San Josemaría Escrivá e o Rito Tridentino

en passant, comentando a notícia interessante que li hoje no Fratres in Unum: San Josemaría Escrivá, até a sua morte (1975), só teria celebrado a missa no rito de São Pio V.

“Não joguem fora os Missais [Antigos], eles voltarão”, teriam sido palavras do santo. Si non è vero, è ben trovato! E o santo estava correcto. Com o Summorum Pontificum os missais voltaram, a Missa na sua forma antiga voltou, ad majorem Dei gloriam.

Por isso, segundo informações do blog espanhol ‘Sector Católico’, a Missa Antiga também será celebrada na basílica romana de Santo Eugênio. A grande igreja está sob o controle do Opus Dei e se localiza próxima à Casa Central da Prelatura Pessoal, no sofisticado bairro romano de Parioli.

Permita Deus que a forma extraordinária do Rito Romano seja cada vez mais celebrada, a fim de que os abusos que dolorosamente encontramos nos dias de hoje possam ser o quanto antes expurgados da Liturgia da Igreja. Para que Deus seja glorificado, como convém que Ele seja. Para a Sua maior glória e salvação das almas.

Curtas

‘O Papa vai contra o Vaticano II’, afirma Hans Küng. Piada. O teólogo suíço rasga as vestes porque – segundo ele – Bento XVI vai contra um Concílio Ecumênico e isso não pode ser feito. No entanto, Küng pode perfeitamente ir contra o Papa, e com isto está tudo muito bem. A entrevista contém uma quantidade tão colossal de besteiras que eu não sei se o caso de Hans Küng é de senilidade, esquizofrenia intelectual ou alguma outra patologia rara ainda não devidamente catalogada. Sei, no entanto, que é grave. E é sintomático que este senhor seja levado a sério pelos meios de comunicação.

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Tolices beato-marxistas, pelo Percival Puggina, sobre a Campanha da Fraternidade. “Perdoem-me os mais benevolentes que eu. Mas ano após ano, servindo-nos sempre um pouco mais do mesmo lero-lero beato-marxista e um pouco menos da palavra de Deus, a CNBB já foi bem além da minha capacidade de tolerância. Ao longo dos anos, foi perfeitamente possível encontrar impressões digitais e carimbos das suas pastorais sociais em documentos que deixavam claro que o Reino de Deus tinha partido político na Terra. Ou não?”

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PT decide apoiar PNDH-3. Entenderam? O Partido dos Trabalhadores apóia o Programa Nacional de Direitos Humanos, aquele que é a favor do aborto e do “casamento” gay, entre outras sandices. “Os petistas também mantiveram na resolução apoio do partido ao Programa Nacional de Direitos Humanos editado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva no final de 2009. Depois da polêmica em torno do programa, os delegados do PT entenderam que o partido deve manifestar ‘apoio incondicional ao programa’ por considerar que ele é ‘fruto de intenso processo de participação social'”. E o que os “católicos petistas” vão dizer agora?

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– Notícias do fim do mundo: Ele virou mulher. Ela não quer deixá-lo. “A britânica Andrea Fletcher sempre foi a feliz companheira do respeitado escritor e jornalista John Ozimek e mãe de Rafe, 5 anos. […] Após o último Natal, porém, John apareceu com uma novidade: nunca foi feliz sendo homem. Quer ser uma mulher. E já tem um nome: Jane Fae. Andrea foi pega de surpresa. Ficou confusa. Mas, com o tempo, (…) simplesmente aceitou a mudança”. Nem sei o que comentar. Domine, miserere.

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Rainha da Espanha se diz contra casamento gay – há bom senso na monarquia. “Posso compreender, aceitar e respeitar que haja pessoas com outra tendência sexual, mas que essas pessoas se sentem orgulhosas por serem gays? Que subam em trios e saiam em manifestações? Se todos os gays saíssem em manifestações… o trânsito entraria em colapso. Se essas pessoas querem viver juntas, vestirem-se de noivos e casarem-se, podem estar em seu direito, ou não, segundo as leis de seu país: mas que não chamem isso de casamento, porque não é. Há muitos nomes possíveis: contrato social, contrato de união”.

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Imagem de Jesus fumando e bebendo causa indignação na Índia. A mim, também causa. Não por causa do fumo ou da bebida; que Nosso Senhor bebia é um dado que se encontra nos Evangelhos, e é perfeitamente possível imaginá-Lo fumando junto com os Seus amigos. O problema é o que foi feito com o ícone sacro, a caricatura que raia à  blasfêmia. Só gostaria de saber em que contexto do livro educativo para o primário se encontra esta imagem. Porque não consigo imaginar um que não seja simplesmente provocativo.

