O que a criminologia tem a dizer sobre os abusos sexuais de [crianças e] adolescentes por sacerdotes americanos?

A notícia é da semana passada, mas eu só li ontem e é muito importante: trata-se de uma investigação levada a cabo nos Estados Unidos pelo John Jay College of Criminal Justice sobre os casos de abusos sexuais de menores. Vi a notícia de segunda mão aqui; dentre as informações mais relevantes, vale destacar:

“Dos cerca de 6 mil padres acusados de abuso ao longo da metade do século passado (cerca de 5% do número total de padres que que serviram durante esse período), menos de 4% podem ser considerados pedófilos, assinala o relatório – isto é, homens que se aproveitaram de crianças”.

“Do mesmo modo, o celibato permaneceu uma constante ao longo dos picos e vales das taxas de abuso, e os padres podem ser menos propensos a abusar de crianças hoje em dia do que os homens de profissões similares”.

Portanto, nem os padres são em geral molestadores de crianças e nem os molestadores de crianças em geral são padres. E, mais ainda, a maior parte – a esmagadora maior parte – dos casos de abusos sexuais cometidos por membros do clero não é de pedofilia. E, também, o celibato não torna ninguém mais propenso a abusar de crianças. Ou seja: tudo o que nós sempre dissemos contra os espantalhos grotescos pintados pelos anti-clericais de todos os naipes. Mas, aqui, estamos falando de conclusões obtidas por uma instituição de criminologia respeitada mundialmente. E sobre os abusos cometidos nos Estados Unidos – país que se tornou tristemente emblemático do problema.

Mas há na reportagem uma coisa, uma única coisa, que não me parece bater. Trata-se do seguinte parágrafo:

[O]s pesquisadores não encontraram evidências estatísticas de que os padres gays eram mais propensos do que os padres heterossexuais ao abuso de menores (…). O número desproporcional de vítimas adolescentes do sexo masculino tem a ver com a oportunidade, não com uma preferência ou com uma patologia, afirma o relatório.

E eu, sinceramente, acho isso muito estranho. “Oportunidade” e não preferência?! Alguém aqui consegue imaginar um homem heterossexual que se relacione desproporcionalmente com outros homens e, depois, venha dizer que não é questão de preferência, mas de “oportunidade”? Ou um homem gay que, por “oportunidade”, relaciona-se mais com mulheres do que com outros homens…?

Vamos às fontes. O relatório original (150 páginas) está aqui. Os gráficos a seguir foram retirados dele.

 

Abusos sexuais por ano de ocorrência

 

Vítimas, por idade e gênero

 

Sacerdotes acusados, por tipo de acusação

Eu ainda não tive tempo para lê-lo inteiro, mas algumas coisas saltam aos olhos. Chamar de “desproporcional” o número de vítimas do sexo masculino é pouco: estamos falando de um número (na faixa dos 11-14 anos) quase seis vezes maior! E isto se explica por… “oportunidade”? Não consigo alcançar o porquê de semelhante afirmação; não vejo no quê ela possa se basear. Talvez haja no relatório algo que me escapou à primeira (e apressada) vista. Ou, talvez, o problema esteja na reportagem mesmo.

Publicado por

Jorge Ferraz (admin)

Católico Apostólico Romano, por graça de Deus e clemência da Virgem Santíssima; pecador miserável, a despeito dos muitos favores recebidos do Alto; filho de Deus e da Santa Madre Igreja, com desejo sincero de consumir a vida para a maior glória de Deus.

41 comentários em “O que a criminologia tem a dizer sobre os abusos sexuais de [crianças e] adolescentes por sacerdotes americanos?”

  1. Tem uma outra estatística interessante nesses números. Não sei se você percebeu. Logo no começo está escrito que houve 6000 acusações de abuso sexual por parte de padres, um número correspondente a 5% do número de padres existente nesse período.
    Considerando que não tenha havido subnotificação dessas acusações e nem acordos extrajudiciais (e todos sabemos que houve muito de ambos), não é estranho que 1 em cada 20 padres seja um paulatino violador do voto de castidade através de violência?
    Se incluirmos os casos que citei e mais os casos em que houve sexo consensual, chegaremos a que alarmante porcentagem?
    Será que isso não demonstra que esse “estatuto” (estatuto, pois não há justificativa teológica) católico do celibato é completamente anti-natural, anti-fisiológico e claramente não-cumprido?
    Por que não abandoná-lo? Só por amor à tradição?

