A porca retorna ao lamaçal

“[O Ecumenismo é], na verdade, uma traição a Jesus Cristo. Dar esperanças de que há salvação por qualquer outro caminho que não seja Jesus Cristo. Então tudo isso foi me afastando [da Igreja]. A princípio eu pensei que estes erros e outros (…) eram em razão do Concílio Vaticano II. Eu disse (…) estes papas chamados ‘conciliares’, a partir de João XXIII até Bento XVI não são papas. Eles são falsos papas. E eles é que trouxeram isso. Mas, para a minha surpresa, estudando a história da Igreja, eu descobri que esses erros que nós vivemos hoje, eles já estavam de alguma maneira desde o início do catolicismo, por volta do século IV, a partir de Constantino”.

– Diácono Francisco Almeida Araújo.

Foi “pastor” batista. Deixou a Igreja Evangélica, voltou para a Igreja Católica onde foi ordenado diácono e, hoje, arrepende-se profundamente disso. Está empenhado em divulgar publicamente a sua apostasia. Retornou ao lamaçal de onde, com a graça de Deus, saíra. É lamentável.

Escreveu uma confissão pública, no fim da vida. Gravou um testemunho em vídeo. A porca retorna ao lamaçal (cf. IIPd 2, 22) – é lamentável! É como fala a passagem dos Evangelhos:

Quando o espírito impuro sai de um homem, ei-lo errante por lugares áridos à procura de um repouso que não acha. Diz ele, então: Voltarei para a casa donde saí. E, voltando, encontra-a vazia, limpa e enfeitada. Vai, então, buscar sete outros espíritos piores que ele, e entram nessa casa e se estabelecem aí; e o último estado daquele homem torna-se pior que o primeiro. Tal será a sorte desta geração perversa (Mt 12, 43-45).

E as “razões” dadas pelo neo-herege são totalmente desarrazoadas. Falou em “ecumenismo”, confundindo-o com a “ecumania” irenista tantas vezes condenadas pela Igreja. Não explicou os motivos que o levaram do sedevacantismo para o protestantismo; para quem assiste ao vídeo, a impressão que fica é somente a de que um abismo atrai outro abismo. Mentiu, dizendo que a infalibilidade papal era desconhecida até o século XIX. Distorceu, para variar, a Doutrina Católica referente à mediação única de Nosso Senhor e à intercessão dos santos. Defendeu a noção estúpida e anti-bíblica de que Deus não recompensa as boas obras dos cristãos, chegando inclusive ao cúmulo de afirmar o nonsense (frontalmente contrário à realidade, aliás) de que nós fazemos boas obras porque esta é a nossa natureza. É lamentável.

A Cruz de Nosso Senhor foi “suficiente”? Sem dúvidas que o foi, mas o que significa isso? Que Ela é a fonte da qual brotam todos os méritos, o instrumento da nossa redenção somente em união ao qual podemos também nós merecer sobrenaturalmente o que quer que seja? Se for isso, então em nada se distingue esta concepção da Doutrina Católica, estando o sr. Francisco a atacar espantalhos. Agora, se ele quiser dizer que ninguém precisa fazer nada e ninguém é capaz de merecer nada, bastando “sozinha” a Cruz de Cristo sem nenhuma cooperação humana, então esta doutrina é diabólica e anti-bíblica. Porque é o Apóstolo quem diz, para calar a boca do herege:

O que falta às tribulações de Cristo, completo na minha carne, por seu corpo que é a Igreja (Cl 1, 24).

Repito novamente: é lamentável! Que a Virgem Santíssima, que já intercedeu uma vez pelo diácono Francisco livrando-o da boca do leão, possa socorrer-lhe novamente neste momento em que ele cospe n’Aquela que o ajudou em suas necessidades. E que cada um examine a si mesmo, sempre! Quem julga estar de pé, cuide para que não caia (cf. 1Cor 10, 12) – é o ensino escriturístico cristalino, contra a doutrina anti-bíblica da “certeza da salvação”. E do qual a cada dia encontramos mais e mais exemplos, como a própria história do diácono Francisco nos mostra.

