Os votos que fazem a diferença

Faltando pouco menos de uma dezena de horas para o início do segundo turno, escrevo cansado. Muita coisa foi feita ao longo dos últimos meses. Muitos combates foram travados. Inimagináveis vitórias foram alcançadas. Terríveis traições vieram a lume. Importantes manifestações foram proferidas. Entre desânimos e esperanças, entre as dores de consciência e a prostração exausta ante a realidade inexorável, chegamos aqui. Ao último dia antes do pleito.

Não existe mais nada a ser discutido. Não há mais tempo, e estamos exaustos. Mas importa saber onde foi que chegamos: quais os frutos dos meses de trabalho intenso, de orações intensas. Eis a previsão para amanhã:

Não sei quem é este cara e nem de onde ele tira os números dele. Sei que ele twittou isto aqui, no dia 02 de outubro passado (véspera do primeiro turno), e acertou em cheio os três percentuais (Dilma, Serra e Marina) do dia seguinte – feito que nenhum dos institutos de pesquisa tradicionais conseguiu obter.

Ao contrário do que dizem as pesquisas, estas eleições não estão definidas. E a margem é mínima, tão assustadoramente pequena que cada voto individual faz, sim, diferença. O Peruzzo diz que o que vai definir este pleito são as abstenções, e isto é bizarro.

Tenho visto gente deixando de viajar no feriado para votar. Gente, ao contrário, pegando avião para votar. Gente que não ia votar mudando de idéia na última hora. Tenho visto de tudo, e tamanha mobilização assusta.

Faço coro ao professor de Curitiba: “acredite, nada está definido”. Assim, pelos motivos que já expus aqui, vou votar amanhã. Com uma angustiante sensação – pela primeira vez nos meus vinte e tantos anos – de que isso realmente faz diferença.

Como eu já disse, amanhã celebramos a festa de Cristo Rei no Calendário Tradicional. Que Ele possa reinar nesta pátria que é d’Ele. Que a Virgem Aparecida tenha compaixão desta Terra de Santa Cruz e, aconteça o que acontecer nas urnas, salve o Brasil. Da intercessão d’Ela dependemos, à Sua proteção é que recorremos neste momento difícil.

Declaração de voto

Isto significa também que em determinadas ocasiões, os pastores devem mesmo lembrar a todos os cidadãos o direito, que é também um dever, de usar livremente o próprio voto para a promoção do bem comum (cf. GS, 75).
– Bento XVI

Como eu já tive a oportunidade de dizer outras vezes aqui, estas eleições estão sendo um momento histórico para o Brasil. Pela primeira vez, os temas morais inegociáveis – como o aborto – foram trazido à luz do dia e discutidos publicamente. Pela primeira vez, a máscara de bom-mocismo do Partido dos Trabalhadores foi arrancada publicamente, pondo a descoberto a face assassina e totalitária do partido que, infelizmente, hoje se encontra no governo desta Terra de Santa Cruz. Pela primeira vez, corajosos membros do clero levantaram a sua voz claramente contra o projeto imoral e anti-cristão do PT, cumprindo com o seu “grave dever” de orientar os fiéis católicos sobre as questões políticas prementes com relação às quais estes, por tanto tempo, foram mantidos em ignorância. Pela primeira vez, os maus católicos colocaram as garras de fora e mostraram que cerram fileiras com os inimigos da Igreja, ao invés de cerrá-las com Cristo.

E, pela primeira vez, Bento XVI falou. As palavras do Vigário de Cristo foram claras, e dirigidas especificamente para o Brasil. É importante defender as raízes cristãs desta Terra de Santa Cruz. É importante oferecer resistência pública – sem temer qualquer impopularidade! – às ameaças à vida humana, mormente a mais indefesa. É dever dos bispos católicos orientarem os seus fiéis neste sentido, também em questões políticas concretas, sempre que temas como a defesa do aborto estiverem contemplados entre as propostas dos candidatos e partidos. E é importante exercer o próprio voto para a promoção do bem comum.