  2. E eu, sinceramente, acho isso muito estranho. “Oportunidade” e não preferência?! Alguém aqui consegue imaginar um homem heterossexual que se relacione desproporcionalmente com outros homens e, depois, venha dizer que não é questão de preferência, mas de “oportunidade”? Ou um homem gay que, por “oportunidade”, relaciona-se mais com mulheres do que com outros homens…?

    acho que o que ele quis dizer é que se houvessem mais meninas de 11-14 nos ambientes frequentados pelos abusadores haveriam mais casos de abisos de meninas.

    sua lógica faz sentido num mundo em que homens/mulheres e homossexuais/heterossexuais existem em quantidades equivalentes. mas a vida real não é assim.

    homens homossexuais em meios altamente heterossexuais acabam casando e tendo filhos, ou vc nunca ouviu falar desses casos?

  3. [N]ão é estranho que 1 em cada 20 padres seja um paulatino violador do voto de castidade através de violência?

    Sim, é uma coisa terrível, um pecado gigantesco que merecerá a justa ira de Deus para todos nós.

    Será que isso não demonstra que esse “estatuto” (estatuto, pois não há justificativa teológica) católico do celibato é completamente anti-natural, anti-fisiológico e claramente não-cumprido?
    Por que não abandoná-lo? Só por amor à tradição?

    Porque os alhos não têm nada a ver com os bugalhos, como diz o parágrafo imediatamente seguinte do artigo. Ou você só leu as primeiras linhas e veio correndo comentar?

    Abraços,
    Jorge

  4. Marcos,

    acho que o que ele quis dizer é que se houvessem mais meninas de 11-14 nos ambientes frequentados pelos abusadores haveriam mais casos de abisos de meninas.

    Sei não, sei não. Para mim, parece claro que (via de regra) quem sente atração por um sexo não sente pelo outro. Ou quando tu vais para uma festa onde tem poucas meninas tu tiras um homem pra dançar?

    homens homossexuais em meios altamente heterossexuais acabam casando e tendo filhos, ou vc nunca ouviu falar desses casos?

    Primeiro, estes casos são altamente contestáveis. Segundo (e mais importante), isto só provaria o contrário do que os dados mostram, porque a “heteronormatividade da sociedade” deveria constranger então os abusadores a escolherem meninas, quando o que vemos é bem diferente.

    Ademais, a desproporção é muito escandalosa. Quem abusa sistematicamente de meninos não pode dizer que está fazendo isso por “oportunidade”. Parece mais o Wanderley da sauna gay…

    – Jorge

    P.S.:

    http://www.crisismagazine.com/2011/the-church-paid-1-8-million-and-all-i-got-was-this-lousy-report

    http://www.crisismagazine.com/2011/reactions-to-the-john-jay-report

    http://www.thecatholicthing.org/columns/2011/the-john-jay-report.html

  5. Pensemos o seguinte:

    Essa pesquisa se estende num periodo de 50 ANOS.
    6 mil padres equivale a 5% do total de padres do mundo (contra… 95% dos padres).
    Devo lembrar que esses foram homens ACUSADOS, e não necessaria e comprovadamente culpados.
    Desses 5% acusados (6.000 e tantos) apenas 4% (240 e alguma coisa) deles pode ser considerado pela acusação de pedofilia.
    Novamente, relembrando, em um período de duração de *50 ANOS.

