Feliz dia do amigo!

Ouvi certa vez uma definição de “amizade” segundo a qual os amigos eram aqueles que queriam as mesmas coisas e não queriam as mesmas coisas. Amizade, assim compreendida, não tem nada a ver com emotividades ou sentimentalismos; não está assentada sobre os frágeis alicerces das emoções humanas, que mudam junto com o tempo. Que mudam mais que o tempo, até.

Amizade verdadeira, assim, é uma convergência de objetivos de vida, de valores, de ideais pelos quais se acredita valer a pena lutar. São amigos os professores que têm em comum o amor pela escola, são amigos os soldados que compartilham a admiração pela pátria, são amigos os cristãos que amam a Deus e querem propagar o Evangelho pelo mundo. No entanto, há várias facetas na personalidade humana e, assim, os gostos e desgostos podem se mesclar: os professores podem querer coisas diferentes para a escola onde trabalham, os soldados podem estar lutando por pátrias inimigas e há entre os que se dizem cristãos concepções bem diversas sobre os exatos significado e alcance daquela frase de Cristo sobre pregar o Evangelho a toda criatura. Tudo isto é natural e inevitável, e o que caracteriza uma amizade verdadeira é a harmonia entre estes diferentes conjuntos de valores individuais. Naturalmente, não se trata de buscar uma impossível identidade entre várias pessoas, mas de trabalhar por uma integração orgânica de anseios complexos em uma relação que todas as partes consideram positiva.

Pode parecer complicado dito assim, mas não é. Todo mundo faz este julgamento o tempo inteiro, até inconscientemente: a frase de efeito sobre os amigos serem os irmãos que a gente escolhe diz exatamente isso. Uma amizade é uma escolha, mas é um tipo curioso de escolha às avessas, porque o mais importante é escolher recebê-la. Não é à toa que se diz que a amizade é uma dádiva. Dificilmente morrerá sem amigos um sujeito introvertido que não saiba aproximar-se de ninguém: é muito mais provável que termine sozinho o sujeito que adquiriu o hábito de repelir os que se aproximam dele. Entre oferecer a própria amizade e ter de fato um amigo vai uma distância infinita como a liberdade humana. Apenas quando eu aceito a mão que me é estendida é que eu posso me pôr a caminho com alguém, é que é possível falar em ter um amigo.

Amigos são preciosos e, hoje, parece ser o Dia do Amigo. Para celebrá-lo, nada melhor do que participar desta promoção das Camisetas Chesterton: compre uma camiseta e ganhe mais uma para contemplar um amigo. Funciona assim:

Dia do Amigo é nesta sexta-feira, 20, e nós vamos comemorar. Se você já curtiu a fan page e mora no Brasil, então responda: “Por que o seu amigo merece ganhar uma camiseta Chesterton Brasil?” Atenção: é preciso que seu amigo esteja no Facebook e você precisa citar o nome dele na resposta. Os autores das três melhores respostas (uma por pessoa) ganham uma camiseta na compra de outra. Resultado nesta sexta-feira, 20, às 21h30. Participe!!!

Não sabe que camisetas são essas? Clique aqui para saber mais. E não perca tempo, que a promoção vale somente hoje. E um feliz Dia do Amigo para todos os meus amigos! Aos que eu vejo todos os dias, aos com quem eu falo com relativa freqüência e àqueles junto aos quais eu estou bem menos do que gostaria. Que a Virgem Mãe de Deus nos reúna a todos em torno da Cruz do Seu Divino Filho. Que sob os Seus braços abertos formemos uma grande Família. Que alimentando-nos do Seu Corpo e do Seu Sangue possamos – um dia…! – nos tornar todos um só Corpo com Ele e n’Ele.