Nós já ganhamos muita coisa nestas eleições. A oposição ao PT – a verdadeira, não estou falando dos bananas do PSDB – saiu fortalecida, e o Partido percebeu que existem pessoas dispostas a resistirem às suas iniqüidades. Os temas morais vieram à luz do dia, e a sanha abortista do PT foi posta a descoberto; a tal ponto que a sra. Rousseff precisou mentir descarada e repetidamente em público para tentar estancar a sangria das suas intenções de voto. E a Igreja no Brasil – graças a Deus! – dividiu-se, deixando manifesto que há bispos servindo a Deus e, outros, servindo a interesses partidários. E o Papa tomou claro partido em favor dos primeiros.

Já ganhamos muita coisa, repito. Mas o momento é histórico, e há ainda um outro feito histórico a ser realizado, para coroar estas eleições presidenciais. Há a necessidade de derrotar nas urnas a candidata petista. Há necessidade de consolidar a “Operação Dilma, não!”, de modo público, de forma material, da maneira como eles entendem. Para fechar com chave de ouro o momento que estamos vivendo.

Não é, absolutamente, pelo governo do PSDB. Todos sabemos que o José Serra é um candidato que não merece o voto católico – isto, não está em discussão. Mas importa ir às urnas no próximo dia 31, não porque o Serra o mereça, mas porque o momento assim o exige.

Para mostrar aos criminosos que se apossaram do Brasil que, nesta Terra de Santa Cruz, ainda há filhos seus que não fogem à luta. E isto precisa ser feito também da única maneira que eles entendem: nas urnas. Para calar a boca de toda a petralhada que, ao longo dos últimos anos (e de modo violentíssimo nos últimos meses), debochou e escarneceu dos homens de bem deste nosso Brasil. Para atender ao pedido do Papa Bento XVI, que chamou os católicos brasileiros a exercerem o seu voto visando à promoção do bem comum.

Para vencermos esta batalha da Contra-Revolução, que sem dúvidas não se resume à derrota da candidata petista mas tem, nela, um marco de inegável importância. O processo foi iniciado, e importa ganharmos terreno tanto quanto for possível e tão rápido quanto pudermos, porque temos muita coisa ainda por fazer.

Para vir em defesa de Dom Luiz Bergonzini e os bispos da CNBB Sul 1 – e de tantos outros prelados! – que tiveram a coragem de se expôr para pedir aos católicos e a todos os homens de bem que não apóiem com o seu voto a corja que hoje se encontra no Governo. Eles foram perseguidos e debochados, foram escarnecidos e inclusive acionados judicialmente, sofreram pressão da sociedade, dos católicos e dos próprios irmãos no episcopado. Importa mostrar que estamos ao lado deles também contribuindo para que se materializem, nas urnas, os frutos dos seus pedidos.

Não me arrependo de não ter escrito esta declaração de voto antes. Lamento, sim, não ter podido fazê-la antes. Mas as circunstâncias mudaram… Próximo domingo, eu vou votar no Serra. Faço-o constrangido, inclusive contra a minha vontade particular, mais para atender a uma necessidade imperiosa do atual momento político brasileiro do que para qualquer outra coisa. Sinceramente, eu – e imagino que todos os brasileiros insatisfeitos com o PT e com a sra. Rousseff – esperávamos, do embate entre Satanás e Belzebu, que a ex-terrorista do PT saísse derrotada. Torcíamos por isso interiormente, mas sem querer tomar partido, para não termos envolvimento com a canalhice. Hoje posso dizer que, se é assim, importa votarmos positivamente naquele que, para além de qualquer discussão, apresenta-se como a única alternativa à perpetuação do PT no poder – coisa que nenhum de nós queremos. Neste momento, importam os votos individuais. Importa comparecer às urnas e oferecer algumas lágrimas ao Altíssimo pressionando duas teclas na Urna Eletrônica – eu bem sei como este sacrifício é doloroso! Mas importa fazê-lo.

