Quem como Ela?

Um leitor do Deus lo Vult! pediu-me que comentasse uns textos absurdos divulgados por hereges protestantes [texto i, texto ii e texto iii], os quais cometiam a terrível blasfêmia de identificar a Gloriosa Mãe de Deus com um demônio vetero-testamentário. Ele próprio me adiantou que já havia uma refutação católica aqui; tendo isso em vista, passo eu próprio a tecer alguns comentários sobre o assunto. Falando mais sobre a alegação em si do que sobre os devaneios concretos dos quais os textos estão cheios.

Antes de qualquer coisa, cabe apontar que a acusação é totalmente gratuita e descabida, além de ilógica. Do fato de haver um demônio pagão à época do profeta Jeremias que se auto-denominava “rainha dos céus” não segue que não exista a verdadeira Rainha dos Céus, como o fato de Satanás querer tomar o lugar do Deus Altíssimo não implica na inexistência do próprio Deus Altíssimo, ou como (parafraseando Chesterton) uma nota falsa de cinqüenta reais não significa que não exista o Banco Central do Brasil. Aliás, é exatamente o contrário.

Satanás ousou apresentar-se como se fora o Altíssimo. Contra ele, levantaram-se as legiões de anjos fiéis ao Todo-Poderoso gritando-lhe: quis ut Deus?, quem como Deus? Se fossem protestantes as hierarquias angelicais, por certo que combateriam o próprio Deus Altíssimo sob o pretexto de que era exatamente isto o que afirmava de si o primeiro Anjo Caído. Aliás, coisa bastante parecida com isso já aconteceu – não com anjos, claro. E está registrada nos Evangelhos:

“Como pode este homem falar assim? Ele blasfema.
Quem pode perdoar pecados senão Deus?”
(Mc II, 7)

E este diabólico “quem (…) senão Deus?” dos escribas é materialmente muito parecido com o justíssimo “quem como Deus?” de São Miguel. Talvez estes judeus da época de Cristo tenham sido os legítimos antecessores dos hereges protestantes do século XVI – uns e outros negando a Nosso Senhor. Os fariseus e escribas eram incapazes de distinguir o Deus Verdadeiro dos demônios! Analogamente, os hereges dos tempos modernos que negam as honras devidas à Virgem Maria não conseguem diferenciar as santíssimas obras do Deus Altíssimo das pompas diabólicas dos sequazes de Satanás.

Ora, por qual motivo houve um dia um demônio que se apresentasse como rainha dos céus? Qual seria o porquê, senão pelo fato de haver a verdadeira Rainha dos Céus [inclusive registrada explicitamente nas Escrituras Sagradas: Apareceu em seguida um grande sinal no céu: uma Mulher revestida do sol, a lua debaixo dos seus pés e na cabeça uma coroa de doze estrelasAp 12, 1], de Cujas honras e glórias os demônios são invejosos e as anseiam por roubar? Não é bastante óbvio que a falsificação diabólica aponta precisamente para a existência da obra santíssima do Todo-Poderoso? O fato dos orgulhosos demônios quererem para si este título não demonstra de maneira cabal que ele existe e já pertence por direito a uma Mulher que o inferno não é capaz de suportar?

É justamente a grandeza do Deus Verdadeiro que faz com que um demônio apresente-se aos homens como sendo ele próprio um deus. É também incontestável que o Deus Altíssimo não é a “rainha dos céus” – este título não Lhe é atribuído em lugar algum. Ora, considerando isso, é bastante claro que o demônio auto-apresentado como rainha dos céus não poderia senão estar desejando usurpar o lugar de Alguém – e quem seria Esta senão Aquela grandiosa Mulher coroada no Apocalipse, a Verdadeira Rainha dos Céus, Regina Caeli, a Gloriosa e Imaculada sempre Virgem Maria, Mãe de Deus e nossa?

