Sobre o Carnaval I: o pecado e a ocasião

[À semelhança do que eu fiz no ano passado (começando aqui), vou escrever novamente uma série de textos sobre o Carnaval.]

No que se refere à Moral Católica, existem algumas coisas tão óbvias que não são sequer discutidas por ninguém que mereça ser levado a sério. Por exemplo – e em se tratando do tema que nos propomos a tratar aqui -, é fora de quaisquer dúvidas que o cristão deve evitar o pecado como deve também evitar a ocasião de pecado. Até mesmo a sabedoria popular já consolidou esta verdade em algumas de suas máximas: todos nós aprendemos, por exemplo, que quem brinca com fogo acaba se queimando. Isto é ponto pacífico; quaisquer subversões a respeito dos Dez Mandamentos, “aggiornamenti” morais ou “novas maneiras” de vida espiritual fogem completamente ao escopo das seguintes páginas. Elas se dirigem àqueles que já sabem que o cultivo das virtudes e a destruição dos vícios são um grave dever para todos os que querem salvar a própria alma. Os que ainda não chegaram a este ponto não percam tempo com os pormenores aqui apresentados.

Dissemos que está pacificada a questão sobre a necessidade imperiosa de se evitar o pecado e suas ocasiões. No entanto, a mesma harmoniosa concórdia que encontramos a respeito destes princípios nem sempre se verifica – mesmo entre bons católicos… – no que se refere às suas aplicações práticas. Hoje começa o Carnaval e, com ele, as (já clássicas) disputas sobre a licitude dessas festas. Este blog vem – mais uma vez – defender que é em princípio possível ser católico e brincar o Carnaval; que a festa não é de modo algum um “pecado em si mesma” e não necessariamente é uma “ocasião de pecado” da qual todas as pessoas têm igualmente o dever de fugir.

A tese de que o Carnaval seja em si um pecado é difícil de ser sustentada, porque para tanto ele precisaria conter entre os seus elementos essenciais coisas que fossem intrinsecamente más. Ora, isto simplesmente não é verdade e é evidente que não é verdade. Sim, as bebedeiras desregradas são más, como maus são os pecados contra a castidade, as blasfêmias, o desrespeito familiar, a nudez e as depravações, as brigas, assaltos e assassinatos, é óbvio, mas nenhuma dessas coisas é elemento constitutivo do Carnaval: elas são acidentais. Seria perfeitamente possível haver um Carnaval sem nada disso, e aliás é extremamente raro que uma única pessoa se depare com todas essas coisas quando sai para pular Carnaval (digamos, seria realmente inusitado que no Domingo de Carnaval o sujeito, seguidamente, batesse no seu pai, pichasse o muro da igreja, tivesse relações sexuais com a esposa do vizinho, se embriagasse, ficasse nu na rua, assaltasse um transeunte e desse um tiro na mulher que gritou “pega ladrão”). Se nenhuma dessas coisas é indispensável à festa, portanto, em princípio a festa poderia ocorrer sem nenhuma delas e, também em princípio, não há nada que impeça o católico de se divertir licitamente durante os dias que antecedem a Quaresma.

Saindo do “a priori” para a realidade factual, alguém pode perfeitamente dizer que na prática a teoria é outra: que praticamente não se encontram festas de Carnaval que não estejam repletas de pecados gravíssimos e que, se é raro alguém cometer todos os pecados possíveis em um único dia da festa, é muito mais raro o sujeito passar pelos quatro dias de folia sem cometer nenhum deles. O discurso muda: trata-se não de um pecado em si, mas de uma evidente situação de pecado que deve ser evitada.

Aqui o discurso peca por generalização indevida: há festas e festas e há pessoas e pessoas. Há festas carnavalescas que ocorrem sem mais pecados do que a média das festas celebradas longe de Fevereiro, como também há pessoas que não pecam no Carnaval mais do que no resto do ano. Depende, portanto. Quanto às ocasiões de pecado, eu concedo facilmente que algumas maneiras de se brincar o Carnaval possam ser ocasião de pecado para algumas pessoas (ou ainda algumas maneiras para todas as pessoas, ou todas as maneiras para algumas pessoas). O que nego, visceralmente, é que todas as maneiras de se aproveitar as festas carnavalescas sejam objetivamente ocasião de pecado próxima (ou mesmo remota) para todas as pessoas. Isto faz toda a diferença. É claro que ninguém deve ir a um desfile de mulheres semi-nuas em danças lúbricas; o que é falso é que todas as festas de carnaval sejam exclusivamente compostas de mulheres semi-nuas dançando lascivamente. É evidente que algumas pessoas têm uma propensão maior ao pecado contra a castidade quando estão em uma multidão: o que é falso é que multidões provoquem indistintamente esta tentação em todas as pessoas. Se algo é ou não é ocasião de pecado, isto é assunto que deve ser avaliado criteriosamente por cada qual diante da sua consciência (e do seu diretor espiritual). O que não dá é para passar uma régua e dizer que tudo é a mesma coisa para todo mundo.

Por fim, mais um comentário. Algumas pessoas gostam de trazer escritos dos santos fulminando o Carnaval; ora, acontece que transformar estes escritos em uma condenação em bloco de toda a diversão “profana” é falsificar o pensamento dos santos e a doutrina da Igreja Católica. Afinal de contas, o próprio Santo Afonso de Ligório – o padroeiro dos moralistas! – diz com todas as letras (o negrito é meu):

Algumas ocasiões consideradas em si não são próximas, mas tornam-se tais, contudo, para uma determinada pessoa que, achando-se em semelhantes circunstâncias, já caiu muitas vezes em pecado em razão de suas más inclinações e hábitos. Portanto, o perigo não é igual nem o mesmo para todos.

Conferir valor universal a frases soltas (e as mais das vezes descontextualizadas), repito, não vai senão provocar graves erros de julgamento. Afinal (e para ficar em um só exemplo), nós podemos ler o próprio Santo Afonso dando este conselho aos pais: “pais de famílias, proibi a vossos filhos a leitura de romances”. Se fôssemos aplicar aqui o mesmo rigor intransigente que os inimigos do Carnaval aplicam a outros escritos, concluiríamos que peca gravemente um pai que, no aniversário do seu filho, presenteia-o com um exemplar de “O Homem que foi Quinta-Feira”. Tal conclusão é incontestavelmente disparatada, e isto nos deveria servir – ao menos! – para nos indicar que devemos olhar com um pouco mais de critério para outros escritos (ainda que dos santos) que nos são apresentados de qualquer modo e cujas alegadas conclusões, no fim das contas, parecem-nos um pouco estranhas demais para serem verdadeiras.

O Carnaval pode, sim, ser ocasião de pecado para algumas pessoas. E estas devem sem dúvidas evitá-lo, como qualquer pessoa está obrigada a evitar qualquer outra coisa que, para ela, seja ocasião de queda – como (p.ex.) conversas frívolas ou bebidas alcóolicas. O que não vale é demonizar em bloco as conversas, o álcool ou as comemorações pré-quaresmais. As pessoas são diferentes e devem ser diferentemente tratadas. Ninguém deveria impôr sobre os demais um fardo maior do que eles precisam carregar.