O momento é tão propício que é impossível não o enxergar. Próximo domingo, dia das eleições, comemoramos o Dia de Cristo Rei no calendário tradicional. Quando Pio XI instituiu esta festa, em 1925, quis lembrar aos católicos o reinado de Cristo também nas sociedades: quis recordar, e testemunhar publicamente, que Nosso Senhor é Rei também das realidades temporais. No dia de Cristo Rei, hoje, no Brasil, somos chamados a ir às urnas não em defesa de um (inexistente, nas atuais situações) projeto político cristão, mas para atacar e destruir um projeto político que é clarissimamente anti-cristão. No dia de Cristo Rei, finquemos esta importante bandeira demarcando o avanço dos novos cruzados, dos que amam verdadeiramente a sua Pátria e não suportam mais vê-La escarnecida pela quadrilha que hoje se encontra no Governo. Façamos a nossa parte para termos uma data histórica ad perpetuam rei memoriam: façamos com que o dia de Cristo Rei em 2010 entre na história como o dia em que o PT foi expulso do governo desta Terra de Santa Cruz.

Não sei qual vai ser o resultado do pleito. Mas sei que, aconteça o que acontecer, que Deus nos ajude – vamos precisar. Do socorro d’Ele precisamos, e a Ele elevamos as nossas súplicas e preces. E a Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil, recomendamo-nos com tudo o que temos, com toda a nossa indigência e a nossa radical incapacidade de fazermos mais o que quer que seja. Que Ela possa ajudar o povo brasileiro de quem é Rainha e Padroeira. Nossa Senhora Aparecida, salvai o Brasil!

“The day after” – repercussões sobre o discurso do Papa

A repercussão do discurso de ontem de Sua Santidade foi realmente impressionante. Quando o Papa fala, todos escutam e todos comentam – os fiéis católicos, para serem dóceis à voz do seu pastor e, os inimigos da Igreja, para deixarem cair as máscaras e revelarem quem são realmente. Mas a voz de Cristo ressoada na voz de Pedro repercute no mundo inteiro. Provoca o regozijo dos bons, ao mesmo tempo em que faz os maus estrebucharem.

O Wagner Moura registrou algumas das muitas coisas que, ao longo do dia de ontem, foram ditas sobre Sua Santidade. E, como ele mesmo diz, é pouco; muito mais poderia ser citado. Em particular, vale a pena mencionar também a matéria do El País, lamentando que Bento XVI tenha entrado nas eleições brasileiras. Mas o conhecido jornal espanhol não é o único caso em que podemos ver a peçonha escorrendo pelo canto da boca. Aqui no nosso Brasil, o Everth já ontem notava que os petistas reagiram com violência ao discurso do Papa. E, sobre isso, o trabalho feito no Twitter foi tão bem feito, mas tão bem feito, que não deixa possibilidade de dúvidas sobre quem são as pessoas que estão contra Sua Santidade.

Sob a pitoresca hashtag “pérolas da turba”, foram reunidas algumas das manifestações indignadas e violentas dos opositores do Papa. Naveguem por lá, tem bastante coisa. É agressivo e muitas vezes chulo, mas é importante que seja conhecido – para que saibamos com que tipo de gente estamos lidando. Colho alguns exemplares ao acaso, apenas para fins de exemplificação (e registro, porque parece que, infelizmente, o Twitter só mantém as últimas 24 horas):

  • Até qndo religião vai ser motivo cego pra votarem. Votem por ideais! Igreja na política ñ dá! Bento XVI idade média acabou
  • Bento XVI se intrometendo na nossa Política, não têm mais o quê fazer não? Assume que Gay logo, enrustido!
  • Pq algumas pessoas acham q o papa deveria ter relevância na eleição? Cadê o estado laico?
  • Bento XVI,ex-membro da juventude hitlerista e hoje Papa no TT.Tudo por uma tentativa de ingerência na eleição do Brasil
  • Pq o Bento XVI não investiga os casos de pedofilia dentro da igreja? Vem querer discutir politica no Brasil.. ah vá…
  • Nós mulheres devemos ser escravas de posicionamento religioso dentro do Estado LAICO?! [CENSURADO], Bento XVI

Estas são as pessoas que estão contra o Papa Bento XVI e a favor da candidata petista! E olhe que o Papa não citou nomes de candidatos, não citou partidos políticos, não citou nem mesmo as eleições de domingo próximo. A carapuça, no entanto, foi rapidamente vestida pelos militantes do PT. Eles confessam, assim, a própria política de desrespeito à dignidade humana (da qual o aborto é notável expoente) condenada pelo Papa. A sua agressividade histérica revela quem eles são.

