A resistência, o Leão de Campos e a Sé de Pedro

Dom Antonio de Castro Mayer sempre me pareceu mais sensato e equilibrado do que Dom Marcel Lefebvre, a despeito de ambos quase sempre serem citados juntos na “resistência” ao Vaticano II – e também na excomunhão… Ontem, eu e mais dois amigos conversávamos sobre o assunto, julgando interessantes alguns aspectos da vida e do ministério episcopal do Leão de Campos.

Por exemplo, Dom Mayer não proibiu jamais nenhum dos seus padres de celebrar o Novus Ordo Missae. Apesar dele próprio ter sempre utilizado o missal de S. Pio V, em sua diocese nenhum padre foi impedido de adotar (caso desejasse) a Reforma Litúrgica. Cada padre de Campos recebeu uma cópia do Missal de Paulo VI quando ele foi promulgado, junto com uma nota diocesana avisando que, em Campos, manter-se-ia a viva a Liturgia tradicional, apesar de cada sacerdote ser livre para optar por uma ou outra forma de oferecer o Santo Sacrifício.

Mais: Dom Antonio nomeou párocos que celebravam o Novus Ordo. Ou seja, em Campos, havia paróquias onde as missas eram celebradas segundo a Reforma Litúrgica, e isso sem nenhuma perseguição do então bispo diocesano (ao contrário do que aconteceu no resto do Brasil – e mesmo em Campos, depois – em contrapartida, quando os bispos perseguiam quem ousasse continuar celebrando segundo as antigas rubricas). Em Campos, apesar dos problemas de consciência de Dom Antonio, as duas formas do Rito Romano coexistiram. Fico imaginando se a nossa situação atual não seria incomparavelmente melhor caso exemplos assim houvessem perdurado e se multiplicado… afinal, na prática, o que fez Dom Mayer foi uma aplicação diocesana (com mais de três décadas de antecedência) do que estabelece o Summorum Pontificum para toda a Igreja. O Missal de Paulo VI e o de São Pio V lado-a-lado. Com uma liberdade muito maior para este último – é evidente – do que se pode encontrar hoje, mas sem nenhuma perseguição de nenhum dos lados.

E Dom Mayer não foi jamais perseguido por causa disso. Não foi suspenso de ordens (ao contrário do prelado francês), não foi afastado, não recebeu censura alguma da Santa Sé. Um ano antes da sua renúncia em 1981, em visita ad limina apostolorum (junto com o então pe. Rifan, a propósito), encontrou-se com João Paulo II e, em Roma, tudo transcorreu em clima da mais completa normalidade. Apresentou ao Vigário de Cristo a situação da sua diocese, falaram sobre os assuntos pertinentes à visita, e a situação litúrgica em Campos não foi colocada em questão. Até se tornar bispo emérito, no início dos anos oitenta, Sua Excelência manteve-se em fiel espírito de submissão e respeito à Sé de Pedro. O que aconteceu depois disso foi mais complicado; mas, até João Paulo II aceitar a renúncia do bispo de Campos em 1981, Dom Mayer – ao que parece – serviu plenamente à Igreja de Cristo, como se espera que faça um Sucessor dos Apóstolos. Algumas pessoas, muitas vezes, “esquecem-se” disso, e querem ver no bispo de Campos somente o superior da União Sacerdotal São João Maria Vianney.

Sobre o mesmo assunto, ler também: Carta de D. Mayer ao Papa Paulo VI. Vejam-se as palavras, o tom, o objetivo. Destaco:

Cumpro, assim, um imperioso dever de consciência, suplicando, humilde e respeitosamente, a Vossa Santidade, se digne, por um ato positivo que elimine qualquer dúvida, autorizar-nos a continuar no uso do “Ordo Missae” de S. Pio V, cuja eficácia na dilatação da Santa Igreja, e no afervoramento de sacerdotes e fiéis, é lembrada, com tanta unção, por Vossa Santidade.

Ao que me consta, infelizmente esta carta não obteve nunca resposta…

Publicado por

Jorge Ferraz (admin)

Católico Apostólico Romano, por graça de Deus e clemência da Virgem Santíssima; pecador miserável, a despeito dos muitos favores recebidos do Alto; filho de Deus e da Santa Madre Igreja, com desejo sincero de consumir a vida para a maior glória de Deus.