Satanás quis ser como Deus e foi resistido à face por São Miguel. Se há um demônio que deseja ser como a Virgem Santíssima, devemos resistir-lhe com coragem: não perseguindo a verdadeira Rainha dos Céus, mas perguntando ousadamente: quem como Ela? Aos demônios pagãos que se apresentam falsamente como rainhas do céu ou do mar, devemos responder com as palavras das Escrituras Sagradas: Quem é esta que surge como a aurora, bela como a lua, brilhante como o sol, temível como um exército em ordem de batalha? É certo que não pode ser demônio algum. É certo que Esta só pode ser aquela Mulher que um dia foi chamada de cheia de graça. Aquela que as Escrituras chamam de Mãe do Senhor. Aquela que todas as gerações proclamarão Bem-Aventurada.

E o Papa olhou pra nós

Era uma quinta-feira, e o Vigário de Cristo estava por chegar. Chegamos (relativamente) cedo à Plaza de Cibeles, por volta das dez da manhã. O boato inicial era o de que o Santo Padre passaria à uma da tarde. Procurávamos, próximo ao corredor formado para dar passagem ao papamóvel, um lugar para nos acomodarmos durante a espera.

Os primeiros rumores foram logo desmentidos: o Papa só passaria às sete e meia da noite. O tempo de espera aumentara consideravelmente; nós nem ligávamos. Arranjamos umas pizzas para enganar o estômago enquanto isso. Debaixo do sol escaldante de Madrid, esperávamos pacientemente Pedro.

E as horas passaram entre esperas e cantorias, entre banhos d’água para afastar o calor e conversas animadas com desconhecidos que compartilhavam conosco a mesma Fé e o mesmo objetivo: receber o Papa. Pelo potente sistema de som armado, anunciaram: o Papa deixara a Nunciatura! Estava se dirigindo à Plaza de Cibeles! Levantamo-nos animados. A longa espera nos deixara em uma posição privilegiadíssima: no meio de uma multidão de gente que se estendia até onde a vista alcançava (que se formou ao nosso redor sem que percebêssemos, enquanto passavam as horas do dia), estávamos praticamente encostados nas grades do corredor por onde passaria o papamóvel. Extasiados, dirigimo-nos a ela.

E veio a corte. Batedores policiais à frente, de moto. Seguranças e mais seguranças de terno, ao redor do veículo papal. E, neste, o Sucessor de Pedro, de branco e vermelho, com a janela aberta, sorrindo e acenando para nós.

Passou e voltou. E, na volta, olhou-nos diretamente, chegando a virar a cabeça para trás após a passagem do papamóvel. Olhou-nos e sorriu para nós. Algumas de nós chegaram a dizer que ele havia dado “uma piscadela” – isto, já não garanto. Só garanto o que registrei. O vídeo treme bastante, mas dêem um desconto. Era Pedro quem passava:

Estávamos tão próximos! No dia seguinte, conversávamos com uns voluntários da JMJ. Perguntaram-nos se havíamos visto o Papa: , respondemos com alegria, ayer. “Como daqui pra aí”, estimamos a distância, nós que estávamos bem próximos deles. “Nossa!”, uma delas comentou. “E quanto tempo esperaram?”. “Nove horas”, dissemos com um sorriso. E, após algumas outras afabilidades, nos despedimos.

Nove horas! Sim, valem a pena, eu posso atestar (e julgo que, comigo, todos os que estávamos naquela quinta-feira aguardando o Papa). São os poucos segundos que valem as muitas horas de espera! Diante daquele momento, o dia inteiro parecia pouco. Para ver o Vigário de Cristo passar, todo o sacrifício ao longo do dia se transformava em coisa pequena.

E eu lembrei então de um texto que li em algum lugar, sobre um velho português ouvindo a conversa de dois jovens universitários de Lisboa. Estes louvavam a República, criticando acidamente os gastos com a família real, o fausto da nobreza, a pompa ostensiva e desnecessária da corte. Ao que o velho português respondeu: “meus filhos, vocês só falam isso porque nunca viram o rei passar”.