Mas, enquanto os cães ladram, a caravana passa: Bento XVI ganhou hoje manchete (pelo menos) nas versões impressas d’O Globo, da Folha de São Paulo e da Gazeta do Povo (de novo; aliás, sobre a excelente cobertura que o jornal está fazendo do caso – foi quem deu o furo, antecipando na sua manchete de ontem a notícia que, hoje, está nas capas de todos os jornais… -, não deixem de ler este artigo). Pedro fala, e o mundo escuta! O Coturno Noturno fala que os institutos serão salvos pelo Papa… Não deixem de navegar também pelos outros textos do blog do coronel. E intensifiquemos as nossas orações pela salvação do Brasil; alguém tem ainda alguma mínima dúvida de que as nossas preces estão sendo ouvidas?

Ontem foi um grande dia. Um dia sem dúvidas histórico. Demos graças a Deus. E obrigado, Santo Padre!

O “grave dever” dos bispos de orientarem os fiéis também em questões políticas – discurso de Bento XVI aos bispos da Regional Nordeste 5

Porém, sempre lhe deve ser permitido [à Igreja] pregar com verdadeira liberdade a fé; ensinar a sua doutrina acerca da sociedade; exercer sem entraves a própria missão entre os homens; e pronunciar o seu juízo moral mesmo acerca das realidades políticas, sempre que os direitos fundamentais da pessoa ou a salvação das almas o exigirem (Gaudium et Spes, 76).

A comunidade política e a Igreja não se confundem, porque ambas têm fins próprios e distintos e têm em si os meios necessários para alcançar estes fins: o Estado serve para cuidar da ordem temporal e, a Igreja, da ordem espiritual. O Estado existe para servir à sociedade e, a Igreja, para levar os homens ao Céu. Nas palavras da Gaudium et Spes, “[n]o domínio próprio de cada uma, comunidade política e Igreja são independentes e autónomas” (id. ibid.). Esta é a boa doutrina católica.

No entanto, embora não se confundam, Estado e Igreja também não são duas realidades completamente distintas, sem nenhum ponto de intersecção entre elas: afinal, os homens que fazem parte da sociedade são os exatos mesmos homens que a Igreja tem a missão de guiar neste mundo. Os domínios temporal e espiritual são distintos, mas o homem faz parte de ambos. É na realidade humana, portanto, que Fé e Política se tocam. A política tem o dever de facilitar ao homem o cumprimento de sua vocação sobrenatural. Em contrapartida, a Fé tem também o dever de defender a dignidade humana inclusive nos seus aspectos temporais, quando esta é ameaçada. Esta, repito, é a boa doutrina católica.

Têm, portanto, os pastores – os bispos! – o dever de emitir juízos morais também sobre as realidades políticas, quando as circunstâncias assim o exigirem. E foi isso que o Papa recordou hoje, em discurso aos bispos brasileiros do Regional Nordeste 5 da CNBB. O discurso de Pedro veio corroborar aquilo que alguns prelados corajosos fizeram no Brasil ao longo dos últimos meses: denunciar as mazelas morais do Partido dos Trabalhadores, bem como a intrínseca e radical incompatibilidade entre o programa político deste partido e a dignidade da pessoa humana e, portanto, a proibição moral de que se apóie tal partido com o próprio voto.