47 comentários em “A resistência, o Leão de Campos e a Sé de Pedro”

  1. Atenta à lição eterna do pai do Gustavo, escrevo aqui para aprender.

    1. Monsenhor Lefebvre nos conta que provavelmente estranhou o ambiente no Concílio devido ao seu distanciamento de décadas no continente africano.

    2. Digo eu que Dom Mayer por estar também distante na febre modernista européia também estranhou a coisa toda do Concílio.

    3. Esse estranhamento aproximou os dois bispos. E mais ainda, após a conclusão do Concílio, a emissão de vários documentos que geraram toda a esbórnia que se vê hoje: a missa perdeu seu caráter de Sacrifício. E não adianta nada nosso amado Papa reafirmar todo santo dia essa Verdade!

    4. Para mim, o maior problema, dentre outros tão bem apontados pelo Rev. Padre Calderón, no livro “A candeia debaixo do alqueire”, está na abdicação da hierarquia vertical pelo colegiado horizontal na Igreja Militante. Hoje, cada membro faz o que bem entende na missa, no seminário, na imprensa… E pior, não sabem nem o catecismo!! Não sou eu que vou ensinar o Pai-Nosso para o vigário, né? E vou reclamar com quem? Com o bispo?!! Da CNBB??!!! Auxílio dos cristãos, rogai por nós.

    5. Muito interessante a polêmica aqui publicada, inclusive o termo “neoconservador”. O fato de eu ter alcançado a Graça da reconversão a partir das notícias do levantamento das excomunhões dos quatro bispos da FSSPX, torna-me uma neoconservadora?

    6. Caro Jorge Ferraz, penso que não devemos comparar situações diferentes em ambientes diferentes; Roma/Econe e Campos; Lefebvre e Mayer, ainda mais com a leviandade propiciada por adjetivos na primeira linha de seu texto. Sou grata à perseverança de bons católicos, senão a missa de sempre teria desaparecido há quatro décadas.

    7. Ouso pedir-lhe um comentário sobre a publicação do prof. Orlando Fedeli a respeito de sua experiência de décadas na TFP e PCO.

  2. O fato é que Dom Antônio estava nas ordenações em Êcone, fez um discurso mostrando seu dever de conciência a respeito doque estava fazendo e isso é FATO. O resto são apenas teses e suposições.

  3. Sandra,

    Penso ao contrário que é importante comparar sim, porque as pessoas têm uma visão da “resistência de Campos” que, absolutamente, não corresponde à realidade. Campos, sob báculo diocesano de Dom Mayer, não foi uma versão diocesana da FSSPX. A estreita visão de Dom Antonio nos círculos rad-trads é, somente, a dos seus últimos anos de vida.

    Quanto ao livro da “gnose burlesca” do prof. Orlando, tentei começar a ler, mas sinceramente é tão maçante que desisti. Se eu conseguir terminá-lo, publico alguma coisa aqui.

    Abraços,
    Jorge

  4. Péricles,

    Que havia padres em Campos, na época de Dom Mayer, celebrando a Missa Nova, é fato. Que ele nomeou párocos que celebravam a Missa Nova, também é fato. Que ele nunca perseguiu nenhum desses padres, é também fato. Que nunca foi censurado pela Santa Sé, é fato também.

    Incomoda um pouco a alguns, é verdade. Mas são fatos.

    Abraços,
    Jorge

  5. Diz o seu Jorge – especialista em D. Mayer – que ele nunca viu na vida e cuja obra dá sinais de pouco ter lido:

    “…Disseram-me recentemente que ele até mesmo instituiu ministros (leigos) da Comunhão Eucarística.”

    Contra os delírios dos que lhe disseram tamanha asneira, que o Sr. faz o desserviço de propagar, as palavras do bispo, QUANDO TITULAR DA DIOCESE:

    “Não há, na Diocese, nenhuma religiosa, senhora ou senhorita, constituída “ministro extraordinário da Eucaristia”. Comete, portanto, falta, distribuir a Sagrada Comunhão ou levá-laa enfermos. Co-responsável na falta é quem conscientemente recebe a Sagrada Eucaristia de tais pessoas”.

    DAC Mayer, Disposições Diocesanas para preservar a integridade da Fé e dos bons costumes, 09/1977.

  6. “Recomendamos, portanto, a todos os caríssimos Sacerdotes que exercem o ministério no nosso Bispado, que se atenham a esta disposição diocesana: só distribuam a Sagrada Comunhão aos fiéis ajoelhados, admitindo apenas exceções em casos pessoais, quando alguma enfermidade torna impossível, ou quase, o ajoelhar-se. Em caso nenhum se permita a Comunhão na mão.”

