda esta ascese houve uma decisão tomada de maneira bem refletida. Quando falo de automatismo não falo do automatismo do hábito e sim o da decisão anterior a este.

    Ademais, o livre-arbítrio não pode ser abolido porque faz parte da natureza humana, e todo o mundo tem o seu.

    Novamente não falei em abolir o livre arbítrio de maneira absoluta, e sim em pensar de maneira automática até o ponto de renunciar ao uso do livre arbítrio.

    Justamente por não ter tempo de examinar a questão mais detidamente e em nome da honestidade intelectual, eu vou passar a tomar cuidado ao ler Olavo de Carvalho. E agradeço pelo aviso.

    Pax et Salutis

    (P.S.: Jorge Ferraz, por favor apague o comentário acima pois a tag falhou e pode ficar difícil para quem ler entender a ordem do discurso. Obrigado.)

  20. Olavo de Carvalho:

    É o cara, ele, ele… dá novas escolhas às pessoas, muda a opinião delas, ele é tudo isso que esse vídeo mostra:

    http://en.tackfilm.se/?id=1263398709882RA75

    Por favor, quebrem os porta-retratos de fotos das pessoas insignificantes e ordinárias que V. tem em casa e coloque a foto de alguém que merece, alguém que V. precisa agradecer a existência, a guinada que ele dá na sua vida, pô, demais, alguém como:

    Olavão!

    Ele precisa ser reconhecido como um herói, um verdadeiro herói.

    buáaaaaaaaaaaaaaaaaa (choro emocionado)

  21. Em 29 December 2009 at 23:19 , Jonas escreveu:

    Os teólogos modernistas, nos princípios do século XX, e os progressistas, no pós-Vaticano II, também acharam que a fé estava reduzida a “sentenças cristalizadas em fórmulas dogmáticas” e se propuseram a “atualizar a vivência da fé” em novas fórmulas, diferentes das tradicionais. Deixaram de usar, por exemplo, a palavra “transubstanciação” (mais um termo “cristalizado”) e passaram a buscar “novas formas linguísticas” para exprimir o dogma da presença real. Não dá pra eu contar toda essa história aqui, mas sugiro que você faça uma pesquisa a respeito da polêmica do Catecismo Holandês, por exemplo, campeão nesse quesito de combater “a redução da fé e da moral a sentenças cristalizadas em fórmulas”.

    Ontem ou anteontem, não lembro mais, eu estava a procurar saber do padre Paul-Eugène Charbonneau; e ainda estou. Por motivo que desconheço, acabei enveredando pelo assunto do Catecismo Holandês. Está me parecendo que o Credo do Povo de Deus (Papa Paulo VI), o qual pretendo ler assim que possível,  responde a esse catecismo. O Cardeal Joseph Ratzinger, hoje Papa Bento XVI, dedicou o final do primeiro capítulo de seu livro “Dogma e Anúncio” a comentar esse  catecismo: Teologia e Pregação no Catecismo Holandês (p. 61). Estou procurando mais referências (em português) a respeito daquela polêmica. Se possível, relacionar com o que Pe. Charbonneau fez; pois me parece que há alguma relação.

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