Publicado por

Jorge Ferraz (admin)

Católico Apostólico Romano, por graça de Deus e clemência da Virgem Santíssima; pecador miserável, a despeito dos muitos favores recebidos do Alto; filho de Deus e da Santa Madre Igreja, com desejo sincero de consumir a vida para a maior glória de Deus.

43 comentários em “Sobre o Carnaval I: o pecado e a ocasião”

  1. acho imprudente, pular carnaval é como querer assistir um assalto, como se pode observar tantas almas em pecado imóvel? Se ficar quieto, como Deus não imputará o silêncio como uma omissão?

    é claro que há carnaval sadio, o carnaval é de origem.. cristã.. só olhar o de veneza.. mas o carnaval brasileiro é pior que pagão, é demônico… é uma festa da exaltação dos pecados e vícios, são dias em que o brasileiro, oprimido pelas dificuldades do dia a dia, confia no pecado a válvula de escape. Dificilmente, e até impossivelmente, alguém encontrará um lugar onde se pode pular carnaval sem o pecado em volta, o problema do post é induzir o leitor a confiar que talvez tenha sorte, o que é deveras arriscado.

    Por isso, toda a voz e atitude contra essa festa demoníaca, incluindo o abandono do prazer que esta festa, poderia em tese, proporcionar. Enquanto essa festa não for cristianizada, temos de condená-la.

  2. ahahah, adorei a carinha de mal humorado gerada randomicamente no meu comment, such a party pooper lmao

    desculpe por comentar duas vezes, não ia deixar de perder essa..

  3. Charlekin,

    Concordo e assino embaixo,porém quanto a origem do carnaval há controvérsias,mas não tenho tanto conhecimento,portanto,não irei me manifestar!

  4. Pois é, eu há 11 anos faço retiros de carnaval, não tem igual, pois o Jesus que tem lá, é genial, que legal, para quem não faz retiro, não importa, um bom carnaval.

  5. Prezado Jorge, salve Maria.

    Em linhas gerais, concordo com seu texto e acredito que você esteja com a razão. Não podemos nos esquecer que a Igreja sempre permitiu o carnaval, e esta permissão é prova de que existe uma forma de se brincar o carnaval que possibilita a alegria da alma sem que o espírito seja prejudicado. Nos últimos séculos os melhores católicos brincaram o carnaval em vários países diferentes.

    Porém, discordo frontalmente que hoje o carnaval não seja, necessariamente, uma ocasião de pecado. Afirmo veementemente que o carnaval é, ATUALMENTE, para qualquer pessoa, uma ocasião de pecado da qual os católicos têm o dever de fugir.

    Isso porque não se acha lugar onde as mulheres não se encontrem nuas e/ou semi-nuas e os foliões com grande quantidade de álcool na cabeça. Isso sem falar no ritmo frenético das músicas que causam desordem no intelecto humano e as letras que mais parecem enredos de filmes pornográficos.

    Assim, se existir no país (e no mundo) um carnaval onde estes itens que listei no parágrafo anterior estejam ausentes eu posso rever minha opinião e passar a julgar que pode existir um carnaval atual onde um católico possa brincar.

    Aliás, entre os projetos de vida que tenho estão o fundar uma escola e também realizar festas tradicionais com músicas e danças como era no passado, de acordo com a moral católica. Isso inclui danças italianas, espanholas, celtas, etc, e é claro também o carnaval.

    Os pseudo-tradicionalistas estão muito ranzinzas e precisam saber que dançar faz bem para o corpo e para a alma. Estão mais para puritanos condenados pela Igreja. Aliás, acho que até os puritanos tinham lá seus “arrasta-pés”, sem no entanto haver contato íntimo entre homens e mulheres. E os santos sempre condenaram o mau uso das danças e dos bailes, a devassidão que exalava das almas participantes que contaminavam os salões, mas estes eventos nunca foram condenados pela Igreja por si mesmos.

    Abraços,

    Sandro

  6. Sandro,

    Todos os meus carnavais eu passei em Recife e em Olinda. Nunca gostei do desfile das Escolas de Samba do Rio de Janeiro ou do Axé de Salvador. Eu nem sei exatamente como é o Carnaval em todos os lugares do Brasil; só faço uma ligeira idéia – da qual tenho até medo… – baseado no que vejo rapidamente pela televisão, pela internet e em conversas informais.

    Aqui em Recife é sem dúvidas possível encontrar pessoas seminuas e embriagadas. É sem dúvidas possível ser assaltado e envolver-se em brigas, e encontram-se todas as desgraças que a gente vê nos noticiários de abertura da Quaresma. No entanto, é perfeitamente possível brincar sem se expôr a uma quota maior de perigos do que a que normalmente nos assalta no mundo. Concedo que o nosso século apresente maiores tentações do que o passado recente; mas também não dá para pregar que todo mundo vire eremita e fuja do mundo.

    Quando eu oiço falar em “Carnaval”, p.ex., eu não penso em Sambódromo e nem nos abadás de Salvador. Quando eu penso em “Carnaval”, a imagem que vem claramente à imaginação é esta aqui:

    http://www.youtube.com/watch?v=hl3DCt54BAY

    E não tem como dizer que isto é uma situação de pecado objetiva. Pode ser para algumas pessoas, pode ser em algumas situações, mas não é “em si”. E se coisas assim não forem valorizadas e estimuladas – se as únicas opções forem “fugir do Carnaval” ou “pecar” -, em breve não vai existir mesmo mais nada de lícito e o paganismo vai, desgraçadamente, conquistar este território após já ter sido derrotado pela Igreja. O que será, além de uma vergonha, péssimo para as futuras gerações.

    Desnecessário enfatizar que eu, absolutamente, não estou dizendo que qualquer pessoa pode brincar qualquer festa de Carnaval. Há pessoas e pessoas e há festas e festas, como eu disse. Só estou dizendo que geralmente ainda há opções lícitas e/ou é possível criar opções lícitas. Pode até ser – não sei – que em algum lugar não as haja e, nestes casos, é óbvio que ninguém pode se expôr gratuitamente ao perigo.

    Abraços,
    Jorge

  7. Jorge, salve Maria.

    O bloco colocado por você parece-me um excelente exemplo de um carnaval de acordo com a moral católica: o andamento dos foliões é ordeiro, o traje é bonito e adequado e a música alegre.

    O ritmo é “marcado” pelos bumbos de forma um pouco mais acelerada do que ocorre com fanfarras e bandas, sem no entanto desenfrear-se a ponto de atingir violentamente os sentimentos.

    Este ritmo sereno não anula a melodia e a harmonia, mas coloca-se a serviço delas, melodia e harmonia estas que estão qualitativamente presentes pelos instrumentos de sopro, garantindo o equilíbrio da canção.

    Resumindo: um verdadeiro show! Fiquei feliz mesmo de ver o vídeo. Obrigado por tê-lo postado!

