E o Papa olhou pra nós

Era uma quinta-feira, e o Vigário de Cristo estava por chegar. Chegamos (relativamente) cedo à Plaza de Cibeles, por volta das dez da manhã. O boato inicial era o de que o Santo Padre passaria à uma da tarde. Procurávamos, próximo ao corredor formado para dar passagem ao papamóvel, um lugar para nos acomodarmos durante a espera.

Os primeiros rumores foram logo desmentidos: o Papa só passaria às sete e meia da noite. O tempo de espera aumentara consideravelmente; nós nem ligávamos. Arranjamos umas pizzas para enganar o estômago enquanto isso. Debaixo do sol escaldante de Madrid, esperávamos pacientemente Pedro.

E as horas passaram entre esperas e cantorias, entre banhos d’água para afastar o calor e conversas animadas com desconhecidos que compartilhavam conosco a mesma Fé e o mesmo objetivo: receber o Papa. Pelo potente sistema de som armado, anunciaram: o Papa deixara a Nunciatura! Estava se dirigindo à Plaza de Cibeles! Levantamo-nos animados. A longa espera nos deixara em uma posição privilegiadíssima: no meio de uma multidão de gente que se estendia até onde a vista alcançava (que se formou ao nosso redor sem que percebêssemos, enquanto passavam as horas do dia), estávamos praticamente encostados nas grades do corredor por onde passaria o papamóvel. Extasiados, dirigimo-nos a ela.

E veio a corte. Batedores policiais à frente, de moto. Seguranças e mais seguranças de terno, ao redor do veículo papal. E, neste, o Sucessor de Pedro, de branco e vermelho, com a janela aberta, sorrindo e acenando para nós.

Passou e voltou. E, na volta, olhou-nos diretamente, chegando a virar a cabeça para trás após a passagem do papamóvel. Olhou-nos e sorriu para nós. Algumas de nós chegaram a dizer que ele havia dado “uma piscadela” – isto, já não garanto. Só garanto o que registrei. O vídeo treme bastante, mas dêem um desconto. Era Pedro quem passava:

Estávamos tão próximos! No dia seguinte, conversávamos com uns voluntários da JMJ. Perguntaram-nos se havíamos visto o Papa: , respondemos com alegria, ayer. “Como daqui pra aí”, estimamos a distância, nós que estávamos bem próximos deles. “Nossa!”, uma delas comentou. “E quanto tempo esperaram?”. “Nove horas”, dissemos com um sorriso. E, após algumas outras afabilidades, nos despedimos.

Nove horas! Sim, valem a pena, eu posso atestar (e julgo que, comigo, todos os que estávamos naquela quinta-feira aguardando o Papa). São os poucos segundos que valem as muitas horas de espera! Diante daquele momento, o dia inteiro parecia pouco. Para ver o Vigário de Cristo passar, todo o sacrifício ao longo do dia se transformava em coisa pequena.

E eu lembrei então de um texto que li em algum lugar, sobre um velho português ouvindo a conversa de dois jovens universitários de Lisboa. Estes louvavam a República, criticando acidamente os gastos com a família real, o fausto da nobreza, a pompa ostensiva e desnecessária da corte. Ao que o velho português respondeu: “meus filhos, vocês só falam isso porque nunca viram o rei passar”.

E o velho está coberto de razão. Não é capaz de entender o significado da corte papal quem nunca a viu em ato, junto ao povo. Não é capaz de compreender a pompa pontifícia quem nunca viu o Papa passar. Eu já vi! E aquele momento é inesquecível, impagável e insubstituível. Vale atravessar o Atlântico, vale comer mal e dormir mal, vale passar o dia inteiro sob o sol escaldante do verão espanhol, vale tudo! Só não entende isso quem não tem Fé. Só não é capaz de entender a grandiosidade de um encontro com o Papa quem nunca viu o rei passar.

