No II Domingo da Quaresma…

[São duas coisas díspares. Uma homilia e um artigo de jornal, um sacerdote e um leigo, uma meditação da Liturgia de hoje e uma denúncia contra a Campanha da Fraternidade. Só as coloquei juntas porque, afinal, ambas falam sobre a Quaresma, embora sob aspectos distintos (e, no meu entender, perfeitamente complementares): a parte “positiva” de bem viver a Quaresma, e a parte “negativa” de se combater tudo o que dificulta o aproveitamento deste tempo favorável.]

1. Pe. Antoine Coelho, LC: “A nós, Deus ofereceu-nos um sinal incomparavelmente mais explícito de que cumpriu e continuará a cumprir as suas promessas. Chama-me muito a atenção o facto de que São João evangelista mencione, no seu relato da Paixão de Cristo, que os soldados romperam as pernas dos dois ladrões crucificados com Ele. ‘Mas ao chegarem a Jesus, como o viram já morto, não lhe romperam as pernas […] E tudo isso sucedeu para que se cumprira a Escritura: não lhe quebrará nenhum osso’. Porquê falta de romper ou não romper pernas, quando o Senhor está já morto? Não é detalhe insignificante a estas alturas? Mas é que ao Senhor, não lhe podia suceder o mesmo que aos animais cortados no sacrifício de Abraão. Com isso a Escritura mostra-nos que, em Cristo crucificado, Deus cumpriu as promessas. Cumpriu o que prometera a Abraão quando passara entre os animais sob a forma do fogo! Em Aquele que está pendurado para o perdão dos nossos pecados deve residir toda a nossa fé e esperança. N’Ele torna-se evidentemente que é o amor infinito de Deus a querer levar-nos à Terra Prometida, à Jerusalém Celeste, com a condição de que como Abraão não deixemos nada em Ur dos caldeus, fiéis ao chamado de Deus que nos fala pela Igreja”.

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2. Percival Puggina: “Toda consciência bem formada se revolta com as tragédias da pobreza material, feitas de analfabetismo, baixo nível educacional e cultural, más condições habitacionais e sanitárias, abandono dos aposentados. Feitas também por corrupção, esbanjamentos, mordomias, absurdos desníveis na remuneração do serviço público e maus governos. Não é com a superação desses embaraços que venceremos a miséria e os desníveis sociais? Pois é tudo campo da política! Miséria e desníveis sociais são temas para os poderes públicos, que se apropriam de 40% do PIB nacional! As justas preocupações com partilha e solidariedade deveriam focar, principalmente, essa brutal ruptura com o Princípio da Subsidiariedade. É grave erro da campanha não dizer que os problemas do Brasil são muito mais políticos do que econômicos. Muito mais institucionais do que empresariais. Bons governos, com boas políticas, enfrentam essas dificuldades valendo-se da competente operação do setor privado”.

A nós, Deus ofereceu-nos um sinal incomparavelmente mais explícito de que cumpriu e continuará a cumprir as suas promessas. Chama-me muito a atenção o facto de que São João evangelista mencione, no seu relato da Paixão de Cristo, que os soldados romperam as p

En passant

Ele faz com que o Sol se levante sobre os bons e os maus. “No Criador, não há mudança, não há intenções anteriores ou posteriores; na Sua natureza, não há ódio nem ressentimentos, não há lugar maior ou menor no Seu amor, nem antes nem depois no Seu conhecimento. Pois, se todos crêem que a criação começou a existir como consequência da bondade e do amor do Criador, nós sabemos que esta primeira motivação não diminui nem se altera no Criador em consequência do curso desordenado da Sua criação”.

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Este é um post não oficial. “São doze páginas de propaganda política. O que acho interessante é a estratégia de se divulgar algo que ‘não é oficial’ por vias ‘oficiais’. Claro… As instituições fazem isso o tempo todo, mas foi a primeira vez que vi isso acontecer assim, tão… Tão oficialmente!”.