Sobre o mesmo assunto, ler também:

Comentários em um testemunho de apostasia

Algumas considerações sobre o caso do ex-diácono Francisco Araújo

P.S.: Ao que consta, morreu reconciliado com a Igreja. Deo Gratias.

Celebração – 10 anos de Episcopado de Dom Fernando Saburido

Encaminho a notícia conforme recebi por email. Dom Fernando Saburido completa na próxima sexta-feira dez anos de episcopado e, hoje, um ano à frente da Arquidiocese de Olinda e Recife. Que a Virgem Santíssima o possa abençoar, guiar e proteger, fortalecendo-o sempre contra todos os inimigos de Cristo – de dentro e de fora – e conservando-o sempre no estreito caminho que agrada a Deus.

P.S.: Vejam o Ramalhete Espiritual pelos dez anos de Sagração Episcopal de Dom Fernando Saburido, e contribuam. Sejam generosos. Ele precisa.

* * *

A Arquidiocese de Olinda e Recife celebra no próximo dia 20, a Missa em Ação de Graças pelos 10 anos de Episcopado de dom Fernando Saburido e o 1º ano de pastoreio na arquidiocese. A solenidade será no Santuário do Sagrado Coração de Jesus, a partir das 20h.

Dom Fernando Saburido presidirá a Concelebração Eucarística, que contará com a presença e participação do clero da arquidiocese. Todos os católicos estão convidados para louvar a Deus pelo aniversário da sagração Episcopal de dom Fernando.

Local: Santuário do Sagrado Coração de Jesus
Rua Dom Bosco, 551, Boa Vista, Recife/PE
Horário: 20h

Impressões no EJF

Impressiona-me, sinceramente, a vitalidade do Regnum Christi e dos Legionários de Cristo. A despeito dos escândalos com o padre fundador que recentemente vieram à tona, no Encontro de Juventude e Família deste ano tenho [re]encontrado muitas pessoas que dão sinceros exemplos de amor a Cristo e à Igreja.

E, digam o que disserem, esta vitalidade é própria do Cristianismo. Quando é perseguido, é que ele cresce; nas tribulações, glorifica a Deus. No meio das adversidades, não esmorece: prodigioso fenômeno que, aqui, é tão fácil de constatar! Não se trata de defender o pe. Maciel que, aqui, trago somente à guisa de exemplo. A imagem da Legião foi grandemente prejudicada pelos fatos recentes que vieram a público – isto é um fato. Alguns abandonaram o Movimento – é outro fato. Mas que outros tantos – muitos! – permaneceram fiéis e, ainda, outros vieram engrossar as fileiras do Regnum Christi mesmo após os escândalos, isto também é fato. E não pode ser ignorado.

Falava aqui no Deus lo Vult! há pouco tempo sobre o sândalo ferido pelo golpe de Deus, a perfumar o mundo de uma maneira agradável ao Onipotente. Nos sofrimentos, glorificar a Deus; esta é uma realidade que não tem nada de trivial, nada de fácil, nada de prazeroso. Muito pelo contrário. Espera-se (e, em certo sentido, até se exige) que as pessoas agradeçam a Deus quando todas as coisas correm bem. Mas, quando alguém dedica a sua vida ao serviço do Altíssimo e, mesmo assim, tudo desmorona… perseverar é heroísmo. Manter-se fiel é santidade.

De novo: o Movimento está aqui como exemplo, e a atitude destas pessoas – muitas das quais conheço há anos – prescinde completamente de considerações sobre os erros do padre Maciel. O fato inconteste é que há muitos inocentes (não somente no Regnum Christi, mas sem dúvidas também aqui), que sofrem sem culpa: e ver precisamente estes se manterem firmes é contemplar uma característica genuinamente cristã; é testemunhar a ação da graça de Deus. Porque não é em homens nem em instituições humanas que estas pessoas – estas, as que permaneceram – pōem a sua confiança. Sem dúvidas não. E ver com clareza para além das aparências – e até mesmo contrariamente às aparências – não é uma atitude de imaturos, ou de bobos úteis enganados, ou de irresponsáveis que ignoram as coisas de Deus; muito pelo contrário. É atitude de quem tem Fé, e de quem entendeu o que significam aquelas palavras de Nosso Senhor: “se alguém quiser vir após Mim, renuncie a Si mesmo, tome a Sua cruz a cada dia e siga-Me”.