E o velho está coberto de razão. Não é capaz de entender o significado da corte papal quem nunca a viu em ato, junto ao povo. Não é capaz de compreender a pompa pontifícia quem nunca viu o Papa passar. Eu já vi! E aquele momento é inesquecível, impagável e insubstituível. Vale atravessar o Atlântico, vale comer mal e dormir mal, vale passar o dia inteiro sob o sol escaldante do verão espanhol, vale tudo! Só não entende isso quem não tem Fé. Só não é capaz de entender a grandiosidade de um encontro com o Papa quem nunca viu o rei passar.

Las meninas de Pablo Picasso

Nas minhas recentes andanças espanholas, encontrei-me em Barcelona – bela cidade que eu não conhecia. No meio do meu roteiro turístico, visitei entre outras coisas o recomendado Museu Picasso de Barcelona – “centro de referência para o conhecimento dos anos de formação de Pablo Ruiz Picasso”.

Eu não sou crítico de arte (aliás, sequer entendo de arte) e, portanto, não é nesta condição que escrevo estas linhas. Quero apenas registrar as impressões que os quadros do conhecido pintor espanhol provocaram em mim, um simples observador leigo e ignorante. Mais especificamente, alguns quadros da série Las Meninas que ocupavam a última sala do museu. Para fins desta análise, trago dois aqui.

O primeiro, de outubro de 1957, retrata Isabel de Velasco, María Bárbola i Nicolasito Pertusato. O segundo, de novembro do mesmo ano, traz Isabel de Velasco i María Bárbola. Ambos encontrados neste catálogo virtual do Museu. Seguem abaixo, nesta ordem:

O meu primeiro impulso diante dos quadros foi o de tentar associar as meninas representadas nos dois quadros aos nomes que constavam no título da obra. Faltava uma garota; o segundo quadro, portanto, representava duas das três garotas do primeiro quadro, e uma delas ficara de fora. Quem estava faltando?

Tal processo aparentemente banal se mostrou bastante demorado, para minha grande frustração. As duas meninas do segundo quadro pareciam-me completamente diferentes das três meninas do primeiro. A do segundo quadro que tinha um sinal no queixo (a da direita) não me parecia estar no primeiro; a que tinha “uma lua em cima do nariz” no primeiro quadro (a da direita) não me parecia estar no segundo. Para mim, a que tinha cabelos cacheados no segundo quadro (a da esquerda) não estava no primeiro, e a que tinha “cara de coruja” no primeiro (a do meio) não estava no segundo. Desconcertado, quase julguei ter matado a charada ao notar que “a de rosto quadrado” (a da esquerda) do primeiro quadro não estava no segundo; mas a resposta me pareceu insuficiente.

Foi quando li de novo os títulos dos quadros e percebi que a ordem em que os nomes apareciam provavelmente indicava a ordem em que apareciam as meninas, da esquerda para a direita. Portanto, nos dois quadros, a da esquerda era Isabel de Velasco. María Bárbola era a do meio no primeiro quadro e a da direita no segundo. A que faltava, ergo, era Nicolasito Pertusato. Faltava a garota da direita.

Olhei e olhei novamente para os dois quadros, tentanto encontrar algum indício de que a garota faltante era mesmo a de vermelho. E foi quando eu, embaraçado, percebi: a de vermelho. No primeiro quadro havia verde, azul e vermelho. No segundo, só verde e azul. A garota que estava no primeiro quadro e não estava no segundo era portanto a de vermelho.

A de vermelho! Pensei depois na possibilidade caridosa de que Picasso fosse sinesteta e enxergasse coloridos os nomes das meninas. Mas, naquele momento, o que pensei foi no grande absurdo que é as pessoas serem identificadas pela cor da roupa que utilizam. Na hora eu pensei que os quadros diziam que as meninas não tinham individualidade, distinguindo-se umas das outras tão-somente por coisas exteriores (no caso, as roupas) – talvez uma farda, um número ou um crachá. Eu procurara em vão traços fisionômicos similares (como formato do rosto, olhos, cabelo) para distinguir as meninas, e devia ter desde o início procurado pelas cores dos vestidos.