Os bispos têm não apenas o direito, mas também o dever, de emitir juízos morais sobre as realidades políticas – é o Papa quem o diz com todas as letras! E quantos prelados no Brasil cumpriram com este “grave dever”? Quantos outros, ao contrário, preferiram silenciar, ou confundir os fiéis com declarações contrárias à realidade dos fatos, ou ainda – pior! – tentaram calar as vozes proféticas que se levantaram em defesa da dignidade humana ameaçada pelas políticas imorais do partido que ora se encontra no Governo do Brasil? A estes, o Papa manda um (nada) sutil recado: tínheis um dever a cumprir, e não o fizestes. Calastes, quando devíeis levantar a vossa voz bem alto para defender a dignidade humana ameaçada. Silenciastes diante das iniqüidades de César.

E o Papa vai além, ao afirmar que não é possível falar em avanços sociais se os direitos básicos da pessoa humana são violados. Não são lícitos os projetos políticos, econômicos ou sociais – por mais justos que se apresentem – que não contemplem a radical defesa da vida humana da concepção à morte natural. A defesa do aborto, velada ou aberta, não pode ser aceita sob nenhuma justificativa, e é dever dos bispos dizer isso com toda a clareza possível, sem temer qualquer tipo de impopularidade ou oposição. É o Papa que fala aos bispos do Brasil, às vésperas do Segundo Turno das eleições presidenciais. É Bento XVI que vem em socorro dos bispos fiéis desta Terra de Santa Cruz, que não trocaram o múnus episcopal por conluios promíscuos com este mundo. E não se calaram, quando a situação exigiu que suas vozes se levantassem em defesa da vida humana ameaçada. Bento XVI hoje diz: eles só cumpriram com um seu dever.

Estamos às vésperas do pleito. Que as palavras do Doce Cristo na Terra possam encontrar eco nos corações de todos os brasileiros de bem. E que as luzes do Espírito Santo possam iluminar o entendimento dos eleitores do próximo dia 31: que eles entendam que certos valores são inegociáveis, e não podem ser aceitos sob nenhuma justificativa.

Segue abaixo, o discurso do Papa [p.s.: versão oficial na Rádio Vaticana]. Todos os grifos são meus. E que Nossa Senhora Aparecida salve o Brasil.

P.S.: Não deixe de ler também: Bento XVI defenderá hoje ação política da Igreja contra o aborto.

* * *

Amados Irmãos no Episcopado,

«Para vós, graça e paz da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo» (2 Cor 1, 2). Desejo antes de mais nada agradecer a Deus pelo vosso zelo e dedicação a Cristo e à sua Igreja que cresce no Regional Nordeste 5 [cinco]. Nos nossos encontros, pude ouvir, de viva voz, alguns dos problemas de caráter religioso e pastoral, além de humano e social, com que deveis medir-vos diariamente. O quadro geral tem as suas sombras, mas tem também sinais de esperança, como Dom Xavier Gilles acaba de referir na saudação que me dirigiu, dando livre curso aos sentimentos de todos vós e do vosso povo.

Como sabeis, nos sucessivos encontros com os diversos Regionais da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, tenho sublinhado diferentes âmbitos e respectivos agentes do multiforme serviço evangelizador e pastoral da Igreja na vossa grande Nação; hoje, gostaria de falar-vos de como a Igreja, na sua missão de fecundar e fermentar a sociedade humana com o Evangelho, ensina ao homem a sua dignidade de filho de Deus e a sua vocação à união com todos os homens, das quais decorrem as exigências da justiça e da paz social, conforme à sabedoria divina.

Entretanto, o dever imediato de trabalhar por uma ordem social justa é próprio dos fiéis leigos, que, como cidadãos livres e responsáveis, se empenham em contribuir para a reta configuração da vida social, no respeito da sua legítima autonomia e da ordem moral natural (cf. Deus caritas est, 29). O vosso dever como Bispos junto com o vosso clero é mediato, enquanto vos compete contribuir para a purificação da razão e o despertar das forças morais necessárias para a construção de uma sociedade justa e fraterna. Quando, porém, os direitos fundamentais da pessoa ou a salvação das almas o exigirem, os pastores têm o grave dever de emitir um juízo moral, mesmo em matérias políticas (cf. GS, 76).