Nota de Falecimento: Vitória de Cristo

É com pesar que eu comunico o falecimento da menina Vitória de Cristo, pequena heroína pró-vida que em abril passado ganhou notoriedade no Brasil ao desconcertar os promotores do aborto eugênico – os quais, desgraçadamente, terminaram por conseguir manchar esta Terra de Santa Cruz com a nódoa do apoio (pretensamente) legal ao assassinato de crianças deficientes. Os bárbaros podem ter vencido a farsa judicial, mas Vitória desmascarou os seus sofismas e forneceu aos brasileiros de boa vontade um poderoso contraponto às mentiras então repetidas ad nauseam. A pequena garota por diversas vezes diagnosticada como anencéfala mostrou ao mundo que, ao contrário do que diziam os burocratas do STF, ela podia viver e de fato vivia.

O comunicado foi posto ontem no blog “Nossa Amada Vitória de Cristo”, mantido pelos pais da garota. Vitória faleceu na terça-feira última, dia 17 de julho, às nove e meia da noite.

Ela partiu serenamente enquanto a beijávamos, abraçávamos e lhes dizíamos o quão preciosa era, que sempre a amaremos e que ela podia partir em paz para junto de Deus. E ela partiu.

A foto abaixo é uma das mais recentes que constam no blog de Vitória; foi publicada no último dia 27 de junho e mostra a pequena garota dormindo serenamente. Hoje ela se encontra diante de Cristo; foi juntar-se a outras crianças como ela – como a Marcela de Jesus, anencéfala, falecida em 2008 e tantas outras – para interceder por sua Pátria, para rogar a Deus pelo Brasil.

Deve haver uma grande festa no Céu agora, quando os risos de Vitória foram se somar aos de Marcela para embelezar ainda mais o Paraíso. E nós, a quem aprouve ao Deus Altíssimo que cá ficássemos ainda mais um pouco, entristecemo-nos com a partida de Vitória mas, ao mesmo tempo, consolamo-nos por saber que a Igreja Triunfante ganhou mais uma intercessora poderosa para, de junto a Deus, auxiliar-nos nos percalços desta vida e nos terríveis combates que nos é exigido travar. Que o Espírito Santo possa consolar os parentes que sofrem com a dor da perda. E que, do alto dos Céus, Vitória possa rogar por nós.

Esta é uma luta pela dignidade das mulheres

Todos devem ter acompanhado a interessantíssima repercussão que teve, na semana passada, o artigo do Carlos Ramalhete em defesa da dignidade feminina contra os descalabros das auto-intituladas vadias itinerantes. O segundo capítulo da novela foi a publicação, no mesmo jornal, de um artigo da lavra da “coordenadora da Marcha das Vadias em Curitiba”, cujos dois principais problemas ao meu ver são:

  1. ter cuidadosamente evitado enfrentar o mérito da crítica à forma depravada (no nome e nas atitudes) que estas senhoras escolheram para protestar contra uma situação não obstante digna de revolta e de protesto (coisa, registre-se, que ninguém nega);
  2. ter deliberadamente ocultado a grande bandeira que os movimentos feministas em geral e a “Marcha das Vadias” em particular desfraldam despudoradamente quando não precisam posar de vítima perante a opinião pública: o aborto (atenção, foto indecorosa).

O Ramalhete voltou ao tema na sua coluna de hoje, em um belo texto – não o deixem de ler e compartilhar – chamado “Dignidade e Degradação”, onde explica as coisas de maneira tão pedagogicamente mastigada que não é possível às feministas rasgarem as vestes de novo, acusando-o (como na semana passada) daquilo que ele, absolutamente, não fez. Exercitando a sua espetacular capacidade de apresentar analogias elucidativas, o articulista da Gazeta do Povo dispara:

Combate-se a violência primeiramente perseguindo e punindo o agressor, mas o mais fraco também deve ser ajudado a reconhecer sua dignidade e a projetá-la. Sair às ruas negando em ato a dignidade feminina pode parecer uma boa ideia para quem vive num padrão de classe média, para quem tem a certeza dada pela experiência de que sua dignidade não está em jogo. Para a moça viciada e pobre, que se prostitui por droga, um bando de madames se afirmando “vadias” é uma piada de mau gosto, como seria para um escravo um bando de doutores brancos com a cara pintada de rolha queimada fazendo piruetas com enxadas.