Cinzas – por pe. Paulo Ricardo

Vi no Exsurge, Domine! – muito bom. São menos de dois minutos, mas mais profundos do que muitas homilias longas que escutamos por aí. “O homem se coloca debaixo do olhar de Deus com todo o realismo, dizendo: é verdade, Senhor, eu sou pó, e em Vós está a minha verdadeira alegria”.

“A situação da Igreja no Brasil” – pe. Demétrio, prof. Felipe

A situação da Igreja no Brasil

Pe. Demétrio Gomes da Silva
www.presbiteros.com.br

Prof. Felipe Aquino
www.cleofas.com.br

A cada dia intensifica-se um laicismo anti-católico no Ocidente, uma afronta a nossas raízes cristãs. No entanto, não percebemos uma reação forte por parte dos católicos. Podemos notar que também no Brasil o mesmo é crescente. A Igreja é colocada cada vez mais como a vilã da história e da sociedade, contrária ao progresso, etc. Tudo isso, porque tem a coragem de denunciar seu comportamento pecaminoso no que fere a lei de Deus, inscrita no coração de cada homem: aprovação ao aborto, a união legal de pessoas de mesmo sexo – com adoção de crianças -, manipulação genética de embriões – como se fossem seres descartáveis -, inseminação artificial, eutanásia, suicídio assistido, controle egoísta da natalidade, distribuição de camisinhas e de pílulas do dia seguinte aos jovens etc.

A Igreja Católica, que é a Lumem gentium (Luz dos povos) faz a Luz de Cristo brilhar nas trevas deste mundo, missão que o Senhor lhe confiou, mas as trevas gritam contra ela. “… a vida era a luz dos homens; e a luz brilha nas trevas, mas as trevas não a compreenderam… Ele estava no mundo, e o mundo foi feito por meio dele, mas o mundo não o reconheceu” (Jo 1, 4-10).

Em nosso Brasil, a maioria do povo diz ser católica, nossas raízes são católicas, nossa cultura e nossa tradição são católicas, mas esse povo infelizmente é quase analfabeto em doutrina, e muitas vezes alienado da realidade política e social; isso o deixa a mercê das seitas e de minorias que desejam implantar ideologias contrárias à fé da maioria. Esse povo bom, mas inculto, que na sua maioria não lê um jornal ou revista, e só se informa pela televisão, facilmente se deixa enganar até mesmo por um governo que propõe medidas ofensivas a moral católica, como acontece agora com o Plano Nacional de Direitos Humanos – 3, que é desumano. Este Plano, por exemplo, propõe a aprovação do aborto, do casamento de pessoas do mesmo sexo com adoção de filhos, a retirada dos símbolos religiosos católicos das repartições públicas, restringe a livre expressão das idéias, incentiva as invasões de propriedades alheias, limita a ação da justiça nas reintegrações de posse a seus legítimos donos, sugere a revisão da Lei da Anistia, ameaçando agitar a sociedade etc.

No entanto, em que pese toda manifestação dos bispos, a maioria da população católica parece ainda inerte, imóvel, omissa, como se nada estivesse acontecendo. Ou não toma conhecimento dos fatos ou o ignora de maneira alienante. Também grande parte do povo católico se satisfaz com o pão e o circo oferecidos pelo governo que age de maneira imoral. Esse povo não reage nem mesmo quando a fé católica é ofendida, a Igreja atacada, os sacramentos profanados, os santos ridicularizados e muitas vezes caricaturados, etc.

Estamos sofrendo uma guerra declarada. Já vivemos um martírio incruento, e não será surpresa se em breve se tornar cruento, também em nosso país, como acontece hoje na Índia, no Iraque, na Arábia Saudita etc., onde milhares de cristãos são mortos pelo simples crime de seguirem a Jesus Cristo.

Como unir e acordar esse povo católico, para que de maneira organizada e ordeira enfrente essa onda anti-católica que atravessa o mundo e também o Brasil?

As forças do ateísmo e do laicismo anti-católico atuam fortemente nas universidades, na mídia e nos movimentos sociais, que se apóiam o governo e se beneficiam de seus recursos. Infelizmente um segmento da Igreja, avesso à autoridade da Igreja, desobediente ao que vem da Santa Sé, favorece muitas vezes a rebeldia contra a própria Igreja e fortalece o laicismo. Pois “Todo reino dividido contra si mesmo será destruído. Toda cidade, toda casa dividida contra si mesma não pode subsistir”. (Mt 12, 25).