Ao formular esses juízos, os pastores devem levar em conta o valor absoluto daqueles preceitos morais negativos que declaram moralmente inaceitável a escolha de uma determinada ação intrinsecamente incompatível com a dignidade da pessoa; tal escolha não pode ser resgatada pela bondade de qualquer fim, intenção, conseqüência ou circunstância. Portanto, seria totalmente falsa e ilusória qualquer defesa dos direitos humanos políticos, econômicos e sociais que não compreendesse a enérgica defesa do direito à vida desde a concepção até à morte natural (cf. Christifideles laici, 38). Além disso no quadro do empenho pelos mais fracos e os mais indefesos, quem é mais inerme que um nascituro ou um doente em estado vegetativo ou terminal? Quando os projetos políticos contemplam, aberta ou veladamente, a descriminalização do aborto ou da eutanásia, o ideal democrático – que só é verdadeiramente tal quando reconhece e tutela a dignidade de toda a pessoa humana – é atraiçoado nas suas bases (cf. Evangelium vitae, 74). Portanto, caros Irmãos no episcopado, ao defender a vida «não devemos temer a oposição e a impopularidade, recusando qualquer compromisso e ambigüidade que nos conformem com a mentalidade deste mundo» (ibidem, 82).

Além disso, para melhor ajudar os leigos a viverem o seu empenho cristão e sócio-político de um modo unitário e coerente, é «necessária — como vos disse em Aparecida — uma catequese social e uma adequada formação na doutrina social da Igreja, sendo muito útil para isso o “Compêndio da Doutrina Social da Igreja”» (Discurso inaugural da V conferência Geral do Episcopado Latino Americano e do Caribe, 3). Isto significa também que em determinadas ocasiões, os pastores devem mesmo lembrar a todos os cidadãos o direito, que é também um dever, de usar livremente o próprio voto para a promoção do bem comum (cf. GS, 75).

Neste ponto, política e fé se tocam. A fé tem, sem dúvida, a sua natureza específica de encontro com o Deus vivo que abre novos horizontes muito para além do âmbito próprio da razão. «Com efeito, sem a correção oferecida pela religião até a razão pode tornar-se vítima de ambigüidades, como acontece quando ela é manipulada pela ideologia, ou então aplicada de uma maneira parcial, sem ter em consideração plenamente a dignidade da pessoa humana» (Viagem Apostólica ao Reino Unido, Encontro com as autoridades civis, 17-IX-2010).

Só respeitando, promovendo e ensinando incansavelmente a natureza transcendente da pessoa humana é que uma sociedade pode ser construída. Assim, Deus deve «encontrar lugar também na esfera pública, nomeadamente nas dimensões cultural, social, econômica e particularmente política» (Caritas in veritate, 56). Por isso, amados Irmãos, uno a minha voz à vossa num vivo apelo a favor da educação religiosa, e mais concretamente do ensino confessional e plural da religião, na escola pública do Estado.

Queria ainda recordar que a presença de símbolos religiosos na vida pública é ao mesmo tempo lembrança da transcendência do homem e garantia do seu respeito. Eles têm um valor particular, no caso do Brasil, em que a religião católica é parte integral da sua história. Como não pensar neste momento na imagem de Jesus Cristo com os braços estendidos sobre a baia da Guanabara que representa a hospitalidade e o amor com que o Brasil sempre soube abrir seus braços a homens e mulheres perseguidos e necessitados provenientes de todo o mundo? Foi nessa presença de Jesus na vida brasileira, que eles se integraram harmonicamente na sociedade, contribuindo ao enriquecimento da cultura, ao crescimento econômico e ao espírito de solidariedade e liberdade

Amados Irmãos, confio à Mãe de Deus e nossa, invocada no Brasil sob o título de Nossa Senhora Aparecida, estes anseios da Igreja Católica na Terra de Santa Cruz e de todos os homens de boa vontade em defesa dos valores da vida humana e da sua transcendência, junto com as alegrias e esperanças, as tristezas e angústias dos homens e mulheres da província eclesiástica do Maranhão. A todos coloco sob a Sua materna proteção, e a vós e ao vosso povo concedo a minha Benção Apostólica.