    DAC Mayer, Circular sobre a Reverência aos Santos Sacramentos, 11/1970.

    DAC Mayer PROIBINDO a inovação introduzida no pós-concíio, TITULAR DA DIOCESE DE CAMPOS.

  7. E, para os que desejam palavras do bispo quando titular da diocese de Campos:

    Acerca do CV II:

    “E uma observação radical, sobre o que se passa em meios católicos, leva a persuasão de que, realmente, após o Concílio, existe uma nova Igreja, essencialmente distinta daquela conhecida, antes do grande Sínodo, como única Igreja de Cristo”.

    DAC Mayer, Boletim Diocesano 04/1972.

  8. Dona Sandra,

    Salve Maria!

    Se a Sra. é uma neoconservadora?

    Não sei.

    Mas deixe-me tentar lhe explicar estes termos; depois a Sra. mesmo poderá se definir.

    Como já deve ter percebido, 99% dos católicos não percebem a existência de uma crise na Igreja.

    Repare numa missa dominical em sua paróquia.

    Na minha, na missa dos jovens, eles vão com roupas inadequadas, rebolam, dançam, abanam mão, ieiê de Jesus, fofocam na fila da comunhão, etc…Muitos adultos também comportam-se de maneira semelhante.

    Esse povo todo não faz idéia do que é o CVII, nem imagina o que é o magistério dos papas, não tem idéia nem do que é jejum eucarístico.

    Eis a massa católica brasileira.

    Mas o 1% restante percebe a crise e são pessoas piedosas.

    Desses:

    – Sedevacantistas: negam a existência de papas válidos após Pio XII;
    – Tradicionalistas: apontam alegados “erros” de documentos do CV II e a reforma litúrgica como causa da crise e…
    – Os neoconservadores: como diria um padre de campos, “estão sob a árvore, os maus frutos lhes caem à cabeça e ficam a se perguntar de onde os frutos vieram”. Entendeu? O que seria a árvore? E os frutos?

  9. Padre Hélio faleceu, contudo, na Tradição. Ora, ministro de Deus sensato encontrou refúgio salutar na Fraternidade São Pio X, EM PLENA COMUNHÃO COM A IGREJA, livre de toda corrupção gravíssima dos meios progressistas. Corrupção infiltrada até em lugares onde se celebra Missa Tridentina, MAS, COMPACTUA-SE com as diretrizes do Concílio Vaticano II. Que exemplo digno de que Deus suscita homens de sua Dextra para nos ajudar no combate pela Fé. Onde parece não mais ter esperanças. Qual Dom Antônio de Castro Mayer, mantenedor da Fé Perene da Santa Igreja foi este santo homem. Podemos dizer tranquilamente:

    Requiescat in Pace!

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    Em relação ao texto:

    A resistência, o Leão de Campos e a Sé de Pedro – está muito bem escrito e esclarecedor. Apenas faço uma ressalva em relação aos “ministros extraordinários da Comunhão” que Dom Antônio nomeou. Por vezes, sentia-se na Diocese de Campos, em razão do avultado número de capelas, em razão da ausência sacerdotal que eventualmente viajasse pastoralmente e se afastasse da matriz por longos dias, afim de que os fiéis não ficassem sem o Pão dos Anjos, Dom Antônio permitiu que alguns (homens) pudessem apenas realizar a distribuíção da Sagrada comunhão em um (brevíssimo) rito em latim, – o da distribuíção da comunhão extra missam, sem bênção, revestidos de alguma veste digna (tipo batina e sobrepeliz, ou até mesmo uma alva com cíngulo, obviamente sem estola, ou alguma espécie de opa. Para que, ut, os fiéis comungassem depois da reza do terço ou via-crucis. Não se tratava do que vemos hoje. Ministros ou ministras (mulheres) que utilizam um longo rito como o que se observa atualmente em Campos:

    Praticamente todo o Ordo Missae de Paulo VI, EM VERNÁCULO, excetuando-se apenas (algumas) orações do Canon. Quse que uma espécie de “Missa” entre aspas, mas, com várias orações estritamente presidenciais reservadas a presbíteros. Invenções do tipo “O Senhor esteja conosco”, braços abertos e “OREMUS”, ETC, EXTREMAMENTE DESACRALIZANTES, COMO SE VÊ HOJE EM DIA.