Em nossa Igreja no Brasil, com uma desviada hermenêutica da chamada “opção preferencial pelos pobres”, acabamos abandonando os postos chaves na sociedade que outrora ocupávamos: as universidades, os laboratórios científicos, o mundo da cultura etc. Deixamos, assim, espaço aberto para que os marxistas pudessem fazer a cabeça daqueles que são hoje a cabeça da sociedade.

Infelizmente, não só no governo atual, mas também na Igreja, vemos o incentivo da política do “pão e circo”. Reunimos multidões de fiéis, lhe damos-lhes palavras bonitas – e tão vazias de conteúdo! -, algumas lágrimas e sentimentos à flor da pele. Muitos saem contentes, e tudo termina em nada… A profecia de Oséias é atualíssima: “Meu povo perece por falta de conhecimento” (Os 4,6). Já é hora de queremos deixar de contentar-nos com sermos cristãos superficiais. Precisamos dar-lhes alimento sólido, que os fortaleça na fé, tornando-a inabalável diante de qualquer contrariedade. O povo tem sede de verdade, mesmo que seja duro ouví-la. Chega de pregações adocicadas, que não dizem nada! Cristianismo não é poesia! Precisamos de cristãos totalmente informados pela fé, que a testemunhem por toda parte, e não somente nas sacristias de nossas paróquias.

É preciso levar o povo católico a conhecer a verdade, ser informado, e deixar de ser manipulado; este é o grande desafio atual. Pensamos que a Igreja é capaz de furar essa crosta que impede esse povo bom e desinformado de tomar conhecimento e participar da luta contra, por exemplo, esse PNDH, porque a mídia jamais vai fazer isso. Como diz Pe. Paulo Ricardo “há uma espiral de silêncio” que precisa ser quebrada.

Temos que unir forças. Voltar a conquistar estes meios. Construir uma rede com as pessoas boas – não só na intenção, mas com qualidade espiritual, humana, profissional – e organizar com inteligência nosso apostolado. Temos a firme esperança aí que não contamos somente com meios humanos, e, por isso, devemos ser audazes. Nesse sentido, não podemos esquecer que, antes de qualquer técnica de ação, devemos estar inteiramente unidos a Deus através de nossas armas sobrenaturais. Daí deve derivar, diante de tudo, um profundo otimismo, não ingênuo, mas espiritual, fruto da convicção de que com Ele nos tornamos onipotentes.

Os filhos das trevas são os que deveriam tremer diante de nós, pois nossas armas são muitíssimo mais eficazes. Além de todo auxílio sobrenatural – que nos torna infinitamente superiores nesta guerra -, temos nossos púlpitos – quantos brasileiros vão a Santa Missa dominical! -, temos vários meios de comunicação – TV, jornais, internet -, e contamos – apesar de tudo – com grande credibilidade por parte de nosso povo brasileiro: eles confiam na Igreja!

O que fazer de concreto? Além da luta pela santidade – que é o que mais conta – já que é o Senhor o protagonista dessa luta -, devemos estreitar nossa rede de contato. Tentar entrar mais nesses meios que possuímos. Mais encontros de formação, retiros para os intelectuais, universitários, cientistas, jornalistas para atingir o povo.

É urgente levar esse povo católico, em massa, a participar, escrever às autoridades, aos políticos, fazer manifestações organizadas e ordeiras; sim, esse povo que vai à Missa, a grupos de oração, que participa dos novos Movimentos e das novas Comunidades, que prega o Evangelho da salvação pelo Rádio, pela TV, pela internet, etc. Aqui entra, sem dúvida, o papel importante das televisões católicas. Enfim, é preciso uma ação unida, coordenada, de todos os católicos frente a tudo que estamos vendo de errado sobre bioética, corrupção, PNDH, etc.

É preciso envolver  as realidades que querem ser fiéis à Igreja (Opus Dei, Regnum Christi, Comunhão e Libertação, Caminho Neocatecumenal, Cursilhos de Cristandade, Renovação Carismática, Equipes de Nossa Senhora, Serra Clube etc.) e Comunidades de Vida (Canção Nova, Shalom, Obra de Maria etc.), incluindo também as paróquias e dioceses; além dos políticos católicos. Revelar ao mundo a unidade transcendental da Igreja, que nos une por cima de toda diferença. “Nisto conhecerão que sois meus discípulos…” (Jo 13,35).

É claro que isso é algo difícil, muito difícil, mas se todos nos mobilizarmos no sentido de buscar essa união podemos fazer algo. Será preciso “grandeza de alma” para se colocar as exigências do Reino de Deus acima das nossas. Não adianta permanecermos entre nós com choros e lágrimas, como se fossemos uma “equipe de consolo mútuo”. Muita gente silenciosa está descontente com tudo isso; é preciso envolvê-los. Há muitos sites na internet que mostram isso. E esse é um instrumento poderoso de articulação hoje.