Na verdade, o que eu vi nestes quadros foi justamente uma arte de vanguarda no pior sentido possível: uma preconização (e em tom laudatório) da supremacia do exterior sobre o interior, das personalidades diluídas e escondidas sob as vestes, as fardas. Vi o nonsense de um mundo onde não era possível identificar os indivíduos senão pelos adereços que eles ostentam, como se Isabel de Velasco pudesse passar a ser María Bárbola bastando que, para isso, trocasse o seu vestido verde por um azul.

E percebi também, temeroso, que o mundo moderno caminha exatamente nesta direção. Assustei-me com a possibilidade de que talvez nós cheguemos um dia a este extremo de impessoalidade retratado nos quadros de Picasso! E este mundo preconizado naquelas telas parecia-me terrivelmente feio, ainda mais feio do que a “arte” disforme e mal-feita nelas contida.

Brasília, Marcha pela Vida, Estatuto do Nascituro, PL 1135

Vale a pena relembrar que ocorrerá amanhã (quarta-feira 31 de agosto), em Brasília, na Esplanada dos Ministérios, a partir das 15h00, a 4ª Marcha Nacional da Cidadania pela Vida, já divulgada aqui. Este ano, o movimento reivindica a aprovação de um projeto de lei para proteger a criança não-nascida. Sobre este projeto de lei, a propósito, a presidente do Movimento Brasil Sem Aborto respondeu algumas questões freqüentemente perguntadas.

Além disso, é de capital importância pôr o nome neste abaixo-assinado pela aprovação do Estatuto do Nascituro. Estamos atualmente com 4500 assinaturas, o que é bem pouco. Seria muito bom se conseguíssemos apresentar, amanhã, 5.000 nomes durante a Marcha. Quem ainda não assinou, que o faça hoje (é bem rápido). Quem ainda não divulgou, que o divulgue agora. Temos pouco tempo.

O lançamento da Marcha já começou semana passada, com este sepultamento [a foto segue abaixo; cliquem para ampliar]. Vale a pena relembrar a história: para nos inspirarmos nas gloriosas vitórias já alcançadas, porém jamais para que baixemos a guarda. A luta continua. Que a Virgem Imaculada livre o Brasil da maldição do aborto.

“Julgará os povos pagãos, empilhará cadáveres” (Sl 109, 6)

O feminismo levará as mulheres à extinção?

Vi recentemente este estudo que apontava para uma possível “extinção das mulheres” (!) em algumas gerações. A previsão é um pouco absurda porque tem a ousadia de olhar muitos séculos à frente [p.ex., diz que “[e]m 25 gerações, o número de mulheres no país [Hong Kong] vai cair dos atuais 3,75 milhões para apenas uma no ano de 2798”]; mas serve para identificar tendências. Serve para fazer o alerta.

Até porque há previsões muito mais próximas e nem por isto menos dramáticas. Esta, p.ex., diz que em 2020 “haverá mais de 24 milhões de chineses sem mulheres para casar”. Não creio que semelhante flagelo tenha já alguma vez se abatido sobre a humanidade. Deste nós podemos nos orgulhar, porque ele é eminentemente moderno. Moderno demais.

E, diante de coisas assim, impressiona-me vivamente este paradoxo do feminismo (quer seja enaltecendo a “realização” da mulher que a faz não casar e/ou não ter filhos – como em Hong Kong -, quer seja defendendo e praticando o aborto – como na China). Que brilhante “defesa” das mulheres esta! Quem jamais ouviu falar em um movimento a favor de uma “classe” que, aplicado, leva à extinção desta classe?

São males modernos. São os frutos da modernidade. É o resultado de um mundo sem Deus.

Sobre o falecimento de Dom Clemente Isnard

Faleceu anteontem (quarta-feira 24/08), aqui em Recife, aos noventa e quatro anos de idade, Sua Excelência Dom Clemente Isnard, arcebispo emérito de Nova Friburgo. Espantei-me ao ler hoje esta nota de pesar publicada pelo Secretário-Geral da CNBB, Dom Leonardo Steiner.