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O silêncio. “[É] pelo silêncio que o homem cria e manifesta a sua força e constrói a mansão das suas virtudes; da prudência, pelo silêncio da discrição e da medida; da temperança, pelo silêncio dos seus sentimentos inconfessados; da força, pelo silêncio da paciência; da justiça, pelo silêncio do juízo; da humildade e do apagamento. Já dentro do templo das virtudes cardeais, é ainda pelo silêncio que o homem é introduzido no santuário das virtudes teologais: da fé, pelo silêncio da razão que reconhece os seus limites e se abre a uma luz mais alta; da esperança, pelo silêncio da expectativa, que, no desprendimento dos bens terrenos, aspira aos bens eternos; da caridade, pela união com Deus na oração e na dedicação aos outros”.

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Não à civilização do grito e do barulho. “O grito é o modo mais eficaz de inibir a auto-reflexão, de impedir que a voz da consciência nos diga o que fazer o que não fazer. Gritando, submetendo-me ao barulho diuturno, vivendo em um ritmo frenético entre trabalho e lazer agitado e, quando estou em casa, com a novela ou o filme ou o jornal sempre ligados, calo a consciência. Impeço-a de me proibir, de me pautar, de me fornecer os dados necessários de uma moral objetiva para meu comportamento. Se a consciência e a moralidade tentam falar comigo, enclausuro-me no barulho para que não ouça sua voz. A suavidade da voz da consciência é nublada pela ensurdecedora algazarra moderna”.

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Rei espanhol poderá ser excomungado. “Segundo o bispo, o monarca não incorrerá em qualquer pena canônica caso assine a nova lei [do aborto]. O bispo destacou que o papel do rei espanhol é peculiar – a ele cabe assinar as leis aprovadas pelo legislativo – e que, portanto, sua situação não deve ser comparada à dos parlamentares. A conferência dos bispos advertira os parlamentares católicos que se votassem a favor do projeto abortista do governo socialista espanhol estariam se colocando fora da comunhão eclesial, o que em bom e velho português se chama excomunhão. […] No meu entendimento, [no entanto,] se o rei da Espanha assina a lei está excomungado!”.

A análise de conjuntura da CNBB

Alegrei-me nas últimas semanas com a CNBB, devido às tomadas públicas de posição contra o PNDH-3 do Governo Federal. No entanto, como “esmola demais o santo desconfia”, fiquei sabendo (via Blog do Saraiva) de um texto escandaloso – publicado no site da Conferência – que praticamente desdiz tudo o que foi dito contra o programa antes.

Faço questão de transcrever a parte referente ao PNDH-3:

Polêmica sobre o 3º PNDH

Nesse cenário explica-se a celeuma em torno do III Plano Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3). Mesmo sem perder de vista os pontos controvertidos e a necessária crítica a alguns dos seus aspectos. Principalmente no que diz respeito a reducionismos que consideram apenas algumas dimensões do ser humano, fruto da cultura relativista que atinge setores sociais e da mídia. Entretanto, a maioria do PNDH-3 e dos temas nele contidos dialogam com a trajetória de muitos movimentos e pastorais que há décadas lutam pela implementação.

Ademais, este se configura como continuidade do PNDH I e o PNDH II – respectivamente publicados em 1996 e em 2002. Aliás, o PNDH foi uma idéia do Brasil e da Austrália em 93, na Conferência Mundial de Direitos Humanos de Viena, Áustria. O 3º PNDH representa o acúmulo de debates realizado em dezesseis anos continuidade na construção da política de Direitos Humanos, representada pelos 1º e 2º PNDH, ultrapassando assim o atual governo federal. Foi construído com ampla participação da sociedade civil em Conferências Municipais, Estaduais e Nacional de Direitos Humanos.

A atitude de diálogo manifestada pela CNBB em sua nota de janeiro abriu canais para a conversa com o Ministro Paulo Vanucchi, titular da Secretaria Especial de Direitos Humanos e contribuiu para o aprofundamento do debate para que se avance na efetivação dos direitos humanos já consagrados na história brasileira e com amplo consenso social, e a identificação de mecanismos de revisão dos temas sobre os quais é preciso haver maior debate e, quiçá, um arbitramento das diferenças existentes.