Benedictus PP. XVI

O crime não compensa

Eu tive algumas alegrias ao final do primeiro turno das eleições. Além da fragorosa derrota da sra. Rousseff, alegrei-me também com alguns resultados das eleições minoritárias.

Por exemplo, alegrei-me ao saber que o Josenildo Sinesio não fora eleito aqui em Pernambuco. O sujeito que estava empenhado em acender uma vela para Deus e outra para o Diabo, dizendo-se católico e, ao mesmo tempo, incensando a sra. Rousseff, recebeu uma bonita resposta do povo pernambucano. Não dá para servir a Deus e ao Partido. Não tem mais bobo, não. Nem mesmo as desesperadas tentativas de véspera de eleição, com cartas da Obra de Maria e assinaturas de última hora do Compromisso pela Vida deram resultado. O auto-intitulado candidato “escolhido pela Igreja” não foi eleito, ad majorem Dei Gloriam, e que o Altíssimo seja louvado. Aliás, nem ele nem a Teresinha Nunes (a outra indicada pela carta mentirosa da Obra de Maria).

Havia me entristecido, entretanto, ao saber que o Gabriel Chalita conseguira a segunda maior votação para deputado em São Paulo. No entanto, vi no Wagner Moura (não deixem de ler) que também lá há motivos para alegria. Destaco:

  • O processo movido pelo Chalita contra a Comunidade Família de Deus foi extinto pelo TRE, sem nenhuma punição para a comunidade.
  • A máscara do Chalita caiu de vez e, agora, ele já está empenhado em agir como cabo eleitoral da candidata abortista do PT.
  • A Canção Nova, igualmente, foi desmascarada, e “sai[u] destas eleições desmoralizada e diminuida”, por conta do apoio dado a oportunistas traidores da Fé Católica (como o Chalita) ao lado da censura e punição a sacerdotes que ousam ter voz profética e denunciar as imoralidades do Governo atual (como o pe. José Augusto).
  • E, last but not least, pude comparar a diferença entre os votos do Chalita este ano e em eleições passadas. “Ele ganhou a eleição é verdade, como o segundo Deputado Federal mais votado do Estado de São Paulo com 540 mil votos. Mas é bom lembrarmos de que quando foi eleito vereador, chegou a mais de 1 milhão e duzentos mil votos. Números que mostram uma grande perda do seu patrimônio político. E muitos dos que o elegeram Deputado Estadual não votariam mais nele hoje”.

No mundo, com certeza nos depararemos com traidores. Mas é urgente que estes sejam desmascarados o quanto antes, para que as pessoas não sejam enganadas. Nem o Josenildo nem o Chalita são enganados, mas tentaram enganar muitas pessoas. Foram desmascarados. E perderam muito. Para provar que não dá para acender uma vela para Deus e outra para o Diabo. Que não dá para servir a dois senhores. Para provar, mais uma vez, que o crime não compensa.

Mitra de Guarulhos x TSE

Via O Possível e O Extraordinário: “Faça o download das 22 páginas de defesa da Mitra de Guarulhos, aqui”. Scanneado. Falando sobre a “veracidade do documento episcopal”, a “perseguição discriminatória da Igreja Católica Apostólica Romana” e citando ainda um extenso compêndio de fatos provando o abortismo do PT.

Assinado em 20 de outubro de 2010. O protocolo 37.080/2010 é do mesmo dia, às 11:54. Embora tenha uma anotação manual de “urgentíssimo” à capa, creio que ainda não tenha sido apreciado. Já a liminar determinando a apreensão dos panfletos, saiu com uma celeridade impressionante. Curioso, não?

A voz dos blogueiros católicos

A Sandra fez a gentileza de nos brindar com esta tradução de um interessante artigo do The Washington Post. Trata-se de uma matéria que foi veiculada na mídia secular, e não na religiosa; por isso mesmo tem alguns problemas, mas também algumas coisas muito interessantes.

Pareceu-me um pouco injusto o tom de todo o artigo, ao afirmar que os blogueiros estariam dizendo que “a  igreja não é suficientemente católica”. O problema não é este; na verdade, são – nas palavras dos próprios católicos citados na matéria – “as pessoas que são católicas e que não vivem a fé”. Ora, destes males o Brasil, infelizmente, não está pior servido do que os Estados Unidos da América.

