Ad Te levavi animam Meam, Domine!

Ad Te levavi animam meam; Deus meus, in Te confido, non erubescam: neque irrideant me inimici mei: etenim universi, qui Te exspectant, non confundentur. Assim começa a Liturgia de hoje, primeiro domigo do Advento. Para a Igreja, um novo ano se inicia; o ano litúrgico começa antes do ano secular.

É comum que algumas pessoas façam propósitos de ano-novo: estabelecer metas para o ano que se inicia, listar marcos a serem alcançados e pontos a serem melhorados. Naturalmente, todos nós, cristãos, temos todos os dias muitas coisas a serem feitas, muitas virtudes a serem exercitadas e muitos vícios a serem expurgados. Não há justificativa para que esperemos o final do ano para revermos a nossa vida e esforçarmo-nos por melhorá-la: este é um trabalho de cada dia. Deus, no entanto, é misericordioso conosco, e a Igreja reconhece a importância que tem o passar do tempo na vida humana. O Advento (junto com a Quaresma) é um tempo de conversão. De mudar velhos hábitos. De preparar-se para o Messias que vem.

Importa aproveitar o tempo favorável: esta prédica encontra-se em todos os pregadores da Igreja. Se temos necessidade diária de conversão (como de fato o temos), nada justifica que não nos esforcemos por alcançá-la hoje, quando a Liturgia insiste particularmente no brado de “convertei-vos”. A Liturgia da Igreja, como sempre, vem em auxílio às nossas necessidades. Se desperdiçamos o nosso tempo, se não nos empenhamos como deveríamos na salvação da nossa própria alma, eis que Deus nos concede um tempo propício para meditarmos nestes assuntos e nos prepararmos para a vinda do Messias. Não é da Liturgia de hoje, mas a passagem é bem significativa deste tempo litúrgico que estamos vivendo: o machado já está posto à raiz das árvores, e toda aquela que não der bom fruto será cortada e lançada ao fogo. Esta metáfora pode ser encarada sob dois pontos de vista.

O primeiro, e mais evidente, é a santa admoestação para que nos esforcemos por dar bons frutos, pois não queremos – Deus nos livre disso! – ser cortados e lançados fora. Mas o segundo é (como dizia o sacerdote na homilia que ouvi hoje pela manhã) a necessidade de lançarmos o ferro às raízes das árvores dos nossos vícios, para cortá-las de uma vez por todas e lançá-las para distante de nós. Se nos jardins da nossa alma, por tantas vezes, cultivamos com esmero e por tanto tempo árvores daninhas, este é o momento de termos a coragem de golpeá-las com o machado. Na raiz: não simplesmente podando os galhos que, inevitavelmente, tornarão a crescer. Cortar o mal pela raiz é, insisto, uma obrigação nossa de cada dia, e não somente do tempo do Advento. Mas somos servos maus e preguiçosos, e eis que nos descuidamos e chegamos às vésperas do Aniversário do Divino Salvador com o jardim de nossa alma cheio de cardos, espinhos e abrolhos. Infelizes de nós! A misericórdia de Deus, no entanto, supera as nossas misérias. Deus vem ao nosso socorro e, neste Advento que estamos já vivendo, somos chamados a cuidar da nossa alma. Não simplesmente podar o jardim, não simplesmente passar um verniz que esconda a madeira carcomida pelos vermes: é tempo de conversão radical. Queira Deus nos dar a coragem necessária para arrancarmos completamente as más árvores que deixamos lançar raízes em nossos corações. É tempo, sim, de fazer propósitos – como até mesmo os que não são cristãos fazem no Ano-Novo! – e nos esforçarmos por cumpri-los. Propósitos ousados, como convém aos filhos de Deus. Propósitos que sabemos não sermos capazes de cumprir: propósitos que são pedidos a serem suplicados ao Altíssimo.

Porque – como diz o introito da Missa de hoje – é para Deus que elevamos a nossa alma. Se confiarmos n’Ele, não seremos envergonhados, e não zombarão de nós os nossos inimigos. Porque – esta é a promessa na qual nos podemos fiar – não serão confundidos os que esperam no Altíssimo. É n’Ele que está a nossa esperança, é com olhos fitos n’Ele que queremos, com a Sua graça, bem prepararmo-nos para a celebração do Natal do Senhor. Que Ele venha em nosso socorro e nos ajude. E que, durante este tempo santo concedido pela Igreja para que melhoremos a nossa vida, nós o saibamos aproveitar. Vinde, Senhor, não tardeis.

Publicado por

Jorge Ferraz (admin)

Católico Apostólico Romano, por graça de Deus e clemência da Virgem Santíssima; pecador miserável, a despeito dos muitos favores recebidos do Alto; filho de Deus e da Santa Madre Igreja, com desejo sincero de consumir a vida para a maior glória de Deus.

2 comentários em “Ad Te levavi animam Meam, Domine!”

  1. Deus, de fato, nos dá tempo porque é misericordioso! Dá-nos tempo para nos convertermos e arrependermo-nos dos nossos pecados! Por outro lado, penso também que Deus nos castiga pelo mal que fazemos! É claro que não porque seja mau, mas porque é bom e quer o nosso bem e, como diz São Paulo, porque nos castiga como um pai que quer o nosso bem. Penso que nós que já tenhos alguma idade, temos perdido muito tempo e talvez até pecado demais durante esse tempo passado e que os sofrimentos do tempo presente sejam castigo de Deus que nos dá a oportunidade de nos convertermos. E isso também mostra como Deus é misericordioso!

  2. Mais umas observações: O castigo de Deus pelos nossos pecados é pedagógico, é para o nosso bem!
    Deus não permitiria um mal se não pudesse tirar dele um bem ainda maior – como ensina Santo Agostinho e São Tomás de Aquino.

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