Antes de mais nada porque a epígrafe não serve de epitáfio para Sua Excelência. É, aliás, uma tremenda falta de caridade para com o prelado recém-falecido, que precisa urgentemente é de orações de sufrágio e de súplicas ardentes ao Todo-Poderoso para que se tenha arrependido de tanto mal que causou à Igreja durante a sua vida. Dom Clemente precisa é da misericórdia do Altíssimo por ter perseguido a Cristo, e não de “preces de gratidão” como se houvesse sido em vida um Defensor Fidei.

O texto de Dom Steiner fala que Dom Clemente foi “o responsável direto pela reforma litúrgica no Brasil”. Isto é verdade; mas, antes de ser motivo de orgulho, é causa de vergonha e de opróbrio para ele próprio, para a Ordem de São Bento, para o Episcopado Brasileiro e para a Igreja Católica nesta Terra de Santa Cruz. É precisamente graças a Dom Clemente Isnard que nós sofremos, até hoje, com uma tradução porca do Missale Romanum (para cuja aprovação a Santa Sé foi enganada por Dom Isnard) que o Vaticano tenta em vão melhorar, e com uma babel litúrgica universalmente generalizada de fazer inveja à Europa pós-Reforma de Lutero. Nós, hoje, amarguramos os frutos podres das desonestidades de Dom Isnard que, antes de ser sentinela zeloso pela preservação da Fé Católica e pelo decoro do culto a Deus, foi inimigo da Igreja que Lhe abriu as portas por dentro para os assaltos das tropas de Satanás.

Para não me alongar muito e para os leitores que não estejam a par do terrível mal que Dom Clemente fez à Igreja no Brasil, remeto a este texto do Oblatvs e a estes dois testes do Exsurge, Domine! (parte 1 e parte 2) sobre “O Inclemente Isnard”. E, aos que passarem por aqui, peço que rezem ao menos uma ave-maria por este homem recém-falecido aqui na minha terra, que foi chamado a se apresentar diante do Justo Juiz tendo nas costas tantas culpas por tantos e tão graves males provocados à Igreja à Qual ele jurou servir. Que Ele tenha se arrependido de seus crimes, e que o Todo-Poderoso não perca esta chance de mostrar como é de fato Rico em Misericórdia para além de quaisquer medidas humanas.

R.I.P.

E os servos do Rei da Glória calaram os escravos do Príncipe das Trevas

Eu quero escrever bastante coisa sobre a recente Jornada Mundial da Juventude, em Madrid, à qual tive a grande honra de estar presente [aliás, para quem ainda não viu, há um proto-relato meu publicado pelo Wagner Moura]. Tenho esbarrado na falta de tempo, nas pendências acumuladas, no sono bagunçado pelo fuso horário; contudo, quero aproveitar para fazer um rápido comentário sobre um aspecto do evento que, a despeito de ter (aparentemente) ocupado um grande espaço da mídia local, não tem a relevância que parece à primeira vista. Refiro-me aos protestos contra o Papa feitos pelos anti-clericais espanhóis.

A foto abaixo foi a capa do El Mundo da quinta-feira passada, 18 de agosto de 2011. Era o dia da chegada do Papa à Espanha. Na véspera, ocorrera em Puerta del Sol um embate entre militantes laicínicos e os jovens que voltavam da Plaza de Cibeles, onde estavam ocorrendo atividades da JMJ. Não estive presente a este momento glorioso. Um amigo o presenciou e disse que iria escrever um relato, que estou aguardando. Enquanto isso, quero falar do que eu ouvi e do que eu não vi, eu que lá estive durante estes dias incríveis.

A imagem é belíssima! Reparem no contraste entre a serenidade da jovem que beija o crucifixo e o ódio desesperado de Satanás que avança sobre ela, com a mão em riste à moda italiana. É a diferença entre os servos do Rei da Glória e os escravos do Príncipe das Trevas. Entre os que amam a Deus e os que O odeiam. Não tive a graça de participar deste momento sublime; mas enchi-me de alegria por esta peregrina anônima que, diante de uma horda de demônios, apenas beijou a Cruz de Cristo. Encontrei-me nela, e nesta atitude dela eu vi a atitude de todos os católicos – milhares, centenas de milhares, milhões – que estávamos em Madrid por estes dias, para dar testemunho público da Fé em Cristo. A despeito das perseguições e das incompreensões que porventura sofrêssemos.