E, a despeito de toda a cortina de fumaça levantada pelas revolucionárias, o cerne da questão sempre foi esse: a dignidade feminina. Dignidade que é aviltada pelo marido bêbado que espanca a esposa, pelo estuprador que covardemente ataca uma mulher, pelos “homens que se esfregam nojentos / no caminho de ida e volta da escola” e também pelas senhoras atentando contra o pudor ao saírem por aí com as tetas de fora. Contra esta loucura coletiva, são extremamente lúcidas as palavras com as quais o Ramalhete termina a sua coluna:

Evitar um estupro com uma unha comprida e bem tratada no olho do marginal faz mais pela dignidade feminina que 1 milhão de mulheres seminuas em público numa marcha.

E é isto o que realmente interessa. O resto – de misoginia, de machismo, de coisificar as mulheres, de ser leniente com a violência por elas sofrida, etc. etc. – é somente o lenga-lenga destas inimigas das mulheres que querem, a todo custo, levantar bonecos-de-palha contra os quais possam despejar a virulência da sua retórica vazia para que as demais pessoas não vejam a incoerência sibilina no discurso que elas próprias querem impôr à sociedade. Esta semana ainda vale o pedido para que cartas de apoio sejam enviadas ao jornal:

– leitor@gazetadopovo.com.br ou
– http://www.gazetadopovo.com.br/faleconosco/

A fim de que a opinião pública tenha uma correta dimensão da representatividade das “Vadias” no conjunto da população feminina brasileira. Os sofismas não podem vencer o bom senso e a ideologia disparatada não pode pretender ser reconhecida acima da realidade. Esta é uma luta pela dignidade das mulheres. Que cada um tome nela a sua – importante – parte.

Forma Extraordinária do Rito Romano na Canção Nova

Como alguns devem saber, foi celebrada no último domingo (15 de julho de 2012) uma Missa na Forma Extraordinária do Rito Romano na Canção Nova. Quem a celebrou foi o revmo. padre Demétrio Gomes, já conhecido tanto dos que participam da comunidade quanto dos leitores deste blog. Este (inusitado) fato não significa o fim da batalha pela restauração da Liturgia, mas é um começo: um belíssimo começo, um bálsamo consolador dos Céus, um sinal de esperança de que a nossa luta não é em vão e pode dar frutos. E vai dar frutos, porque é um combate ad majorem Dei gloriam. Aspirando à maior glória de Deus.

Quanto às celeumas em torno desta celebração e da própria Canção Nova, remeto às lúcidas palavras do Pedro Ravazzano sobre o assunto. Em uma palavra, nós não estamos em condições de ficar exigindo perfeição total e absoluta de todos aqueles que nos dão indícios de estarem interessados em anunciar as riquezas da Igreja de Cristo. Mais especificamente: não havendo evidências de má-fé (como de fato não há), não faz sentido rejeitar em bloco todas as contribuições que a Canção Nova quer e pode dar à Igreja Católica no Brasil por conta dos problemas que (infelizmente) ainda existem na emissora. Uma coisa de cada vez. Trabalhar pela divulgação da solenidade da Liturgia significa simplesmente trabalhar pela divulgação da solenidade da Liturgia: isto não é (de modo algum) um apoio – explícito ou tácito – a todas as coisas divulgadas pela conhecida emissora carismática, da mesma forma que batalhar pela publicação de um artigo conservador, digamos, no Jornal do Commercio (íntegra aqui) não significa um apoio irrestrito a tudo o que o jornal publica. Isto precisa ficar bem claro.

Sem dúvidas é importante defender a Doutrina da Igreja e Sua praxis tradicional, mas é também urgente divulgar – positivamente, sem confrontos, sem embates – as riquezas da Sua Sagrada Liturgia. Este apostolado também é profícuo, também é importante; e não parece existir razão pela qual ele, podendo existir e havendo quem queira realizá-lo, devesse ser censurado.