Que Deus abençoe o Movimento Regnum Christi, e os Legionários de Cristo. Que a Virgem Santíssima interceda por todos estes, a fim de que o Altíssimo saiba transformar o mal em abundância de bem. Para a Sua maior glória.

A baía de Guanabara. Os amigos distantes

Escrevo do celular, no ônibus que – assim espero – vai me levar ao Rio Centro, onde começa hoje à noite o Encontro de Juventude e Família. Os dias estão curtos, mas intensos. Divertidos.

É sempre bom rever amigos! Ontem estive com o Thiago Amorim (@tht) e com o Tarcísio, seu irmão. Entre hoje e domingo espero também reencontrar outras pessoas. O tempo, como até então, vai ser curto; mas esforcemo-nos por fazê-lo bem vivido.

Até domingo estou-me por cá, pela cidade maravilhosa cheia de encantos mil que tanto aprecio. Além de rever velhos amigos, apraz-me também voltar a lugares por onde passei alhures. Olhar o mar do Arpoador, subir o Corcovado, tirar fotos com o Drummond eternamente sentado em Copacabana… o tempo passa, mas muitas coisas não mudam. O Rio de Janeiro continua lindo. É sempre bom voltar. Aliás, em http://www.twitpic.com/photos/jorgeferraz estou tentando pôr as fotos que tiro. Vejam lá.

E, entre um sotaque diferente e outro, entre a paisagem recortada fluminense tão diferente da do meu Recife, é reconfortante encontrar coisas que resistem ao passar do tempo. Coisas das quais me lembro, apesar de não as ver com a freqüência de que gostaria. A baía de Guanabara. Os amigos distantes. Coisas para as quais podemos voltar, com a segurança de que as encontraremos como as deixamos. Coisas que desafiam a cultura do passageiro e do descartável dos nossos dias. Obrigado, Senhor.

“O misterioso criador do mundo visitou a terra” – Chesterton

Faço coro à recomendação do blog Summae Theologiae: delicioso texto de Chesterton! Vale (e muito) a leitura. Destaco:

Exatamente no meio de tudo isso surge uma enorme exceção. Ela é totalmente diferente de qualquer outra coisa. É algo final como a trombeta do juízo, embora também seja uma boa-nova, ou então uma notícia que parece boa demais para ser verdadeira. É nada menos que a altissonante afirmação de que o misterioso criador do mundo visitou a terra pessoalmente. Declara-se que realmente e até bem pouco tempo atrás, ou bem no meio dos tempos históricos, de fato entrou no mundo esse ser invisível das origens, sobre o qual os pensadores criam teorias e os mitólogos transmitem seus mitos: o Homem que Criou o Mundo. A existência dessa personalidade superior por trás de todas as coisas fora de fato insinuada por todos os melhores pensadores, bem como por todas as mais belas lendas. Mas nada desse tipo fora insinuado por algum pensador ou alguma lenda. É simplesmente falso dizer que os outros sábios e heróis haviam alegado ser esse misterioso senhor e criador, com o qual o mundo havia sonhado e sobre o qual havia debatido. Nenhum deles havia jamais alegado ser algo desse tipo. Nenhuma de suas seitas ou escolas nem sequer reivindicou ter alegado algo desse tipo. O máximo que algum profeta religioso havia dito fora que ele era o verdadeiro servo desse ser. O máximo que algum visionário jamais havia dito fora que os homens talvez pudessem ter um vislumbre da glória daquele ser espiritual; ou, mais frequentemente, um vislumbre de seres espirituais inferiores. O máximo que qualquer mito primitivo jamais havia sugerido era que o Criador estava presente na Criação. Mas que o Criador estivesse presente em cenas que aconteceram logo depois dos festins de Horácio, que conversasse com coletores de impostos e oficiais do governo em detalhados momentos do dia a dia do Império Romano, que esses fatos continuassem a ser firmemente declarados por toda aquela grande civilização por mais de mil anos – eis aí algo absolutamente diferente de qualquer outra coisa da natureza. É a maior e mais chocante declaração feita pelo homem desde que ele articulou sua primeira palavra em vez de latir feito um cachorro. Seu caráter único pode ser usado como um argumento a seu favor ou contra ele. Seria fácil concentrar-se nisso e ver um caso de insanidade singular; mas essa opção reduz a religião comparada a nada mais que pó e absurdo.

