Nota Pastoral de orientação em relação às eleições de 2010 – Dom Antonio Keller

Fonte: Diocese de Frederico Westphalen

Frederico Westphalen, 28 de agosto de 2010.

Irmãos e irmãs, diocesanos de Frederico Westphalen e homens e mulheres de boa vontade.

Esta Nota Pastoral tem a finalidade de oferecer reflexão e orientação, face às eleições que se aproximam, para os católicos diocesanos de Frederico Westphalen e para todos aqueles que procuram, com boa vontade, nortear sua existência pelo respeito aos valores fundamentais da existência humana.

O período que antecede as eleições é de suma importância, no sentido de que deve servir-nos para a reflexão e a escolha consciente daqueles candidatos e candidatas nos quais depositaremos nossa confiança através do voto. O voto não é algo que se decide no último momento, apressadamente, a partir do último “santinho” recebido. Voto é escolha refletida e decidida, após pesarem-se prós e contras. Mais do que nunca, diante da pluralidade de possibilidades, votar exige responsabilidade e coerência também em relação à fé professada. Longe do católico e da pessoa de boa vontade separar sua crença e seus valores de seu voto. Há, no voto, a exigência profunda da coerência.

Da mesma forma, a mesma coerência e responsabilidade são também exigências para aqueles que se candidatam a cargos públicos. As possibilidades são múltiplas. A pluralidade, louvável. Alguns candidatos se apresentam com clareza, defendendo princípios que não se identificam com aqueles que cremos e defendemos, como cristãos. Ao menos são verdadeiros. Ninguém, que professe a fé católica, ou defenda os valores da vida será enganado por eles…

Mas o grande problema, bastante presente nesta situação pré-eleitoral, é o da duplicidade, da incoerência daqueles candidatos, que por um lado, fazem questão de se mostrarem “religiosos”, sensíveis à fé, mas que na prática ou estão inscritos em partidos que defendem valores anti-cristãos, ou apresentam um ideário programático político pessoal que contêm indicações absolutamente incoerentes com a fé que declaram professar ou respeitar. Dentro deste quadro, chegamos ao ponto de sermos obrigados a ouvir, de determinados candidatos e candidatas, certas declarações, por exemplo, em relação ao aborto, afirmando que “pessoalmente sou contra, mas quando no governo, garantirei o direito de quem quiser abortar, já que o aborto não é uma questão que envolva a fé, mas sim, a saúde pública”.

Como Bispo Diocesano, venho, por meio desta Nota Pastoral, estribado na autoridade apostólica de pastor que deve cuidar do rebanho que lhe foi confiado, preocupado com a situação de confusão derivada da linguagem dúbia e da postura incoerente, oferecer uma orientação clara e segura a meus diocesanos e a todos os que crêem e defendem o valor da vida, desde a sua concepção até a sua morte natural.

Assim sendo:

1. Todo cidadão é chamado a votar com consciência. Nós cidadãos católicos somos chamados a votar com consciência cristã. Seria uma contradição acreditar e defender os valores da vida, da família, da moral e da ética, e votar naqueles candidatos e candidatas que propugnam pessoalmente, ou estão inscritos em partidos que propugnam os valores contrários. Ou seja, é preciso votar de forma coerente, em candidatos e em partidos que defendam os valores que nós cristãos acreditamos e defendemos, para que estes mesmos candidatos e partidos nos representem, nas instâncias do Executivo e do Legislativo, favorecendo medidas e leis que valorizem a cultura da vida.

2. Assim, neste período pré-eleitoral, é obrigação de todo católico, bem como daqueles que tem boa vontade e abertura para a cultura da vida, informar-se, em relação aos diversos candidatos e candidatas, se em suas propostas estão contemplados os valores éticos, nomeadamente, a defesa da inviolabilidade da vida humana (especialmente no que diz respeito á questão do aborto, da eutanásia, etc.), bem como a defesa do casamento e da família (como estas realidades são entendidas pela moral cristã) e a defesa privilegiada dos mais desprotegidos da sociedade.

Estes são alguns critérios, a meu ver, os mais fundamentais, que devem ser levados em consideração na hora de votar: como católicos temos o dever de votar naqueles que, posteriormente, como nossos representantes, na sua atuação política não irão contradizer os valores daqueles que os elegeram.

Peço que o Espírito Santo de Deus ilumine as mentes de todos os diocesanos de Frederico Westphalen e as de todas as pessoas de boa vontade, para que nestas eleições, todos possam exercer a cidadania com consciência e responsabilidade.

+ Antonio Carlos Rossi Keller
Bispo Diocesano de Frederico Westphalen (RS)

Eu, masoquista

Eu “fui ao comício”, ontem, no Marco Zero, onde o presidente Lula estava com sra. Dilma Rousseff e mais uma cambada de “companheiros”. Estava em dúvidas sobre se era moralmente aceitável “sentar-me à roda dos escarnecedores”; disse a mim mesmo que a minha ida seria por questões jornalísticas, e me tranqüilizei. Depois, fiquei pensando se o lugar não era perigosamente propício a ser alvo de uma chuva de fogo e enxofre, enviada pela Justa Ira Divina por tanto tempo já contida; mas pedi à Virgem Santíssima que sustentasse, ainda mais um pouco, o braço do Seu Divino Filho, e me tranqüilizei. Pensei, por fim, se a minha ida não iria aumentar a repercussão do evento, “engrossando” o número de participantes do comício que iria ser noticiado no dia seguinte; mas pensei que, afinal, a praça é pública – a praça é do povo – e eu poderia, perfeitamente, ao invés de “ir ao comício”, ir ao Recife Antigo tomar cerveja. Tecnicamente, seria o presidente quem estaria discursando junto ao meu barzinho. Encontrei, assim, a causa com duplo efeito que eu precisava para dirimir de vez os meus escrúpulos, e me tranqüilizei. Camisa preta – luto -, pus-me a caminho.