A má redação do texto é essa mesma. E as más idéias subjacentes, idem: mesmo com todos os problemas – gravíssimos e inaceitáveis, absolutamente inegociáveis – que tem o Plano Nacional de Direitos Humanos, segundo a análise de conjuntura disponível no site da CNBB, “a maioria dele está de acordo com os movimentos e as pastorais”, “ele foi construído por meio de uma ampla participação social”, “é necessário debater para superar as diferenças existentes”, e outra infinidade de arrodeios satânicos, de subterfúgios infernais, de tergiversações diabólicas, que pretendem relativizar a condenação firme a este Programa anti-católico – exigida por justiça a quem deseje permanecer católico.

Não exagero. Não dá para ser católico e socialista ao mesmo tempo. Não dá para ser católico e apoiar a instauração do Ateísmo como religião oficial do Estado ao mesmo tempo. Não dá para ser católico e, ao mesmo tempo, ser gayzista. Não dá para ser católico e apoiar o aborto ao mesmo tempo. Ora, todas essas coisas são expressamente defendidas pelo PNDH-3; logo, não dá para ser católico e apoiar este maldito programa ao mesmo tempo.

Esta análise de conjuntura, publicada no site da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, não é católica. Mesmo não sendo um documento oficial e não contendo a assinatura da presidência ou do secretariado geral, não importa: é escandaloso que esteja publicado no site da Conferência, que contenha o logotipo da CNBB, que seja assinado por pessoas que pertencem à entidade.

O texto possui doze páginas das quais nada se aproveita. E chega até a fazer uma propaganda política cretina, ao citar pesquisas de opinião segundo as quais a maior parte dos entrevistados considera o presidente Lula “confiável”, ao mesmo tempo em que apresenta Dilma como aquela que “representa a continuidade do Governo Lula, que prosseguirá com o modelo desenvolvimentista, com sensibilidade para a questão social” e, José Serra, encarnando “o retorno da política neoliberal anteriormente efetivada por Fernando Henrique Cardoso, dialogando com os interesses do empresariado nacional e do capital internacional”. Francamente! Não que Serra seja um candidato aceitável para os católicos. Mas, certamente, o motivo disso não é o “retorno da política neoliberal”.

Sobre os assuntos importantes, como o PLC 122/2006 (a lei da Mordaça Gay), o texto é profundamente lacônico: apenas quatro linhas dizendo que ele existe e que está aguardando a realização de uma audiência pública. Sem o menor juízo de valor, sem críticas, sem nenhuma referência à posição católica sobre o tema, sem nada. Deplorável.

É esta a “análise de conjuntura” que os os bispos do Brasil têm a apresentar aos católicos brasileiros? Uma defesa mal disfarçada do PNDH-3, propaganda política descarada a favor da candidata petista, omissões e lacunas imperdoáveis nos assuntos graves que merecem esclarecimentos, tudo isso escrito no intragável palavrório esquerdista que ninguém suporta mais? A CNBB vai mesmo endossar esta picaratagem?

Polêmica sobre o 3º PNDH
Nesse cenário explica-se a celeuma em torno do III Plano Nacional de Direitos Humanos
(PNDH-3). Mesmo sem perder de vista os pontos controvertidos e a necessária crítica a alguns dos
seus aspectos. Principalmente no que diz respeito a reducionismos que consideram apenas algumas
dimensões do ser humano, fruto da cultura relativista que atinge setores sociais e da mídia.
Entretanto, a maioria do PNDH-3 e dos temas nele contidos dialogam com a trajetória de muitos
movimentos e pastorais que há décadas lutam pela implementação.
Ademais, este se configura como continuidade do PNDH I e o PNDH II – respectivamente
publicados em 1996 e em 2002. Aliás, o PNDH foi uma idéia do Brasil e da Austrália em 93, na
Conferência Mundial de Direitos Humanos de Viena, Áustria. O 3º PNDH representa o acúmulo de
debates realizado em dezesseis anos continuidade na construção da política de Direitos Humanos,
representada pelos 1º e 2º PNDH, ultrapassando assim o atual governo federal. Foi construído com
ampla participação da sociedade civil em Conferências Municipais, Estaduais e Nacional de
Direitos Humanos.
A atitude de diálogo manifestada pela CNBB em sua nota de janeiro abriu canais para a
conversa com o Ministro Paulo Vanucchi, titular da Secretaria Especial de Direitos Humanos e
contribuiu para o aprofundamento do debate para que se avance na efetivação dos direitos humanos
já consagrados na história brasileira e com amplo consenso social, e a identificação de mecanismos
de revisão dos temas sobre os quais é preciso haver maior debate e, quiçá, um arbitramento das
diferenças existentes.

