O bispo e o frei

O bispo auxiliar da Arquidiocese do Rio de Janeiro, Dom Antonio Augusto, está de parabéns. Sua Excelência resolveu comprar a briga com o frei Betto e, em um artigo publicado em ZENIT, atacou duramente (embora não nominalmente, mas a alusão é claríssima) um artigo pró-gay do frade dominicano chamado “Os Gays e a Bíblia” (sic).

O artigo de Dom Antonio tem por título “A Bíblia e o frei”. Embora diga que “não tem a mínima pretensão de responder a um outro artigo de um conhecido irmão religioso que goza de certo prestígio midiático”, as alfinetadas não deixam margem para dúvidas. À guisa de exemplo, destaco:

Todos esses questionamentos permanecem na superfície externa das culturas e das análises interpretativas de freis e freiras, de juízes e juízas, de padres e políticos, das próprias pessoas envolvidas nas decisões afetivas, quando não há a devida profundidade na revelação bíblica sobre quem é o homem, quem é a mulher, na única, fundamental e inequívoca verdade: “Deus disse: façamos o ser humano à nossa imagem e segundo a nossa semelhança (…). Deus criou o ser humano à sua imagem, à imagem de Deus os criou. Homem e mulher Ele os criou” (Gen. I, 25-27).

Aqui não há hermenêutica, nem singularizadora nem pluralizadora! Aqui há verdade! Aqui há imagem digna de ser reconhecida e respeitada! Aqui há identidade sublime! O que vem depois a essa revelação, isto é, os fatores biológicos, raciais, étnicos, sexuais, culturais, etc., só podem ser considerados a favor do bem das pessoas se as interpretações “politicamente corretas” forem desmascaradas e descartadas.

É no mínimo interessante que os inimigos de Deus e da Sua Santa Igreja estejam tão preocupados em apresentar uma caricatura do Cristianismo no lugar do Cristianismo verdadeiro. Diante das radicais exigências da Fé, agem como aqueles discípulos que abandonaram o Senhor, murmurando entre si: “Isto é muito duro! Quem o pode admitir?” (Jo 6, 60b).

Sim, consideremos que seja “duro” e, mais ainda, “muito duro”. Mas é a verdade que existe e, portanto, deve ser abraçada, a despeito das exigências que dela decorram. Por mais dura que seja a verdade, ela ainda assim é incomparavelmente melhor do que os enganos e as fábulas. Fazer as coisas certas é preferível a fazer as prazerosas, e é exatamente na possibilidade de optar por aquelas no lugar destas que se encontra a diferença específica entre os homens e os demais animais.

Quando eu era pequeno, lembro que li sobre uma espécie de aranha do deserto que precisava de alguns cuidados específicos para ser criada em cativeiro. Isto porque o bicho estava acostumado à escassez de alimentos e, portanto, sempre que encontrava algo para comer, ele comia, “sabendo” que ia passar dias (ou talvez semanas) sem conseguir alimentar-se novamente. Se, no cativeiro, esta aranha fosse alimentada regularmente até estar saciada, ela iria comer até morrer porque “saciar-se” não era critério para que ela deixasse de se alimentar. Acho que foi o meu primeiro contacto alegórico com o pecado da gula e com aquela definição – que eu conheci depois – de “pecado” como sendo a opção por um bem menor em detrimento de um bem maior.

Pautar-se, portanto, pela reta razão é obrigação de todo ser humano, e isto não tem bulhufas a ver com um genérico “seguir a própria (distorcida) consciência” – uma vez que as pessoas estão obrigadas a procurar a Verdade, e não a exercitarem uma flexibilidade moral que lhes permita cometer as maiores barbaridades “em paz consigo mesmas”. Seguir a própria consciência, no caso específico das pessoas com tendências homossexuais, é dar ouvidos ao que ensina infalivelmente a Igreja Católica. E a maior prova de que a consciência dos homossexuais lhes insta a seguirem o Cristianismo é esta tentativa desesperada de deformar a Doutrina Cristã até que ela aceite os hábitos depravados dos que pecam contra a natureza. Afinal de contas, se os gays estivessem em paz com a sua própria consciência (como gostam de dizer), não precisariam falsificar tão grosseiramente o Cristianismo.

Submeter a razão às paixões é trocar a Verdade pelas conveniências, é “pecado” por definição. E a Verdade, em se tratando de frades, gays e a Bíblia, é que Deus criou “homem e mulher” – e nenhuma falsificação da lavra de frei algum vai ser capaz de mudá-la, ainda que o arrogante exegeta ostente indignamente o hábito de São Domingos.