Cheguei perto das dez horas da noite. Algumas pessoas estavam já voltando, mas o senhor presidente ainda estava falando e, considerando o tempo que ele falou depois disso, acho que cheguei bem no início do seu discurso. A praça do Marco Zero parecia estar lotada, mas era pura armação: fizeram um “labirinto” com aquelas grades móveis por toda a praça, exigindo que as pessoas dessem voltas e mais voltas para chegar ao centro e induzindo-as, assim, a ficarem no perímetro, fora das grades. Para quem via de longe, passava realmente a impressão de que o Marco Zero estava lotado. Mas eu, que nunca tive medo de multidão, fui até o centro da praça: praticamente vazia. Havia até mesmo pessoas sentadas no chão.

O Jornal do Commercio falou em 25.000 pessoas. Mas, ao menos quando eu cheguei, não tinha nada nem perto disso, pelos motivos acima explicados: a praça estava vazia, as ruas estavam transitáveis, só havia aglomeração de pessoas no perímetro da praça e, neste, não cabem 25.000 pessoas nem que elas estejam, em quatro níveis, uma em cima da outra. Mas, enfim. Engenhosa a tática petralha, é forçoso reconhecer.

A sra. Rousseff não falou; ou, então, eu só cheguei depois que ela já tinha falado. Por uma longa e enfadonha hora, eu só ouvi o senhor presidente. Lula fez questão de dizer era necessário votar nos deputados – nos “companheiros”… – que apoiavam o Partidão, que era preciso eleger Humberto e Armando senadores, Eduardo governador (para que Pernambuco avançasse “30 ou 40 anos em 8”) e Dilma presidente. Foi muitas vezes interrompido por aplausos. Mas houve três situações curiosas no discurso do senhor presidente.

Uma: falando sobre Humberto Costa, que foi ministro da Saúde, disse que ele havia feito muito por Pernambuco – aplausos. Que era uma pessoa séria e honesta, blá-blá-blá – aplausos. Que, no entanto, não havia feito mais (aqui, o presidente elevou a voz; estava quase aos gritos) porque os inimigos dele o haviam traído, votando contra a CPMF e tirando da saúde não-sei-quantos-milhões que já estavam destinados para não-sei-o-quê. E não houve mais aplausos. E os sonoplastas bem que poderiam introduzir, neste momento, o clássico som de grilos cricrilando. Ao que parece, nem os próprios petralhas estão dispostos a defender a CPMF do Governo.

Duas: falando sobre as mulheres. O presidente teve um surto de lucidez, e começou a falar um monte de coisas politicamente incorretas: que são as mulheres que carregam por nove meses no ventre um ser humano, que são as mulheres as responsáveis pelo lar familiar, que são as mães que ensinam os filhos a falarem, que são as mães que acordam de madrugada quando o menino está chorando, e não os pais, que são as mães que dão o peito quando o menino está com fome, e não os pais, et cetera. A clássica separação de papéis dentro do Matrimônio à qual a modernidade tem tanto ódio! E lá estava o Lula, em um ato falho, a defendê-la: afinal, se Deus falou um dia através da boca de uma mula, por que da boca do Lula não poderia sair alguma coisa que prestasse, alguma vez na vida? Mais uma vez, os sonoplastas teriam trabalho neste momento, porque o discurso – inflamado! – não arrancou aplausos da petralhada. E o presidente achou melhor mudar de assunto.

Três: rasgando-se em elogios à Dilma. Disse que ela era uma mãe, e que ele gostava tanto e confiava tanto nela que poderia dizer, com toda a honestidade, que, “se não tivesse a Marisa” [aqui eu já comecei a rir, imaginando o que diabos ele iria falar], e ele “tivesse um filho [pequeno]”, entregaria o filho para a Dilma criar (!). Pasmem, isto foi dito desse jeito! Lula, em menos de um minuto, ofendeu a primeira-dama, demonstrou total descaso pelo seu hipotético filho (como assim, “dava para a Dilma criar”? Fala que casava com ela, Lula!) e agrediu mortalmente a presidenciável feminista (porque criar filho é tudo o que gente dessa laia não quer fazer)! E eu, esforçando-me para segurar as gargalhadas, afastei-me um pouco da praça. O ambiente era hostil a ponto de ser contrário à prudência debochar do senhor presidente. Mas, que deu vontade… ah, isso deu.

Por volta das onze horas da noite, o presidente despediu-se, disse “muito obrigado” e os militantes – que carregavam cartazes e bandeiras – desapareceram em um piscar de olhos. Nem sequer esperaram para tentar bater fotos, ou cumprimentar algum dos candidatos, nem nada: veio-me à mente a maliciosa comparação com empregados de uma fábrica que ouvem o toque da sirene anunciando o final do expediente. Também não seria eu a esperar mais nada: voltei à minha cerveja. Agradecendo a Deus por ter sobrevivido ao comício. Brindando ao Papa. E pedindo ao Altíssimo misericórdia para o Brasil.

Apelo a todos os brasileiros

[Publico conforme recebi por email e como se encontra no site da Diocese de Assis (SP). Todos os grifos, itálicos e sublinhados são do original.

Nada surpreendentemente, este texto não se encontra no site da CNBB. Ao que parece, nenhuma comissão da Conferência fala em nome da própria Conferência, mas há algumas comissões que falam mais do que outras…

P.S.: O artigo encontra-se também no site da Regional Sul 1 da CNBB.