Não era outra a razão pela qual nós ali estávamos. Queríamos nos dizer católicos, queríamos encontrar o Vigário de Cristo e queríamos ouvir as suas palavras para nós. Queríamos cerrar fileiras junto a ele, e mostrar a uma Europa descristianizada a vitalidade da Igreja de Cristo em Seus jovens – que somos não somente o futuro da Igreja, mas também o presente da Igreja. E a imponência deste Gigante impressionou os inimigos de Deus. As ruas e praças da cidade, as lojas e as estações de metrô tomadas por uma infinitude de católicos fizeram Madrid estremecer. Tremeram os inimigos de Cristo, que O julgavam já moribundo. Tremeram, quando viram as multidões acorrerem à capital da Espanha atendendo ao chamado do Doce Cristo na Terra.

Tremeram, e vacilaram, e não fizeram senão gestos tímidos e irrelevantes cuja única repercussão digna de nota foi a que lhes concedeu desproporcionalmente a mídia anti-católica. Como eu disse acima, eu quero falar também sobre o que eu não vi, e o fato é que eu não vi nada de manifestações atéias e laicínicas que merecessem o menor destaque. Eram sempre de uma tremenda insignificância. Não ousaram adentrar nos eventos da Jornada: limitaram-se a colar pequenos cartazes cretinos [havia uns dizendo que good catholics use condoms], que nós simplesmente arrancávamos. Limitaram-se a fazer pichações ínfimas, que nós as mais das vezes sequer víamos. Limitaram-se a ensaiar as referidas agressões em Puerta Del Sol, que foram rapidamente controladas pela polícia espanhola (ver também este vídeo aqui). Em suma, os (tíbios) desgostosos com a visita do Papa eram mentirosos, vândalos e baderneiros. Nada mais.

Em contrapartida, ao final da jornada, até a mídia laicista foi forçada a reconhecer os méritos da JMJ 2011. Vejam esta coletânea de artigos da imprensa espanhola rendendo-se a Bento XVI. Os mesmos órgãos de imprensa que reclamavam dos gastos públicos com a Jornada, que rasgavam as vestes exigindo a laicidade do Estado e que vaticinavam terríveis protestos contra a visita do Sumo Pontífice foram obrigados a reconhecer o grande êxito da JMJ. No final das contas, opondo um sereno beijo num crucifixo aos gritos histéricos dos inimigos da Igreja, os católicos calamos a mídia anti-clerical espanhola! Este é um feito que não pode ser subestimado. Esta é uma vitória que não pode ser menosprezada. Este é um evento que precisa ficar na história.

No tribunal dos homens, é censurada a palavra de Deus

(Foto: Silva Júnior/Folhapress, apud G1)

A imagem acima é de um outdoor originalmente colocado em Ribeirão Preto. Uma liminar da Justiça na última sexta-feira (19 de agosto) determinou a sua imediata retirada. A justificativa do defensor público que entrou com a ação não poderia ser outra: “homofobia”.

A “Parada Gay” pode utilizar-se de caricaturas blasfemas de santos católicos em aberta promoção da homossexualidade. No entanto, os protestantes não podem publicar frases bíblicas retiradas literalmente das Escrituras Sagradas. Esta é a “justiça” dos nossos tempos: a lei de Deus é vilipendiada e não tem direito à exibição pública. As únicas coisas que merecem visibilidade e promoção são as torpezas, as imoralidades, os pecados. A Bíblia Sagrada é “homofóbica”, e condenar o comportamento imoral dos sodomitas é “homofobia”. Ao contrário, censurar pública e oficialmente a palavra de Deus… é “cidadania”, é a única atitude moralmente aceitável pelos novos bárbaros empenhados em destruir a civilização erguida pela Igreja ao longo dos séculos.