Os inimigos da Igreja estão articulados e as forças da Igreja estão esparsas; esse é o problema. Receamos que se não fizermos algo hoje, amanhã talvez seja tarde, e quem sabe as leis não nos permitam amanhã pregar contra a homossexualidade, o aborto, o sexo livre, … e tudo o que é contrário à lei de Deus.

Sabemos que a audácia dos maus se alimenta da omissão dos bons. Não podemos fugir deste mundo, e muito menos simplesmente condena-lo. Jesus disse que não veio para condenar o mundo, mas para salva-lo; a nós cabe fazer o mesmo.

Ao vislumbrar o terceiro milênio da cristandade, o Papa João Paulo II convocou os cristãos para “pescar em águas mais profundas”, onde se encontram peixes mais numerosos e maiores.  João Paulo II e Bento XVI nos enviam para alto mar (“duc in altum”). E para isso é preciso estarmos preparados; o mar é bravio, podem surgir as tempestades a qualquer momento, ondas altas, vento forte, ameaçando virar a barca.

Não podemos mais ficar pescando na praia, com varinha de bambu, linha fina e anzol pequeno. A evangelização, a conversão de almas para Deus, não é um passa-tempo; mas uma missão árdua, que precisa ser cumprida com esmero: preparo e oração. Não é fácil arrancar as presas dos dentes do lobo cruel e assassino. “Sem Mim nada podeis fazer” (Jo 15,5).

Mas, é preciso também o preparo. Paulo VI disse que a mediocridade ofende o Espírito Santo. Deus está pronto para mover os céus para realizar o que está além da nossa natureza, mas não moverá uma palha para fazer o que depende de nós. Ele faz o grão germinar, mas jamais virá preparar o solo e nele lançar a semente: “O Deus que te criou sem ti, não te salvará sem ti” (Santo Agostinho, Sermo 15,1).

O Papa João Paulo II na memorável vigília da Solenidade de Pentecostes no ano de 1998, mostrou a grande responsabilidade que têm, neste sentido, os novos Movimentos e as novas Comunidades:

“No atual mundo, frequentemente dominado por uma cultura secularizada que fomenta e propaga modelos de vida sem Deus, a fé de tantos é colocada à dura prova e frequentemente sufocada e apagada. Adverte-se, portanto, com urgência a necessidade de um anúncio forte e de uma sólida e profunda formação cristã. Como existe hoje a necessidade de personalidades cristãs maduras, conscientes da própria identidade batismal, da própria vocação e missão na Igreja e no mundo! E eis, portanto, os movimentos e as novas comunidades eclesiais: eles são a resposta, suscitada pelo Espírito Santo, a este dramático desafio no final do milênio. Vós sois esta providencial resposta”.

O mundo expulsa Deus cada vez mais; o secularismo toma conta da cultura, da mídia, da moda etc., a chama da fé é cada vez mais apagada nos lares, nas escolas e nas oficinas. O Papa pede “uma sólida e profunda formação cristã”. Sem isso não será possível pescar em águas profundas. Sem um bom conhecimento da doutrina, do Catecismo da Igreja especialmente, não poderemos dar ao mundo “a razão da nossa fé” (cf. 1Pe 3,15).

O Papa pede também “personalidades cristãs maduras”, certamente não só sacerdotes e bispos, mas leigos preparados, capazes de adentrar aos muros às vezes adversos das universidades, cinema, teatro, música, artes, meios de comunicação, política etc.

Ao lançar a Igreja em direção ao novo milênio, o Papa João Paulo II fez mais um forte apelo: “Uma nova evangelização!”. Se ele pediu uma “nova” é porque a anterior envelheceu; não certamente no seu conteúdo, mas na sua forma. Ele pediu: “com novo ardor, novos métodos e nova expressão”. O que significa isso?

Novo ardor, certamente no fogo do Espírito Santo que tem suscitado os movimentos e as Comunidades que brotam a cada dia. Sem esse “fogo” do céu, não haverá nova evangelização. Façamos sim planos e reuniões, projetos e programas, mas sob o fogo do Espírito, sem o qual tudo não passará de letra morta. Quanto tempo e energia já se perdeu por falta desse ardor do Espírito!

Novos métodos é certamente o que temos visto nas Comunidades e Movimentos: uma evangelização com um jeito novo: nas casas, nos rincões, pelas rádios, TVs, jornais, revistas, encontros, seminários, adorações, acampamentos de oração e estudo… É a “Primavera da Igreja” como dizia João Paulo II.