    Quanto a letra, não a pude compreender muito bem, mas pareceu-me bastante saudável, abordando flores e aspectos relacionados ao bloco em si mesmo.

    Está aí, ao meu ver, neste vídeo, um fabuloso exemplo de um carnaval que, pelo menos em um primeiro momento, contêm todos os elementos morais para que o participante possa se divertir e alegrar sua alma ao mesmo tempo que não se contamina com ritmos intensos que despertam paixões.

    Porém (tem sempre um “porém”), a questão é realmente da presença da multidão em um evento como este, realizado nos dias atuais. Acho impossível ali não estarem presentes MUITAS mulheres semi-nuas e indivíduos altamente embriagados. Para mim é uma ocasião de pecado muito forte, e acho difícil que não seja para outros homens também.

    Antes aqui no Brasil e na América Latina, além de Portugal e Espanha, entre outros países, o carnaval era feito pela sociedade católica, pelas famílias católicas, o padre estava presente, quem comandava a música eram os mesmos que cuidavam das bandas, das fanfarras e dos corais. Esta é a grande diferença que ao meu ver impede, hoje, de encontrarmos uma ambiente decente para brincarmos o carnaval.

    Mas você provou que existe um bom carnaval. A questão agora é sabermos se é possível frequentá-lo, pelos fatores acidentais.

    Eu não vou! Se for, posso perder minha alma.

    Abraços,

    Sandro

  8. Jorge, boa tarde !

    aí, com certeza a coisa ainda é mais light. Mais popular, mais “cultural”

    Aqui no rio, por exemplo, alem de toda a liberalidade que acontece dos desfiles das Escolas de Samba, onde 80 % dos sambas enredo evocam divindades pagãs, temos o financiamento das escolas por contraventores, dinheiro lavado do tráfico de drogas e armas. Temos um culto a “carne”. Um culto ao corpo. Um culto a tudo aquilo que não é belo e bom.

    90 % dos turistas solteiros e estrangeiros que vem ao Rio de Janeiro, vem para praticar sexo. Porém, é mais fácil e cômodo mascarar essa verdade.

    O rio é a capital mundial do sexo livre, mas a imagem vendida é a da “cidade maravilhosa”. E tudo isso com participação governamental e privada.

    Pra piorar, temos a volta dos blocos de rua. Além do “pega pega geral”, do “troca troca geral”, onde ninguém é de ninguém, da bebedeira, temos blocos com nomes que “gozam” a fé católica :
    Suvaco de Cristo, Carmelitas, etc, etc, etc…… Muita gente vestido de freira, gozando dos sacramentos, dos padres…….da Igreja !

    Aquele saudosismo de um carnaval onde tudo era familiar, romântico, da colombina, do arlequim e o pierrot, não existe mais. Como dizia o saudoso Padre Leo, “morréu ”

    É uma cultura de morte, onde individualmente ou coletivamente, está a serviço de Satanás e objetiva claramente perder almas. Infelizmente a mentalidade do povo está contaminada pelo relativismo e somente nosso Senhor Jesus pode nos salvar.

    O buraco é mais embaixo.

    Não me excluo de não ter essas tentações e longe de mim, ao olhar para minhas misérias achar-me “puro” ou melhor que os outros que “caíram do samba”. Muito pelo contrário.

    Mas Deus, em sua infinita bondade e misericórdia, pode tirar de cada ato, de cada uma dessas situações, algo de bom, para cada pessoa e também para cada um de nós.

    Há tantas coisas a fazer nesses dias e creio que nadar contra a corrente será nossa vitória ! Precisamos nos converter !

    abs,

    Marcelo Rocha

  9. Prezado Jorge, salve Maria.

    Você me fez um bem muito grande colocando aquele link acima. A partir dele foi possível encontrar alguns outros relacionados ao mesmo bloco.Um deles me chamou a atenção. Veja:

    http://www.youtube.com/watch?v=OeQS0aUJjS8&feature=related

    Constate a bela canção carnavalesca. Perceba também que a esmagadora maioria das fotos apresentam fantasias muito bonitas.

    Fiquei até pensando que a promoção de apresentação de blocos carnavalescos pode ser feita em minha cidade fora do centro, em bairros um pouco afastados mas que contenham, por exemplo, um ginásio poliesportivo. Então quem comparecer sabe que a festa é católica.

    Penso que isso atrairia muitas famílias e as crianças seriam estimuladas a aprenderem instrumentos musicais, e se divertiriam junto com seus pais sadiamente.

    Vou salvar tudo que encontrar sobre o tema. Aliás, o seu outro texto de número dois também parece-me perfeito. Tem uma frase dita por você que penso demonstrar bem toda a questão:

    “(…) a Igreja preservou sim o Carnaval. Sejamos honestos: Cristo venceu maravilhosamente os deuses pagãos, e esta vitória foi tão absoluta que os únicos ‘resquícios de paganismo” que restaram foram os que aprouve à Igreja que restassem. Acabaram-se os sacrifícios humanos, acabou-se a prostituição religiosa, acabou-se a divinização do Imperador, acabaram-se as feras do Circus Maximus. O que havia de ser destruído foi destruído: o que sobreviveu – sejamos claros – foi o que a Igreja deixou que sobrevivesse.

    E todos os “costumes pagãos” que foram preservados foram também ressignificados: dizer que o Carnaval “sobreviveu” a 2000 anos de Cristianismo mantendo-se não obstante perfeitamente pagão e anti-cristão chega às raias da blasfêmia. Equivale a afirmar a incompetência da Igreja em expurgar do mundo esta influência nefasta do Seu grande inimigo: o paganismo, cuja derrota fragorosa é historicamente incontestável”.

    Abraços,

    Sandro

  10. Interessante o argumento. Porém eu fico mais com os comentários feitos por tantos grandes santos sobre esta festa:
    “Nestes dois últimos dias de carnaval, conheci um grande acúmulo de castigos e pecados. O Senhor deu-me a conhecer num instante os pecados do mundo inteiro cometidos nestes dias. Desfaleci de terror e, apesar de conhecer toda a profundeza da misericórdia divina, admirei-me que Deus permita que a humanidade exista”.
    (Santa Faustina Kowalska)

    “O carnaval é um tempo infelicíssimo, no qual os cristãos cometem pecados sobre pecados, e correm à rédea solta para a perdição”.
    (São Vicente Ferrer)

    “Numa outra vez, no tempo de carnaval, apresentou-se-me, após a santa comunhão, sob a forma de Ecce Homo, carregando a cruz, todo coberto de chagas e ferimentos. O Sangue adorável corria de toda parte, dizendo com voz dolorosamente triste: Não haverá ninguém que tenha piedade de mim e queira compadecer-se e tomar parte na minha dor no lastimoso estado em que me põem os pecadores, sobretudo agora?”
    (Santa Margarida Maria Alacoque)