O Carlos Ramalhete falou sobre isso em sua coluna de hoje. Nas palavras dele: «Uma opinião minoritária surgida ainda dentro do tempo de vida da maior parte dos leitores deste jornal ganhou na Justiça o direito de calar o texto que, independentemente da crença de cada um, é inegavelmente parte fundamental e inspiradora de no mínimo os últimos 2 mil anos da civilização a que pertencemos». Estes são os tristes dias nos quais vivemos. Estes são os frutos de uma “modernidade” esquecida de Deus. E a história dá testemunho de que tudo é possível quando se esquece de Deus. O comportamento neo-fascista da Gaystapo está ultrapassando – com uma celeridade assustadora – todos os limites da civilidade e do bom senso.

“Não existe evidência científica possível para sustentar que um zigoto, ou um óvulo recém-fecundado, não tenha direitos”

Eu não achei que fosse viver para ler isto na Folha de São Paulo: «Rodrigo Guerra, diretor do Cisav (Centro de Pesquisa Social Avançada do México), concordou que não existe evidência científica possível para sustentar que um zigoto, ou um óvulo recém-fecundado, não tenha direitos». E ainda: «o embrião tem capacidades humanas, embora limitadas, e portanto toda a normalidade existente internacionalmente para proteger seres humanos com capacidades diferentes deve se aplicar nestes casos».

Na mídia nacional! Na Folha de São Paulo! É nestes momentos que a evidência é tão evidente que se impõe por si mesma: «Sabemos por experiência empírica contundente que as estruturas precursoras do sistema nervoso central existem desde o momento da fecundação. Desde aí o genoma humano é completo e funcional, e seu metabolismo é autônomo, ou seja, processa energia por si mesmo, embora continue sendo dependente nutricionalmente da mãe».

Respeito à vida humana desde a concepção até a morte natural: exatamente o que pede a Igreja. É praticamente a mesma conclusão a que chegaram os cientistas liderados por John Haas. E o mais importante é que tal assunto é tratado com a inegociabilidade que merece: o grupo de cientistas «rejeitou a abertura de um debate sobre o tema». Bravo! Certas coisas não se discutem. A certas posições irracionais não é lícito conceder a gentileza de um debate, como se ela fosse algo a priori aceitável.

Enquanto isso, os comentários dos bárbaros inimigos da civilização destilam o mesmo irracionalismo raivoso de sempre. Por exemplo, houve quem dissesse que «John Haas é presidente de um grupo católico anti-aborto (National Catholic Bioethics Center)! Ele está falando como religioso e não como cientista». E (como comentou um amigo) o Dawkins et caterva, militantes anti-religiosos raivosos, porventura falam como cientistas? Honestidade intelectual passa longe dessa gente…

Outro aviso

Nunca pensei que teria tantas dificuldades para me conectar na Espanha! Mas peço a paciência de todos.

Teoricamente, eu já deveria estar no Brasil agora, mas perdi o vôo de ontem. Entre perder o vôo e perder a missa de fechamento da JMJ, optei alegre e satisfeito pelo primeiro – e não me arrependi. A minha única pena foi a de não ter feito a cobertura “em tempo real” que eu gostaria de fazer; mas temos fotos e boas lembranças para compartilhar assim que possível.

Chego no Brasil amanhã, se o bom Deus permitir. Desejem-me boa viagem! Ontem, ao final da Santa Missa, a bênção pontifícia foi extensiva àqueles que são caros aos que estavam presentes em Cuatro Vientos. E gosto de pensar que Deus é rico em misericórdia e, portanto, não Se importaria em me deixar inflar esta lista. Os meus amigos (inclusive os virtuais), as pessoas com quem eu esporadicamente converso por aqui e até mesmo aqueles que me lêem sem que eu sequer saiba: vós me sois caros! E podeis vos julgar abençoados, pelo Sucessor de Pedro, na pessoa deste pobre blogueiro que, nos últimos dias, esteve na capital da juventude católica do mundo.

Hasta luego!