CNBB e Hidrelétricas

Bispos argentinos lutam contra casamento gay, espanhóis contra o aborto, e brasileiros… contra uma hidrelétrica.

@jonatas_dias

Às vezes eu me pergunto se não sou implicante demais. Mas é que fico realmente frustrado quando vejo uma declaração como a que a CNBB emitiu sobre a usina hidrelétrica de Belo Monte. “Reunidos, em Brasília, entre os dias 23 a 25 de fevereiro de 2010, nós, Bispos do Conselho Episcopal de Pastoral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em sintonia com os Bispos do Regional Norte 2 da CNBB e acompanhando os passos que estão sendo dados para a concretização da projetada Usina Hidrelétrica de Belo Monte, na região do Rio Xingu, Estado do Pará, manifestamos nossa grande preocupação ao saber que a licença prévia já foi concedida pelo IBAMA, permitindo o leilão para a construção e exploração da referida Usina”.

Ninguém nega que o ser humano é responsável pela criação de Deus – isso é óbvio. Ninguém nega que se deva cuidar do meio-ambiente. No entanto, os principais problemas aqui são:

1. Ecologia é uma coisa, e a “ecolatria” panteísta (e não raro catastrofista) que vemos nos nossos dias é outra coisa completamente diferente. Eu já escrevi aqui no Deus lo Vult! há mais de um ano sobre isso. Na mensagem para o Dia Mundial da Paz 2010, o Papa Bento XVI criticou “um novo panteísmo com acentos neopagãos que fazem derivar apenas da natureza, entendida em sentido puramente naturalista, a salvação para o homem”. Esta mensagem parece, infelizmente, encontrar bem pouco eco entre as autoridades eclesiásticas brasileiras.

2. A Igreja é mestra em Doutrina e em Moral. Não em estudos sócio-ambientais. Esta não é a competência da Igreja. Logicamente, podem existir alguns aspectos morais relevantes sobre os quais a Igreja talvez sinta necessidade de se pronunciar; no entanto, uma tomada de posição como esta, na qual praticamente é dito que não se pode apoiar a construção da hidrelétrica de Belo Monte, é extremamente inadequada, para dizer o mínimo. A não-construção de hidrelétricas obviamente não é um dogma de Fé, de modo que não faz sentido a Conferência manifestar-se desta maneira pública e contundente sobre o assunto.

3. Por que a Conferência, ao invés de perder tempo com estas coisas que são no mínimo questionáveis, não faz o que é sua função fazer? Por que os temas católicos são tão ausentes dos seus pronunciamentos? Na coletiva de imprensa de ontem, falou-se sobre “Fichas Limpas, crise no Distrito Federal, Usina Belo Monte e apoio aos aposentados”. Que tal falar de Quaresma, de conversão, de jejum, de esmola, de penitência, de Nosso Senhor Jesus Cristo, da necessidade de se pertencer à Igreja Católica, de Nossa Senhora, da vida da Graça, de Sacramentos? Que tal falar contra o aborto, contra a pornografia, contra o laicismo, contra o “casamento gay”, contra o socialismo e contra tantos outros males – incontestavelmente males – que ameaçam esta Terra de Santa Cruz?

Será possível que tudo isso seja implicância minha? Será que é pedir muito que os temas católicos tenham primazia nos discursos de uma Conferência de bispos católicos? O tweet em epígrafe é pequeno, mas é verdadeiro. E, apesar de pequeno, provoca uma grande dor. Rezemos pela Igreja. Rezemos pelos bispos do Brasil.