    O Servo de Deus, João de Foligno, dava ao carnaval o nome de: “Colheita do diabo”.
    Santa Catarina de Sena, referindo-se ao carnaval, exclamava entre soluços: “Oh! Que tempo diabólico!”
    São Carlos Borromeu jamais podia compreender como os cristãos podiam conservar este perniciosíssimo costume do paganismo.
    Santa Teresa dos Andes escreve: “Nestes três dias de carnaval tivemos o Santíssimo exposto desde a uma, mais ou menos, até pouco antes das 6 h. São dias de festa e ao mesmo tempo de tristeza. Podemos fazer tão pouco para reparar tanto pecado…”
    Santo Afonso Maria de Ligório escreve: “Não é sem razão mística que a Igreja propõe hoje à nossa meditação, Jesus Cristo predizendo a sua dolorosa Paixão. Deseja a nossa boa Mãe que nós, seus filhos, nos unamos a ela na compaixão de seu divino Esposo, e o consolemos com os nossos obséquios; porquanto os pecadores, nestes dias mais do que em outros tempos, lhe renovam os ultrajes descritos no Evangelho. Nestes tristes dias os cristãos, e quiçá entre eles alguns dos mais favorecidos, trairão, como Judas, o seu divino Mestre e o entregarão nas mãos do demônio. Eles o trairão, já não às ocultas, senão nas praças e vias públicas, fazendo ostentação de sua traição!
    Eles os trairão, não por trinta dinheiros, mas por coisas mais vis ainda: pela satisfação de uma paixão, por um torpe prazer, por um divertimento momentâneo. Uma das baixezas mais infames que Jesus Cristo sofreu em sua Paixão, foi que os soldados lhe vendaram os olhos e, como se ele nada visse, o cobriram de escarros, e lhe deram bofetadas, dizendo: Profetiza agora, Cristo, quem te bateu? Ah, meu Senhor! Quantas vezes esses mesmos ignominiosos tormentos não Vos são de novo infligidos nestes dias de extravagância diabólica?
    Pessoas que se cobrem o rosto com uma máscara, como se Deus assim não pudesse reconhecê-las, não têm vergonha de vomitar em qualquer parte palavras obscenas, cantigas licenciosas, até blasfêmias execráveis, contra o Santo Nome de Deus. Sim, pois se, segundo a palavra do Apóstolo, cada pecado é uma renovação da crucifixão do Filho de Deus. Ah! Nestes dias Jesus será crucificado centenas e milhares de vezes” (Meditações).

  11. Acredito que quando Santo Afonso proibiu aos pais dar um romance o mesmo não estava se referindo a um romance tipo Poliana que eu li ou muito menos ao do Homem que era quinta feira que eu não li mas é de um pensador católico e na verdade nem romance é. Por alguns trechos que li está mais para a transmissão de verdades filosóficas de forma romanceada. Ele por certo se referia a romances do tipo A CARNE ou O Cortiço e outros nesses gêneros. Neste caso o santo alertava para o tipo de literatura que contrariava s mandamentos. Como muitos destes romances se referiam a paixão ou exaltavam o relacionamento amoroso ele generalizou numa palavra. Mas nada que um bom pai católico ou um padre fiel não pode pudesse discernir se era ruim ou não.

  12. Amigos, salve Maria.

    Apenas para repetir o argumento do Jorge: o carnaval não é mal em si mesmo, apenas o uso que se faz dele é que pode ser ruim.

    Fazendo um paralelo, são como as imagens de escultura: podem ser utilizadas incorretamente, e desta forma tornam-se ídolos, e podem ser usadas corretamente, e desta forma tornam-se imagens sacras.

    E possível também comparar o carnaval a uma faca que pode ser usada para o bem do ser humano, sendo usada para cortar um pedaço de carne, ou para o mal, sendo usada para tirar a vida de alguém.

    O que deve ficar claro é que em todas as passagens que os santos lamentaram o carnaval foi o mal uso que se fez dele, porque a Igreja sempre permitiu aos fiéis participarem desta festa. Agora, se ainda quiserem insistir que o carnaval é mal em si mesmo, por favor, apresentem uma passagem papal afirmando isso e condenando o carnaval.

    O costume da Igreja vale mais do que tudo, já ensina São Tomás de Aquino. E o costume da Igreja é permitir o carnaval.

    Em tempo: escolas de samba com mulheres nuas e sons frenéticos, blocos carnavalescos imorais, carnavais de salão regados a lança perfume e coisas do tipo NÃO SÃO o carnaval que a Igreja sempre permitiu. O carnval permitido pela Igreja é uma reunião de famílias católicas que festejam de forma ordenada ao som inocente de bandas que mais lembram boas fanfarras.

    A Igreja sempre permitiu confraternizações populares onde o povo pode dançar: além do carnaval, as festas juninas são outro exemplo de uma festa aprovada, onde se reunem familias para dançar e se divertir. E nos outros países da América Latina e também na Itália, Espanha e Portugal são várias as festas populares, todas com os católicos dançando e se alegrando.

    Por favor, não vamos confundir as coisas. Peço a Deus que nos abençoe, porque hoje penso que não existe mais a possibilidade de se frequentar um carnaval sadio, aos moldes que a Igreja sempre permitiu. O bom e moral ambiente para um carnaval sadio não existe mais.

    Abraços a todos,

    Sandro

  13. Ambos os textos – frutos do pontificado imaginário de Dom Jorge Ferraz – não tem absolutamente nada que preste.

    Reparem num dos ditames de sua carta pastoral:

    “Mais ainda: defendemos que sem compreender a alegria carnavalesca é muitíssimo difícil compreender bem (e, por conseguinte, viver bem) a própria Quaresma”.

    Agora sim: sem se compreender a tal “alegria carnavalesca”, é muitíssimo difícil compreender bem e viver bem a quaresma.

    E lá vem ele falar do lúdico carnaval de Olinda…O carnaval de Olinda é uma imundície que, deixando de lado toda a questão que Dom Jorge defendeu, deveria ser proibido por questão sanitária: a cidade toda fica rescendendo a urina e fezes nos dias que seguem o tal carnaval; obras estas que os foliões fazem pelas ruas, “cercadinhos” pelos amigos…

    E, curiosamente, surgiu o Sandro de Pontes a defender que “nenhum papa proibiu o carnaval”…Ora, seu Sandro, faz 50 anos que os papas não proibem nada, como bem sabes. Mas sempre proibiram a aproximação consciente de uma ocasião de pecado. E o carnaval atual, mesmo o fedorento carnaval de Olinda, é riquíssimo nelas…

    http://www.youtube.com/watch?v=oUfQZbQZUZg

  14. Jorge, permita-me discordar: o carnaval é, sim, ruim por si mesmo (o chamado “hiato moral”, uma expressão certeira que li outro dia). Pois o carnaval é feito para pecar, é quando o vale-tudo encontra o seu momento. Agora, tem gente que aproveita esta brecha e tem gente que não. A existência de folões sadios – uma exceção! – não dão ao carnaval uma tintura de virtude.

