Bento XVI e a camisinha II: a cretinice dos meios de comunicação

Sou surpreendido por uma matéria do Gazeta Online que tem o seguinte singelo título: “Vaticano: todos podem usar preservativos para evitar HIV”. A chamada: “Usar preservativos é um mal menor que transmitir o vírus HIV para um parceiro sexual – mesmo que isso signifique que uma mulher evitou uma possível gravidez, disse o Vaticano”. Manchetes análogas podem ser encontradas mundo afora. Como é possível tão universal desinformação?

Recapitulemos. O Papa disse ser possível haver alguns casos em que “a utilização do preservativo [por um garoto de programa] possa ser um primeiro passo para a moralização”. O Papa não disse nem mesmo que estes “podem” usá-los! Daí me vem um jornal dizer que “todos podem usar preservativos”, e ainda afirma ser isto “segundo o Vaticano”?

O Papa não falou sobre o que os garotos de programa podem ou não fazer. Apenas constatou um fato: o prostituto que usa preservativos impõe, de algum modo, limites à sexualidade desregrada. Como o Taiguara escreveu na lista “Tradição Católica”:

O que entendi é que, no caso da prostituta que utiliza camisinha, a significação real do uso da camisinha é completamente diversa do “sexo livre” apregoado: o uso da camisinha pela prostituta tem para ela a finalidade de evitar o contágio da doença venérea ao parceiro; para isso, ela mesma se impõe um limite (que ela pensa ser um limite válido, pois acredita que a camisinha realmente barra o contágio) e, desta feita, o próprio condom, símbolo da liberação sexual, ganha no caso concreto a conotação de um limite, contraria o próprio sexo livre.

Isto não é uma autorização para se usar preservativos. A proposição “garotos de programa podem usar preservativos” simplesmente não se encontra no texto do Papa – este é um fato objetivo contra o qual é impossível tergiversar. De onde tirou então o jornal que “todos podem usar preservativos”?

O impressionante fenômeno só revela uma gigantesca contradição dos inimigos da Igreja. Se, por um lado, postulam que Ela deva ser ostracizada e banida da vida pública das sociedades civilizadas, por outro lado saúdam com ânimo e júbilo esta – alegada! – “mudança de posição” da Igreja sobre os preservativos. Aliás, desejam tanto que a Igreja “mude” de opinião que passam a projetar isso na maneira como fazem jornalismo, por meio de um wishful thinking tão forçado, mas tão forçado, que se transforma em falsificação intelectual pura e simples.

Publicado por

Jorge Ferraz (admin)

Católico Apostólico Romano, por graça de Deus e clemência da Virgem Santíssima; pecador miserável, a despeito dos muitos favores recebidos do Alto; filho de Deus e da Santa Madre Igreja, com desejo sincero de consumir a vida para a maior glória de Deus.

46 comentários em “Bento XVI e a camisinha II: a cretinice dos meios de comunicação”

  1. Sandro,

    [i]Isso que você diz é tão interessante e correto que São Tomás de Aquino ainda dá mais um motivo para nós… Será que Alexandre aceitará essas palavras do santo doutor?[/i]

    Só quero fazer um giro de perspectiva, para não parecer que comungo da hostilidade ao Alexandre. Eu não o conheço, não tenho nenhum motivo para subscrever a mesma crítica sua.

    E gostaria de acrescentar que eu citei o Catecismo, não São Tomás. O Catecismo, enquanto expressão do magistério ordinário da Igreja, é superior à autoridade de São Tomás. Só para o caso de haver alguma divergência :) Admiro e tenho o Santo Doutor na mais alta conta, segundo a mente da Igreja, mas sempre em mente que é a Igreja que julga São Tomás, e não ele que julga os Papas, Concílios e Catecismos. Só para não dar margem a duplas interpretações da nossa suposta concordância.

    Pax.