Fonte: Diocese de Assis]

Apelo a Todos os Brasileiros e Brasileiras

Nós, participantes do 2º Encontro das Comissões Diocesanas em Defesa da Vida (CDDVs), organizado pela Comissão em Defesa da Vida do Regional Sul 1 da CNBB e realizado em S. André no dia 03 de julho de 2010,

considerando que, em abril de 2005, no IIº Relatório do Brasil sobre o Tratado de Direitos Civis e Políticos, apresentado ao Comitê de Direitos Humanos da ONU (nº 45) o atual governo comprometeu-se a legalizar o aborto,

considerando que, em agosto de 2005, o atual governo entregou ao Comitê da ONU para a Eliminação de todas as Formas de Descriminalização contra a Mulher (CEDAW) documento no qual reconhece o aborto como Direito Humano da Mulher,

considerando que, em setembro de 2005, através da Secretaria Especial de Polítíca das Mulheres, o atual governo apresentou ao Congresso um substitutivo do PL 1135/91, como resultado do trabalho da Comissão Tripartite, no qual é proposta a descriminalização do aborto até o nono mês de gravidez e por qualquer motivo, pois com a eliminação de todos os artigos do Código Penal, que o criminalizam, o aborto, em todos os casos, deixaria de ser crime,

considerando que, em setembro de 2006, no plano de governo do 2º mandato do atual Presidente, ele reafirma, embora com linguagem velada, o compromisso de legalizar o aborto,

considerando que, em setembro de 2007, no seu IIIº Congreso, o PT assumiu a descriminalização do aborto e o atendimento de todos os casos no serviço público como programa de partido, sendo o primeiro partido no Brasil a assumir este programa,

considerando que, em setembro de 2009, o PT puniu os dois deputados Luiz Bassuma e Henrique Afonso por serem contrários à legalização do aborto,

considerando como, com todas estas decisões a favor do aborto, o PT e o atual governo tornaram-se ativos colaboradores do Imperialismo Demográfico que está sendo imposto em nível mundial por Fundações Internacionais, as quais, sob o falacioso pretexto da defesa dos direitos reprodutivos e sexuais da mulher, e usando o falso rótulo de “aborto – problema de saúde pública”, estão implantando o controle demográfico mundial como moderna estratégia do capitalismo internacional,

considerando que, em fevereiro de 2010, o IVº Congresso Nacional do PT manifestou apoio incondicional ao 3º Plano Nacional de Direitos Humanos (PNDH3), decreto nª 7.037/09 de 21 de dezembro de 2009, assinado pelo atual Presidente e pela ministra da Casa Civil, no qual se reafirmou a descriminalização do aborto, dando assim continuidade e levando às últimas consequências esta política antinatalista de controle populacional, desumana, antisocial e contrária ao verdadeiro progresso do nosso País,

considerando que este mesmo Congresso aclamou a própria ministra da Casa Civil como candidata oficial do Partido dos Trabalhadores para a Presidência da República,

considerando enfim que, em junho de 2010, para impedir a investigação das origens do financiamento por parte de organizações internacionais para a legalização e a promoção do aborto no Brasil, o PT e as lideranças partidárias da base aliada boicotaram a criação da CPI do aborto que investigaria o assunto,

RECOMENDAMOS encarecidamente a todos os cidadãos e cidadãs brasileiros e brasileiras, em consonância com o art. 5º da Constituição Federal, que defende a inviolabilidade da vida humana e, conforme o Pacto de S. José da Costa Rica, desde a concepção, independentemente de sua convicções ideológicas ou religiosas, que, nas próximas eleições, deem seu voto somente a candidatos ou candidatas e partidos contrários à descriminalizacão do aborto.

Convidamos, outrossim, a todos para lerem o documento “Votar Bem” aprovado pela 73ª Assembléia dos Bispos do Regional Sul 1 da CNBB, reunidos em Aparecida no dia 29 de junho de 2010 e verificarem as provas do que acima foi exposto no texto “A Contextualização da Defesa da Vida no Brasil” [http://www.cnbbsul1.org.br/arquivos/defesavidabrasil.pdf], elaborado pelas Comissões em Defesa da Vida das Dioceses de Guarulhos e Taubaté, ligadas à Comissão em Defesa da Vida do Regional Sul 1 da CNBB, ambos disponíveis no site desse mesmo Regional.

COMISSÃO em DEFESA da VIDA
do REGIONAL SUL 1 da CNBB

Inception

[ATENÇÃO! CONTÉM SPOILERS!]

Haviam me dito que “A Origem” (Inception, 2010) era um bom filme. Se esta opinião está equivocada, é por excesso de parcimônia nos elogios: o filme não é apenas “bom”, é uma verdadeira obra-prima. Assisti-o agora há pouco, e o recomendo enfaticamente: uma história inovadora, uma trama muito bem urdida, excelentes atuações, cenas de violência dentro do limite, completamente livre de cenas de sexo. Este último ponto merece destaque, por ser raridade na Sétima Arte. Inception prova, definitivamente, que um filme não precisa conter cenas apelativas para ser um incontestável sucesso de bilheteria. Quero tecer alguns comentários sobre o filme, mas aos que pretendem ainda ir ao cinema recomendo que o assistam antes de lerem estas minhas linhas: conhecer previamente a história vai estragar bastante a sensação – deliciosa! – de descobri-la pouco a pouco na sala escura do cinema.

Ouvi dizer que o filme é “muito cabeça” e exige “muita atenção” – besteira. O filme é relativamente simples. Somente possui um bom roteiro que naturalmente não pode ser acompanhado com a mesma displicência com a qual se assiste The Expendables; mas o desenrolar da trama percebe-se muito mais facilmente do que, por exemplo, em “Amnésia” (que, aliás, é do mesmo diretor). As cenas que só fazem sentido no final do filme ou são detalhes (que, imagino, devem fazer valer bastante a pena uma segunda ida ao cinema…) ou estão muito bem nítidas na memória, a despeito das quase duas horas e meia do filme – que, diga-se, nem se percebe passarem.