  15. E uma pergunta: você concorda com a atitude do arcebispo do Rio de ter abençoado o sambódromo?

  16. Gustavo, salve Maria.

    Tentarei, ainda mais uma vez, explicar a distinção entre o carnaval permitido pela Igreja e o “carnaval” tal como hoje é praticado.

    O carnaval permitido pela Igreja é uma reunião da sociedade católica as vésperas da quaresma para se alegrar de forma ordenada. Em todo o mundo, nos últimos séculos, a Igreja permitiu esta festa. Apesar de em qualquer tempo existirem abusos, a festa em si, as danças e as músicas sempre foram aprovadas. O Papa Paulo IV, famoso pelo zelo com relação a doutrina católica, patrocinou o carnaval de seu tempo.

    Agora, entenda este carnaval católico como uma festa cristã, familiar, popular e folclórica. Nele as bandas tocam boas músicas, as letras são edificantes e as danças são morais e aprovadas. Na prática, tais canções carnavalescas se parecem muito com as boas fanfarras que até poucos anos existiam em qualquer cidade brasileira. Eram elas que faziam o carnaval pelo país afora.

    No excelente trabalho sobre a licitude das danças e dos bailes, o Padre Olmedo, da FSSPX, escreve o seguinte (o trecho é meio longo, mas vale a pena ser lido):

    “(…) Para que a DANÇA SEJA HONESTA E LÍCITA, é necessário que, sendo EXPRESSÃO DE UMA SÃ ALEGRIA DA ALMA, seus movimentos sejam ordenados de acordo com a reta razão, com arte, harmonia e conforme o que buscam exteriorizar, afastada toda a sensualidade, indecência, atrevimento ou liberdade de gestos, giros e/ou atitudes que possam levar à lascívia. Devem ser DANÇAS DECENTES, isto é, diz S. Afonso, “sem que mediem atos, posturas, movimentos ou contatos contrários à pureza”[77].

    Assim fica excluído como danças honestas a dança abraçada, que põe em contato os corpos (em particular os peitos) dos dançarinos, pelo perigo próximo de sensualidade em que se colocam os participantes…

    A estas ‘qualidades objetivas’ devem somar-se: 1) o motivo honesto dos que concorrem e dançam: um casamento, uma festa familiar etc…; 2) lugar decente: casa particular, ou lugar aberto (por exemplo, como são as DANÇAS EM PRAÇAS PÚBLICAS por motivos de festas patronais) e não público (pelos perigos que implicam se são fechados, estreitos, e além da índole dos assistentes, aglomeração etc.); 3) na presença de pessoas mais velhas, respeitáveis, de costumes honestos; 4) com pessoas decentes, ou seja, virtuosas e que saibam conduzir-se conforme os COSTUMES CATÓLICOS em tais circunstâncias; 5) por pouco tempo[78] e em horários convenientes; 6) com vestimenta cristã; 7) com retidão de intenção; ou seja, com a única finalidade de DIVERTIR-SE POR UM MOMENTO HONESTAMENTE…

    Estas qualidades ENCAIXAM-SE PERFEITAMENTE NESTES BAILES REGIONAIS OU DANÇAS POPULARES, expressão de arte rítmica, de agilidade e destreza, que haviam nos povoados, FESTAS CÍVICAS OU PATRONAIS, e até com a PRESENÇA DO PADRE PAROQUIAL.

    Eram, entre outros da mesma índole, AS DANÇAS E OS BAILES FOLCLÓRICOS DA ESPANHA E DA AMÉRICA LATINA que aconteciam durante a época colonial[79] e até tempos mais próximos, as danças “criollas” que aconteciam no interior do nosso país[80] e que, atualmente são consideradas como relíquias de costumes de um passado que não se deseja recuperar.

    NADA PODE OFENDER A MORAL CRISTÃ A RESPEITO DE TAIS COSTUMES, e talvez alguém se pergunte se, fora desses tipos de danças, hoje poderia dar-se o título de “honesto” e por conseqüência, “lícito” a alguma das danças que os jovens atuais usam em suas festas ou entretenimentos. A resposta é clara: se há a possibilidade de aplicar ao mesmo tempo todas as condições e circunstâncias descritas acima, PODE-SE PRATICÁ-LAS, salvo proibição para aquelas que, ainda que todas as normas tenham sido cumpridas, as referidas danças sejam uma ocasião pessoal de pecado por motivos subjetivos”.

    Fonte: http://www.tradicaoemfoco.com/2011/04/as-dancas-por-padre-ricardo-felix.html

    Portanto, meu amigo Gustavo, danças e bailes folclórico, entre eles o carnaval católico, sempre foram permitidos pela Igreja, e os fiéis sempre participaram destes momentos ativamente, “até com a presença do padre paroquial”, como saliente o padre tradicionalista e argentino autor deste texto.

    Mas entenda bem: isso tudo não tem nada a ver com o que se faz no CARNAVAL DE HOJE EM DIA, porque é claro que isso é uma prostituição desenfreada, altamente imoral e detestável aos olhos de Deus. Isso não é carnaval, é sim mau uso dele.

    Abraços,

    Sandro

  17. Concordo com o Sandro e acrescento que o problema não está na festa denominada carnaval e sim no que ele se tornou hoje devido à mudança do foco de tal festa. Penso que isto é reflexo da secularização da sociedade ou da perda dos bons valores cristãos de outrora.

    Atualmente carnaval é visto como uma festa “pagã” e está a serviço do maligno, infelizmente.

  18. Prezados, seja louvado Nosso Senhor Jesus Cristo!

    Participo de um lista de e-mail catolicos onde me foi apresentado esse texto.

    Tenho familiares em Recife e já fui a muitos carnavais antes de minha conversão e mesmo depois depois de ter me convertido, pois creio que muitos sabem (quem assistiu a santa missa da sexagésima) que a semente é jogada mas se vai dar frutos, isso depende do terreno. Assim me encantei com a verdade dos argumentos católicos, mas para largar os hábitos e vícios me custou muito e ainda custam.

    Pois bem, o assunto é carnaval e se é lícito ou não ir, se é mal em si ou não ou ainda se o problema é o “espirito” dos que brincam.

    Devo dizer para começo de conversa que eu gosto do Carnaval. Ponto final. Sou atraído de forma muito intensa e até estranha pelo carnaval pernambucano que conheço de perto. E que eu não vou mais não só por me achar fraco e suscetivel (Diz o Imitacão de Cristo, o que se juga de pé cuidado para que não caia) mas por principio. A Verdade para o Católico deve ser sua Rainha e nós os seus súditos. A mentira não, a utilizamos como uma meretriz para nos encher de justificativas. Afinal somos muito complacentes com nós mesmos.

    E qual o mal do carnaval de ontem, hoje e sempre? Como um vírus pagão introduzido dentro da sociedade cristã é lógico que ele chegaria ao que temos hoje. Imaginem o carnaval na Idade Média… Que beleza não seria?! Lorota! O carnaval medieval era imoralíssimo e o povo cristão foi sempre foi desaconselhado a ir. Foi na Idade Média que se introduziu o personagem por exemplo, do Urso que perdura hoje para designar o amante de uma mulher casada, pois lá, no fim da baixa Idade Media, os ursos carnavalescos tinham relações com mulheres de máscaras nas folias sem ninguém saber quem era quem.