Visões sobre o aborto: a mesquinhez e a nobreza

Está muito pertinente a nota do “Brasil Sem Aborto” a respeito das propostas anti-vida do novo Código Penal. A denúncia que este texto faz é verdadeira e merece a nossa atenção: o projeto contém inúmeros pontos polêmicos – que, aliás, são taxativamente reprovados pela esmagadora maior parte da população brasileira – e está sendo conduzido a toque de caixa pelos nossos parlamentares, em uma tentativa de passar um verniz de legitimidade sobre a imposição de uma ideologia minoritária e estranha ao nosso povo e que, pelo conteúdo e pela forma, configura-se um verdadeiro atentado à democracia do Brasil.

Pelo conteúdo, uma vez que (como explicou de forma magistral o delegado de polícia Rafael Brodbeck na semana passada) muitas das propostas que ele contém estão longe de corresponder aos anseios da população brasileira: trata-se de «um Código ideológico, escrito por intelectuais em desconexão com a realidade brasileira e que não representam as mais profundas aspirações do nosso povo». Pela forma, porque (como disse a supracitada nota do Brasil Sem Aborto) está sendo realizado às escondidas e no apagar das luzes, conduzindo mudanças radicais em uma legislação importante de nosso ordenamento jurídico sem um debate público proporcionado: «Surpreende o fato do Presidente do Senado Federal, ainda que dentro de suas prerrogativas constitucionais e regimentais, apressar-se em transformar o polêmico ante-projeto em projeto de lei às vésperas do início do recesso parlamentar. Surpreende também que essa apresentação contrarie informação anteriormente divulgada, de que o ante-projeto seria analisado por uma sub-comissão da CCJ, presidida pelo senador Eunício Oliveira, antes de se transformar em projeto de lei».

Na contramão desta desastrosa tentativa política de implantar a vergonha abortista no país, é um refrigério ler esta notícia que o Estadão publicou no início do mês sobre uma mãe – brasileira! – que decidiu manter a gravidez apesar do câncer de mama. A história é emocionante:

Simone morava no Canadá quando recebeu o diagnóstico da gravidez praticamente ao mesmo tempo que o de câncer de mama. Para poder levar a gestação adiante, teve de comprar uma briga com médicos e recusar o protocolo de tratamento indicado, que preconizava o aborto terapêutico. O parto ocorreu junto com a mastectomia.

Não estamos falando de uma mãe superanimada com uma gravidez planejada e tranqüila, muito pelo contrário: foi uma gravidez inesperada (ela estava tomando anticoncepcionais) e de altíssimo risco para ela própria e para o bebê, uma vez que havia um câncer em estado avançado que, segundo os seus médicos, se agravava ainda mais por conta da gravidez. Ela não teve apoio médico algum para a sua tentativa de salvar a filha: ao contrário, os médicos se recusaram a lhe tratar se ela não abortasse (!). E ela estava em um dos melhores hospitais do Canadá, o que acabou com as suas esperanças de encontrar no país alguém que quisesse cuidar dela.

Ou seja, nós estamos falando de uma mulher gravemente doente, longe de casa, carregando no ventre um filho que não havia planejado e que lhe diziam estar piorando a sua doença, a qual se recusavam a tratar enquanto ela não consentisse no sacrifício da criança! É difícil até mesmo imaginar uma situação mais dramática do que essa. No entanto, ela procurou um médico na internet e pegou um vôo de volta para o Brasil, onde encontrou quem estivesse disposto a respeitar sua vontade e a tratar tanto a ela própria quanto ao seu filho por nascer.

Melissa nasceu saudável às 36 semanas de gestação. A mãe perdeu uma mama e vai precisar passar ainda por diversas sessões de quimioterapia, mas passa bem.

“O mais difícil já passou. A Melissa é um milagre, uma promessa que se cumpriu”, diz Simone, que atribui o milagre da vida da filha ao “anjo Waldemir Rezende”. Agora ela só tem três desejos: poder pegar a bebê no colo todos os dias, fazer sua mamadeira e trocar sua fralda. Como qualquer mãe.