Publicado por

Jorge Ferraz (admin)

Católico Apostólico Romano, por graça de Deus e clemência da Virgem Santíssima; pecador miserável, a despeito dos muitos favores recebidos do Alto; filho de Deus e da Santa Madre Igreja, com desejo sincero de consumir a vida para a maior glória de Deus.

12 comentários em “E o Papa olhou pra nós”

  1. Jorge, você é um ícone e inspiração para blogosfera católica.

    Conseguiu traduzir em poucas palavras uma infinidade de emoções e graças que vivemos durante aquele dia.

    Continue firme nesta missão. Com certeza não esqueceremos aquele dia único em nossas vidas. Éramos escolhidos por estar ali, tão perto…

    Se quiser, sinta-se à vontade para colocar a foto da procissão da pizza:

    http://www.facebook.com/media/set/?set=a.10150295860626100.357602.750561099

    Conte com minhas visitas frequentes.

    Grande Abraço!

  2. Jorge, muito obrigada por colocar em palavras os sentimentos vividos por todos nós, que passamos por essa experiência INCRÍVEL, obrigada pelo registro e por compartilhar conosco!! Fique com Deus e o amor de Maria!
    Pri Alvim

  3. Jorge, foi realmente uma emoção ímpar! Que bênçao enorme estarmos alí. E q maravilha podermos reviver através deste filminho. Ótima iniciativa! Super parabéns e obrigada!

  4. Vivi coisa semelhante em Sidney, mas em menor proporção, (pois também em Sidney foram menos jovens). Esperei 6 horas pra ver o Papa passar, no frio do inverno australiano, mas a emoção foi a mesma descrita por você.
    Não pude ir a Madri, mas agradeço a você que agora compartilhe seus momentos conosco no blog, me fazendo viver a JMJ sem ter estado lá. Obrigada :D

  5. Essa citação dos meninos que não viram o rei passar acho que é de um livro do Gustavo Corção (Descoberta do Outro?). É a frase que um velho imigrante português no Brasil dizia ao Corção quando ele (Corção) era criança.

  6. JB,

    Isso! Valeu.

    Lembro-me de um bom jardineiro português, talassa, ultramontano, que plantou flores no jardim de minha infância — flores que ainda perfumam meus sonhos — e que explicava desolado à minha mãe, depois do assassinato do Rei Dom Carlos de Portugal, que a República era o começo do fim do mundo. E quando nós o cercávamos para exigir dele uma explicação mais clara, o bom súdito perene de Dom Sebastião e de Dom Carlos, com gestos largos e simples, que devem ser o dos cantores que Homero compendiou, meu bom português respondia com olhar iluminado:

    — Ai! os meninos não sabem o que é a gente ver o Rei passar…

    E o gesto reticente era a comitiva de um Rei que passa diante de todas as lendas do mundo.

  7. Cara, eu estava na frente do altar em Cibelis, e estava lá de pé, não tinha como sentar, das 14:30h até a hora que Papa chegou e foi a maior emoção da minha vida!!!
    Sem contar que pouco antes do Cardeal Antonio María Rouco Varela saudar o Santo Padre eu berrei, mas cara berrei com toda força que podia “Viva el Papa!” que foi seguida daquela onde maravilhosa e estupenda de “VIVA!!!”.
    Cara só de escrever me arrepio, inesquecivelmente a melhor experiência da minha vida!

  8. KKKKKK

    Engraçado e emocionante os gritos mesmo depois de o Papa passar.

    Parecem contaminados de uma alegria sem fim.

    Ótimo post, ótimo video.

  9. Muito bonito, Jorge!
    Apenas uma pergunta: sabes o que estava escrito naquele papel que alguém agitave bem ao lado de onde estavas? Acho que o Papa também olhou muito para ele também! :)

  10. Muito perspicaz, meu caro Alien! =D

    O papel era um cartaz escrito a mão por uma das meninas que estava no nosso grupo.

    Dizia El Regnum Christi ama el Papa.

    Abraços,
    Jorge

  11. Que lindo, padrinho!!!

    Revivi tudo novamente agora… Que emoção ver São Pedro bem pertinho!!!

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