    Sinceramente, como conhecedor de causa, posso dizer que o carnaval teve influencia decisiva e arrastou minha alma desde a tenra adolescencia para um liberalismo absurdo, deixou-me irreverente ao passo que esmagou uma certa docilidade e inocência que tinha naturalmente. E aqui a questão: não fui para os blocos de axé baiano ou sambodromo carioca. Fui para Olinda e Recife antigo. E lá vi muito. E não fiz tanto como possam estar pensando… Dou graças a Deus, mesmo sem compreender como, por ter me tirado do inferno e me dado mais uma chance. Me deu tanto em tão curto espaço de tempo!

    Creio que os que desejam aqui fazer essas escusas só estão tentando ser coerentes com o que vivem e com o que gostam. Estão sendo complacentes consigo mesmos e ficar de bem com sua consciência. Sendo direto, quem não quer largar um erro tenta justificá-lo.

    A questão só se agrava pois ao querer abanar a fumaça que há no carnaval, tentando dissipá-lá, vocês estão acendendo o fogo, não nos pagãos, mas entre os católicos. O carnaval não deve ser brincado santamente, isso é um contra-senso. O carnaval deve ser evitado Santamente e com coragem. E até nisso seremos recompensados.

    Ab homine iniquo et doloso erue me, Domine.

    Leandro

  19. Leandro, salve Maria.

    Vou insistir ainda pela última vez: o carnaval tal qual vêm sendo realizado não deve ser brincado de jeito nenhum, é imoral e diabólico.

    O carnaval tal qual era celebrado, por exemplo, em minha cidade em 1920 pode ser brincado tranqüilamente por qualquer católico. Poucas cidades no Brasil são mais católicas do que as cidades mineiras, e eu me esforcei muito nos últimos anos para perguntar para todos os idosos que tive oportunidade (pessoas como mais de 80 e 90 anos) como eram os carnavais por aqui numa época em que a sociedade era católica e os terço era rezado diariamente em TODOS os sítios e casas da cidade.

    E nesta sociedade católica o carnaval católico era brincado de forma ordeira, inclusive com a presença do padre, que não dançava, claro, mas se fazia presente.

    Claro que o carnaval imoral não pode ser aceito por nenhum cristão, seja o carnaval atual, seja da idade média, seja da Roma pagã, pois nada imoral pode ser aceito, nunca!

    Sandro

  20. Sandro,
    Louvado Seja Nosso Senhor Jesus Cristo!

    A questão toda é que tudo está tão corrompido hoje que quando comparamos nossos tempos com os de 80 ou 90 anos atrás pensamos que tudo estava bem, que tudo era lícito e permitido, pois reinavam os bons costumes. Como seria o carnaval na década de 40, por exemplo? Antes da avalanche moral e da crise de fé do Concílio? Antes da Revolução Sexual e do “Proibido proibir”? Saindo do escopo do carnaval brasileiro, como seria ele, por exemplo, ele em Portugal?

    Peço licença para deixar falar Irmã Lúcia, a vidente de Fátima, numa carta de 19/2/1940 escrita ao Cardeal patriarca de Lisboa (os destaques são meus):

    “Eminentíssimo Senhor Cardeal, Nosso Senhor está descontente e amargurado com os pecados do mundo e com os de Portugal, queixando-se da falta de correspondência, vida pecaminosa do povo e em especial da tibieza, indiferença e vida demasiado cômoda que levam a maioria dos sacerdotes, religiosos e religiosas; é limitadíssimo o número das almas com quem se encontra na oração e no sacrifício. Em reparação e súplica por si e pelas outras nações, NOSSO SENHOR DESEJA QUE EM PORTUGAL SEJAM ABOLIDAS AS FESTAS PROFANAS NOS DIAS DE CARNAVAL E SUBSTITUÍDAS POR ORAÇÕES E SACRIFICIOS COM PRECES PÚBLICAS PELAS RUAS. Rogo pois a Vossa Eminência se digne em união com todos os Excelentíssimos Senhores Bispos promovê-las, não esquecendo que Nosso Senhor, ao prometer uma proteção especial à nossa Nação, a declarou também culpada e lhe anunciou algo que sofrer também. Esse algo consistirá em conseqüências de guerras estrangeiras mais ou menos graves segundo a nossa correspondência aos desejos de Nosso Senhor. Nosso Senhor deseja que atraiamos assim a paz não só sobre Portugal mas sobre as demais nações.” (Apud Padre Antônio Maria Martins, S. J., Novos Documentos de Fátima, ed. Loyola, São Paulo, sem data, p. 251).

    Agora note duas coisas no Segredo de Fátima: 1) A 1 guerra Mundial foi causada pelos pecados da carne; 2) Nosso Senhor estava amargurado com o carnaval de Portugal em 1940, e se não houvesse emenda e preces públicas no lugar do carnaval Portugal sofreria guerras sangrentas… Isso é muito sério. Nosso Senhor não poderia apenas pedir preces públicas, orações e procissões caso não houvessem problemas com o Carnaval?

    O que Nosso Senhor não falaria dos blocos líricos de Recife em 2012 na Rua do Bom Jesus… E de das ladeiras de Olinda? O que não pensar da Derpina (https://www.deuslovult.org//2012/02/21/sobre-o-carnaval-iv-a-vai-com-as-outras-e-a-surpresa/)?

    Se você quer insistir… É com você e sua consciência. Você e seu confessor/diretor espiritual. Você e Deus.

    Agora, pesquisando sobre o tema deste artigo no Google e para melhor fundamentar o que escrevi por minha experiência no primeiro post, vi que recentemente saiu um artigo no blog do Padre Marcelo Tenório que pelo o que li parece ser uma antítese do que aqui foi escrito:

    http://www.padremarcelotenorio.com/2012/02/o-carnaval-e-mal-em-sua-natureza.html

    Ler o artigo deste sacerdote foi como lavar minha alma por dois motivos: 1) Ver que ainda existem sacerdotes zelosos com a Fé Católica e o bem das almas e 2) por ter ele confirmado o que eu já sabia por experiência.

    Por fim, Sandro, desculpe-me minhas limitações ou se percebi mal, mas fui ler os seus posts desde o início e não estou certo de sua posição. No começo você afirmava que o Carnaval era hoje, necessariamente ocasião de pecado para qualquer pessoa. Mudou um pouco o tom com atenuantes de carnavais antigos e blocos tradicionais. E agora no fim você me diz que “o carnaval imoral não pode ser aceito por nenhum cristão, SEJA O CARNAVAL ATUAL, seja da idade média, seja da Roma pagã, pois nada imoral pode ser aceito, nunca!”. Mas o Carnaval de Recife e Olinda é imoral. E quem vai não tem como se manter neutro diante do frenesi que causa na carne. Ora, é justo o Carnaval que o autor defende e você diz concordar com ele.