Diante de uma história dessas, como defender – como pretendem os abortistas de todos os naipes – que uma mãe possa matar o seu filho ao próprio alvitre? Como consentir nesta covarde fuga ao sofrimento e à responsabilidade materna? O ser humano foi feito para as coisas elevadas e nobres, e não para a mesquinharia. Nobre é não fugir das próprias responsabilidades, ainda que isto signifique colocar a própria vida em risco: a enorme repercussão positiva que teve a notícia acima dá testemunho de que – como era de se esperar – as pessoas admiram a nobreza, dão valor ao heroísmo. Ora, são dignos de proteção exatamente os valores, e não os anti-valores; merecem ser promovidas as coisas que são admiráveis, e não o seu contrário. E é exatamente por isso que a vilania e a mesquinhez não podem receber proteção legal positiva, não podem ser consideradas um “direito” e não se pode desviar recursos públicos para que elas sejam exercidas. A vida é sagrada e é dever de todos e de cada um protegê-la. Naturalmente, não significa que isto seja fácil; mas significa, sim, que é a coisa certa a ser feita.

O Escapulário da Virgem do Carmo

Hoje é a festa de Nossa Senhora do Carmo e eu me lembrei do artigo da semana passada de D. Fernando Rifan que falou sobre Ela. Recomento a leitura do texto do grande bispo de Cedamusa sobre os aspectos históricos da devoção à Virgem do Monte Carmelo (à guisa de exemplo: «[n]a pequena nuvem portadora da chuva após a grande seca, Elias viu simbolicamente Maria, a futura mãe do Messias esperado»), mas também sobre o Santo Escapulário e os privilégios que a Virgem Mãe de Deus prometeu aos que o usassem devotamente.

O Escapulário do Carmo! É possível conhecer um pouco mais sobre o pequeno sacramental aqui. Mas, para além destas (importantes) “especificações técnicas”, pode ser muito proveitosa no dia de hoje a leitura desta mensagem de Sua Santidade o Papa João Paulo II à Ordem do Carmelo em 2001. Das palavras do Papa, eu destaco (grifos meus):

5. No sinal do Escapulário evidencia-se uma síntese eficaz de espiritualidade mariana, que alimenta a devoção dos crentes, tornando-os sensíveis à presença amorosa da Virgem Mãe na sua vida. O Escapulário é essencialmente um “hábito”. Quem o recebe é agregado ou associado num grau mais ou menos íntimo à Ordem do Carmelo, dedicado ao serviço de Nossa Senhora para o bem de toda a Igreja (cf. Fórmula da imposição do Escapulário, no “Rito da Bênção e imposição do Escapulário”, aprovado pela Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, 5/1/1996). Por conseguinte, quem veste o Escapulário é introduzido na terra do Carmelo, para que “coma os seus frutos e produtos” (cf. Jer 2, 7), e experimente a presença doce e materna de Maria, no empenho quotidiano de se revestir interiormente de Jesus Cristo e de o manifestar vivo em si para o bem da Igreja e de toda a humanidade (cf. Fórmula da imposição do Escapulário, cit.).

São portanto duas as verdades recordadas no sinal do Escapulário: por um lado, a protecção contínua da Virgem Santíssima, não só ao longo do caminho da vida, mas também no momento da passagem para a plenitude da glória eterna; por outro, a consciência de que a devoção a Ela não se pode limitar a orações e obséquios em sua honra em algumas circunstâncias, mas deve constituir um “hábito”, isto é, um ponto de referência permanente do seu comportamento cristão, tecido de oração e de vida interior, mediante a prática frequente dos Sacramentos e o exercício concreto das obras de misericórdia espiritual e corporal. Desta forma o Escapulário torna-se sinal de “aliança” e de comunhão recíproca entre Maria e os fiéis: de facto, ele traduz de maneira concreta a entrega que Jesus, na cruz, fez a João, e nele a todos nós, da sua Mãe, e o acto de confiar o seu apóstolo predilecto e a nós a Ela, constituída nossa Mãe espiritual.