    É incrível como os óculos de filtragem funcionam nas pessoas. É horrível o que esses homens fizeram? É. Mas o esforço despendido contra a Igreja Católica nos casos de pedofilia é muito maior do que o esforço contra os casos de pedofilia fora da Igreja – que compõem mais de 99% dos casos de abuso sexual mundo afora. 95% dos casos ocorrem dentro da família (pai, padrasto, tio, primo, mãe, irmão, etc etc)… e dos 5% fora da família, são pessoas como “amigos” da família, médicos, pastores e outras pessoas de convivência próxima… e aí sim, dentro desses 5%, é que entrariam os padres. E ainda assim, eles não demonstram uma estatística de abuso maior do que estas: casos de “amigos” da família são mais comuns.

    Outra: ANUALMENTE, são reportados 228.000 casos de abuso sexual infantil nos Estados Unidos (que é o exemplo do estudo). POR ANO. Contra… 6.000 casos durante 50 anos, uma média de 120 casos por ano, ou seja, 0,05% dos casos anuais. Tem certeza que estamos certos em bater só contra a Igreja Católica, hmmm?

    “Ah, mas e os casos que ninguém fala, e os de acordo velado, e bla bla bla que não aparecem nas estatísticas”, você pergunta?

    Número Um: prove que eles existem. Acusações não são atestados de culpa automático – existe todo um processo para definir se algo é verdade ou não no direito, e acredite, existe muita pessoa que entra na justiça para arrecadar dinheiro também, em especial nos Estados Unidos. Não se trabalha com “se”, “talvez”, “possivelmente” na justiça, são necessários FATOS e não RUMORES.

    Número Dois: Acordo velado, para os olhos da justiça, ainda é um acordo onde há o pagamento equivalente ao dano. As pessoas que foram pagas ACEITARAM o acordo, ou seja, aceitaram a quantidade de dinheiro acordado pelo dano sofrido do abuso. Acreditassem eles realmente que o valor oferecido não era equivalente ao dano, entrariam com um processo, como muitos fizeram, e até existem advogados que se “especializaram” (diga-se, arrecadaram muito dinheiro) nos casos americanos. É engraçado como as pessoas veem os acordos como se fosse um “cala-boca” dado pela Igreja, mas esquecem que é necessário o consentimento do abusado e/ou sua família para se aceitar o dinheiro.

    Ah, e antes que algum ser descomunlmente estúpido diga, eu repito o que o JOrge fala: abuso sexual por parte de padres é horrível, um pecado terrível que tem que ser extinguido. Mas a sanha anti-clerical é tamanha que aprece esquecer que 95% dos casos de abuso sexual acontece dentro da família.. e aí? Cada toda a campanha contra o abuso sexual infantil ali? Cadê as piadas, as troças, a raiva e o rasgar de vestes faristeu contra pais, tios, amigos, etc? Eu digo o que acontece: as pessoas entendem que tem pais e pais, tios e tios, padrastos e padrastos… mas quando é com a Igreja Católica, ó não! TODOS OS PADRES SÃO PEDÓFILOS! TIREM SEUS FILHOS DAS IGREJAS HUADINSDUIFUEALCKXMNUIOEFH!!!!@!@!12314@!@!!!

  6. Lucio
    Você tem toda a razão, assino embaixo. As pessoas agem como se todos os padres fossem pedófilos, parecem esquecer que há muito mais pedófilos nas famílias.

    Blog Mallmal says:
    “Será que isso não demonstra que esse ‘estatuto’ (estatuto, pois não há justificativa teológica) católico do celibato é completamente anti-natural, anti-fisiológico e claramente não-cumprido?
    Por que não abandoná-lo? Só por amor à tradição?”
    Mallmal, o celibato não é para todos, portanto, não precisa se preocupar que a humanidade não vai acabar só porque os padres são celibatários. E o celibato existe para que os padres se dediquem à Igreja, às coisas de Deus. E quem disse que o celibato não é cumprido? Só porque alguns padres não cumprem, não quer dizer que outros não cumprem.

  7. Jorge e Lúcio,

    “Ou quando tu vais para uma festa onde tem poucas meninas tu tiras um homem pra dançar?” Meio absurdo comparar uma vida celibatária com uma festa, que nada mais é que um evento social.

    “Primeiro, estes casos são altamente contestáveis.” Por quê?