O anúncio caiu sobre o mundo com uma ventania e um impetuoso avanço de mensageiros proclamando aquele portento apocalíptico; e não é nenhuma fantasia indevida dizer que eles ainda estão correndo. O que intriga o mundo, e seus sábios filósofos e imaginativos poetas, acerca dos sacerdotes e dos fiéis da Igreja Católica é que eles ainda se comportam como se fossem mensageiros. Um mensageiro não sonha com qual poderia ser sua mensagem, nem discute acerca do que ela provavelmente seria. Ele a entrega como é. Não é uma teoria nem uma fantasia, é um fato. Não é relevante para este esboço intencionalmente superficial provar em detalhes que a mensagem é um fato; só é relevante ressaltar que esses mensageiros a tratam como um fato. Tudo o que se condena na tradição católica, a autoridade, o dogmatismo e a recusa de retratar-se e modificar são apenas atributos humanos naturais de um homem com uma mensagem relacionada a um fato. Quero evitar neste último resumo todas as complexidades controversas que mais uma vez podem ofuscar as linhas simples dessa estranha história, que já chamei, em palavras que são demasiado fracas, de a mais estranha história do mundo. Simplesmente desejo sublinhar aquelas linhas principais e especialmente sublinhar onde se deve realmente traçar a grande linha. A religião do mundo, em suas proporções certas, não se divide em delicados matizes de misticismo ou de formas de mitologia mais ou menos racionais. Ela é dividida pela linha que separa os homens que levam aquela mensagem dos homens que ainda não a ouviram, ou que ainda não conseguem crer nela.

Parabéns, pe. Nildo!

40 anos de vida, 10 anos de sacerdócio. Ontem foi o aniversário do reverendíssimo padre Nildo Leal de Sá, pároco da Paróquia de São Sebastião e São Cristóvão, na Imbiribeira. Apesar da chuva, lá estive; para agradecer ao Bom Deus pelo bom padre que Ele nos enviou. Para pedir-Lhe que ele seja sempre fiel, independente das tribulações que porventura tenha que atravessar. Que digo? Independente das tribulações que certamente terá que atravessar. E talvez eu devesse ousar ainda mais: que seja fiel devido às tribulações que precisará atravessar. Porque os sofrimentos são o distintivo dos cristãos; o mundo não entende essas coisas, nem as entende quem é do mundo.

O cristão – e de modo particularíssimo o sacerdote – não é do mundo, a despeito de estar por aqui. Aponta-nos o Céu, conduz-nos para Deus, leva-nos para o Alto! Ainda no dia anterior, no domingo, o pe. Nildo recordava, na homilia, a clássica passagem de São João Maria Vianney a caminho de Ars. O santo, viajando para a sua nova paróquia, sem saber exatamente onde ficava o vilarejo, encontrou-se com um garoto na estrada. “- Como faço para chegar a Ars?”, “-Vá por ali, seu cura” – apontara o pequeno. E o sacerdote sentenciou: “tu me mostraste o caminho de Ars; eu te mostrarei o caminho do Céu”.

O sacerdote não é deste mundo! Não se lhe exige que saiba das coisas do mundo. Espera-se dele, sim, que saiba o caminho do Céu, e que esteja disposto a ensiná-lo às almas que a Divina Providência lhe confiar. Não é necessário saber chegar a Ars para se ser santo. E, em um mundo onde tantas vezes encontramos excessivos cuidados com as coisas desta terra, reconforta-nos ver um sacerdote como o padre Nildo, dedicado às coisas do Céu.