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    SENHOR JORGE FERRAZ, FELICÍSSIMO EM SEU COMENTÁRIO, RESSALTA que Dom Antônio nunca proibiu o novus ordo aos sacerdotes desejosos de seguí-lo, mas, deixou bem claro que tinha reservas, e muitas, em relação a ele. E, mais. Depois colocarei aqui os textos e a fonte comprobatória.

    Não foi contra o Novus ordo, porque sempre foi fiel ao Papa, e reconhecia sua autoridade. Mas, não era do seu agrado o novo Missal. Tanto que o Bispo de Campos, o atual príncipe da Igreja de Campos, do qual tenho profundo respeito disse-nos no seminário um dia:

    “O senhor Bispo perguntou-me: Tem certeza, Reverendíssimo Padre, que acolherá o novo Missal? E respondi-lhe: Sim, senhor Bispo. Se tenho que optar em acertar convosco e errar com o Santo Padre, prefiro, eu, errar com o Santo Padre”.

    Mais uma coisa…

    Enquanto não havia “Admnistração Apostólica”, mas tão somente (os padres tradicionalistas de Campos), haviam duas realidades:

    Os fiéis da Tradição

    Os progressistas

    Claro, que falo numa divisão promovida pelso próprios padres e fiéis. Uma antipatia, e até certa “rixa”, hostilidade,em casos mais extremos, como em Italva, da parte da TFP DE Padre Antônio Paula da Silva.

    Não era uma prévia da Summorum Pontificum, não mesmo, perdoe-me, senhor Jorge, mas falo de peito aberto, por experiência própria.

  10. Por que neo-conservadores como o Jorge só querem fazer criticas para os que pertencem ao tradicionalsimo?

    Por que neo-conservadores como o Jorge não mostram os escândalos dos movimentos modernistas que estão “em comunhão com a Santa Igreja Católica” como a RC”C”, Canção Nova,…?

    Se neo-conservadores como o Jorge mostram esses escândalos modernistas, só mostram quando querem, parecem um tipo até de acobertamento.

    Os modernistas estão em “plena comunhão com a Igreja Católica” Jorge, por que o silêncio em relação especificamente para com a Canção Nova (RC”C”)?

  11. Bom, senhor Renato Lima, posso responder. Porque não convém. Porque querem agradar “gregos e troianos”. O neo-conservadorismo, não me referindo ao moderador e fundador do Deus Lo vult, blog que é de boa qualidade e democrático desde que guardando o mínimo respeito diante das divergências. Senhor Jorge Ferraz tem o direito de crer que não são as diretrizes do Concílio responsáveis por estes abusos. Talvez nem sejam diretamente, entende. Mas, ocorre que ele é promotor da reforma litúrgica, que por si só é estranha diante da grandeza intrínseca do Missal antigo. Para que mudar algo teologicamente correto e patrimônio da Igreja por um missal com elementos ambíguos? Para que deixar entrar um pouco de ar fresco (João XXIII) NA iGREJA, se ela respirava livremente. Porque liberdade, no ponto de vista bíblico, sempre foi condicionada ao bem. O livre arbítrio dado por Deus sempre foi seguido da admostação para que nunca se ousasse desobedecê-lo, contudo, reconhecê-lo como nosso Criador. Seguir um novo rumo, muitos podem. Mas será lícito? Mudar liturgia, deixar nascer movimentos neo-pentecostalistas, depedração patrimonial, artística e cultural, tudo isto ocorre na falsa idéia de deixar entrar um pouco de ar fresco. Para que depois do ar fresco, a casa pegasse fogo, a fumaça de Satanás por uma fissura PENETRASSE(Paulo VI).

    É MUITO ILÓGICO E INCOERENTE COMPACTUAR COM CERTAS COISAS, para que todos possam, viver felizes e contentes a Unidade na diversidade. Que é mal interpretada pelos revolucionários católicos de esquerda e pelos neo-conservadores. Unidade na diversidade porque muitas são as ordens religiosas, cada qual com suas características próprias, bem como congregações, institutos, irmandades. Mas, ao menos, antes do Concílio Vaticano II, ESTA UNIDADE NA DIVERSIDADE PRESERVAVA UMA ÚNICA VERDADE, um único Missal e uma única Fé imaculada. Hoje aceitam o bom e o incerto, tudo numa perspectiva falsa de paz. Exceto, os que não pretendem permanecer em cima do muro.