Debates públicos e questões morais

Alguém comentou sobre um debate, no programa do Ratinho de ontem (salvo engano), entre Silas Malafaia e uma deputada pró-gayzismo. Eu não tive ainda tempo assistir (alguém comentou no youtube), mas queria só fazer algumas rápidas considerações:

1. Sempre que existe algum assunto polêmico, a impressão que me passa é a de que a promoção de debates (e de enquetes também) é utilizada como mecanismo de tomada de posição, cabendo o critério de discernimento à oratória dos debatedores (ou à “vontade da maioria”, no caso das enquetes). Parece que nada é certo, e tudo pode ser pensado e repensado, ou decidido igualmente de uma forma ou de outra. Jamais se considera que certas coisas simplesmente não são passíveis de discussão. Sempre me lembro daquele texto (aliás, genial) que não estou conseguindo acessar agora, chamado “por que não a mamãe”. Ainda está no cache do google.

2. Ao mesmo tempo, a coisa é feita com um tão grande desleixo que eu tenho a sensação de que se intenta tirar toda a credibilidade do processo, toda a seriedade do assunto, toda a sua substância intelectual. O que raios é o programa do Ratinho, para pretender discutir um assunto de tão grande seriedade? Qual o nível do programa e dos seus espectadores? Do jeito que as coisas são feitas, parece haver uma vontade pensada de caricaturizar e de debochar, de esvaziar o assunto de sua gravidade, para que as pessoas não mais o levem a sério e, assim, possam aceitar levianamente “qualquer coisa” que se decida sobre ele.

3. Por que chamaram o Silas Malafaia e não, p.ex., o padre Lodi ou o padre Paulo Ricardo? Na minha opinião, foi também caso pensado. Porque uma coisa é a “Assembléia de Deus da Penha”, e outra completamente diferente é a Igreja Católica Apostólica Romana. A primeira não tem a credibilidade da Igreja de Cristo. É fundamental que a defesa da família e da Lei Natural seja tomada pela Igreja Católica, e haja uma identificação pública clara entre as duas coisas. Porque o protestantismo obviamente não é a capaz de oferecer a defesa que a situação atual exige.

Mais sobre justiça e pena

Recebi nos últimos dias diversos comentários sobre o assassino do menino João Hélio que, sob as bênçãos de uma ONG defensora dos direitos humanos, após cumprir a sua “pena” num instituto de recuperação de menores, ganhou passagem e moradia na Suíça, para si e sua família, a fim de ter uma chance de recomeçar a sua vida.

Alguém me perguntou meio provocativamente se eu preferiria que o sujeito “apodrecesse” na cadeia, ao invés de ter uma chance de reconstruir a sua vida. A pergunta esconde um falso dilema, pois do jeito que ela foi formulada só parece haver duas alternativas excludentes: ou o sujeito “tem uma nova chance”, ou o sujeito “paga a sua pena”.

É óbvio que eu quero que o criminoso se arrependa de suas faltas e, tornando-se uma boa pessoa, possa levar uma vida santa (inclusive mais santa do que a minha, como rezamos na Ladainha da Humildade) até o fim dos seus dias. Isso, no entanto, não pode ser feito simplesmente “esquecendo-se” das conseqüências dos seus crimes, como se nada tivesse acontecido.

Como ensina a boa doutrina católica, a pena tem a função primeira de reparar a desordem introduzida pela culpa; adquire valor de expiação quando aceita livremente pelo condenado e, na medida do possível, deve contribuir para a emenda do culpado (cf. CIC 2266). Portanto, ao contrário do que estamos acostumados a escutar, o objetivo primeiro das punições não é a “reabilitação” do criminoso. Isso é uma coisa boa que deve ser buscada, sim, mas a função primeira da pena é reparar a desordem introduzida pela culpa.

Isso só pode ser feito com penas proporcionais aos delitos. Em que espécie de mundo a morte horrível de uma criança, arrastada por quilômetros presa a um carro roubado, pode ter como pena proporcional dois anos em uma casa de recuperação e, depois, uma “vida nova” na Suíça?