  2. Prezado Juliano, salve Maria.

    Talvez você não saiba, mas a própria Igreja diz que nós DEVEMOS seguir a doutrina de São Tomás de Aquino, em tudo compatível com a doutrina da Igreja Católica, em especial a Summa Teológica, sem no entando descartar as outras obras (daí aquilo que você escrever ser incorreto, pois faz parecer que pode haver divergência entre o catolicismo e o tomismo, e isso não existe porque a própria Igreja já afirmou que não existe). Veja:

    “(…) Nenhum Concílio celebrado posteriormente à santa morte deste Doutor deixou de utilizar sua doutrina. A experiência de tantos séculos põe de manifesto a verdade do que afirmava Nosso Predecessor João XXII: «(Santo Tomás) deu mais luz à Igreja que todos os demais Doutores: com seus livros um homem aproveita mais em um ano, que com a doutrina dos outros em toda sua vida» (6). São Pio V voltou a afirmar isto mesmo ao declarar Doutor da Igreja universal à Santo Tomás no dia de sua festa: «A providência de Deus onipotente tem querido que, desde que o Doutor Angélico foi incluído no elenco dos Santos, por meio da segurança e verdade de sua doutrina se fizeram desaparecer desarticuladas e confundidas muitas das heresias que surgiram, como se tem podido comprovar já de longo tempo e, recentemente, no Concílio de Trento; por isso estabelecemos que sua memória seja venerada com maior agradecimento e piedade que até agora, pois por seus méritos a terra inteira se vê continuamente livre de erros deletérios» (7) E, por fazer referência a outros elogios, entre muitos outros, que lhe tem dedicado Nossos Predecessores, trazemos a colação com prazer as de Bento XIV, cheias de elogios para todos os escritos de Santo Tomás, particularmente para a Summa Theologica: «Muitos Romanos Pontífices, predecessores Nossos, honraram sua doutrina (a de Santo Tomás), como Nós mesmos temos feito nos diferentes livros que temos escrito, depois de estudar e assimilar com afinco a doutrina do Doutor Angélico, e sempre Nos temos aderido com prazer a ela, confessando com toda sensatez que se há algo bom nesses livros, não se deve de nenhum modo aNós, senão que se há de atribuir ao Mestre» (8). Assim, pois «para que a genuína e íntegra doutrina de Santo Tomás floresça na instrução, no qual teremos grande empenho» e para que desapareça «a maneira de ensinar que tem como ponto de apoio a autoridade e o capricho de cada mestre» e que, por isso mesmo, «tem um fundamento instável, que dá origem a opiniões diversas e contraditórias… não sem grave dano para a ciência cristã» (9), queremos, mandamos e preceituamos que aqueles que consentem à instrução da sagrada teologia nas Universidades, Liceus, Colégios, Seminários, Institutos, que por indulto apostólico tenham a faculdade de conferir graus acadêmicos, utilizem como texto para suas lições a Summa Theologica de Santo Tomás, e que exponham as lições na língua latina; e deverão levar à cabo esta tarefa pondo interesse em que os ouvintes se afeiçoem à este estudo”.

    Fonte: http://doctorisangelici.blogspot.com/2008/03/motu-proprio-do-papa-so-pio-x.html

    Abraços,

    Sandro de Pontes

  3. Quando estão em causa questões de saúde e de defesa da vida, o uso do preservativo é admissível, apesar do ser um meio contraceptivo. Esta é a principal mensagem de Bento XVI.
    Ao reiterar que se referia à sua utilização do preservativo por uma prostituta ( e não apenas por um prostituto), o Vaticano admite pela primeira vez publicamente a utilização de MEIOS CONTRACEPTIVOS para impedir os riscos contra a vida e a saúde dos parceiros sexuais.
    Se esta indicação PASTORAL DO PRÓPRIO PAPA, é válida num contexto de prostituição, por maioria de razão (ética e doutrinária) será válida no contexto da conjugalidade católica, por exemplo, quando um dos conjuges está infectado e outro não.

    Se este comportamento é admissível e até RESPONSÁVEL, quando se trata de prevenir a SIDA ( e naturalmente outras doenças sexualmente transmissíveis) num contexto de sexualidade conjugal, terá de se considerar ser igualmente admissível este comportamento quando se trata de prevenir uma gravidez que possa pôr em risco a vida e saúde da mulher.