  12. depredação (errata)e: “Para que deixar entrar um pouco de ar fresco (João XXIII) NA iGREJA, se ela respirava livremente?…”

  13. Prezado Fernando,

    É perfeitamente compreensível o desejo de infalibilidade e perfeição, que nós, fíéis, desejamos de nossos pastores. E a própria Igreja nos ensina como a infalibilidade prometida por Nosso Senhor nos ampara no âmbito da fé e da moral.

    Contudo, amice carissime, trata-se de um grande equívoco esperar uma tal infalibilidade de um bispo, ou de dois, ou de muitos. Não só equívoco, mas, também, grave imprudência!

    Conheci pessoas realmente fervorosas, que acolitavam a missa beirando a perfeição; outras que cantavam um belíssimo gregoriano; e outras, ainda moças, que se vestiam com admirável elegância e modéstia (…coisa cada vez mais rara hoje em dia; parece até que as duas coisas, atualmente, se opõem e se excluem: ou modéstia ou elegância!). No entanto, estas pessoas se apegavam a seus líderes, com tamanha expectativa, que, ao se frustrarem em seus anseios idealistas e irreais, deixaram tudo, desistindo da própria religião. Hoje não suportam sequer ouvir orações em latim, e o canto gregoriano lhes provoca náuseas!

    Por este motivo, ao ver pessoas empenhadas em defender os valores da Igreja neste blog (do qual sou um participante novato), fico, ao mesmo tempo, empolgado e preocupado. A imagem de Dom Mayer que foi descrita pelos comentaristas desta coluna, por exemplo, é absolutamente irreal e parcial. Pior até que uma mentira inteira, está se exprimindo uma meia-verdade! A propósito, parabéns ao Jorge por publicar o seu texto!

    Como disse antes, Dom Mayer apoiou a Missa Nova, conservou-a em sua diocese, orientou seus fieis a comungarem nesse rito, nomeou ministros da comunhão eucarística (inclusive fora de sua jurisdição, na TFP de São Paulo) e, principalmente, foi um dos autores do Concílio Vaticano II. As idas e vindas nos seus comentários e escritos constituem fato, talvez desconfortável, mas é concreto e real, ocorrido no tempo e no espaço. Portanto, irrefutável. Enquanto estivermos vivos, nós que testemunhamos e participamos do nascimento do movimento tradicionalista, não há meia-verdade que não possa ser facilmente desmentida!

    Nesse contexto, a sua afirmação de que eu repeti alguma calúnia elaborada por um certo padre é completamente indevida. Respeito a sua moção interior de não suportar uma atitude contraditória da parte de ilustres bispos, mas, não crie um super-herói, nem um mini-papa que só fala ex cathedra. Isto não existe! Este Batman vai virar Chapolim Colorado no primeiro grande escorregão! Não conte com sua astúcia!

    Se foi verdade que um ou outro bispo não assinou alguma lista, ou até faltou a alguma sessão, ou esteve doente, ou perdeu o trem, pouco importa! Estes fatos não invalidam o consentimento dos bispos participantes, com o concílio em seu conjunto. A própria Teologia explica que um concílio é do tipo ecumênico se a totalidade dos bispos estiver presente de forma representativa.

    E, para demonstrar o assentimento de Dom Mayer ao Concílio Vaticano II, basta lembrar que o falecido bispo editou pelo menos três cartas pastorais em sua diocese, para aplicar os ensinamentos do Concílio! Note bem, eu não disse refutar os ensinamentos, mas aplicá-los! Afinal, ele próprio foi um dos co-autores dos documentos promulgados!

    Dessa forma, ao invés de insinuar que o meu texto comporta uma atitude temerária, veja o gritante conflito que existe entre essa sua colocação (bastante infeliz, por sinal) e o teor expresso pelo próprio Dom Mayer em suas pastorais:

    “Eis-nos novamente a Nos entreter convosco sobre decisões do Concílio Ecumênico Vaticano II, do qual, apesar da Nossa indignidade, tivemos, pela misericórdia de Deus, a honra de participar. Em 1963, comunicávamos aos Nossos amados filhos a Constituição sobre a Sagrada Liturgia e o decreto sobre os Instrumentos de Comunicação Social, importantes resultados dos trabalhos conciliares nas duas primeiras fases do Sínodo Ecumênico. Nesta terceira fase, o Santo Padre, gloriosamente reinante, Paulo VI, promulgou três novos atos da magna Assembléia: a Constituição dogmática sobre a Igreja, e os Decretos sobre as Igrejas Orientais e sobre o Ecumenismo.”