Nova expressão, uma nova maneira de viver o Evangelho, não mais individualista, mas em grupo, em comunidade, comprometidos conjuntamente com o trabalho do Reino do céu, na fraternidade, na correção fraterna, no amor mútuo, no compromisso com Deus e com a Igreja, “cum Petro e sub Petro”.

Vemos assim que a Igreja acredita profundamente nas Comunidades e Movimentos novos, que precisam se preparar, como verdadeiras “Companhias de Pesca”, e se lançarem sem medo, em nome do Senhor, em águas mais profundas, e buscar os grandes peixes.

João Hélio, assassinos e direitos humanos

Só rapidamente: soube hoje que o sr. Ezequiel Toledo de Lima, condenado pelo assassinato do menino João Hélio há três anos, por ser à época menor de idade, “cumpriu medida sócio-educativa de 3 anos de reclusão em uma instituição de jovens infratores” e foi solto há uns quinze dias.

Entrou em um tal Programa de Proteção a Menores Ameaçados de Morte do Governo Federal, por petição da ONG “Projeto Legal”, e já está na Suíça com a família! Ele embarcou “com garantia de casa e identidade novas para recomeçar sua vida”.

Como assim, o sujeito é co-autor de um dos crimes mais bárbaros que aconteceram neste país nos últimos anos e, como recompensa, ganha uma casa na Suíça para ele e a família?

E a família de João Hélio, terá outra chance? A pergunta é pertinente. Por que os bandidos têm mais “direitos humanos” do que as vítimas?

O Papa e a Campanha da Fraternidade 2010

Não achei no site da CNBB o texto base da Campanha da Fraternidade 2010. Estranho, uma vez que a maledetta já começou desde anteontem, Quarta-Feira de Cinzas, competindo com a Quaresma que a Igreja sempre propôs.

Mas li as duas mensagens do Papa Bento XVI, cuja leitura recomendo:

1. Mensagem do Papa Bento XVI para a Quaresma 2010

2. Mensagem do Papa aos Bispos Brasileiros por ocasião da CF 2010

Recomendo principalmente a segunda. Parece ser, de novo, um verdadeiro puxão de orelhas aos responsáveis pela palhaçada tupiniquim que, todo ano, conspurca o tempo santo da Quaresma. E o Papa já fez isso pelo menos uma outra vez, no ano passado. Desta mensagem do Papa aos Bispos, destaco as seguintes frases que – aposto! – não iremos encontrar (nem parecidas) nos textos da Conferência:

  • Com a quarta-feira de cinzas, volta aquele tempo favorável de salvação, que é a Quaresma, com seu apelo insistente: “Reconciliai-vos com Deus” (2Cor 6,2).
  • [R]ecordo que a escravidão ao dinheiro e a injustiça “tem origem no coração do homem, onde se encontram os germes de uma misteriosa convivência com o mal”.
  • Por isso, encorajo-vos a preservar no testemunho do amor de Deus, do Filho de Deus que se fez homem, do amor agraciado com a vida de Deus, do único bem que pode saciar o coração da gente, pois, “mais do que de pão, [o homem] de fato precisa de Deus”.
  • Nós existimos para mostrar Deus aos homens. E só onde se vê Deus, começa verdadeiramente a vida.
  • Se “a boca fala daquilo que o coração está cheio” (Mt 12, 34), podeis conhecer vosso coração a partir das vossas palavras. “Reconciliai-vos com Deus”, de modo que as vossas palavras sirvam sobretudo para falar de Deus e a Deus.

Será que os responsáveis pela infâmia que atende pelo nome de “CF” entenderam, ou vai ser preciso desenhar? A Quaresma é tempo de salvação, de reconciliação com Deus, e não de doutrinação ideológica de baixa qualidade. A injustiça nasce do coração do homem, e não do sistema econômico atualmente vigente, do neoliberalismo ou da globalização. O homem precisa de Deus, mais do que de comida. A Igreja existe para mostrar Deus aos homens, e não há vida verdadeira sem Ele. E as palavras dos homens da Igreja devem falar de Deus e a Deus, e não de Marx aos “oprimidos”.

“Podeis conhecer vosso coração a partir das vossas palavras” – é Pedro quem fala. Aos bispos brasileiros. Não estamos abandonados. De longe, da Cidade Eterna, de Roma, temos um ancião que olha por nós. Mesmo no deserto materialista ao qual todo ano nos lançam os nossos reverendíssimos pastores, recebemos de Roma palavras que nos falam de Deus.