    “Segundo (e mais importante), isto só provaria o contrário do que os dados mostram, porque a “heteronormatividade da sociedade” deveria constranger então os abusadores a escolherem meninas, quando o que vemos é bem diferente.” Como comparar os elementos de uma vida “comum” com os de uma vida celibatária? Até onde eu sei, a presença masculina no meio religioso em questão é esmagadora. A desproporção demonstrada nos gráficos não é absurda.

    Outra coisa que não entendo são os “padres gays”. Peraí, quantos são? Eles se assumiram gays e permaneceram padres? Quantos desses “padres gays” são pedófilos? Dei uma lida rápida nos gráficos da pesquisa e não vi nenhuma comparação entre número de abusos por “padres gays” e “padres héteros”.

    “É incrível como os óculos de filtragem funcionam nas pessoas.” É o poder da mídia. Esses exageros não são cometidos apenas contra a Igreja, mas contra qualquer coisa, se for para conseguir audiência.

    – Cysne.

  8. Sério, tô ficando pê da vida com o Google, que deu sumiço no meu avatar! >:(

  9. (cerca de 5% do número total de padres que que serviram durante esse período)

    Interessante. Mereceria uma comparação com, por exemplo, advogados.

    Qual o percentual de pedófilos entre os advogados? Entre os professores? Entre os médicos?

    Que tal? Quem tem os números?

  10. Cysne,

    “Ou quando tu vais para uma festa onde tem poucas meninas tu tiras um homem pra dançar?” Meio absurdo comparar uma vida celibatária com uma festa, que nada mais é que um evento social.

    O que está em questão aqui é esta idéia de “oportunidade”. Eu defendo que quem tem atração por pessoas do sexo oposto não se relaciona sexualmente com pessoas do mesmo sexo só porque eram estas as que “estavam lá”.

    “Primeiro, estes casos são altamente contestáveis.” Por quê?

    Não quero entrar neste mérito agora para não desviar o assunto do post, mas em linhas bem ligeiras eu diria que um sujeito casado e com filhos não é homossexual.

    “Segundo (e mais importante), isto só provaria o contrário do que os dados mostram, porque a “heteronormatividade da sociedade” deveria constranger então os abusadores a escolherem meninas, quando o que vemos é bem diferente.” Como comparar os elementos de uma vida “comum” com os de uma vida celibatária? Até onde eu sei, a presença masculina no meio religioso em questão é esmagadora. A desproporção demonstrada nos gráficos não é absurda.

    Uma vida celibatária é uma vida perfeitamente comum. Uma paróquia é freqüentada por pessoas de ambos os sexos. Um padre tem contato com pessoas de ambos os sexos o tempo inteiro.

    A “presença masculina” só é “esmagadora” “no meio religioso” se você estiver se referindo aos padres somentes, isolados da sociedade. Acontece que, em primeiro lugar, isto não existe (salvo alguns casos de congregações religiosas que vivem em isolamento) e, em segundo lugar, se fosse este o motivo os abusos teriam que ser todos de clérigos abusando clérigos, quando na verdade são de clérigos abusando não-clérigos.

    Outra coisa que não entendo são os “padres gays”. Peraí, quantos são? Eles se assumiram gays e permaneceram padres? Quantos desses “padres gays” são pedófilos?

    Não, eles não “se assumiram” gays, a gente sabe que eles são gays porque eles abusam de meninos.

    Dei uma lida rápida nos gráficos da pesquisa e não vi nenhuma comparação entre número de abusos por “padres gays” e “padres héteros”.

    É claro que viu. O número de meninos entre 11 e 14 anos abusados é o sêxtuplo do número de meninas abusadas na mesma faixa etária.

    Agora, o que o relatório parece querer nos fazer acreditar é que 1) um homem que sente atração por outros homens não é gay; e 2) a esmagadora maior parte dos casos de abuso (mais de oitenta por cento) foram cometidos por padres heterossexuais que, não obstante, abusam pessoas do sexo masculino. A primeira é altamente discutível e, a segunda, estatisticamente impossível.

    Abraços,
    Jorge

  11. Jorge

    Você ignorou o fato de haver pessoas que se relacionam tanto com o mesmo sexo quanto com o sexo oposto, os chamados bissexuais.