    Há muito que a questão teológica sobre a moralidade da utilização de contraceptivos foi ultrapassada, há muito que as orientações pastorais vão nesse sentido, há quatro décadas que os católicos fazem esta interpretação da Humanae Vitae ( Bispos, Padres , leigos e casais católicos).
    Pelo que esta tomada de posição pública do Papa É UMA MUDANÇA com uma importância pastoral enorme, ao reconhecer e legitimar as interpretações e orientações pastorais mais sensatas e progressistas, no sentido da admissibilidade do uso de um meio contraceptivo, com a finalidade de defender vida e saúde das pessoas.
    A publicação no Osservatore das “bombásticas” afirmações do Papa, precisamente no mesmo dia do Consistório Cardinalício não foi coincidência.

  4. “Quando estão em causa questões de saúde e de defesa da vida, o uso do preservativo é admissível, apesar do ser um meio contraceptivo.”

    Não se pode usar um meio ruim para atingir um fim bom. Que eu saiba isso é fundamental na moral católica.

  5. Ninguém aqui concordaria que matar os pobres seria uma solução para acabar com a pobreza, do mesmo modo, o preservativo não pode ser uma solução para acabar com a AIDS ou qualquer DST porque atenta contra o fim último do sexo.
    Alguém poderia dizer que a comparação é desproporcional, mas a analogia se dá em relação ao fato de estar se usando um meio mal para atingir um fim bom.

  6. Sandro,

    É verdade que a doutrina de São Tomás é muito superior, no seu conjunto, no seu modelo, na sua argumentação, enfim, a todas as outras filosofias e teologias não-tomistas dentro da Igreja. E é verdade também que a Igreja adotou na prática a doutrina do Santo Doutor como sua, mas não em princípio e sem ressalvas. É uma preferência da Igreja, mas não uma exclusividade, e o católico pode legitimamente seguir outra filosofia(1), desde que não ponha em dúvida alguns pontos essenciais, como a a genuinidade do conhecimento humano, os princípios da metafísica, a capacidade da mente de atingir a verdade certa e imutável, o princípio de causa e efeito, não-contradição, etc. Bento XVI mesmo não se declara tomista, bem como outros filósofos católicos como Dietrich von Hildebrand, por exemplo.

    Além do que, mesmo que a Igreja admitisse perfeita identidade entre a doutrina de São Tomás e a doutrina católica – o que ela não fez. Tenha em mente que, por exemplo, o dogma da Imaculada Conceição está negado na Summa Theologica -, haveria ainda o problema de interpretação. Ninguém garante que os tomistas sejam intérpretes fiéis de São Tomás. Aliás, há muitos bons filósofos que se baseiam fortemente em São Tomás, como Josef Pieper, que se recusam o título de tomistas.

    Mas o que eu queria ressaltar é que é a Igreja quem julga São Tomás, nunca o contrário. A autoridade foi dada aos Apóstolos e seus Sucessores, e não aos Doutores, por maiores que sejam. Portanto, é ilegítimo a um católico se apoiar no seu entendimento de São Tomás para se opor ao Magistério da Igreja, como se Mater e Magistra fosse o Santo, não a Esposa de Cristo.

    “E a uns pôs Deus na igreja, primeiramente apóstolos, em segundo lugar profetas, em terceiro doutores, depois milagres, depois dons de curar, socorros, governos, variedades de línguas.” (1Cor XII, 28)

    Pax.

    (1) cf. Paulo VI, Alocução no VI Congresso Tomista Internacional, 1966.

  7. bluesmile,

    Felizmente não se trata disso. O assunto já foi amplamente debatido em meios católicos sérios. O Papa mesmo esclareceu sua posição na pergunta imediatamente posterior do entrevistador, dizendo que a Igreja não admite ser o preservativo moral, bom ou justificável como meio de prevenção à AIDS. O que houve foi que a mídia resolveu distorcer um raciocínio sutil do Santo Padre e, infelizmente!, o L´Osservatore Romano resolveu justificar a mídia.

    []s

  8. Juliano, salve Maria.

    Você escreve, repetindo o engodo protestante:

    “(…) o dogma da Imaculada Conceição está negado na Summa Theologica”.