Esforcemo-nos por viver santamente a Quaresma, apesar do lixo que nos empurram. Que a Virgem Dolorosa tenha misericórdia dos fiéis brasileiros. E que as palavras o Vigário de Cristo nos sirvam de alento: a Igreja é maior do que a CF. Apesar da Campanha, graças a Deus, ainda é Quaresma.

Calendário de penitências quaresmais

Já estamos atrasados, porque a Quaresma já começou desde ontem. Há muito que fazer. Achei muito interessante a idéia de uma amiga, a Tamyres, de organizar um pequeno calendário com pequenos propósitos a serem cumpridos em cada um dos dias da Quaresma – cada um, pois não há tempo a perder.

Segue o que ela preparou. Logicamente, é totalmente pessoal e subjetivo, e vai aqui somente à guisa de exemplo.

17 de Fevereiro – Quarta 18 de Fevereiro – Quinta 19 de Fevereiro – Sexta 20 de Fevereiro  – Sábado 21 de Fevereiro – Domingo
Farei o Jejum conforme manda a Santa Mãe Igreja Aceitarei as dificuldades desse dia sem murmurar Farei Jejum pela Igreja e darei de comer a alguém Rezarei o terço pela conversão dos pecadores Assistirei a Santa Missa com devoção
22 de Fevereiro – Segunda 23 de Fevereiro – Terça 24 de Fevereiro – Quarta 25 de Fevereiro – Quinta 26 de Fevereiro – Sexta
Darei atenção a uma pessoa idosa ou doente da família Leitura orante da 1ª leitura do dia Isaias 55,10-11 Farei penitência pela conversão dos pecadores Irei a uma Igreja rezar diante do sacrário Farei um bom exame de consciência e procurarei a confissão. Dia de jejum
27 de Fevereiro – Sábado 28 de Fevereiro – Domingo 01 de Março – Segunda 02 de Março – Terça 03 de Março – Quarta
Rezarei o terço por aqueles que me ofenderam ou que me perseguem Farei esforço para mudar meu semblante Tentarei me aproximar daqueles que n me agradam Servirei aos de casa com alegria Farei a leitura orante do evangelho do dia
04 de Março – Quinta 05 de Março – Sexta 06 de Março- Sábado 07 de Março – Domingo 08 de Março – Segunda
Deixarei de comprar algo para mim e usarei o dinheiro para ajudar alguém Farei também jejum da língua e só falarei bem das pessoas Se não me confessei, buscarei a confissão Irei à santa Missa e ajudarei de forma material minha paróquia Rezarei o terço pela Igreja e por todos os cristãos perseguidos

Aproveito o ensejo para deixar mais exemplos de coisas – simples, corriqueiras – que podem nos ajudar a melhor nos prepararmos, durante este tempo quaresmal, para a celebração da Semana Santa.

  • Desligar a televisão
  • Desligar o MSN
  • Desligar o som do carro na volta pra casa, e aproveitar o silêncio para meditar os novíssimos
  • Cortar o refrigerante do almoço
  • Deixar de comer doces
  • Não consumir bebidas alcóolicas
  • Não ir à boate, à festa, ao cinema
  • Fazer uma hora de silêncio durante o trabalho
  • Não tomar o analgésico para a dor de cabeça
  • Visitar um hospital
  • Deixar de fazer o comentário espirituoso que iria provocar gargalhadas
  • Sorrir mais, gargalhar menos
  • Falar sobre a importância da penitência durante a Quaresma
  • Trocar a coca-cola gelada, no calor, por um copo d’água
  • Visitar parentes que não se vê há tempos
  • Rezar (pelo menos) um terço a mais
  • Calçar o sapato desconfortável
  • Dar de comer a quem tem fome
  • Lavar os pratos, a roupa, o banheiro, no lugar de alguém
  • Ler um livro piedoso
  • Em suma, reclamar menos, rezar mais

Um conto de Carnaval

No temor de pedi-lo e na glória de tê-lo…
No gozo de prová-lo e na dor de perdê-lo…
No contato desfeito e no rumor já mudo…
No prazer que passou… Nesse nada que é tudo.

(Arlequim)

* * *

É tão doce sonhar!… A vida , nesta terra,
vale apenas, talvez, pelo sonho que encerra.
(…)
não tocar a que se ama e deixar intangida
aquela que resume a nossa própria vida.

(Pierrot)

* * *

Pudesse eu repartir-me e encontrar minha calma
dando a Arlequim meu corpo e a Pierrot a minh’alma!