E estas palavras do Papa parecem-me excelentes para responder tanto à sanha iconoclasta dos inimigos da Mãe de Deus quanto a algum presunçoso laxista que porventura exista entre os cristãos e que, enganosamente, acredite ou se queira fazer acreditar ser devoto da Virgem do Carmo. A concepção de mundo expressa nestas palavras do Vigário de Cristo assinala a radical diferença entre uma concepção “mágica” ou “supersticiosa” do Cristianismo e a sua dimensão real: os sinais externos não apenas não substituem uma vida moral reta como também eles só fazem sentido se forem a sincera expressão exterior de uma vida agradável a Deus. O Escapulário do Carmo não é um amuleto da sorte nem um talismã mágico para livrar as pessoas do inferno, e usá-lo desta maneira significa, simplesmente, não usar o escapulário.

Aos que o usam devota e sinceramente, no entanto, ele se transforma em penhor de salvação, como as flores abertas e vistosas de um jardim bem cuidado revelam a vitalidade do jardim e o empenho do jardineiro no seu cultivo. Da mesma forma que jogar um belo ramalhete de flores sobre um terreno descuidado e repleto de ervas daninhas não o transforma em um jardim, cobrir com um escapulário uma alma imunda e repleta de pecados não a transforma em serva dedicada da Rainha do Carmelo. Os devotos da Mãe de Deus o são antes e primordialmente na alma, e os sinais externos são (sempre!) frutos desta fecundidade anterior e interior. O escravo da Rainha do Carmelo não perde a sua dignidade quando o seu hábito lhe é tirado, assim como uma roseira não deixa de ser uma roseira se lhe arrancam uma rosa: com o tempo, um e outra irão se revestir novamente – de escapulário ou de rosas. Ao contrário, um vaso de flores não vira uma roseira nem mesmo se lhe adornam com as mais belas rosas do mundo, pois estas cedo ou tarde fenecerão, deixando o vaso de novo vazio. E o escapulário sobre os ombros do católico deve ser como as rosas da roseira, e não como as do estéril e frio vaso de flores. Se não for assim, ele não é verdadeiro escapulário e não faz sentido utilizá-lo.

“O cristão na casa de Deus” – como se comportar na Santa Missa

[Utilidade pública. Vi no Facebook; serve, naturalmente, não apenas para os fiéis que assistem à Santa Missa na Forma Extraordinária do Rito Romano como também para todos os que entram em um Templo Católico, na Casa de Deus, independente da celebração específica que estejam assistindo. Afinal, a Missa é a Cruz. Há um só Calvário, há uma só Missa, e toda Missa deve ser tratada com o respeito que é devido ao Sacrifício Propiciatório de Cristo-Deus em favor de nós.]

O CRISTÃO NA “CASA DE DEUS”

1 – Bem sabe o cristão que nossos templos são lugares sagrados. Igualmente sabe que nas Igrejas católicas mora o Deus eterno e omnipotente, real e verdadeiro, embora se oculte aos nossos olhos materiais sob os véus eucarísticos.

Na Igreja, portanto, deve haver todo respeito, o maior silêncio e devoção.

[…]

3 – Quando o cristão entra na Igreja, vai logo fazer uma devota genuflexão diante do altar do Santíssimo, que é fácil reconhecer, pois diante dele arde continuamente uma lâmpada, e aí adora o seu Deus na Eucaristia. Para Jesus Sacramentado deve estar polarizada a atenção, a fé, o amor dos fiéis.

[…]

6 – As senhoras devem estar na Igreja com a cabeça coberta, principalmente na recepção dos sacramentos. Os vestidos devem ser discretos e modesto. Nada de decotes exagerados e vestidos sem mangas.

[…]

8 – Ninguém deve sair da Igreja durante o sermão. Isto incomoda o auditório e o pregador e constitui grande falta de educação.

9 – Não se pode ficar sentado nem sair da Igreja durante a bênção do Santíssimo, que aliás dura poucos minutos.