    Se eles levam em consideração o motivo oportunidade, eles tem algum motivo para faze-lo. Pode haver também uma preferencia, talvez haja.

    Só acho estranho tu aceitar uma parte da pesquisa e questionar a outra parte. Aí ja da para ficar em duvida da veracidade dela.

  12. Na Alemanha, segundo o pesquisador independente Christopher Pfeiffer, os sacerdotes envolvidos com pedofilia chegaram a incrível marca de 0,1% dos casos! Em 30 anos! É alarmante!!! Ah, e é uma estimativa, pode ser ainda menor a incidência.

    http://news.bbc.co.uk/2/hi/europe/8654789.stm

    A leitura do texto acima revela que é mais seguro deixar minha filha na companhia de um padre do que de um homem casado desconhecido.

  13. Gustavo,

    Você ignorou o fato de haver pessoas que se relacionam tanto com o mesmo sexo quanto com o sexo oposto, os chamados bissexuais.

    É lógico. Nós estamos falando de 80% dos casos de abusos! O número de bissexuais não pode ser tão grande.

    Ainda que seja, não muda rigorosamente nada, porque o bissexualismo é também anti-natural (como o homossexualismo). Ademais, na prática estamos falando de um pecador contra o Sexto Mandamento que comete ora uns pecados contra a natureza, ora uns a favor.

    Tudo o que se aplica aos atos homossexuais, aplica-se aos atos homossexuais em si, pouco importando por qual das letras do alfabeto (ABCGLTTTWXYZ) ele é praticado.

    Só acho estranho tu aceitar uma parte da pesquisa e questionar a outra parte. Aí ja da para ficar em duvida da veracidade dela.

    Porque a parte do celibato é já amplamente conhecida, e porque a justificativa apresentada é bem razoável (cito: “o celibato permaneceu uma constante ao longo dos picos e vales das taxas de abuso”, de modo que é possível com isso excluir correlação). Ao contrário, para eximirmos os ABCGLSTTTWXYZs, teremos que assumir que 80% dos casos de abuso foram praticados por heterossexuais abusando pessoas do sexo masculino, i.e., que quatro em cada cinco abusadores, embora esteja abusando de meninos, não tem nada de homossexual. E isto é absurdo.

    Abraços,
    Jorge

  14. Jorge

    A pesquisa tem 152 paginas, mas analisando os dados retirados por ti fica evidente que os padres tinham preferencia pelo sexo masculino, ou se preferir, eram homossexuais.

  15. Comparar a tentação de cometer atos sexuais e o apetite para um relacionamento social, pra mim, é uma piada! Discordando do Jorge, acredito ser falso “que (via de regra) quem sente atração por um sexo não sente pelo outro”. Há de se avaliar o que se chama “atração [sexual]” em cada momento.

    Não se compara a disposição para a cumplicidade numa dança e a disposição para a cumplicidade (ou falta de cumplicidade), a sós, dentro de um recinto, às escondidas, em práticas sexuais. No cenário da discussão não temos a apreciação de relações socialmente visíveis, mas pelo contrário, de atos privados que podem não ser mais do que abusos.

    Discordo do Jorge ainda no seguinte: quem quer prazer venéreo desregrado e ilícito pode, de fato, não colocar como “valor supremo” o sexo do alvo. Pois dentro dessa falta de razoabilidade torna-se “razovável” oportunamente contentar-se com o sexo que não é o da sua preferência.

    E por que eu discordo do Jorge nesses pontos quer dizer que eu assino embaixo nos ataques que se faz ao celibato e à Igreja?

    Não. Não. Não.

    Eu penso que Jorge, bem intencionado, está procurando defender-se de golpes que não existem, misturando ele mesmo também os alhos com os bugalhos.

    Um homem casado – e bem casado! – pode definir-se como heteressexual, sinceramente, para consigo mesmo. Aliás, é esperado que ele faça assim. Porém, isso não exclui a possibilidade desse homem ter desejos homossexuais. Isso pode estar para ele como uma perversão, ou simplesmente como uma falta de preferência: ele preferiu e prefere uma mulher, por uma série de motivos, principalmente a cama. Mesmo assim esse homem pode ser tentado a “pular a cerca” com um jovem (do mesmo sexo). Nesses assuntos de gostos, preferências, “subjetividades” e circunstâncias as coisas não são simples como 1 + 1 = 2.