Que seja fiel, que seja santo; é o que mais sinceramente desejo. Como eu dizia acima, por causa mesmo das tribulações que atravessará, porque Deus não é Deus de poucas coisas e, já que é para pedir, peçamos coisas grandes, as quais por nossos próprios méritos nem mesmo ousaríamos esperar – como foi rezado em uma das orações de ontem. Que se santifique não meramente vencendo os empecilhos provocados pelos sofrimentos, mas utilizando-se dos próprios sofrimentos como meio privilegiado de santificação; como matéria de sacrifício, a ser oferecida ao Pai Santo em união às dores de Nosso Senhor no Calvário. Vêm-me à mente os versos da Irmã Dutra que já pus aqui outra vez, mas que são extraordinariamente adequados à vida sacerdotal e, por isso, trago-os de novo na íntegra:

* * *

De manhã,
quando a lâmpada da noite se apaga…
e a suave luz da aurora enche
de ouro as cândidas corolas
e os cálices dos lírios, eu me ergo
e subo os degraus do Vosso Altar
para – trêmulo e comovido – celebrar
o mistério do Vosso Amor profundo…

De manhã,
Quando eu ordeno onipotente
e Vós aniquilado como servo,
em silêncio, desceis às minhas mãos…
Quando, Senhor, eu Vos imolo e Vos elevo
e, rasgando o Vosso peito dolorido
arranco, pulsando, o Coração
para fazê-lo sangrando e, assim ferido
uma migalha paupérrima de pão…
Quando reduzo um Deus três vezes forte
à impotência, à última expressão,
é que sois VÍTIMA e eu o sacerdote!

Mas, depois, dia afora,
– quando eu desço a montanha sagrada para a luta,
vou ao campo que me destes por partilha,
na renúncia total absoluta,
sangrar os meus pobres pés feridos
nos trilhos que me deixastes, já marcados
com o Vosso rastro divino e ensagüentado,
sem ter, para os lábios ressequidos,
outra fonte que a ferida gotejante
que, de manhã, rasguei em Vosso peito…
Quando eu sinto o Vosso amor me devorando
sem nunca Vos sentirdes satisfeito…
Quando, exausto, eu ergo a minha fronte
buscando com ansiedade no horizonte,
uma nesga iluminada do Infinito
para matar a minha sede de mais luz
eu não diviso, senão, os braços nus
de uma cruz, em um cume de granito…
Quando, só, despojado, incompreendido,
depois de ter dado sem medida,
o suor… o sangue… e até a vida,
eu sinto o Vosso golpe redentor,
e sou – como sândalo – cortado e retalhado,
para que, só Vós, Senhor,
o aroma sintais do meu Amor…

E, à noite, quando chega a solidão,
exausto… moído de cansaço
e, olhando como o homem do fracasso,
não recolho, entre espinhos – e misturado
com o joio – senão o grão escasso
do meu campo que só há de florescer
e lourejar, depois que eu for lançado
no túmulo – para ser o grão fecundo,
é que estou – como homem consagrado
lentamente… consumindo a Vossa morte!
Estou sendo, Senhor, o Vosso PÃO,
Vossa VÍTIMA e Vós o SACERDOTE.

* * *

E é esta santidade que desejo, ó Deus, ao reverendíssimo sacerdote e caríssimo amigo: a do “sândalo (…) cortado e retalhado” para exalar um perfume agradável a Vós; a do “homem do fracasso” que não obtém nesta vida os frutos do seu trabalho; a do filho que se sente devorado pelo Vosso amor, “sem nunca Vos sentirdes satisfeito”; a do “homem consagrado lentamente… consumindo a Vossa morte”.

Parabéns, padre Nildo. Ad multos annos! Abaixo, algumas fotos da celebração.

De manhã,
quando a lâmpada da noite se apaga…
e a suave luz da aurora enche
de ouro as cândidas corolas
e os cálices dos lírios, eu me ergo
e subo os degraus do Vosso Altar
para – trêmulo e comovido – celebrar
o mistério do Vosso Amor profundo…

De manhã,
Quando eu ordeno onipotente
e Vós aniquilado como servo,
em silêncio, desceis às minhas mãos…
Quando, Senhor, eu Vos imolo e Vos elevo
e, rasgando o Vosso peito dolorido
arranco, pulsando, o Coração
para fazê-lo sangrando e, assim ferido
uma migalha paupérrima de pão…
Quando reduzo um Deus três vezes forte
à impotência, à última expressão,
é que sois VÍTIMA e eu o sacerdote!