    Prezado amigo, NUNCA MAIS REPITA ISSO! São Tomás JAMAIS negou o dogma, ao contrário, o defendeu.
    Foram os protestantes quem inventaram isso, exatamente porque a Igreja Católica recomenda São Tomás em tudo. Daí que eles tinham que achar algo para desqualificar São Tomás. Entendeu?
    Por favor, não ofenda São Tomás, ainda que inconscientemente, atribuindo a ele algo que ele não fez. E mesmo que ele tivesse negado a imaculada conceição, como você diz, ele não teria negado nenhum dogma, pois tal assunto só foi definido séculos depois. E você acha que a Igreja iria indicar a Summa se lá tivesse uma heresia como esta?

    Abraços,

    Sandro de Pontes

  9. Sandro,

    Apesar de esse não ter sido o ponto da minha mensagem, mas algo que aludi de passagem, é algo no mínimo discutível. São Tomás certamente colocou as premissas para que o Dogma fosse esclarecido e proclamado no seu devido tempo, mas também conclui erroneamente a partir das mesmas premissas, defendendo a Imaculada Conceição no Comentário às Sentenças de Pedro Lombardo e negando-a na Suma Teológica. Quem diz não sou eu, mas a excelentíssima Catholic Encyclopedia: http://www.newadvent.org/cathen/07674d.htm .

    Então não é bem verdade que isso seja coisa de protestante ou de modernista. É uma conclusão possível mesmo dentre os mais fiéis defensores de São Tomás.

    Agora, o fato de ele não ter negado um dogma proclamado, é evidente, porque a proclamação só veio séculos depois. Mas é possível, sim, concluir daí que nem todas as argumentações do Doutor Comum sejam perfeitas e vinculantes aos católicos.

    A Igreja indicou a Summa, mesmo assim, sendo controverso o fato, porque a idéia não era propor um livro infalível, mas um altíssimo modelo. Infalível São Tomás não foi, porque não foi Papa.

    Abraços,

  10. Sandro Pontes escreveu:

    E mesmo que ele [São Tomás] tivesse negado a imaculada conceição, como você diz, ele não teria negado nenhum dogma, pois tal assunto só foi definido séculos depois. E você acha que a Igreja iria indicar a Summa se lá tivesse uma heresia como esta?

    Não entendi. Quer dizer que um dogma [religioso católico, solene] não é o reconhecimento de uma verdade eterna? Seria então ele uma “verdade criada/definida” pelo homem, em determinada data? Creio que não.

    Acredito ser o dogma uma verdade descoberta (por um aposta de fé), um elemento da Verdade, que é todo o conjunto (íntegro) de verdades existentes.

    Não é assim? É como, então?

    Juliano Cizotti escreveu:

    Agora, o fato de ele não ter negado um dogma proclamado, é evidente, porque a proclamação só veio séculos depois.

    Ainda não entendi. O raciocínio é que ele não negou o tal dogma por que ainda não se conhecia o referido dogma?

    PS.: pretendo responder sobre “legítima defesa” ainda, nem que seja para reconhecer erros. Precisei me afastar.

  11. Alexandre,

    Acredito ser o dogma uma verdade descoberta (por um aposta de fé), um elemento da Verdade, que é todo o conjunto (íntegro) de verdades existentes.

    Um dogma religioso é uma verdade colhida da Revelação Divina e proposto como tal ao assentimento dos fiéis pelo Magistério da Igreja. Pode se referir a verdades eternas em si mesmas, p.ex. a Trindade de Deus, ou a verdades eternas na mente divina mas que se realizaram no tempo, p.ex. a instituição da Ssma Eucaristia por Nosso Senhor. (Essa terminologia de “eterna” é minha, só uma maneira de me fazer entender.)

    Nesse sentido, portanto, nem toda verdade é um dogma, mas todo dogma é a exposição de uma verdade. Sei lá, o resultado da adição e da subtração mais elementar é absolutamente verdadeiro, mas nunca será dogmático, porque dogma se refere essencialmente àquelas verdades reveladas, que conduzem à união com Deus.

    Em um sentido lato, no entanto, pode-se falar dessas verdades como dogmáticas, no sentido de que são indiscutíveis, mas não no sentido religioso estrito. Chesterston fazia muito isso, por exemplo.