Publicado por

Jorge Ferraz (admin)

Católico Apostólico Romano, por graça de Deus e clemência da Virgem Santíssima; pecador miserável, a despeito dos muitos favores recebidos do Alto; filho de Deus e da Santa Madre Igreja, com desejo sincero de consumir a vida para a maior glória de Deus.

38 comentários em “O bispo e o frei”

  1. Ricardo, boa tarde, eu tenho examinado suas últimas declarações e, que vem me chamando muito atenção pela sua visão limitada das coisas.Em primeiro lugar, acho que você não presta atenção no que acontece nos noticiários.Quando acontece alguma catástrofe natural, um grande acidente seja aéreo, uma tragédia (como a que aconteceu em Realengo), a imprensa sempre pede e quer saber a opinião do Papa Bento XVI ou do bispo local.Como alguém falou acima, a igreja não se resume ao templo, há instituições sociais como: hospitais, escolas de todos níveis escolares, casas de recuperação de dependentes químicos, maternidades, entidades assistenciais (caritas, ajuda a igreja que sofre, entre outras) e etc.Em muitas cidades do mundo, se não fosse por elas, muitas pessoas ficariam desamparadas e em colapso.
    Eu entendo Ricardo que seus argumentos devem ser baseadas em teses acadêmicas de ateus, agnósticos ou de teologia protestante.Bom, eu creio e sinto que sejam.

    A Cristiane em momento algum disse a respeito de rarear a quatidade de padres, você distorceu a fala dela na parte que a mesma diz:
    De algumas dessas famílias verdadeiramente católicas, pode surgir bons sacerdotes e até mesmo freiras, por que não?
    Foi nessa parte?Não sei, mas creio que sim.
    Como ela mesma falou, a Igreja que são tbm os leigos, graças a Deus é formada de gente que se interessa por ela e, que, não se sucumbirá a forças que jazem do maligno, pois as portas do inferno jamais prevalerecerão sobre ela.
    Sds.

  2. Ricardo, tem uma coisa que eu não entendo. Neste post você diz que não é ateu: https://www.deuslovult.org//2011/04/10/gay-pre-historico/#comment-28863. É você mesmo ou era outro Ricardo?

    Porque, se tiver sido mesmo você, há outras citações suas que me deixam muito confuso:

    “ainda vou na missa todos os domingos(!!!). Até gosto da espiritualidade católica”

    “Ah sim, gosto do catolicismo mais tradicional”

    “Enfim, agradeço a Deus por ter conhecido os santos doutores carmelitas. São João da Cruz e sua Noite Escura me preveniram da fé firmada em emoções e sensações.”

    Se for mesmo você (faço questão de frisar isso para não deixar nenhum mal entendido), então 1) ou você se tornou um ateu radical da noite para o dia, como mostram quase todos os seus comentários nos posts subsequentes do blog, ou 2) você mentiu.

    Por favor, se for você mesmo o dono deste comentário (https://www.deuslovult.org//2011/04/10/gay-pre-historico/#comment-28863), peço coerência em seus discursos.

    – Cysne (http://cinelupinha.blogspot.com)

  3. Não, Cysne. O outro Ricardo é outro.

    Aliás, é por esta motivo que é recomendável a utilização de algum mecanismo de autenticação (Google Friend Connect, wordpress.com, qualquer coisa) na hora de fazer comentários. Ou, pelo menos, que as pessoas que têm nomes mais comuns assinem com nome e sobrenome =D

    Abraços,
    Jorge

  4. Eh, eh.Talvez eu seja um grupinho. De vez em quando vem um e outro em meu computador e postam alguma coisa – não que eu me importe, até incentivo a isto.

    Só quem é cego (ou fanático) não nota o decaimento da Igreja Católica – uma lei natural, diga-se de passagem.Quem leu um pouco de Toynbee pode entender o porquê das ascensões e quedas de civilizações, de organizações, de instituições etc.

    Não há escapatória, fiquem certos.

    Esse negocinho de dizer que a Igreja tem 2000 anos, isso e aquilo, não serve. Esse período de tempo é pouco.

    Ah, e o decaimento nunca é abrupto. É aos poucos.

    Quando o Império Romano começou a decair, quanto tempo levou até sua derrocada total?

    A mesma coisa acontecerá com a Igreja Católica – ou com qualquer outra instituição.

  5. Nossa, Ricardo, tu parece um tal de Nostradamus, que fez previsões que nunca se cumpriram.Eu sugiro que todos chamem o Ricardo de Ricardo Nostradamus.Certamente, entrará no futuro, também como o autor de profecias que nunca se cumpriram.