Concedendo, apenas para argumentar, que o menor tenha tomado consciência do mal que cometeu, que tenha realmente se arrependido, que deseje sinceramente mudar de vida e esteja realmente empenhado em fazê-lo de forma decente e honesta, mesmo assim, a reabilitação do culpado não é, por si só, suficiente para fazer cessar a pena. A pena é um dever de justiça. Voltando à pergunta original: sim, eu sem dúvidas quero que o assassino do garoto – e, aliás, qualquer criminoso – tenha uma outra chance, mas se a pena justa para os seus crimes exigir que ele “perca” um bom pedaço da sua vida em uma prisão, isso não pode ser simplesmente ignorado. Mesmo que, com isso, ele perca muitas chances na vida; afinal, uma “punição” é isso mesmo e não pode ser diferente.

Sobre o assunto, encontrei no Estadão de hoje um artigo do Bispo auxiliar do Rio de Janeiro, Dom Antonio Augusto Dias Duarte, que vale a leitura. Termino as minhas reflexões com as palavras de Sua Excelência:

[S]erá que não existe mais, na atual civilização, o direito de memória, que exige o dever de respeitar o sofrimento gravado a fogo na mente e no coração dos pais e dos familiares, dos amigos e dos concidadãos de João Hélio, pois no interior de toda essa gente nunca se apagarão as imagens da atrocidade cometida contra essa criança, e a infeliz iniciativa desse tipo só faz pisotear este direito humano?

[…]

[S]erá que o nosso mundo, que se vangloria de ser pós-moderno, de ter progredido tanto nos costumes e na ciência, de ter avançado na defesa dos direitos humanos, tem ainda uma reserva de mentes claras e imunes a ideologias camufladas, capaz de falar dos reais direitos humanos e mais capaz ainda de proclamá-los corajosamente, até que o povo brasileiro se convença de que não precisa mais de ONGs que se vão instalando no nosso país somente para conturbar a ordem social e destruir valores culturais e religiosos indiscutíveis?

[…]

Nem Estados, nem grupos de Estado, nem autoridades governamentais, nem integrantes de organismos não-governamentais, nem planos nacionais, nem pretensas nações planejadores do mundo têm o direito de impingir aos cidadãos de um país certas propostas que maculam e lesam a dignidade da pessoa humana, mesmo que utilizem a expressão “direitos humanos”, sem afirmar quais a sua raiz e a fonte verdadeiras e originais.

Pe. Paulo Ricardo, sobre o PNDH-3

“Estamos vendo a instauração dos pressupostos de uma futura ditadura. (…) É necessário que a Igreja Católica erga a sua voz contra esta infâmia que clama aos céus. Se algum padre ou algum bispo pretende ser prudente e guardar o silêncio, eu não guardarei, porque não quero entrar para história como os bispos que covardemente não levantaram a voz quando Hitler começou a governar a Alemanha em 1933”.

– Pe. Paulo Ricardo, sobre o PNDH-3

Ver também: parte 2 e parte 3. Créditos ao Mensagens de Maria, onde vi os vídeos pela primeira vez.

E ver também: PNDH confunde Estado e sociedade e busca “despir “o Brasil de seus valores religiosos e culturais, afirma Arcebispo de Porto Alegre.

Oração dos Intelectuais Brasileiros

Autoria: Cardeal Sebastião Leme

Fonte: Tribuna do Norte

Oração dos Intelectuais Brasileiros

Deus Onipotente e Bom, Criador do Céu e da Terra, deixai que aos pés de Vossos altares renovemos o preito humilde de nossa adoração e o protesto solene de nossa fé. Dignai-Vos de acolher benignamente a homenagem pobre que Vos rende a nossa inteligência; não a recuseis, Senhor, porque é sincera, consciente e desassombrada.

Cremos firmemente nas verdades por Vós reveladas e aceitamos com amor o magistério infalível da Santa Igreja Católica, Apostólica Romana. Nós temos fé, Senhor! Mas aumentai a nossa fé! Aumentai a nossa fé, pedimo-lo não somente para nós, mas para todos os homens e, de modo especial, para todos os brasileiros, nascidos como nós nesta pátria que fizestes tão bela e tão grande. Lançai um olhar de clemência e misericórdia sobre os nossos intelectuais, publicistas, escritores, homens de estudo, em geral, e sobre todos enfim os que labutam no campo das ciências e das letras.