    Jorge escreveu:

    “Não, eles não “se assumiram” gays, a gente sabe que eles são gays porque eles abusam de meninos.”

    Durante todo esse tempo que acompanho o blog, talvez esta tenha sido a primeira vez que vi Jorge assinar embaixo um julgamento ignorante feito pela massa.

    Existem várias formas de sentir “atração” sexual por pessoas. Dou alguns exemplos. (1) A pessoa pode sentir uma atração “sublime”, que faz ela procurar relacionamentos no formato de paqueras, namoros, uniões para uma vida de “casados”; mesmo com pessoas do mesmo sexo. (2) A pessoa pode sentir um atração meramente libidinosa, que faz ela ter fantasias sexuais e desejos pervertidos. (*) Existem inúmeras variações, por exemplo, entre esses dois pólos.

    Considerar alguém como gay, homossexual, heterossexual, bissexual, ou que quer que seja que pretenda precisar a vivência sexual da pessoa torna-se muito complexo. Aumentando a variação comportamental denunciada por cada um dos principais rótulos, ainda existem as perversões, as fantansias, ou simplesmente as “tentações” (para os mais púdicos).

    O homem que sente atração por homens terá muita dificuldade para reclamar por ter sido chamado gay. Pois a massa, pelo menos exteriormente, considera esse um desejo próprio – e exclusivo? – dos gays. Socialmente, simplória e majoritariamente considera-se que: se a pessoa é aberta sexualmente para o mesmo sexo, essa pessoa é gay, bichona, sapata etc. Mas a pessoa, com a autoridade única que tem para falar de si mesmo, pode discordar disso. A forma dela sentir e pensar as diversas atrações sexuais pode ser muito complexa. Por outro lado, o objeto da questão pode sair do âmbito da preferência e entrar no balaio das perversões.

    Existem bissexuais agindo socialmente: paquerando, namorando etc. Encontram satisfação nisso. Mas também existem pessoas pervetendo-se com comportamentos bissexuais, por causa de um hedonismo venéreo. Dentre esses últimos, existem aqueles que se tornam crimonosos por esse caminho. Pode ser o caso de vários do padres que abusaram de crianças ou adolescentes.

    Jorge tem uma falsa esperança. Ele espera que depravados sejam sempre criteriosos. Diferentemente, eu penso que em alguns casos fica sem sentido rotular o criminoso de homossexual, bissexual ou heterossexual. No contexto deixa de ser importante perscrutar como sinceramente o transgressor de ver.

    Dentre os que estão dispostos a se tornar “fora da lei” (de Deus e da lei dos homens), penso, não é difícil encontrar quem faça pouco caso da anatomia.

  16. Vcs sabem a porcentagem da sociedade comum envolvida com o crime da pedofilia e abuso sexual ?É muito maior que os 0,1 % da classe clerical….
    Vcs sabem a porcentagem da classe dos rabinos , pastores e principalmente padrastos e tios envolvidos neste crime ?
    Não estou aqui defendendo ,mas apenas constantando dados estatísticos que podem ser comprovados num dia a dia de um posto de saúde.
    É de estarrecer a porcentagem de padrastos que abusam das filhas e filhos de suas mulheres.

  17. Sim, é uma coisa terrível, um pecado gigantesco que merecerá a justa ira de Deus para todos nós.

    Maior piada de todos os tempos!

    Sério, mesmo que o teu deus existisse, ele mandar a ira para todos seria o fim da picada, só na figura de um deus raivoso como o descrito na bíblia. Depois, se reclama das iras tormentosas do zeus grego.

    É cada uma… as benesses para os escolhidos, a ira para todos, indistintamente. Não tem senso de ridículo?

    Quem pariu que o embale.