[…]

11 – Eis algumas faltas de educação que ainda devemos evitar na Igreja: Conversar, cochicar, rir – olhar para os que entram ou saem – fixar curiosamente as pessoas – perturbar, como quer que seja, as pessoas que rezam – cuspir no chão – assoar-se com estrondo – fazer ruído com os bancos ou cadeiras – ajoelhar ou assentar-se desajeitadamente – cruzar as pernas – estar de mãos nos bolso – cumprimentar ostensivamente os amigos (basta um aceno de cabeça) – não tomar parte nas práticas e orações em comum – gritar ou arrastar a voz nas orações ou cânticos – não guardar silêncio e respeito durante os casamentos, baptizados e exéquias – fazer algazarra na porta ou nas proximidades – enfim tomar atitudes que revelem falta de fé ou de educação.

Extraído de Compêndio de Civilidade:
para uso das famílias e dos colégios.
11ª edição.

Ainda a Marcha das Vadias e a histeria dos revolucionários: a repercussão

Com relação ao que falei aqui a respeito do lúcido artigo do Carlos Ramalhete contra a “Marcha das Vadias” publicado ontem na Gazeta do Povo de Curitiba – e da intolerante reação revolucionária que se lhe seguiu –, são dignas de menção outras iniciativas parecidas com a minha que surgiram na blogosfera conservadora de ontem para hoje.

1. Marcha das Vadias: militando pela imodéstia e pela morte, por Everth Queiroz. «Este tumulto generalizado em reação ao brilhante artigo do prof. Carlos Ramalhete não tem razão de ser. Porque, como qualquer outro evento, este também é passível de crítica; afinal, vivemos em uma sociedade em que convivemos diariamente com o plural, com opiniões diferentes, com modos diversos de enxergar a realidade. Acontece que o pessoal desses novos movimentos sociais – e aqui a nossa crítica se estende aos grupos LGBT – não tolera ser contrariado, não suporta ver seus interesses ou anseios contestados».

2. Ah, que é isso? Elas estão descontroladas! Feministas surtam e declaram guerra à Gazeta do Povo por artigo crítico à “Marcha das Vadias”, por Renan Cunha. «O que eu, realmente, não consigo entender é como uma pessoa que se autointitula vadia – sinônimo de puta – tem a pretensão de se dizer ofendida por alguém dizer que ela veste carcaça de gambá. É o cúmulo da falta de senso do ridículo e da vergonha na cara. Até porque, acaso uma pessoa que se despe em público, expondo seu corpo à céu aberto, não está se igualando a uma carne no balcão do açougue?».

3. Mancha das Vadias, por Wagner Moura. «É incrível a lógica del@s. Fingindo desejo de visibilidade, el@s se “invisibilizam” para melhor poder agir. Elas querem o de sempre: aborto, fim da família e todas essas causas financiadas pelas mesmas fundações internacionais de sempre. Mas embalando tudo para presente com um monte de mulher nua gritando palavras de ordem e chamando atenção para como o fato de se dizerem vadias não as torna vadias… É mais, digamos, divertido. E o brasileiro gosta e com o tempo vai se acostumar. No futuro – sombrio – vamos ler aquelas máterias de famílias as mais sem cérebro levando suas crianças para um evento desses e dizendo que é bom, é maravilhoso, é cidadão e que suas crianças precisam crescer nesse mundo».

Permanece válido o convite que fiz ontem a todos os que não concordam com a coisificação feminina personificada com tanta crua eloqüência em manifestações de feministas como a “Marcha das Vadias” para que escrevam – e peçam que outros também escrevam – à Gazeta do Povo manifestando apoio ao artigo do Carlos Ramalhete e à linha editorial do jornal de Curitiba:

a) enviando email para leitor@gazetadopovo.com.br; e
b) por meio da página de “Fale Conosco” (http://www.gazetadopovo.com.br/faleconosco/) do jornal.

Conheça, pense, divulgue. O Brasil agradece.

Em defesa das mulheres, da sociedade, da civilização: cartas à Gazeta do Povo!