Vós que sois a Sabedoria Incriada, Pai e Dador de todas as Luzes, iluminai-os, para que tenham a visão da verdade e coragem para professá-la. Não permitais que, longe das claridades magníficas do pensamento cristão, tresmalhem dos caminhos da verdade e do bem. Livrai-os das trevas mortíferas da descrença e do crime inominável das negações sacrílegas. Livrai-os das blasfêmias que degradam e da dúvida que atormenta. Livrai-os sobretudo da cegueira voluntária desse agnosticismo contumaz que, impondo renúncias ao entendimento humano, paralisa os surtos da alma para o alto, para o ideal e para a imortalidade. Reacendei nas almas a chama viva das aspirações elevadas. Acorda nelas os ecos de sua vocação divina para o espiritual e o eterno. Que não tarde, Deus de amor,  que não tarde a restauração espiritual da inteligência brasileira! Refazei-a e disciplinai-a nos princípios imutáveis da verdade, do bem e do belo, para que, incorporando-se à falange gloriosa dos sábios cristãos, a intelectualidade brasileira paire acima dos interesses da matéria e das fosforescências da vaidade.

Para os nossos intelectuais e para nós, obreiros humildes do pensamento católico no Brasil, instantemente suplicamos a esmola de um raio de Vossa Luz divina, a fim de que bem servindo à verdade, possamos servir também aos destinos espirituais desta pátria incomparável.

É, por nós e pelo Brasil, meu Deus, que, invocando os merecimentos infinitos de Jesus Cristo, nosso Mestre e Senhor e a intercessão valiosa de sua Mãe Imaculada, Senhora e Padroeira do Brasil, aos Vossos pés depositamos esta prece fervorosa da alma católica do Brasil. Iluminai a nossa inteligência, para que trilhe sempre a senda da verdade e fortalecei a nossa vontade, para que não vacile na prática do bem. Amparai a nossa fraqueza, inflamai o nosso coração, estendei e dilatai os horizontes de nossa alma, para que, libertos da escravidão dos sentidos e da matéria, possamos desde já contemplar em esperança a glória eterna que nos prometestes. Assim seja!

Marcha por la Vida 2010

Está realmente excelente o vídeo de chamada para a Marcha por la Vida 2010, na Espanha. Assistam. Recebi por email, com link para o site da Marcha por la Vida.

Lembrando que, no ano passado, a marcha reuniu mais de um milhão de pessoas em Madrid. Que a Virgem Imaculada possa ouvir o brado do povo espanhol, que não está mais disposto a tolerar o terrível assassinato de inocentes. Que o Deus Altíssimo tenha misericórdia de nós.

Pirâmide

A música abaixo constava em um livro de cantos que foi distribuído na Assembléia Pastoral Arquidiocesana de Olinda e Recife. É uma pérola, eu nunca tinha ouvido, e merece a nossa meditação. Obra de incomensurável valor poético e piedoso.

Por questões de justiça, quero registrar que um meu amigo, presente à supracitada assembléia em dois dos seus três dias, afirmou não ter ouvido a execução da peça. Mas já é sintomático que ela estivesse na seleção de cantos do encontro.

Domine, miserere nobis.

* * *

1. Na terra dos homens pensada em pirâmide
há poucos em cima, e muitos na base.
Na terra dos homens pensada em pirâmide
os poucos de cima esmagam a base.

Ref: Ó, povo dos pobres, povo dominado,
que fazes aí com ar tão parado?
O mundo dos homens tem de ser mudado.
Levanta-te, povo, não fique parado.

2. Na terra dos homens pensada em pirâmide
viver não se pode, pelo menos na base.
O povo dos pobres que vive na base
vai fazer cair a velha pirâmide.

3. E a terra dos homens já sem a pirâmide
pode organizar-se em fraternidade.
Ninguém é esmagado na nova cidade.
Todos dão as mãos em viva unidade.