  18. Caro Jorge,

    Tome um engove e depois veja essa barbaridade:

    http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?lang=PT&cod=56754

    Talvez tenhamos que começar a bombardear o núncio com esses textos. Primeiro frei Gilvander,depois o padre professor da PUC do RJ e agora esse ‘frei’ beto. Há que aparecer no mínimo uma declaração das autoridades eclesiásticas sobre o status dessa gente.

  19. Ferraz disse:

    “O que está em questão aqui é esta idéia de “oportunidade”. Eu defendo que quem tem atração por pessoas do sexo oposto não se relaciona sexualmente com pessoas do mesmo sexo só porque eram estas as que “estavam lá”.

    Nas cadeias, prisões, etc é o que mais se vê. Portanto a generalização não procede.

  20. Pois é, mas os padres não estão encarcerados e, portanto, a analogia é que não procede (além de ser absurdamente descabida).

    – Jorge

  21. Ricardo
    “24 May 2011 at 10:32 pm
    Sim, é uma coisa terrível, um pecado gigantesco que merecerá a justa ira de Deus para todos nós.

    Maior piada de todos os tempos!

    Sério, mesmo que o teu deus existisse, ele mandar a ira para todos seria o fim da picada, só na figura de um deus raivoso como o descrito na bíblia. Depois, se reclama das iras tormentosas do zeus grego.

    É cada uma… as benesses para os escolhidos, a ira para todos, indistintamente. Não tem senso de ridículo?

    Quem pariu que o embale.”
    Você não entendeu. Todos merecem a ira de Deus sim, tanto os pedófilos quanto aquelas pessoas que não fizeram nada para puni-los, que não procuraram denunciá-los. A Igreja tem feito muita coisa para combater a pedofilia dentro dela, agora não vejo ninguém combater a pedofilia que acontece fora da Igreja, muitas vezes nas famílias.

  22. Ricardo
    “Depois, se reclama das iras tormentosas do zeus grego.”
    Não se pode comparar zeus com o nosso Deus, porque a idéia que nós fazemos de Deus é completamente diferente da idéia que os gregos faziam de um deus. Para você pode ser tudo a mesma coisa, mas para nós não. Os deuses dos gregos não eram santos. Os deuses gregos se comportavam como se fossem uma pessoa humana qualquer. Tanto que os deuses dos gregos eram sempre filhos de alguém, o nosso Deus não, não é filho de ninguém. O deuses dos gregos se casavam, o nosso Deus não se casa. Para os gregos, deuses eram como se fosse gente, como se fossem pessoas humanas, para eles deuses não eram espíritos. Gregos não compreendiam um deus como um ser incorpóreo. Portanto, a concepção que os gregos têm de um deus é diferente da nossa. A concepção que os indianos têm de deus também é diferente da nossa, eles são panteístas, acham que são partes do deus Brahma. Eles acham que são parte de deuses, e que tudo o que existe é deus. Já nós, cristãos, não acreditamos nisso. Portanto, não dá para comparar nosso Deus com um deus grego, nem com qualquer outro deus pagão.

  23. Ferraz disse:

    “Pois é, mas os padres não estão encarcerados e, portanto, a analogia é que não procede (além de ser absurdamente descabida).”

    Ah, tá. Agora voce tentou esclarecer…

    Contudo a analogia que eu não pensei estar fazendo àquela altura, faço agora. Nem todo encarceramento é atrás de grades de ferro.

    E por isso fica a pergunta. Em que circusntâncias se encontravam os padres quando se viram diante da “oportunidade”? Colégios internos? Período integral? Ambientes exclusivamente masculinos? Permissão para sair e criar “oportunidades” em ambientes femininos?

    No exército, os militares também não estão encarcerados e você acha que a homossexualidade não acontece entre homnes nos quartéis?

    Nem precisa ser em ambientes exclusivamente masculinos e fechados para que héteros se interessem pelo mesmo sexo. Há ainda duas outras situações simples de se verificar. A primeira mais geral, a prostituição masculina. A segunda, apenas um dos incontáveis exemplos: basta ir à uma churrascaria de beira de estrada onde estacionam caminhoneiros em viagem.