A história: existem uns sujeitos que conseguem entrar nos sonhos das outras pessoas. Isso pode ser feito com dois objetivos: extrair informação, que é de longe o mais comum, ou incutir uma idéia na mente da vítima – fazer uma inception, uma inserção, um “implante” (que talvez fosse uma tradução melhor para o nome do filme) de um pensamento que, quando acordada, a pessoa adopte como seu e com base no qual passe a agir. Há quem diga que inceptions são impossíveis, mas Cobb (DiCaprio) diz que é possível e aceita fazer um serviço desses em troca de ter a sua ficha limpa com a polícia americana.

O serviço para o qual Cobb é contratado não tem nada de simples: trata-se de fazer um inception em Robert Fischer, um jovem herdeiro de uma (praticamente) hegemônica companhia de eletricidade, para convencê-lo a dividir o império do pai e, assim, possibilitar que a empresa concorrente – que contrata Cobb – continue existindo. Esta idéia, para ser aceita, precisa naturalmente ser apresentada como uma boa idéia (“vou chutar o pau da barraca e acabar com a minha herança” não funcionaria), precisa que o alvo aceite-a como sua, própria (trata-se, assim, muito mais de insinuar alguma coisa que depois desenvolva-se naturalmente do que enxertar algo facilmente reconhecível como exógeno), e precisa ser feita no profundo do subsconsciente: para isso, Cobb e sua equipe abusam da técnica de “sonhos dentro dos sonhos”. Funciona assim: “entrar no sonho” leva até um nível do subconsciente da vítima; mas se, dentro do sonho, põe-se o sujeito para dormir e entra-se no “sonho do sonho”, atinge-se um nível de inconsciente mais profundo e, para os objetivos de Cobb, mais interessantes. O plano original é a adentrar “três níveis” no subconsciente de Fischer e, “lá embaixo”, incutir a idéia que desabroche, “lá em cima”, na decisão de se desfazer do império que o pai construiu.

Várias coisas encantam no filme. Primeiro, a “ambientação” é muito bem feita. Há os caras – “arquitetos” – que “desenham” o cenário do sonho onde fulano vai ser colocado. Quando o alvo é posto dentro do sonho, o seu subconsciente “povoa” o cenário criado: as pessoas que estão no sonho são projeções da sua mente, etc. Em particular, caso haja no cenário um “cofre” ou coisa parecida, a mente do sujeito, instintivamente, “joga” lá dentro aquilo que quer manter como segredo (tornando fácil a extração de informações para os invasores de sonhos – cria-se o cenário com o cofre, quando o sujeito sonha o seu subconsciente põe no cofre o segredo, e então basta arrombar o cofre e obter o segredo). Nos sonhos, o tempo passa mais devagar do que fora deles, e isso funciona recursivamente: se 1 minuto na “vida real” corresponde a 20 minutos dentro do sonho, vai corresponder a 400 minutos no “sonho dentro do sonho” – e assim por diante. No sonho, repercutem as sensações do que está acontecendo com o sujeito que dorme: se ele estiver molhado, p.ex., vai estar chovendo no sonho. A quantidade de detalhes impressiona.

Mas o filme tem “camadas”, como se costuma dizer hoje em dia – ou, melhor dizendo, sonhos dentro de sonhos, tramas dentro de tramas. Há toda essa história dos invasores de sonhos. Dentro disso, há os interesses políticos da companhia que quer convencer o Fischer a desfazer-se do império do pai, serviço que Cobb topa. Dentro deste serviço, há a motivação de Cobb que é poder voltar para os Estados Unidos e se encontrar com os filhos. E, dentro disso, no mais profundo das tramas, há o drama interior do protagonista de se desvencilhar das lembranças de sua mulher morta e da culpa que ele sente por a ter levado a cometer suicídio.

[Provavelmente vai aparecer quem diga que, ainda mais profundo do que isso, há a discussão sobre até que ponto a realidade é realmente real, mas este blá-blá-blá totalmente clichê e de valor filosófico nulo é indigno do filme. Volto a este ponto no final do texto.]

Encanta também a trama. O protagonista precisa se libertar da culpa que sente com relação à morte da esposa. Quer voltar para os filhos, e encontra esta possibilidade no serviço para o qual foi contratado. Antes de convencer um jovem bem-sucedido a lançar às favas o império que o pai a duras penas construiu, o que Cobb e sua equipe terminam fazendo é reconciliar um filho com o seu pai. E o protagonista, perdido nos seus sonhos e pensamentos, recebe da jovem arquiteta a ajuda necessária para vencer o seu próprio passado e ser finalmente capaz de viver o seu futuro. Notem: todas as motivações – e as atitudes – são positivas! A única coisa mesquinha que existe no filme – o desejo de “quebrar”, desonestamente, uma empresa bem-sucedida – é também apresentada de maneira positiva (“é importante para o mundo que esta empresa não detenha o monopólio da distribuição de energia”) e – principalmente – é alcançada por um meio extremamente positivo, provocando uma reconciliação familiar. No filme, não há vilões; há os dramas pessoais de almas sofridas que, por si sós, já são responsáveis pela virtual totalidade dos males que existem no mundo.