    As troças com sua tradição e suposta boa música só dão a nota que as paixões vão florescer. E quando florescem…
    O autor do blog pretende conciliar Cristo com Momo. Eu fico com o que disse Irmã Lúcia e com o pedido de Nosso Senhor, que não se limitou a 1940. Só podemos destruir uma coisa substituindo por outra. Eu naturalmente gosto do Carnaval e de todas essas marchas, cores e ares, mas por princípio, por amor à Deus e a Verdade de sua Santa Igreja, eu não vou. Deus me conserve sempre nesse propósito.

    Leandro

  21. “Creio que os que desejam aqui fazer essas escusas só estão tentando ser coerentes com o que vivem e com o que gostam. Estão sendo complacentes consigo mesmos e ficar de bem com sua consciência. Sendo direto, quem não quer largar um erro tenta justificá-lo.”

    Perfeito, Leandro!

    Afinal de contas, como brincar carnaval sem perigos para a alma hoje em dia principalmente? Como uma pessoa vai passar por centenas de pessoas semi-nuas, bêbadas, por gente se agarrando, por adultérios e imoralidades mil e ainda conservar-se sem pecado? Muito difícil! Sem falar que expor-se a uma ocasião de pecado desse naipe é muito temerário, se já não é pecado em si. E as blasfêmias? Eu tive que passar na casa de uma amiga semana passada e vi pessoas caminhando em direção à praia para um bloco que ia sair em Ipanema e vi coisas muito feias, inclusive um rapaz vestido como padre….ao lado dele ia alguém semi-nu…eu me senti mal por estar ali por perto, dentro do carro, indo para a casa dessa amiga, mesmo sabendo que eu não estava participando de nada daquilo e que estava de passagem pelo bairro. Imagino como seria se estivesse no meio da folia, tendo à minha volta gente zombando do Senhor, blasfemando e eu ali pulando, cantando e brincando com eles… No Dia do Juízo minha consciência ficaria ainda mais pesada!

    Quem tem blog tem responsabilidade sobre o que é divulgado. Então, Jorge, cuidado com essa promoção que você vem fazendo, tentando justificar seu gosto pelo carnaval. Você está ensinando coisas que não são católicas. Entre você e os santos, entre você e Irmã Lúcia, eu prefiro os santos, eu prefiro Irmã Lucia.

  22. Leandro e Andrea Patrícia,

    Deus os abençoe,
    Impressionante como vocês sintetizaram o que eu estava ensaiando para escrever ao Jorge.
    Digo que sintetizaram porque por absoluta falta de tempo e falta de argumentos tão adequados e pertinentes,dei ênfase a três parágrafos que resumem o que estava no meu coração a saber:

    Do Leandro:

    Creio que os que desejam aqui fazer essas escusas só estão tentando ser coerentes com o que vivem e com o que gostam. Estão sendo complacentes consigo mesmos e ficar de bem com sua consciência. Sendo direto, quem não quer largar um erro tenta justificá-lo.

    A questão só se agrava pois ao querer abanar a fumaça que há no carnaval, tentando dissipá-lá, vocês estão acendendo o fogo, não nos pagãos, mas entre os católicos. O carnaval não deve ser brincado santamente, isso é um contra-senso. O carnaval deve ser evitado Santamente e com coragem. E até nisso seremos recompensados.

    Da Andrea Patrícia:

    Quem tem blog tem responsabilidade sobre o que é divulgado. Então, Jorge, cuidado com essa promoção que você vem fazendo, tentando justificar seu gosto pelo carnaval. Você está ensinando coisas que não são católicas. Entre você e os santos, entre você e Irmã Lúcia, eu prefiro os santos, eu prefiro Irmã Lucia.

  23. Leandro,
    Obrigado pela dica do texto do Pe. Marcelo Tenório; perfeito e obrigatório.
    Sr. Jorge, já deu uma passadinha lá?

  24. “NOSSO SENHOR DESEJA QUE EM PORTUGAL SEJAM ABOLIDAS AS FESTAS PROFANAS NOS DIAS DE CARNAVAL E SUBSTITUÍDAS POR ORAÇÕES E SACRIFICIOS COM PRECES PÚBLICAS PELAS RUAS”.

    Leandro, foi pedido para abolir as festas profanas nos dias de carnaval… e pelo que entendi, era para, nos dias de carnaval, se realizarem orações e sacrifícios com preces públicas pelas ruas. Se não entendi errado, o alvo foram as festas profanas. Então se carnaval for uma festa profana, deve ser abolido. Se não, nada foi dito contra.

    Seria impossível que nos dias que antecedem a quaresma os católicos fizessem uma festa com bons valores?
    Você poderia dizer que o que vemos pelas ruas é mau, mas isto que se vê hoje é feito por católicos, com valores católicos?

    E diferente da opinião da Andrea sobre o trecho de seu comentário que ela julga ser perfeito, eu o vejo como precipitado e temerário pois, falando por mim, desde a minha infância até hoje, eu não participo, nem me sinto tentado a participar do carnaval. Por mim, não existiria festa precedendo a quaresma, mas nem por isso deixarei de reconhecer que podem existir bons carnavais, mesmo que pontualmente.

    O problema não está nos dias que antecedem a quaresma e sim na intenção dos que nestes dias festejam, o que festejam e com que propósito.

  25. Andrea, salve Maria.

    Você escreve:

    “(…)Quem tem blog tem responsabilidade sobre o que é divulgado. Então, Jorge, cuidado com essa promoção que você vem fazendo, tentando justificar seu gosto pelo carnaval. Você está ensinando coisas que não são católicas”.

    Eu penso que o Jorge não está promovendo o carnaval promiscuo tal qual vem sendo feito no Brasil, mas apenas dizendo que a Igreja sempre permitiu uma forma de se brincar o carnaval, e que as famílias católicas sempre brincaram o carnaval de forma honesta (embora possam ter havido abusos).

    Eu vou dar um exemplo de um carnaval muito antigo, do tempo em que os bispos e padres eram bravos e não permitiam pouca vergonha, ainda mais no interior de Minas Gerais. Veja este link:

    http://www.youtube.com/watch?v=OzHsiTFVXI8&feature=related

    Aí você verá o carnaval da cidade de Bonfim, que existe há 170 anos e que sobrevive até os dias de hoje. O objetivo do padre que o criou foi reviver a vitória dos católicos contra os mouros nas cruzadas. E se o padre criou e o bispo permitiu, e se ele se manteve por tanto tempo, é porque é lícito. Ou os vários bispos que estiveram a frente daquela diocese por décadas e décadas e que nunca condenaram este carnaval precisam aprender conosco assuntos relacionados a moral católica?

    Veja o vídeo e imagine este carnaval como ele era realizado há 170 anos atrás….assista o vídeo e poderá imaginar. Não tem como não concluir que sempre existiu a possibilidade de se brincar o carnaval catolicamente, o que não inclui frequentar ambientes imorais, obviamente.