Mas, depois, dia afora,
– quando eu desço a montanha sagrada para a luta,
vou ao campo que me destes por partilha,
na renúncia total absoluta,
sangrar os meus pobres pés feridos
nos trilhos que me deixastes, já marcados
com o Vosso rastro divino e ensagüentado,
sem ter, para os lábios ressequidos,
outra fonte que a ferida gotejante
que, de manhã, rasguei em Vosso peito…
Quando eu sinto o Vosso amor me devorando
sem nunca Vos sentirdes satisfeito…
Quando, exausto, eu ergo a minha fronte
buscando com ansiedade no horizonte,
uma nesga iluminada do Infinito
para matar a minha sede de mais luz
eu não diviso, senão, os braços nus
de uma cruz, em um cume de granito…
Quando, só, despojado, incompreendido,
depois de ter dado sem medida,
o suor… o sangue… e até a vida,
eu sinto o Vosso golpe redentor,
e sou – como sândalo – cortado e retalhado,
para que, só Vós, Senhor,
o aroma sintais do meu Amor…

E, à noite, quando chega a solidão,
exausto… moído de cansaço
e, olhando como o homem do fracasso,
não recolho, entre espinhos – e misturado
com o joio – senão o grão escasso
do meu campo que só há de florescer
e lourejar, depois que eu for lançado
no túmulo – para ser o grão fecundo,
é que estou – como homem consagrado
lentamente… consumindo a Vossa morte!
Estou sendo, Senhor, o Vosso PÃO,
Vossa VÍTIMA e Vós o SACERDOTE.

Aviso

Ando sumido. Reconheço. Estou com uma quantidade absurda de coisas acumuladas inadiáveis para fazer – vida profissional, vida acadêmica, vida espiritual. Falta de organização. Mea culpa. Um dia eu aprendo…

Hoje é o aniversário do revmo. pe. Nildo Leal de Sá, da paróquia da Imbiribeira: quarenta anos de vida e dez anos – em comemoração antecipada – de sacerdócio. Daqui a pouco, às 19:00, Santa Missa em Ação de Graças na Imbiribeira, com três bispos (incluindo o nosso Metropolita) e mais alguns padres amigos. Lá irei; peço uma ave-maria pelo querido sacerdote. Para que tenha as forças necessárias para perseverar, sempre.

Depois de amanhã começa o EJF 2010. Tudo indica que o ritmo das postagens vai, ao menos ao longo desta semana, diminuir um pouco. Mas depois há-de melhorar.

A maléfica “Igreja-poder”

Leio um artigo do Boff – recentemente publicado – no qual ele tece severas  críticas àquilo que chama de “Igreja-poder”, que ele pinta como se fosse o diabo e que – não obstante e nada surpreendentemente – identifica-se com a Igreja fundada por Nosso Senhor.

Como eu conversava ontem com um amigo, o que espanta não é que Boff seja um herege. O que causa verdadeiro estupor é que ele se recuse a enxergar aquilo mesmo que se encontra debaixo do seu nariz, que ele tem debaixo dos olhos, o que ele próprio escreve. Isso, sim, é impressionante. Passemos a vista pelo texto do Boff: para ele, esta Igreja-poder “se impôs através dos tempos”.

De que tempos? Boff responde: 1) desde que Ela Se considera a única Igreja verdadeira, com exclusão da demais; 2) desde que Ela impede os hereges de escreverem e pregarem; 3) desde que se respeitam e veneram as autoridades eclesiásticas; 4) desde que se canonizam [i.e., são propostas como modelos] as pessoas que têm “sentire cum Ecclesia” (a expressão – obviamente não em latim – é do texto do Boff), que obedecem, que são submissas; 5) desde que há cristãos (sim, porque tirando a petição de princípio do ponto quinto, o que sobra é isso mesmo); e 6) desde que a Igreja tem ritos e símbolos. Ou seja: desde sempre! A dar crédito aos “motivos” elencados pelo Boff para a perpetuação desta “Igreja-poder”, chega-se à inevitável conclusão que esta estrutura maligna perdura realmente há muito tempo: desde pelo menos Nosso Senhor. É facílimo ver.