(Colombina)

Menotti del Picchia,
Máscaras

Arlequim saiu de casa na manhã colorida do sábado, a sua roupa refulgindo com todas as cores do carnaval. Saiu sozinho, porque assim se divertia mais; dirigiu-se apressado às ladeiras repletas de frevo. Tinha pressa, pois sabia que os quatro dias de folia passam rápido, e não queria perder nada. Gostava das máscaras, que enchiam os olhos de beleza e de alegria.

No caminho esbarrou em um palhaço apagado, mais adequado a um velório que ao carnaval. Não deu importância e seguiu o seu caminho, sorrindo diante das fantasias coloridas, olhando com indisfarçado desejo para as garotas que enchiam de graça as ruas de paralelepípedos, disparando gracejos a cada passo que dava. Uma delas, mais que as outras, chamou-lhe a atenção: era jovem, era loira, e olhava para tudo com o olhar deslumbrado de quem se depara pela primeira vez com um mundo de beleza até então desconhecida.

Arlequim olhou-lhe e sorriu-lhe, e ela percebeu o seu interesse. Ele aproximou-se, puxou-a e a beijou, como já tinha feito tantas vezes antes; ela não lhe resistiu. Sem dizer-lhe uma palavra ele foi embora, deixando a jovem atônita: ela não conseguia entender como era possível ser tão sem graça a ponto de não merecer nem mesmo um olhar mais demorado. Arlequim não chegou a perceber a lágrima que escorria do rosto belo de Colombina enquanto ele seguia as bandas de frevo ladeira acima.

* * *

Pierrot saiu de casa na manhã triste chuvosa do domingo, sua roupa preta e branca como se fosse um pálido reflexo do dia cinzento. Saiu sozinho, porque sempre fora diferente dos outros, e não gostava da companhia dos demais personagens carnavalescos. Dirigiu-se devagar e pesaroso às ladeiras abarrotadas de ilusões. Não tinha pressa, pois sabia que não encontraria nada nos quatro dias de festa. Não gostava das máscaras, que eram ilusórias e escondiam aquilo que as coisas realmente eram.

No caminho viu um palhaço colorido que ensaiava alguns passos de frevo e atraía a atenção dos foliões que passavam; mas não viu graça. Seguiu andando, olhando com indisfarçado desinteresse para um lado e para o outro, sem responder aos sorrisos que, de vez em quando, eram-lhe endereçados. Encontrou, no entanto, uma garota que lhe chamou a atenção: era jovem, era loira, e olhava para tudo com o olhar decepcionado de quem percebe, pela primeira vez, a efemeridade da beleza do mundo.

Pierrot olhou-a e se espantou ao ver que a moça lhe olhava de volta. Sustentou o olhar apenas por alguns segundos, tempo suficiente para que o rubor se lhe assomasse às faces pálidas. Sem dizer-lhe uma palavra ele foi embora, deixando a jovem atônita: ela não conseguia entender como era possível ser tão sem graça a ponto de não merecer nem mesmo um gracejo de carnaval. Pierrot, descendo a ladeira sem olhar para trás, não chegou a ver a lágrima que escorria pelo rosto jovem de Colombina.

* * *

Colombina saiu de casa, e era uma segunda-feira bonita. Saiu sozinha sem saber o porquê; aproveitava os dias da festa de Momo, sem pressa e sem tédio. Seu humor oscilava entre o deslumbramento e a decepção: o carnaval era-lhe uma experiência nova e estranha. Estava ainda se acostumando com as máscaras.

Passou por algumas esquinas com o pensamento distante; uma chuva de confete e serpentina impediu-lhe de ver o palhaço colorido, e um bloco de frevo que passava escondeu-lhe o palhaço preto e branco. Alguns jovens lhe lançavam sorrisos, e para alguns ela sorria de volta: nenhum deles, no entanto, prendia-lhe muito a atenção. Era jovem, era loira, e olhava para tudo com o olhar indeciso de quem não sabe se ama o prazer pelo ímpeto com o qual ele vem ou se o odeia pela rapidez com a qual ele vai embora.

Colombina irritou-se consigo mesma, com sua própria inconstância, com sua própria indecisão. E, hoje, não havia ninguém que pudesse ter visto a lágrima que escorria pelo seu rosto loiro.

* * *

Arlequim, Pierrot e Colombina encontraram-se na terça-feira gorda. Olharam-se demoradamente.

O sorriso de Arlequim enaltecia o prazer carnavalesco. As lágrimas de Pierrot lamentavam as ilusões de Momo. O olhar de Colombina, oscilando entre um e outro, era indeciso: ela não queria os exageros de Arlequim, nem conseguia a indiferença de Pierrot.