    E além do carnaval de Bonfim existem outros carnavais católicos. Se hoje é possível frequentá-los, é uma outra história, porque o ambiente atual está bem carregado de prostituição e bebedeiras. Mas a questão não é esta: a questão é se é possível haver um carnaval católico. A Igreja diz que sim.

    Sandro

  26. Caríssimos,

    Tentando responder genericamente às coisas que foram colocadas,

    1. não sei o que aconteceu no sambódromo com o Arcebispo. Se Sua Excelência estava apoiando a imoralidade que lá acontece (tese que é no mínimo leviano abraçar, uma vez que eu duvido que o senhor bispo tenha dito algo assim), é óbvio que eu não apoio.

    2. Olinda não foi citada neste texto ou nos outros que escrevi nos últimos dias. Os textos são genéricos. Olinda só entrou na conversa porque eu fui exemplificar uma coisa que acontece no Carnaval e que não tem como ser ocasião de pecado próxima para todo mundo. Aliás, sustento.

    3. Não existe um “carnaval de Olinda e Recife” assim, monolítico, como se tudo fosse a mesma coisa em todos os lugares. Há situações e situações muito diferentes (p.ex., os vídeos mostrados nestes comentários mostram situações totalmente diferentes). É estúpido tratá-las como se fosse a mesma coisa. Como eu disse acima (e mantenho), algumas são ocasião de pecado para todas as pessoas, todas são ocasião de pecado para algumas pessoas mas não é verdade que todas sejam ocasião para todas as pessoas.

    4. Pela milésima vez, ninguém pode se expôr a ocasiões de pecado! Quem é tentado a pecar contra a castidade em uma multidão não deve ir a multidões, quem é tentado a bater na torcida adversária não deve ir ao estádio de futebol, quem é tentado a beber até cair não pode passar na porta do bar. Fulano não pode participar de orgias imorais nem no Carnaval e nem em nenhuma outra época do ano.

    5. Os que estão “ensinando coisas que não são católicas” aqui são, precisamente, os comentaristas anti-carnavais. O sr. Leandro (subscrito pelo Marcio) veio sondar as intenções dos corações aqui (meus e dos outros que defendemos as mesmas coisas) para pontificar que somos hipócritas tentando justificar os erros que não queremos largar! Há algo de católico nisso? Igualmente, não é católico que “[o] carnaval não deve ser brincado santamente”. Oras, TUDO deve ser feito santamente, como ensina o Apóstolo. Se a Igreja quisesse acabar com o Carnaval, eu repito, ela já o teria feito historicamente. Se não o fez, é porque é possível brincá-lo de modo sadio. Este é o ponto. O resto é generalização irresponsável de quem confunde a realidade com o [pouco] que lê na internet ou com dois vídeos de mau comportamento adolescente no Youtube. A idéia do Sandro de promover em sua cidade blocos líricos de frevo é excelente e tem todo o meu apoio, pois é o tipo de atitude fundamental para possibilitar o exercício de valores católicos nos dias imediatamente anteriores à Quaresma. Isto é católico. Ao contrário, não tem nada de católico em ficar copiando-e-colando textos de santos descontextualizados em franca contradição ao ensino e à praxis católica ao longo dos séculos.

    6. O texto do pe. Marcelo está quase perfeito. O único problema é que ele é todo erigido sobre uma grosseira petição de princípio: para ele, o Carnaval é mau em sua natureza porque a natureza dele é “de insubordinação às regras” e de “preponderação da carne sobre o espírito”. Acontece que este é precisamente o ponto em litígio, que deve ser demonstrado e não tomado como pressuposto. É bem verdade que o Carnaval era originalmente uma festa pagã, mas – como já fartamente explicado – a Igreja o ressignificou à luz da Quaresma. Sim, glorifiquemos a Deus em nossos corpos; mas façamo-lo também por meio de uma sadia alegria.

    Abraços,
    Jorge

  27. Leandro, salve Maria.

    Não existe nenhuma contradição com os meus textos. A confusão vem do fato de utilizarmos a mesma palavra para duas festas diferentes. Explico.

    Quando eu digo que o carnaval de hoje é imoral, estou dizendo todo este carnaval que encontramos por aí: mulheres nuas, bebedeiras, ritmos frenéticos, etc. Então, este carnaval é realmente diabólico.

    Ao mesmo tempo, quando eu digo que o carnaval pode ser brincado pelos católicos, eu estou me referindo as festas que existiam nas sociedades católicas, festas estas que eram aprovadas pelo papa (ainda que tacitamente), pelos bispos e padres. É lógico que nelas poderiam ocorrer abusos, mas abusos sempre acontecem em qualquer lugar. Cristo transformou água em vinho, mas jamais incentivou a embriaguês. Se alguém se embriaga, é por abuso da liberdade, mas o abuso não tolhe o uso, ou seja, podemos beber um bom copo de vinho e uma boa cerveja.

    Com relação as palavras de Nossa Senhora em Fátima, é claro que elas devem ser levadas em consideração. Deus pode sim querer proibir o carnaval. Mas não porque o carnaval seja mal em si mesmo, porque se ele fosse mal em si mesmo a Igreja teria o condenado no passado e impedido os fiéis de participar dele.

    O carnaval pode sim ser condenado um dia, mas por culpa das pessoas que abusam e fazem da festa ocasião para pecar.

    Um exemplo, prezado Leandro: Deus mandou Moisés fazer a imagem da serpente de bronze, mas passado algum tempo os judeus passaram a adorá-la, chamando-a de “Neustã”, que era um ídolo egípcio. Quando isso aconteceu os chefes de Israel destruiram a tal imagem, por causa da idolatria do povo. A serpente não foi destruida por ser má, mas por causa do mau uso que foi feito dela. Se os judeus não tivessem transformado aquela imagem sagrada em um ídolo, Deus não teria permitido a sua destruição (este é também um excelente argumento contra os protestantes, que dizem que a serpente foi destruída por ser má).

    Da mesma maneira a “serpente de bronze” que ora debatemos, ou seja, o carnaval, pode sim ser destruido por Deus, se esta for a vontade Dele. Porém, repito, a Igreja nos últimos séculos permitiu aos católicos se confraternizarem nestes momentos, as familias católicas se confraternizavam nestes momentos, elas iam as ruas, cantavam e dançavam com a presença do pároco local. No link que eu coloquei acima (do carnaval de Bonfim) tem até a banda tocando música que remonta ao século 19!!!!!

    Acho que é isso.

    Vamos então saber diferenciar: carnaval pode ser entendido no sentido de festa católica como no sentido de festa pagã, tal como vem sendo comemorado hoje. Aliás, várias festas adotadas pelos judeus e regulamentadas por Moisés no Pentateuco tiveram origem no paganismo. Cito apenas um exemplo: a festa da colheita, onde os pagãos sacrificavam aos ídolos para agradecer tudo o que a terra havia produzido. Mas os judeus, é claro, depois de assimilar esta festa e a purificar de seus elementos diabólicos faziam do momento ocasião para uma alegria sadia entre as familias judias.

    O mesmo vale para o carnaval.

    Abraços,

    Sandro

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