Lei Natural, natureza humana e Graça – Bento XVI

Uma importante aplicação desta relação entre natureza e Graça encontra-se na teologia moral de São Tomás de Aquino, que mostra-se de grande atualidade. No centro de seu ensinamento neste campo, ele coloca a nova lei, que é a lei do Espírito Santo. Com um olhar profundamente evangélico, insiste no fato de que esta lei é a Graça do Espírito Santo, dada a todos aqueles que creem em Cristo. A tal Graça une-se o ensinamento escrito e oral das verdades doutrinais e morais, transmitidas pela Igreja. São Tomás, sublinhando o papel fundamental, na vida moral, da ação do Espírito Santo, da Graça, para cultivar as virtudes teologais e morais, nos faz entender que todo o cristão pode alcançar as altas perspectivas do “Sermão da Montanha” se vive uma relação autêntica de fé em Cristo, se se abre à ação de seu Santo Espírito. Mas – acrescenta o Aquinense – “também se a graça é mais eficaz que a natureza, todavia a natureza é mais essencial para o homem” (Summa Theologiae Ia, q. 29, a. 3), pelo que, na perspectiva moral cristã, há um lugar para a razão, a qual é capaz de discernir a lei moral natural. A razão pode reconhecê-la considerando o que é bom e o que deve-se evitar para alcançar aquela felicidade que é desejada por todos, e que impõe também uma responsabilidade para com os outros, e, portanto, a busca do bem comum. Em outras palavras, as virtudes humanas, teologais e morais, estão enraizadas na natureza humana. A Graça divina acompanha, sustenta e incentiva o compromisso ético, mas, de per si, segundo São Tomás, todos os homens, crentes e não crentes, são chamados a reconhecer as exigências da natureza humana expressas na lei natural e a se inspirar nela para a formulação das leis positivas, isto é, aquelas emanadas pelas autoridades civis e políticas para regular a convivência humana.

Quando a lei natural e as responsabilidades que implica são negadas, abre-se dramaticamente o caminho para o relativismo ético no plano individual e ao totalitarismo do Estado no plano político. A defesa dos direitos universais do homem e a afirmação do valor absoluto da dignidade da pessoa postulam um fundamento. Não é exatamente a lei natural este fundamento, com os valores não negociáveis que indica? O Venerável Papa João Paulo II escreveu na sua Encíclica Evangelium Vitae palavras que permanecem de grande atualidade: “Para bem do futuro da sociedade e do progresso de uma sã democracia, urge, pois, redescobrir a existência de valores humanos e morais essenciais e congênitos, que derivam da própria verdade do ser humano, e exprimem e tutelam a dignidade da pessoa: valores que nenhum indivíduo, nenhuma maioria e nenhum Estado poderão jamais criar, modificar ou destruir, mas apenas os deverão reconhecer, respeitar e promover” (n. 71).

Bento XVI
Audiência-Geral do dia 16 de junho de 2010

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Jorge Ferraz (admin)

Católico Apostólico Romano, por graça de Deus e clemência da Virgem Santíssima; pecador miserável, a despeito dos muitos favores recebidos do Alto; filho de Deus e da Santa Madre Igreja, com desejo sincero de consumir a vida para a maior glória de Deus.

3 comentários em “Lei Natural, natureza humana e Graça – Bento XVI”

  1. Prezado Jorge Ferraz, Salve Maria!

    Estou começando, há pouco tempo, a acompanhar o Apostolado deste site, e pelo que vi até agora, é de grande importância na época presente, e é fundado no Magistério da Igreja.
    Por isso peço-lhe permissão para colocar um link deste site no meu simples blog.

  2. Caríssimo Vitor,

    Obrigado pelas palavras gentis – reze por mim, para que eu seja menos indigno delas.

    Claro que pode divulgar o Deus lo Vult! o quanto quiser e como quiser. Eu é que agradeço, pois é um imenso favor que me faz.

    Abraços,
    Jorge

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