    (Cf. Dom Antonio de Castro Mayer. Instrução Pastoral sobre a Igreja, de 02/03/1965, in: Por um cristianismo autêntico. São Paulo, Ed.Vera Cruz, 1971, p.215)

    E, ao explicar o último ensinamento, após a conclusão do Concílio, veja a exortação que acompanha a sua bênção final:

    “Que a Virgem Santíssima vos preserve de todo o mal e vos conceda o fervor de caridade que a obra apostólica para a qual a Igreja vos convoca por meio do Co
    ncílio Vaticano II, de vós exige.
    São os votos que com paternal afeto vos enviamos com Nossa Benção Pastoral, em Nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Amém.”

    (Cf. Dom Antonio de Castro Mayer. Carta Pastoral – Considerações a propósito da aplicação dos Documentos promulgados pelo Concílio Vaticano II, de 19/03/1966, in: Por um cristianismo autêntico. São Paulo, Ed.Vera Cruz, 1971, p.215)

    Ao abrir um bom catecismo, aprendemos que a Igreja Católica goza de infalibilidade, em questões de fé e moral, especialmente nas seguintes situações:

    a) Na voz do Sumo Pontífice, quando fala ex cathedra;

    b) Na voz dos bispos, em sua totalidade, unidos ao Papa.

    Caro Fernando, o problema não é o desejo de infalibilidade. O equívoco, sutil e imprudente, é mirar no alvo errado. Bispos, isolados ou em duplas, não são infalíveis!

    Fiquemos com Deus! Em unidade de fé e, principalmente, de caridade!

    Renato Odo

  14. gostaria de saber se há como ter acesso a carta escrita pelo bispo de campo ao papa joão paulo II em 13 de abrilo de 1982.

  15. “Prega a palavra, insiste, quer agrade quer desagrade, repreende, adverte, exorta com toda a paciência e doutrina. Porque virá tempo em que os homens não suportarão a sã doutrina, mas multiplicarão para si mestres conforme os seus desejos, levados pela curiosidade de ouvir. E afastarão os seus ouvidos da verdade para os abrirem às fábulas.” São Paulo, apóstolo (II Tim 4, 2-4)

    Prezados padres de Campos, padres que ouviram e podem ainda ler (isso hoje é um verdadeiro privilégio, muito pouco comum) Dom Antonio de Castro Mayer!

    Até quando, até onde?

    Que nova declaração humilhando a fé e a moral católica esperam de Dom Rifan para proteger vossos fiéis? Que nova mentira pública de Dom Rifan necessitam? Que nova traição medonha solicitam?

    – Os milhares de casamentos celebrados na presença dos senhores, durante 20 anos, foram então todos nulos?

    – É verdade que dizer “(…) recorremos então a um sacerdote verdadeiramente católico, que segue a orientação tradicional da Igreja de sempre” denota “a falsa idéia substrata de sedevacantismo com sabor cismático, insinuando a exclusividade católica do grupo, em meio à defecção geral da Igreja hierárquica e oficial”, conforme o explica agora Dom Rifan?

    – Dom Antonio de Castro Mayer levou os senhores e os fiéis ao cisma?

    – Eram finalmente os padres de Campos padres “irregulares” e justamente repreendidos, e que agora afirmam no mundo inteiro estarem de repente “reconhecidos” em 2002 sem exigência nenhuma?

    – Era justo chamar os senhores de ‘cismáticos’ e de ‘excomungados’ entre 1988 e 2002!?

    – Não tinha “grave incômodo” nem estado de necessidade para justificar a construção de novas igrejas para o culto católico em Campos?

    – É hoje atitude que merece alguma pena ou castigo a “resistência às autoridades eclesiásticas quando elas não ilustram a doutrina da Tradição Apostólica e permitem seja maculada a Fé imaculada, ou seja, quando trabalham na auto-demolição da Igreja”? (Informe doutrinário, 1999)

    – Concordam com Dom Rifan em macular a memória de Dom Marcel Lefebvre e em acusá-lo de ter atrasado em 25 anos (vinte e cinco, sim!) a liberalização da Santa Missa?

    – A Missa nova não é mais “um caso de consciência” ou uma “questão de Fé” para os senhores? (“A Missa Nova: um caso de consciência” – compilado sob a responsabilidade dos padres tradicionalistas da Diocese de Campos – Artpress – São Paulo – Setembro de 1982).