    Como os dogmas, strictu senso, são verdades geralmente inalcançáveis à inteligência humana, é possível que antes que ele tivesse sido individuado dentro da Tradição e proposto como tal, um santo não o houvesse aceitado por não ter conseguido ter feito esse trabalho que, aliás, não é de sua competência. Faltava-lhe o argumento último em favor do dogma, que é a sua proposição pelo Magistério da Igreja. Mas o dogma como verdade, como fato, como realidade, preexiste à definição e proposição, é claro. Só que não sendo ainda conhecido, não é vinculante à consciência absolutamente.

    Fui prolixo, mas espero ter-me feito entender. Qualquer coisa, pergunte.

    Abraços,

  12. Juliano, salve maria.

    Não, meu amigo, São Tomás nunca negou a imaculada conceição de Maria, ele não negava essa doutrina – antes, afirmava-a sim, só que de modo distinto daquele da escola dos teólogos que mais divulgava a questão da Imaculada Conceição na época medieval. Negava-se a aceitar a racionalidade de argumentações furadas em favor da Imaculada Conceição, mas não negava aceitar a Concepção Imaculada da Virgem Maria. O Doutor Comum tão-somente hesitou um pouco, nalguns textos escritos num período intermediário de sua vida, sem, no entanto, jamais negar frontalmente essa verdade. Antes do fim da vida, Santo Tomás abandonou sua hesitação por completo e defendeu, claramente, a verdade definida nesse dogma, isto é, que a Santíssima Virgem foi concebida sem pecado original.Garrigou-Lagrange diz que neste último período, a saber, de 1272 ou 1273, Santo Tomás, depois de madura reflexão e de sua profunda piedade mariana, afirmou claramente o que anteriormente não havia negado, mas ponderado. Existe um trabalho muito bom que mostra isso claramente, escrito por Paulo Faitanin:

    http://www.aquinate.net/revista/edicao%20atual/Artigos-pdf/Artigos-6-edicao/Artigo%204-Faitanin.pdf

    E dentre os tomistas vários ensinam que São Tomás jamais negou a imaculada conceição. Por fim, deixo um trecho do valente padre Meramo, abordando esta questão:

    “No basta para tener razón, proclamar Inmaculada la Concepción de la Santísima Virgen, hay que proclamarla Inmaculada como ella es; como la Iglesia ha definido que Dios la hizo, y no como Dios pudiera haberlo hecho.

    Todo el cuidado del Angélico, siempre y en todos los lugares de sus obras en que toca este punto de la santificación de la Virgen, consiste en trazar una linea divisoria entre la concepción de Cristo y la de toda otra creatura, incluyendo la concepción de la Virgen entre la fila de los descendientes de Adán pecador, y por ende en la fila de los que tienen necesidad absoluta de ser redimidos de la culpa original por la gracia de Nuestro Señor Jesucristo y en virtud de sus méritos y de su sacratísima Pasión y Muerte, no obstante la Inmaculada Concepción de la Beatísima Virgen María.

    Por un especial privilegio la Virgen fue pura y sin pecado original, nos dice Santo Tomás. Más aquí está el punto difícil de la controversia, porque todos los teólogos hablan de ese privilegio, pero no todos lo entienden ni lo explican de la misma manera; y de la manera de entenderlo y de explicarlo depende el que se deje, a salvo la verdad de otro dogma de fe Católica: que todos necesitamos ser redimidos por Jesucristo, que es Redentor Universal de todos los descendientes de Adán, sin excepción alguna.

    Nuestro intento es el de saber cuál es la Inmaculada Concepción, es la que rechaza Santo Tomás. Lo cual ha inducido a error a más de un buen teólogo, al punto de pensar que Santo Tomás (el Angélico doctor) negaba por error pura y simplemente la Inmaculada Concepción, sin advertir el meollo de la cuestión disputada.”

    Fonte: http://www.meramo.net/AmigosdeMeramo/Castellano_files/santoylain.pdf

    Por favor, Juliano, nunca mais diga que São Tomás negou a imaculada conceição.

    Que a Virgem Santíssima nos ilumine e fortaleça!