E, por fim, também encantam as sutilezas. A forma que Cobb usa para implantar em sua esposa a idéia de que a realidade é uma ilusão é simplesmente genial. O que Fischer encontra no cofre do pai lá no terceiro nível de sonhos – o catavento da foto de quando era criança – é emocionante. O que Cobb diz para a projeção (feita por seu subconsciente) da sua mulher, ao final do filme, é um elogio feminino para o qual eu não encontro paralelos no cinema recente: “não passas de uma sombra pálida da mulher que eu amei. És o melhor que eu consegui fazer e, no entanto, não és boa o bastante”.

As pessoas – a realidade! – ultrapassam infinitamente as imagens que temos delas, por mais honestos que sejamos, por mais que nos esforcemos! Não existe bobagem de ceticismo ou de dúvida idiota – estilo Matrix – sobre se o que julgamos ser a realidade é de fato real. No extremo oposto disso, o filme é um tremendo louvor à realidade, por dura que ela seja. É isto que o filme, ao final das contas, nos ensina. Por mais que possamos ser deuses e ter um mundo só nosso no “limbo” dos sonhos profundos, a realidade vale mais – muito mais – do que isso. É sempre necessário aceitá-la. Sempre vale a pena voltar.

Tudo é mais do mesmo

Eu não sou lá o que se possa chamar de grande entusiasta da democracia – a despeito de ser forma de governo legítima, conforme ensina a Igreja Católica. Com relação à maneira específica como a “democracia” (aqui, as aspas são propositais, e servem precisamente para distinguir esta daquela legitimada pela Igreja à qual fiz referência acima) é exercida no Brasil, deixo de ser simplesmente um “não-entusiasta” para lançar-lhe mesmo duras críticas. Julgo até ser perfeitamente legítimo, aliás, discutir se aquilo que, no Brasil, costuma chamar-se “democracia”, tem as mesmas características daquele sistema que um dia o Aquinate considerou legítimo.

Mas isso é uma outra discussão, para a qual não tenho nem fôlego e nem envergadura. Limito-me a falar sobre os fatos concretos do nosso quotidiano. Ontem, eu assisti ao debate da Canção Nova com os presidenciáveis, e tive impressões muito negativas.

Não com relação ao debate – ao contrário, ele foi, na média, excelente. Tirando algumas aberrações (como a “Pastoral do Menor” colocando-se contra a redução da maioridade penal), muitas perguntas importantes foram feitas exatamente da maneira como deveriam ser feitas: “o senhor, como presidente, assinaria o PLC 122/06?”, “o senhor, no seu governo, vai colocar em prática as diretrizes do PNDH-3?”, “o senhor acredita que o valor da vida humana pode ser decidido em plebiscito?”, e diversas outras. A organização do debate está sem dúvidas de parabéns. O motivo das minhas impressões negativas reside justamente no fato de que, mesmo com toda a excelência da organização do debate, os candidatos estão – todos – muito aquém do mínimo que se pode esperar para que a licitude do apoio católico por meio do voto, a qualquer um deles, possa ser até mesmo levada em consideração e colocada em litígio. Do jeito que está, ninguém pode ser votado.

Sobre o aborto, o abortista Serra foi o único a dizer, claramente, que o respeito à vida humana não pode ser objeto de sufrágio popular. Curiosamente, foi ele próprio – ele, que disse não ser capaz de fazer um plebiscito para decidir sobre a legalização do aborto no Brasil – quem, quando Ministro da Saúde, autorizou – sem consultar ninguém! – a rede pública hospitalar a assassinar crianças caso elas tenham sido concebidas por meio de estupro… incoerências que, enfim, quedaram sem respostas, e fica então o eleitor católico na sincera dúvida entre o discurso do abortista quando em campanha ou os seus atos passados quando, efetivamente, teve poder para fazer alguma coisa.

Sobre a Lei da Mordaça Gay, tanto o Serra quanto o Plínio disseram não ter lido o projeto mas que, mesmo assim, eram-lhe, em linhas gerais, favoráveis. Sobre o PNDH-3, o Plínio teve aliás a capacidade de dizer que não via nada de errado no plano. O candidato do PSOL merece menção especial, porque ele tem feito questão de se apresentar como católico e, mesmo assim, colocar-se sistematicamente contrário a tudo aquilo do qual a Igreja é a favor, e favorável a tudo aquilo que a Igreja é contra. Chega a ser impressionante. O papel dele, como já foi notado por alguns mais astutos, é claramente o de deslocar o eixo de comparação entre os candidatos, por meio de um radicalismo tão caricato que, junto dele, a Dilma e o Serra apareçam quase que como ultramontanos.

A sra. Rousseff fez chacota dos católicos e não foi ao debate. E, por algum motivo que sinceramente escapa-me à compreensão, o católico Eymael – provavelmente a única opção aceitável para os católicos no primeiro turno – não foi convidado para o debate ou, dele, não quis participar. Quando não estão presentes nem o único candidato que poderia dar respostas tranqüilizadoras às questões apresentadas, nem a candidata favorita nas pesquisas que iria se comprometer terrivelmente a cada resposta que formulasse… qual foi o saldo, afinal de contas, do debate? Parece-me que é tudo mais do mesmo.

E isso reforça a minha desilusão para com a “democracia” brasileira: o voto é universal e tem o mesmo peso para todos, pouco importando a parcela de participação na sociedade que cada um tenha. Os debates, por melhores que sejam, terminam por gerar pouco ou nenhum fruto: e os resultados do pleito são, na verdade, decididos pela máquina publicitária da televisão que, na hipnotizadora propaganda eleitoral gratuita, pende obscenamente para o lado do partido que se encontra atualmente no governo. Resta esperar alguma coisa? É possível fugir da incômoda sensação de que tudo isso não passa de um gigantesco jogo de cartas marcadas?

Que Deus tenha misericórdia de nós, e salve o Brasil! Porque é óbvio que as eleições de outubro próximo não serão capazes de “salvar” absolutamente nada.