Neste instante, o frevo silenciou. Findara-se o carnaval. O rosto de Arlequim era somente desespero: se não havia máscaras, não havia mais nada para ele. O rosto de Pierrot era sereno: ele não se iludira com as máscaras, chorara a sua quota de lágrimas e, agora, ficava feliz em ver as coisas face a face. Colombina nem se desesperava nem se alegrava: deixara-se enganar pelas máscaras, embora não tanto quanto Arlequim, e ainda teria lágrimas a derramar para limpar os olhos, mas conseguiria enxergar o mundo que se esconde por debaixo das fantasias.

Pierrot seguiu em frente. Colombina, embora cambaleante, seguia-lhe à distância. Arlequim ficou no chão, na espera vã de outros carnavais que lhe devolvessem o sentido da vida, irremediavelmente perdido para ele, pois sempre esteve escondido sob as máscaras para além das quais ele nunca conseguiu olhar. E, na manhã da Quarta-Feira de Cinzas, Pierrot esboçava um sorriso, Colombina derramava lágrimas, e Arlequim chorava amargamente.

Memento homo… (pe. António Vieira)

Ora, senhores, já que somos cristãos, já que sabemos que havemos de morrer e que somos imortais, saibamos usar da morte e da imortalidade. Tratemos desta vida como mortais, e da outra como imortais. Pode haver loucura mais rematada, pode haver cegueira mais cega que empregar-me todo na vida que há de acabar, e não tratar da vida que há de durar para sempre? Cansar-me, afligir-me, matar-me pelo que forçosamente hei de deixar, e do que hei de lograr ou perder para sempre, não fazer nenhum caso! Tantas diligências para esta vida, nenhuma diligência para a outra vida? Tanto medo, tanto receio da morte temporal, e da eterna nenhum temor? Mortos, mortos, desenganai estes vivos. Dizei-nos que pensamentos e que sentimentos foram os vossos quando entrastes e saístes pelas portas da morte? A morte tem duas portas: Qui exaltas me de portis mortis. Uma porta de vidro, por onde se sai da vida, outra porta de diamante, por onde se entra à eternidade. Entre estas duas portas se acha subitamente um homem no instante da morte, sem poder tornar atrás, nem parar, nem fugir, nem dilatar, senão entrar para onde não sabe, e para sempre. Oh! que transe tão apertado! Oh! que passo tão estreito! Oh! que momento tão terrível! Aristóteles disse que entre todas as coisas terríveis, a mais terrível é a morte. Disse bem mas não entendeu o que disse. Não é terrível a morte pela vida que acaba, senão pela eternidade que começa. Não é terrível a porta por onde se sai; a terrível é a porta por onde se entra. Se olhais para cima, uma escada que chega até o céu; se olhais para baixo, um precipício que vai parar no inferno, e isto incerto.

[…]

Oh! que momento, torno a dizer, oh! que passo, oh! que transe tão terrível! Oh que temores, oh! que aflição, oh! que angústias! Ali, senhores, não se teme a morte, teme-se a vida. Tudo o que ali dá pena, é tudo o que nesta vida deu gosto, e tudo o que buscamos por nosso gosto, muitas vezes com tantas penas. Oh! que diferentes parecerão então todas as coisas desta vida! Que verdades, que desenganos, que luzes tão claras de tudo o que neste mundo nos cega! Nenhum homem há naquele ponto que não desejara muito uma de duas: ou não ter nascido, ou tornar a nascer de novo, para fazer uma vida muito diferente. Mas já é tarde, já não há tempo: Quia tempus non erit amplius (Apc 10, 6). Cristãos e senhores meus, por misericórdia de Deus ainda estamos em tempo. É certo que todos caminhamos para aquele passo, é infalível que todos havemos de chegar, e todos nos havemos de ver naquele terrível momento, e pode ser que muito cedo. Julgue cada um de nós, se será melhor arrepender-se agora, ou deixar o arrependimento para quando não tenha lugar, nem seja arrependimento. Deus nos avisa, Deus nos dá estas vozes; não deixemos passar esta inspiração, que não sabemos se será a última. Se então havemos de desejar em vão começar outra vida, comecemo-la agora: Dixi: nunc caepi. Comecemos de hoje em diante a viver como quereremos ter vivido na hora da morte. Vive assim como quiseras ter vivido quando morras. Oh! que consolação tão grande será então a nossa, se o fizermos assim! E pelo contrário, que desconsolação tão irremediável e tão desesperada, se nos deixarmos levar da corrente, quando nos acharmos onde ela nos leva!

Pe. António Vieira,
Sermão de Quarta-Feira de Cinzas
Roma, 1670