    – As “62 razões pelas quais, em consciência, não podemos assistir à Missa Nova” foram escritas por “um” padre de Campos? Os senhores o conhecem? E muitas dessas razões são exageradas, como o declara agora Dom Rifan publicamente, como o fez em reunião pública organizada no dia 21 de fevereiro de 2006 em Paris pelo ‘Centre Saint Paul’ do padre de Tanouarn (hoje Assistente do padre Philippe Laguérie no IBP)?

    – O livro do padre Rifan “quer agrade quer desagrade” (Gráfica Lobo, 1999) não agrada mais aos senhores?

    – O “informe doutrinário – Nossa posição, na atual situação da Igreja”, assinado em 22 de agosto de 1999 por vinte sacerdotes de Campos, RJ – Brasil, segue sendo a posição e a doutrina atual dos senhores em 2007?

    – Esse “informe doutrinário” tem alguns erros de doutrina?

    – Por que essas publicações desapareceram totalmente das livrarias da Administração Apostólica, já que houve pleno “reconhecimento da Tradição” em Campos em 2002?

    – Dom Rifan e o padre Claudiomar Souza não comungaram na concelebração de Aparecida em 8 de setembro de 2004, como se averigua na gravação da emissora de televisão Rede Vida?!!!

    – Os escritos de Dom António de Castro Mayer só podem ser lidos hoje através das citações escolhidas por Dom Rifan nas suas cartas pastorais?

    – Não seria, ao contrário, muito oportuno publicar algumas cartas pastorais de Dom António como “pelo casamento indissolúvel” 23.03.1975, “A realeza de Nosso Senhor Jesus Cristo” 8.12.1976, “Aggiornamento e Tradição” 11.04.1971?

    – São repreendidos ou devidamente punidos os sacerdotes da Administração Apostólica de Dom Rifan que falam em público e nas pregações sobre a gravidade e a matéria dos próprios pecados dos fiéis, tornando o sacramento da confissão odioso?

    – Deram-se conta de que agora é permitido na Administração Apostólica e numa Carta Circular de Dom Rifan (16 de julho de 2007, página 7) escrever: “mas infelizmente no coração deles (“as pessoas ligadas à Fraternidade São Pio X de Dom Marcel Lefebvre” página 6) não há lugar ainda para o Santo Padre.”? Dom Rifan conhece os segredos dos corações? Dom Rifan está acima da Lei divina?

    – Quando se trata de julgar “as pessoas ligadas à Fraternidade São Pio X de Dom Marcel Lefebvre”, o juízo temerário em matéria grave deixa de ser pecado mortal?

    – É verdade que todos nós precisamos voltar ao ensinamento dos textos do Concílio Vaticano II que são como a fonte de renovação e de unidade na Igreja (citada “Carta Circular”, página 18)?

    – É verdade que a Missa de Paulo VI foi “adotada há 37 anos unanimemente por toda a Igreja docente”!? (Citada Carta Circular, página 32). Dom Antônio de Castro Mayer a adotou? Dom Fernando Rifan a adotou?

    – Prezados padres, existe alguma circunstância em que autoriza um católico a aceitar, sem cometer pecado, que sua fé diminua?

    – Prezados padres, existe alguma circunstância em que autoriza um sacerdote católico a aceitar, sem cometer pecado, que a fé e a moral de suas “ovelhas”, de seus fiéis, diminuam?

    – Prezados padres, os senhores se lembram do Bispo que, em Campos, no dia 3 de janeiro de 1982, escreveu: “Como se trata de matéria relacionada com a Fé, não posso recusar meu testemunho” ?

    – Enfim, alguém em Campos RJ teria ainda a honra de pregar aos fiéis da Administração Apostólica todas as verdades que escrevia corajosamente o padre Rifan em 1999 no livro “quer agrade quer desagrade”?

    “Quer agrade quer desagrade” Pe Fernando Arêas Rifan – páginas 65 e 66 – Gráfica Lobo, 1999

    CASO LEFEBVRE

    Dois artigos publicados no J.B. de 08/07/88, de Dom Marcos Barbosa e Dom José Fernandes Veloso, sobre Dom Marcel Lefebvre, merecem reparos.