Concordo muito facilmente com a necessidade de se manter a “caridade cristã online”. Analisando apenas a realidade tupiniquim, sou forçado a conceder: muitas vezes a caridade é negligenciada. Ao mesmo tempo, contudo, tendo a ser condescendente com os que assim procedem: eles estão denunciando lobos em pele de cordeiro que, mais que a caridade, falsificam a própria Fé. Em situações assim, é difícil manter a compostura. E, ainda: tomar o partido daqueles que traem a Fé por conta da falta de caridade dos que os denunciam é hipocrisia. A Fé precisa ser guardada. E, sem Fé, é impossível falar em Caridade. Não estou justificando os erros dos que se excedem; no entanto, isto não exime os que não guardam a Fé de suas faltas. Um erro na forma nem sempre significa um erro de conteúdo.

Mas o que é realmente interessante na matéria do The Washington Post é ver que este assunto está ultrapassando as fronteiras da Igreja e atingindo a mídia secular. Ou seja: os blogueiros católicos conseguiram realmente fazer barulho. A matéria dá um poderoso testemunho da importância da internet no início deste Terceiro Milênio. Esta nova Ágora, à parte tantos males que causou à sociedade moderna, pode apresentar isto em seu favor quando for julgada pelo Juiz da História: deu voz aos que não desistiram de anunciar a Fé. Permitiu que a Doce Mensagem do Evangelho chegasse a muitos, a despeito das traições de outros tantos. Ouso dizer: formou católicos.

Forjou almas católicas inflamadas de um santo zelo pelas coisas sagradas, mais preocupadas com a glória de Deus do que com qualquer outra coisa. Almas que descobriram a vitalidade eterna da Mensagem Cristã, tão antiga e tão nova, que possui já séculos e, no entanto, é ainda – e sempre! – atual. Almas que encontraram a Cristo.

De novo: não nego que haja problemas, nem tampouco que estes não devam ser corrigidos. Mas, ao lado destes, há muitos bons frutos. Parabéns aos que se esforçam por colocar os novos meios de comunicação social a serviço de Cristo e da Igreja! Que a Virgem Santíssima, Sedes Sapientiae, os proteja sempre. E aos pés d’Ela coloco – mais uma vez – o Deus lo Vult!, suplicando-Lhe misericórdia por minhas muitas faltas e pedindo-Lhe a imerecida honra de dar a minha contribuição, por ínfima que seja, para a exaltação da Santa Madre Igreja.

Avante, novos cruzados! Coragem, que ainda há muito por ser feito. Façamos bom uso do nosso tempo. Empreguemos bem os nossos talentos. Saibamos usar as ferramentas que o Altíssimo põe ao nosso alcance. Sempre com os olhos fitos n’Ele. Sempre ad majorem Dei Gloriam.

Dois curtas

De assuntos distintos, mas têm em comum o fato de serem ambos muito bons.

1. Entrevista de D. Luiz Bergonzini à VEJA. “O papel do bispo é orientar os seus fiéis sobre a verdade, sobre a justiça e sobre a moral. Ele deve apresentar a verdade e denunciar o erro. Foi o que fiz. Tenho todo o direito – e o dever – de agir do modo que agi. Não me arrependo de ter falado o que falei. Faria tudo de novo! Se surgir um candidato que seja contra os princípios morais, contra a dignidade humana e contra a liberdade de expressão, irei me levantar de novo”.

2. Lendas negras da Igreja. “A quem lhe ocorre perguntar-se, por exemplo, qual foi, na época do caso Galileu, a posição das universidades e outros organismos de relevância social em relação à hipótese copernicana? Quem lhe pede contas a atual magistratura pelas idéias e as condutas comuns dos juizes do século XVII? Ou, para ser ainda mais paradoxal, a quem lhe ocorre reprovar às autoridades políticas milanesas (prefeito, presidente da região) os delitos cometidos pelos Visconti e os Sforza?”