    Lamento informar, Ferraz, mas sexo quando é urgente não escolhe “gênero”.

  24. [citar]Interessante. Mereceria uma comparação com, por exemplo, advogados.

    Qual o percentual de pedófilos entre os advogados? Entre os professores? Entre os médicos?

    Que tal? Quem tem os números?[/citar]

    Ninguém tem os números, ao menos não como os números entre os casos de padres, porque esses casos caem nos 5% dos “outros”. Não existem pesquisas direcionadas para esses trabalhos porque não existe interesse para singularizar e tentar associar tais profissões com tal tipo de sexualidade.

    Alías, a Igreja Católica que pagou e ofereceu esse primeiro estudo sobre sexualidade: nenhuma outra associação, religião, grupo de trabalhadores, etc etc, fez estudo semelhante. Estudos de abusos infantil são estudos de abuso infantil latu sensu.

    E devo me desculpar, mas na pressa acabei escrevendo um dado incorreto: o número de padres da atualidade gira em torno de 400.000, o que modifica as porcentagens que ofereci de forma informal. Porém, relembro que durante o período de 50 anos, muitos padres entraram e sairiam, etc etc, o que tornaria as porcentagens muito menores se formos fazer um estudo analítico completo.

    [citar]Lamento informar, Ferraz, mas sexo quando é urgente não escolhe “gênero”.[/citar]

    Defina “sexo urgente”. Porque da ultima vez que estudei biologia, sexo não era condicional à sobrevivência…

    (Não me direcionando à você agora, Benjamin, mas é que isso me lembrou de outro ponto)

    Isso parece ser uma característica marcante de muitas pessoas em questão da sexualidade… acharem que a não-prática de sexo é algo horrível e que leva naturalmente à perversões… mas não existe nada comprovando isso. Fredu pode até achar que a repressão sexual é danosa, mas cadê os fatos concretos, os dados e as pesquisas provando isso, gente? É engraçado como pessoas anti-católicas se arrogam como seres racionais e científicos, mas falham em seguir as próprias supostas regras de cientificismo, ceticismo e empirismo (coisas que são independentes de se crer em uma religião ou não) quando se tratam de certos assuntos…

  25. Talvez a minha fala (acima) tenha aparentes semelhanças com as últimas opiniões do Benjamin Bee, e por isso quero deixar claro que não adotei, por exemplo, como ele, o conceito estranho de “sexo urgente”.

  26. Nem precisa ser em ambientes exclusivamente masculinos e fechados para que héteros se interessem pelo mesmo sexo. Há ainda duas outras situações simples de se verificar

    Eu simplesmente duvido que militares ou caminhoneiros heterossexuais tenham relações com homens na proporção de QUATRO PARA UM (que é a proporção sobre a qual estamos falando aqui). Poder-se-ia, quiçá, falar em “oportunidade” se (digamos) para cada dez meninas houvesse um menino violentado. No entanto, para cada menina nós temos quatro meninos abusados, e isto não pode ser “oportunidade” nem aqui nem na China. Isto é preferência.

    Lamento informar, Ferraz, mas sexo quando é urgente não escolhe “gênero”.

    Isto é uma frase repugnante que só faz sentido na cabeça de gente doente. Depois, quando nós reclamamos da promiscuidade dos homossexuais, somos homofóbicos…

    – Jorge

  27. “Isto é uma frase repugnante que só faz sentido na cabeça de gente doente. Depois, quando nós reclamamos da promiscuidade dos homossexuais, somos homofóbicos…”

    Pode ate ser doente mesmo, mas não te esquece que existem homens heterossexuais casados e com filhos que traem as mulheres com outros homens e outras mulheres.
    Creio que isso deve ser uma perverção e que não tenha nada a ver com a sexualidade deles.

    Tu fala da promiscuidade dos homossexuais, que realmente é uma verdade mesmo, mas se esquece da promiscuidade entre os heterossexuais.

    O homem que trai a namorada é visto pelos amigos como um garanhão, como um modelo de macho alfa.
    A mulher que trai é vista pelas amigas como uma mulher esperta, que trai antes de ser traida.

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