    Sandro de Pontes

  13. Sandro,

    Antes de tudo, obrigado pelo texto. Lerei com atenção antes de dar minhas considerações finais sobre o assunto.

    Abraço,

  14. Sandro, Juliano,

    Eu li “A Doutrina da Concepção de Maria Segundo Tomás de Aquino“, de Paulo Faitanin – Universidade Federal Fluminense -, agora, depois de acordar. Muito rapidamente, é verdade. E fiquei com uma impressão fortíssima de que São Tomás chegou a “explicar” o dogma melhor do que qualquer outro; ou que pelo menos seu esforço chegou a um resultado melhor do que o resultado de qualquer outro esforço (de explicação daquele dogma).

    Tal impressão remete ao que está expresso no seguinte parágrafo que é encontrado no artigo de Faitanin:

    Ora, admitida a distinção de instantes entre a geração e a animação, seria incoerente que admitisse simultaneamente a santificação da alma, sem supor um outro instante em que se desse a contração do pecado original, pois seria admitir que num mesmo instante a alma fosse e não fosse manchada, fosse e não fosse santificada, o que é contraditório. Faz-se necessário, neste caso, admitir, ao menos, três instantes distintos: um da geração (fusão do material herdado dos pais), um da animação (momento da criação e infusão da alma no corpo) e outro da santificação (momento em que a alma é purificada do pecado pela graça).

    Para o entendimento, convém ser ler todo o artigo, é claro.

    Eu sei também que esses são assuntos muito complexos, envolvendo muitas discussões.

    Em contrapartida, a explicação de Tomás talvez deixe um pouco confuso o nome Imaculada Conceição, para o que eu penso que seja o entedimento atual de “conceição”: concepção (?). Ou seria esse entendimento comum de hoje reduzido…

  15. Alexandre,

    Mas é exatamente esse parágrafo que você citou que não é a explicação correta do dogma. A santificação de Maria Ssma não ocorreu após sua animação (que na época, era entendida como posterior à geração física). Ocorreu no exato instante da animação. Nunca houve pecado original, do qual ela foi preservada.

    O artigo diz exatamente o que eu disse: que a Suma Teológica explica diferentemente o dogma definido por Pio IX, porque admite que a Virgem foi santificada depois de “animada” (diríamos hoje, concebida). Apesar de todos seus esforços, o Santo Doutor não conseguiu na Suma superar as dificuldades impostas pela sua aceitação da biologia aristotélica. Ele colocou os fundamentos para a definição e esclarecimento do dogma, mas não o entendeu perfeitamente como foi definido, embora nos pontos essenciais sim.

    [Sandro,]

    Se depois, no fim da vida, existem textos dele afirmando categoricamente que Maria Ssma foi preservada do pecado original, não é exatamente a conclusão da Suma. Portanto, a Suma não é perfeita em todos seus argumentos, e foi isso que eu pretendi dizer. Eu gosto de pensar São Tomás como um tapete persa: Deus tinha que permitir alguma imprecisão para que ele não fosse identificado absolutamente com a divina sabedoria :)

    O que eu queria chamar a atenção é que não se é obrigado a ser tomista strictu sensu: é só lembrar de muitos pontos de discussão, tais como a predestinação, em que a Igreja permite a seus filhos defender posições opostas à tomista – desde que não ofendam nenhum dogma -, e que inclusive proíbe que os tomistas acusem a estes de hereges.

    O ponto é: a teologia é o esforço da razão humana em conciliar os dados apresentados pela Revelação. Ora, é possível tentar essa conciliação de diferentes maneiras sem negar nenhum dogma. As escolas não-tomistas ortodoxas existem como testemunho dessa pluralidade de explicações. A proposição de S. Tomás como Doutor Comum não implica que ele tenha todas as respostas, mas atesta que ele alcançou um grau de sabedoria que não foi excedido por nenhum outro e que deve ser levado maximamente em consideração, mas não “divinizado”.

    Abraços,

  16. Feita essa distinção teórica, mas essencial, entre magistérios dos Doutores – mesmo do Máximo Doutor – e o magistério da Igreja, devo dizer que eu também tomo São Tomás, na prática, como perfeito expositor da doutrina católica. São Tomás é meu tapete persa.

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