CNBB apóia plebiscito ao qual os bispos dizem não!

No dia 18 de junho p.p., sexta-feira, ao invés de incentivar os fiéis a fazerem penitência em memória da Paixão do Senhor, o site da CNBB publicava uma matéria comunistóide em favor do plebiscito pelo limite de terras. “Pastorais Sociais e Organismos da CNBB confirmam apoio ao plebiscito pelo limite de propriedade da terra e ao Grito dos Excluídos” – era o longo título do artigo que, ao contrário de outros, encontra-se até agora disponível no site da Conferência. À época, eu também comentei aqui sobre o escândalo.

Hoje, foi publicada uma matéria no jornal “Gazeta do Povo” que revela uma outra face da moeda, meticulosamente escondida sob a maneira marxista do site da CNBB enxergar (e, pior ainda, divulgar) a realidade: bispos dizem “não” a plebiscito. Leiam-na na íntegra. Lá, vocês verão bispos como Dom Cristiano Krapf, Dom Aloísio Opperman e Dom Murilo Krieger dizendo claramente que são contrários a este plebiscito! Como isso é possível? Na verdade, o que acontece é que, aparentemente, a CNBB apóia o mesmo plebiscito ao qual os bispos teimam em dizer não! De onde vem tão curioso caso clínico de esquizofrenia?

Queira o leitor bondosamente voltar ao longo e enfadonho título da notícia do site da CNBB, linkada no início do post. Quem é que apóia, afinal de contas, este malfadado plebiscito? A matéria não diz “os bispos apoiam”, e nem “a CNBB apóia”, nem nada do tipo. Com uma malícia ofídica, o que a matéria diz é que as “Pastorais Sociais” e uns anônimos “Organismos da CNBB” apoiam tal plebiscito. Não diz nem que “a CNBB” o apóia, nem que “os bispos” o apóiam, porque seria mentira.

Entendam bem! A CNBB não apóia este plebiscito. Este suposto apoio, dito assim claramente, não está em lugar nenhum (embora também não esteja desmentido… voltamos a este ponto já já). Os bispos em seu conjunto também não apoiam este plebiscito, e fizeram questão de o dizer pública e claramente, como mostra a matéria do “Gazeta do Povo” que eu trouxe acima. Até mesmo Dom Demétrio, que particularmente é favorável à consulta popular, confessa que, na última Assembléia Geral ocorrida em Brasília, embora tenha havido discussões sobre o assunto, “em nenhum momento houve decisão, nem sobre o limite da terra, nem sobre o que fazer com a propriedade excedente”. São palavras de um prelado favorável ao plebiscito!

Nem a CNBB apóia oficialmente o plebiscito, nem os bispos como um todo o apoiam. Mas, então, como explicar que o apoio “oficioso” a esta consulta popular – em assunto sobre o qual a Assembléia Geral da Conferência não chegou a nenhuma decisão, convém lembrar – esteja tão disseminado? Por que a CNBB não o desmente?

Volto ao início do post: o malicioso artigo sobre o apoio das “Pastorais” e dos anônimos “Organismos” da CNBB ao plebiscito – que claramente confunde os leitores – encontra-se até agora no site da CNBB. No entanto, no final do mês passado, o artigo de Dom Luiz Gonzaga Bergonzini contrário à sra. Dilma Rousseff foi rapidamente retirado do site porque… era a posição particular de um bispo, e não representava a posição da Conferência! É incrível a desonestidade desta gente, mas é isso mesmo: há algumas posições particulares, de alguns prelados, que podem e devem ser veiculadas no site oficial da CNBB, e há algumas outras posições particulares de outros prelados que não podem estar no site de nenhuma maneira e, caso apareçam por lá, devem ser retiradas o quanto antes. E este site duas-caras é – vergonha! – o site oficial da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil.

E agora, como é que fica? O apoio ao plebiscito é posição oficial da CNBB, ou é posição particular de alguns bispos? Se for posição oficial da Conferência, então nós temos pelo menos quatro bispos mentindo publicamente. Se não for posição oficial da Conferência (e sim opinião pessoal de algum bispo), por qual motivo esta posição pessoal merece destaque no site da CNBB, enquanto que a de Dom Luiz Gonzaga foi rapidamente censurada?

Não deixem de fazer a pergunta inconveniente à assessoria de imprensa da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil: imprensa@cnbb.org.br. Aproveitem e perguntem também (como citou o Marcio Antonio Campos no quadro da matéria do “Gazeta do Povo” – leiam lá) por qual esotérico motivo é permitido mencionar expressamente o nome dos candidatos em alguns tipos de artigos (como na malfadada Análise de Conjuntura sobre a qual eu já comentei aqui e desde fevereiro está no site da CNBB) e não em outros (como no artigo de Dom Luiz Gonzaga que foi censurado). Estou curiosíssimo para saber qual vai ser a resposta.

CNBB desmente: Católicos não têm liberdade para “votar em qualquer candidato” coisa nenhuma

[Publico na íntegra. Parece que, com a CNBB, a coisa ainda funciona – graças a Deus – na base da pressão. A notícia saiu na última sexta-feira e, já hoje, veio a resposta.