Quanto ao primeiro ponto: “Todo aquele que caminha sem rumo e não permanece na doutrina de Cristo, não tem Deus. Quem permanece na doutrina, este possui o Pai e o Filho. Se alguém vier a vós sem trazer esta doutrina, não o recebais em vossa casa, nem o saudeis. Porque quem o saúda toma parte em suas obras más” (IIJo 9-11).

Quanto ao segundo: “Com efeito, há muitos insubmissos, charlatães e sedutores, principalmente entre os da circuncisão. É necessário tapar-lhes a boca, porque transtornam famílias inteiras, ensinando o que não convém” (Tt 1, 9-10a) ; e ainda: “Se alguém não obedecer ao que ordenamos por esta carta, notai-o e, para que ele se envergonhe, deixai de ter familiaridade com ele” (IITs 3, 14).

Quanto ao terceiro: “Cuidai de vós mesmos e de todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para pastorear a Igreja de Deus” (At 20, 28a); ver também o parágrafo seguinte.

Quanto ao quarto: “Sede submissos e obedecei aos que vos guiam (pois eles velam por vossas almas e delas devem dar conta)” (Hb 13, 17). E ainda:  “Quem vos ouve, a mim ouve; e quem vos rejeita, a mim rejeita; e quem me rejeita, rejeita aquele que me enviou” (Lc 10, 16).

Quanto ao quinto, dado que – ao contrário do que o próprio Boff prega – a constituição hierárquica da Igreja (que ele chama de “Igreja-poder”) é querida assim por Deus e estabelecida assim desde Cristo (como se depreende da leitura não-seletiva do Novo Testamento), segue-se que todos os “que acima de tudo apreciam a ordem, a lei e o princípio de autoridade em detrimento da lógica complexa da vida que tem surpresas e exige tolerância e adaptações” (nas palavras do Boff) são, descontada a retórica, precisamente os que amam a Igreja nos moldes em que Cristo A instituiu – i.e., os cristãos.

Quanto ao sexto: “Assim, todas as vezes que comeis desse pão e bebeis desse cálice lembrais a morte do Senhor, até que venha” (ICor 11, 26).

E tudo isto sem ser necessário nem mesmo recorrer à patrística. Todos os pontos levantados pelo Boff para explicar a “auto-reprodução” da “Igreja-poder” são elementos essenciais da Igreja Católica, já encontrados desde o século I, dentro mesmo das Escrituras Sagradas. Como, então, o ex-franciscano tem a capacidade de dizer que isto “[e]ra o que Jesus exatamente não queria”? Onde está, então, o que Jesus Cristo queria, se até mesmo dentro do Novo Testamento nós encontramos tudo aquilo que o Boff vive a condenar?

Não é impressionante que o Boff seja um herege. Impressionante é que ele consiga demonstrar – sem o perceber! – que aquilo que ele chama de “instituição-Igreja (…) com características autoritárias, absolutistas e excludentes” seja exatamente a instituição que encontramos no Novo Testamento. E, mesmo assim, não perceba o próprio erro, e continue insistindo que é mais fácil a Igreja Católica ter passado dois mil anos errando do que ele próprio ser capaz de errar.

Voto é coisa séria!

“Está na hora do Brasil ter uma mulher na presidência. Não tenho a menor dúvida de que DILMA é a pessoa certa para conduzir o nosso país”.

@ver_josenildo

A frase acima foi dita, no Twitter, pelo senhor Josenildo Sinesio, atualmente vereador da cidade do Recife e candidato a Deputado Federal. A Justiça manda dizer que, em muitas coisas, estou de acordo com a atuação política de Josenildo. Mas, em outras, não. E, infelizmente, estas outras são demasiadamente graves, a ponto de exigir um esclarecimento.

Certas coisas são francamente inadmissíveis. Recebi por email o “santinho” abaixo do candidato Josenildo:

Como se não fosse escândalo o bastante o sr. Josenildo – cujo eleitorado, como é amplamente conhecido aqui em Recife e, aliás, ele próprio dá a entender na escolha da sua campanha, é composto por católicos – candidatar-se pelo Partido dos Trabalhadores, é preciso, ainda, ver o candidato que pede “um voto de Fé” (com maiúsculas!) defender, publicamente, a abortista Dilma Rousseff para a presidência?! Defender quem defende o aborto? Defender quem vai lutar pela implantação do PNDH-3?