  6. Então Ricardo=Legião, pois são muitos… Você ignora quem governa a Igreja e por isso a compara com civilizações, instituições e organizações. Essa ignorância torna a sua profecia inválida para a Igreja.

  7. Ricardo
    “Eh, eh.Talvez eu seja um grupinho. De vez em quando vem um e outro em meu computador e postam alguma coisa – não que eu me importe, até incentivo a isto.

    Só quem é cego (ou fanático) não nota o decaimento da Igreja Católica – uma lei natural, diga-se de passagem.Quem leu um pouco de Toynbee pode entender o porquê das ascensões e quedas de civilizações, de organizações, de instituições etc.

    Não há escapatória, fiquem certos.

    Esse negocinho de dizer que a Igreja tem 2000 anos, isso e aquilo, não serve. Esse período de tempo é pouco.

    Ah, e o decaimento nunca é abrupto. É aos poucos.

    Quando o Império Romano começou a decair, quanto tempo levou até sua derrocada total?

    A mesma coisa acontecerá com a Igreja Católica – ou com qualquer outra instituição.”
    Vai sonhando, vai. A Igreja Católica não acabará. Como o Leniéverson Azeredo disse, a Igreja não se resume ao templo, não. Há instituições sociais como: hospitais, escolas de todos níveis escolares, casas de recuperação de dependentes químicos, maternidades, entidades assistenciais (caritas, ajuda a igreja que sofre, entre outras) e etc. E como eu já disse, de algumas dessas famílias verdadeiramente católicas, pode surgir bons sacerdotes e até mesmo freiras, por que não? Ainda existe um bom número de católicos mais tradicionais, que defendem a Igreja com unhas e dentes. Pode não ser a maioria, mas esse número de católicos tradicionais não é desprezível não, não é um número tão pequeno. Para você ter uma idéia, não existem católicos assim somente no Brasil, existem no mundo inteiro. Não se esqueça disso. Em algumas dessas famílias de católicos tradicionais, podem surgir bons padres e freiras. Para acabar com a Igreja Católica, não seria suficiente acabar com o templo, não. A Igreja Católica não é somente um templo, a Igreja Católica somos nós, meu caro. Seria preciso acabar com a gente, porque estamos firmes no propósito de pregar o envangelho a toda criatura. Vamos educar nossos filhos para serem bons católicos. Seria preciso matar a todos nós, porque o cristianismo não acabará, no que depender de nós. Muito menos o catolicismo. A gente não dorme, não. A maior prova disso é esses blogs católicos. E você se esquece que o cristianismo está muito enraizado na nossa cultura. Inclusive, segundo alguns historiadores, foi a Igreja Católica que construiu a civilização Ocidental. Acha que é fácil assim acabar com toda uma cultura baseada na metafísica? Não pense que vai ser fácil assim acabar com o cristianismo, não. Sim, porque se a Igreja Católica acabar, o que eu duvido muito, vai acabar o cristianismo, nem protestantismo sobrevive. O protestantismo surgiu através do catolicismo, e sobrevive apenas por causa dele. Se o catolicismo acabar, o protestantismo não terá mais contra quem protestar. Foi o catolicismo que espalhou o cristianismo pelo mundo, e acho difícil fazer todos se esquecerem de Cristo. Vá sonhando, se iludindo, achando que todos vão se esquecer de Cristo, vai. Isso nunca vai acontecer. Duvido muito. Se você pensa assim, está se iludindo, e é bom cair na real. Jesus faz parte da nossa história, até mesmo em universidades se aprende sobre ele, sobre o cristianismo. Ninguém nunca se esquecerá de Jesus. Desde a antiguidade, sempre existiu religiosidade ou mesmo espiritualidade, e acho muito improvável que isso acabe um dia, no que depender dos homens. Mesmo no Japão, onde se dizem ateus, prestam culto à Buda. É uma forma de religiosidade. E você diz assim porque desconhece quem na verdade governa a Igreja. Portanto, não adianta vir com suas teses, comparar a Igreja com civilizações antigas, ou mesmo com outras instituições. A Igreja não acabará, porque quem governa a Igreja é Deus. A Igreja não existe somente aqui na Terra, aqui está somente a Igreja visível, a Igreja Militante. Também há uma parte da Igreja no Céu, que são os Santos. É a Igreja Triunfante. O universo vai acabar, com certeza, mas a Igreja não. É como Jesus disse:
    Passará o céu e a terra, minhas palavras não passarão
    Vai sonhando, vai.

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