    Ambos tentam mostrar o grande “amor” e “compreensão” do Vaticano para com Dom Lefebvre, amor e compreensão que culminaram com o açodamento em declarar a excomunhão, apesar de ele não ter professado, conforme afirma o Cardeal Silvio Oddi, nenhum erro doutrinário, mas sim fidelidade à Igreja.

    A Santa Sé, depois do Concílio Vaticano II, não tem mais condenado os protestantes, os cismáticos – levantou a excomunhão dos cismáticos ortodoxos – nem os professores católicos que escrevem heresias como frei Leonardo Boff, da diocese de Dom Veloso, nem os favorecedores do comunismo que promovem invasões de terras etc., ninguém é excomungado. O “amor” e a “compreensão” foram reservados para Dom Lefebvre e Dom Mayer que procuraram manter a Tradição conforme o ensinamento perene da Santa Igreja.

    Dom Marcel Lefebvre não tem nenhum erro doutrinário. Ele não nega absolutamente a infalibilidade pontifícia, nem tampouco defende idéias liberais dos Velhos Católicos, algumas delas adotadas na Igreja Conciliar. Ele constata sim o favorecimento da heresia e o caráter heretizante das novas reformas litúrgicas. É bom lembrar que o Concílio Vaticano II foi um Concílio Pastoral e, portanto, não tem a mesma autoridade doutrinária que os outros Concílios dogmáticos, e é em nome destes que são rejeitadas algumas teses do Vaticano II que os contradizem.

    “Quanto à frase alegada ‘onde está Pedro está a Igreja’, ela vale quando o Papa se comporta como Papa e chefe da Igreja; caso contrário, nem a Igreja está nele nem ele na Igreja” (Card. Caetano II-II, 39, 1 – Cardeal Journet ‘L’Eglise Du V. Inc. Pág. 596).

    Quanto à defesa que fazem do Concílio Vaticano II, dizendo que os abusos não são culpa do Concílio, eu pergunto: quais abusos? Será abuso do Vaticano II, por exemplo, João Paulo II visitar um templo luterano, elogiar a profunda religiosidade e a herança espiritual de Lutero e participar de um ofício herético?

    Será abuso do Vaticano II o encontro de Assis, patrocinado pela Santa Sé, onde o ídolo de Buda foi colocado sobre o Tabernáculo do Altar principal da Igreja de São Pedro e lá adorado pelos bonzos? Pois João Paulo II lhes responde que não é abuso, pelo contrário, tudo isso está na linha do ecumenismo recomendado e promovido pelo Concílio Vaticano II (conf. Alocução aos Cardeais e Prelados da Cúria Romana – Observatore Romano, Ed. Port., 04/01/1987, pág. 1 e 3). Esta é a melhor resposta àqueles que querem inocentar o Concílio dos abusos que se lhe seguiram. Estão sob a árvore, os maus frutos lhes caem na cabeça e querem negar que procedem daquela árvore.

    [Fim do texto das páginas 65 e 66 do livro do Pe Rifan]

    Conclusão

    – Dos Atos dos Apóstolos (Capítulo IV, versículos 19-20):

    “Mas Pedro e João, respondendo, disseram-lhes: Se é justo diante de Deus obedecer antes a vós que a Deus, julgai-o vós mesmos; não podemos, pois, deixar de falar das coisas que temos visto e ouvido.”

    – Da Carta Pastoral sobre a realeza de Nosso Senhor Jesus Cristo, de Dom Antônio de Castro Mayer, Bispo de Campos, 8 de dezembro de 1976:

    “A implantação do Reinado de Jesus Cristo na sociedade é meta apostólica que incumbe a todos os fiéis. Deve, porém, ser propulsada sempre de maneira ordeira e pacífica, à imitação de Jesus Cristo e dos Apóstolos, que obedeceram e mandaram obedecer aos poderes públicos constituídos, excetuando-se apenas os casos em que o poder impunha leis ou ordenava algo contra a Vontade de Deus. Dos primeiros cristãos afirma Leão XIII que “eram exemplares na lealdade aos imperadores e obedientes às leis enquanto era lícito. Entretanto, espalhavam um resplendor magnífico de santidade, procurando outrossim ser úteis aos seus irmãos e atrair os demais à Sabedoria de Cristo: dispostos, porém, sempre a retirar-se e a morrer valentemente se não podiam reter as honras, dignidades e cargos públicos sem faltar à consciência” (Enc. Immortale Dei).”

    O texto supracitado é todo uma compilação de um sacerdote genuinamente ligado á santa tradição.

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