Uma certa senhora – que se diz católica e, apesar dos meus reiterados protestos, insiste em me enviar por email todo o lixo com o qual costuma tornar a internet um lugar mais desagradável de se freqüentar – enviou-me um email correlato, que tinha por título “parabéns à CNBB” e no qual estava escrito (com a caixa-alta do original), da lavra da referida senhora: “A CNBB AO ABRIR AS PORTAS A TODOS OS CANDIDATOS, MOSTROU QUE NÓS CATÓLICOS, TEMOS LIBERDADE PARA VOTAR EM QUALQUER CANDIDATO. FOI UM TAPA DE PELICA NO TAL BISPO DE GUARULHOS, QUE PREGA O ÓDIO E A INTOLERANCIA”. Pois é, parece que, agora, o tapa na cara dos “católicos” abortistas foi não de pelica, mas com a mão cheia mesmo…

Fonte: CNBB]

Prezado Senhor Diretor de Redação,

Foi com desagradável surpresa que vi estampada minha fotografia no topo da página A7 da Edição de hoje, sexta-feira, 20 de agosto, com a nota de que eu teria admitido que os católicos votem em candidatos que são favoráveis ao aborto.

Gostaria de expressar, mais uma vez, a posição inegociável da CNBB, que é a mesma do Magistério da Igreja Católica, de defesa intransigente da dignidade da vida humana, desde a sua concepção até a morte natural. O aborto é um crime que clama aos céus, um crime de lesa humanidade. Isso, evidentemente, não significa que o peso da culpa deva recair sobre a gestante. Também ela é, na maioria das vezes, uma grande vítima dessa violência, e precisa de acompanhamento médico, psicológico e espiritual. Aliás, esses cuidados deveriam vir antes de uma decisão tão dramática.

Os católicos jamais poderão concordar com quaisquer programas de governo, acordos internacionais, leis ou decisões judiciais que venham a sacrificar a vida de um inocente, ainda que em nome de um suposto estado de direito. Aqui, vale plenamente o direito à objeção de consciência e, até, se for o caso, de desobediência civil.

O contexto que deu origem à manchete em questão é uma reflexão que eu fazia em torno da diferença entre eleições majoritárias e proporcionais. No caso da eleição de vereadores e deputados  (eleições proporcionais), o eleitor tem uma gama muito ampla para escolher. São centenas de candidatos, e seria impensável votar em alguém que defenda a matança de inocentes, ainda mais com dinheiro público. No caso de eleições majoritárias (prefeitos, senadores, governadores, presidente), a escolha recai sobre alguns poucos candidatos. Às vezes, sobretudo quando há segundo turno, a escolha se dá entre apenas dois candidatos. O que fazer se os dois são favoráveis ao aborto? Uma solução é anular o próprio voto. Quais as conseqüências disso? O voto nulo não beneficiaria justamente aquele que não se quer eleger? É uma escolha grave, que precisa ser bem estudada, e decidida com base numa visão mais ampla do programa proposto pelo candidato ou por seu Partido, considerando que a vida humana não se resume a seu estágio embrionário. Na luta em defesa da vida, o problema nunca é pontual. As agressões chegam de vários setores do executivo, do legislativo, do judiciário e, até, de acordos internacionais. E chegam em vários níveis: fome, violência, drogas, miséria… São as limitações da democracia representativa. Meu candidato sempre me representa? Definitivamente, não! Às vezes, o candidato é bom, mas seu Partido tem um programa que limita sua ação. Por isso, o exercício da cidadania não pode se restringir ao momento do voto. É preciso acompanhar, passo a passo, os candidatos que forem eleitos. A iniciativa da Ficha Limpa mostrou claramente que, mesmo num Congresso com tantas vozes contrárias, a força da união do povo muda o rumo das votações.

Que o Senhor da Vida inspire nossos eleitores, para que, da decisão das urnas nas próximas eleições, nasçam governos dignos do cargo que deverão assumir. E que o cerne de toda política pública seja a pessoa humana, sagrada, intocável, desde o momento em que passa a existir, no ventre de sua própria mãe.

Dom Dimas Lara Barbosa
Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro
Secretário Geral da CNBB

“Ensina-nos a rezar”

Os meninos do ECyD evangelizaram com o seu testemunho e dedicação a Cristo, em uma manhã de domingo. Muitas pessoas pediram para que ensinassemos a rezar o terço, e os pequenos explicaram muito bem. Ainda existe muito a ser feito, mas Cristo é a nossa força!

Foi em maio. O vídeo saiu esta semana. O bonito trabalho dos pequenos é extremamente louvável – de uma tremenda necessidade para os dias de hoje. Vejam:

A proposta é extremamente simples: reservar um domingo para distribuir terços no parque da Jaqueira, entre as pessoas que lá estavam. Não custa quase nada. E os frutos são valiosos.

Ensinar as pessoas a rezarem o terço! Estamos falando de pessoas adultas. Às vezes eu fico pensando como é possível que ninguém nunca tenha se preocupado em ensinar os católicos a desfiarem um terço em honra à Virgem Santíssima. No entanto, mais do que reclamar, importa fazer – e, nisso, os meninos do ECyD estão de parabéns.

“Cegueira Plúmbea” – Dom Aloísio Oppermann

[Reproduzindo, só para garantir. Está já há quase quinze dias no site da CNBB, por impressionante que seja. Acho que a censura CNBBêica é burra; lembram-me as histórias sobre as músicas de Chico Buarque que, para burlar a censura militar, trocava “Cale-se” por “Cálice” e ficava tudo muito bem. Para bom entendedor, meia palavra basta: afinal, todo mundo sabia que “amanhã vai ser outro dia” é uma crítica política, e não uma canção de amor. E todo mundo sabe que o artigo de Dom Oppermann é uma dura crítica política, e não um ensaio histórico.

Fonte: CNBB.]