O que é isso? “Fé” no PT? Compromisso com o Partido? E as questões morais inegociáveis, Josenildo? O senhor as esqueceu quando entrou em campanha? O apoio partidário vale mais do que a ética e a moral?

O Claudemir interpelou-o no Twitter:

Pra liberar o ABORTO e pôr em prática o PNDH3?  Achei q vc era católico. RT @ver_josenildo:  …DILMA é a pessoa certa p conduzir o nosso país

E ele até agora não respondeu. E, aliás, nem acredito que vá responder.

Por conta disso, quero fazer coro à campanha do Josenildo Sinesio: para cristão, voto é coisa séria! E, exatamente por ser uma coisa séria, os cristãos não podem dá-lo a quem promove a sra. Rousseff para presidente.

“Ó, que grandioso é o sacerdócio!”

O Santo Cura d’Ars sempre manifestou a mais alta consideração pelo dom recebido. Afirmava: “Ó, que grandioso é o sacerdócio! Só se compreende bem no Céu… mas se o compreendesse sobre a terra, morrer-se-ia, não de temor, mas de amor”

– Bento XVI, 05 de agosto de 2009

Hoje a Igreja celebra a festa de São João Maria Vianney, o santo cura d’Ars, patrono dos párocos, honra do clero francês. Um homem simples, mas que soube entregar-se desmedidamente ao serviço de Deus e, por isso, o Altíssimo fez maravilhas em sua vida.

Era filho de camponeses. Queria ser padre, mas quase não o consegue por conta dos sucessivos insucessos nos estudos necessários para tal. No entanto, não desistiu: contra todos os prognósticos, foi adiante, insistente, até conseguir levar a cabo os seus estudos e ordenar-se sacerdote do Deus Altíssimo.

A sua limitação intelectual chega a ser anedótica! Não sei a veracidade da história, mas conta-se que o santo, certa feita, confrontado com um seu superior que o tentava dissuadir do sacerdócio argumentando exatamente que a inteligência refinada (que tanto faltava ao santo!) era necessária ao ofício de pastoreio das almas, respondeu singelamente: “Davi, com uma atiradeira feita da mandíbula de um burro, derrubou o gigante Golias; imagine o que Deus não poderá fazer tendo nas mãos o burro inteiro?”. De onde se vê que, ao santo, embora talvez faltasse alguma habilidade mais específica exigida para os estudos acadêmicos, não lhe faltava sabedoria ou bom humor.

“Que grandioso dom é o sacerdócio”! Talvez o santo cura d’Ars percebesse-o melhor que os outros padres, porque para ele – devido à sua história – o aspecto do dom estava muito mais evidente do que o de mérito. Mas todo sacerdócio é um dom, ainda para o aluno laureado nos estudos do seminário, porque o sacerdócio é tão grandioso que ultrapassa infinitamente quaisquer méritos que os homens pudessem ter. Não, o sacerdócio não é a recompensa dos anos de estudos no seminário como um – digamos – diploma de medicina é a recompensa pelos anos de dedicação integral na faculdade. O sacerdócio é mais, muito mais: os efeitos são desproporcionais às (supostas) causas. De um médico pode-se dizer que é o que estudou na faculdade, e o mesmo de um engenheiro, um arquiteto, um jornalista; mas a santidade de um padre santo não encontra a sua causa nos estudos do seminário, por melhor aluno que ele tenha sido, por melhor o lugar onde ele tenha estudado. Olhe-se para o santo cura d’Ars! É de Deus que vem a santidade do sacerdócio. É um dom, um dom grandioso, com o qual Deus, pela Providência, agracia alguns dos Seus filhos.

Rezemos pelos sacerdotes! Para que sejam padres conforme São João Maria Vianney. Para que reconheçam quão grandioso é o dom do sacerdócio que do Altíssimo receberam e pelo qual terão um dia que prestar contas. Para que deixem a santidade vir de Deus, do alto, e não brotar dos próprios esforços humanos. Para que sejam santos, honrando a dignidade da vocação à qual foram elevados. Para que Deus nos conceda sempre sacerdotes bons e fiéis para cuidar do Seu povo.