Cegueira Plúmbea

O fascismo chauvinista alemão se estabeleceu, entrando pela porta da frente. Hitler manipulou a alma alemã, com recursos de encantamento irresistível. Seu nome estourou nas urnas. Estava tão certo da vitória que não ocultou nenhum de seus tenebrosos pensamentos. Todos conheciam suas pregações imperialistas, seu gosto pelo uso da força, sua arrogância diante dos judeus, sua presunção de superioridade da raça ariana. Um observador, colocado a certa distância, poderia prever a colisão inexorável que aconteceria entre o bem do povo alemão, e o programa foguetório do regime político, que deveria arrostar todas as conquistas civilizatórias. É a história do passarinho encantado, que fica à disposição da cobra que o engole sem escrúpulos.

Não sou daqueles que consideram a Revolução de 31 de março, como um mal absoluto. As intenções foram boas, tendo recebido o firme apoio da opinião pública. Os nobres ideais foram obumbrados, progressivamente, pelo uso abusivo do cerceamento das liberdades. Com o correr do tempo, as lideranças socialistas, em vez de se converterem, entraram na clandestinidade. Mas posteriormente retornaram, entre aplausos, e ocuparam tranquilamente quase todos os escalões da República cripto-socialista. Certíssimos do sucesso, já se tem como garantida a execução de alguns programas antiqüíssimos: a interrupção violenta da gravidez; o enfraquecimento da vida familiar, pelo apoio a outros tipos de “família”; a redução à obediência de veículos de comunicação através de prêmios e castigos; a insegurança dos direitos constitucionais;  a subserviência do poder judiciário; a impossibilidade de manifestação religiosa em  público; a descaracterização do país de qualquer sinal cristão, depois de termos passado ao povo, durante séculos,  os ensinamentos de Cristo…Será que se avizinha o tempo em que precisamos ocultar que somos católicos? A vitória desse programa “moderno” parece ser tão evidente como o pôr do sol antes da noite escura. O nosso veículo tem freio e tem direção. Enxergamos o perigo que se avizinha? “Eis agora o dia da salvação”  (2 Cor 6, 2 ). Ainda podemos evitar o grande mal.

Dom Aloísio Roque Oppermann

Dilma Rousseff e o aborto no debate da Folha/UOL

Assisti, hoje pela manhã, a um pedaço do debate online, promovido pela Folha/UOL, entre três dos presidenciáveis: Dilma Rousseff, José Serra e Marina Silva. Ainda não está disponível na íntegra no site da Folha.

Não gosto deste tipo de “debate”. É óbvio que não dá para levá-lo a sério – e, ao final, acaba sendo muito mais uma exibição de argumentos ad populum e de retórica sentimental, do que um confronto verdadeiro e honesto entre idéias e propostas. É claro que, em dois minutos, ninguém consegue articular um raciocínio decente, corretamente embasado, sobre qualquer assunto minimamente sério. Não sei quem foi que disse certa vez que, em “igualdade de condições” (leia-se: com limites arbitrários igualitariamente aplicados), a mentira sempre ganha da verdade. Eu concordo totalmente. Uma pergunta mal-intencionada, que leve somente alguns poucos segundos para ser formulada, pode exigir muito esforço para ser respondida a contento. Não é enrolação. É, simplesmente, porque a verdade tem compromissos – a mentira, não, qualquer coisa que diga, de qualquer jeito, se servir aos seus propósitos, está muitíssimo “bem dita”. Dois minutos para cada uma delas simplesmente não é justo: a verdade, nestes casos, está em uma tremenda desvantagem.

Este debate, no entanto, teve uma coisa interessante: a participação dos internautas, com perguntas gravadas em vídeo. Lá para as tantas – quarto bloco, se a memória não me falha -, uma pergunta feita pela @jufragetti foi exibida. Era para a Dilma Rousseff, e sobre o aborto.

Em dois minutos, como eu disse acima, ninguém consegue articular uma resposta séria sobre absolutamente nada. Mas o tempo reduzido tem outro gravíssimo inconveniente: por dois minutos, qualquer pessoa consegue dar voltas e enrolar, para não ter que responder de modo direto a uma pergunta inconveniente. E foi exatamente o que fez a sra. Rousseff.

Começou dizendo que nenhuma mulher gosta de abortar – coisa que, embora discutível, absolutamente não vem ao caso. Não faz a menor diferença se as mulheres “gostam” de assassinar os próprios filhos ou se “não gostam”: o que interessa é saber, com clareza, se elas podem fazê-lo ou se não o podem! A pergunta, como qualquer pessoa que tenha dois neurônios é capaz de perceber, era esta e não outra.

Disse que, pessoalmente, era contrária ao aborto. De novo: não faz a menor diferença se ela, em assunto que considera “de foro íntimo”, é contrária ou é a favor: o que interessa é o que ela vai fazer enquanto presidente. Mais uma vez, isto estava mais do que evidente na pergunta que foi feita, pois o que estava sendo transmitido era um debate entre presidenciáveis, e não uma entrevista para a Tititi.

Então veio, finalmente, com a conversa mole de que o aborto é “questão de saúde pública”. Ora, como todo mundo que está acostumado com a novilíngua política sabe muito bem, isso significa que o aborto vai deixar de ser crime para passar a ser exigência de saúde. Como está no famigerado Plano Nacional de Direitos Humanos do Governo. Como, aliás, é compromisso histórico do PT, e só não vê quem não quer.

A sra. Rousseff enrolou, enrolou, enrolou, mas deixou escorrer a baba peçonhenta, o veneno por debaixo do doce das palavras: a candidata petista é abortista sim. Caso não fosse, poderia ter dito – como teve chance – de dizê-lo claramente. Portanto, e mais uma vez: como os católicos não podem apoiar uma candidata abortista, não podem conceder o seu apoio, de nenhuma maneira, à sra. Dilma Rousseff (ouviu, @ver_josenildo?). A cada dia que passa, isto fica mais e mais claro. É sinceramente lamentável ver as pessoas imolarem a própria consciência no altar da partidolatria.