Uma das maiores evidências de que grande parte do mundo moderno perdeu completamente o senso crítico é o (paradoxal) glamour no qual parece estar envolvida a assim chamada Marcha das Vadias. Imaginar que é uma boa idéia balançar as tetas em público para exigir respeito sexual é um dos maiores atestados de insanidade que alguém pode passar; como se fizesse algum sentido expôr-se em público como um objeto de desejo sexual para exigir não ser tratada como um objeto de desejo sexual, ou como se o problema da depravação masculina pudesse ser resolvido com depravação feminina e não com modéstia e recato. Sobre o assunto eu já escrevi algumas linhas aqui em maio último, às quais remeto quem se interessar.

Se é verdade que no passado mulheres foram mal-tratadas, havia ao menos a decência de lhes reconhecer a desgraça como um mal injusto digno de lágrimas e comiseração. A existência, p.ex., de um cafajeste sobre o qual pesasse a infâmia de haver desonrado moças de família ao menos evidenciava socialmente a enorme diferença existente entre a honra e a desonra, entre o cafajeste e o homem de bem.

Este feminismo moderno estúpido que quer transformar as mulheres em uma versão mil vezes piorada dos homens termina por fazer muito mais mal às mulheres do que uma legião de cafajestes, porque o seu objetivo é muito mais radical e degradante: enquanto um cafajeste busca o próprio prazer em detrimento da dignidade de uma mulher concreta, o feminismo quer arrastar todas as mulheres ao lamaçal imundo de sua aviltante concepção depravada do sexo feminino. O estrago feito por um crápula tratando uma mulher como objeto é incomparavelmente menor do que o estrago feito por um movimento que intenta transformar todas as mulheres do mundo em vadias que se orgulham daquilo que em outros tempos até mesmo os cafajestes tomariam por infâmia e vergonha. Um cafajeste provavelmente respeitaria ao menos a sua mãe e irmã: uma feminista não poupa nem essas.

Infelizmente, a loucura generalizada parece não ter fim e, no próximo final de semana, está programada para acontecer em Curitiba uma edição “fora de época” deste atentado ao pudor disfarçado de reivindicação justa em prol das mulheres que é a “Marcha das Vadias”. A coluna semanal do Carlos Ramalhete desta quinta-feira versou (brilhantemente, como de costume – leiam lá) sobre este assunto, e não me resta senão fazer coro às muito bem colocadas palavras do articulista: «[a] imbecilidade machista deve ser combatida pela afirmação da dignidade e da capacidade feminina, não pela imitação do pior do sexo masculino». Claro e cristalino para quem não tenha colocado a ideologia acima do bom senso e seja capaz de manter ainda um mínimo de respeito cavalheiresco diante da dignidade do sexo feminino.

É claro que as inimigas das mulheres não gostaram, e estão se organizando para enviar ao jornal protestos contra o texto. Todos nós conhecemos a mil-vezes admirável coragem da Gazeta do Povo em manter uma linha editorial abertamente destoante da cantilena revolucionária da imprensa tupiniquim, e creio ser bastante evidente a importância que é defender este baluarte de bom senso num meio que se encontra tão vastamente dominado pelos bárbaros modernos. Assim sendo, é importante que nós escrevamos ao jornal em apoio ao texto do Carlos Ramalhete em particular e, em geral, à tomada de posição em prol do pensamento conservador – pensamento que é, este sim, representativo dos valores dos brasileiros – que o jornal de Curitiba faz tão abertamente e cuja importância é tão grande para a defesa dos valores da sociedade brasileira. Por isso, peço

1. que o artigo contra a Marcha das Vadias seja lido, comentado e divulgado; e

2. que sejam escritas mensagens de apoio, principalmente por mulheres, às idéias contidas no texto, a fim de que o ataque orquestrado das incendiárias de soutiens não ganhe a aparência de ser representativo dos leitores do jornal (e nem muito menos da sociedade como um todo). Isto é muito importante. É possível escrever

a) enviando email para leitor@gazetadopovo.com.br; e
b) por meio da página de “Fale Conosco” (http://www.gazetadopovo.com.br/faleconosco/) do jornal.

Os que puderem escrever mensagens de apoio e pedir para que outras pessoas também escrevam estarão prestando um enorme favor à sociedade brasileira, tão covardemente atacada pelos bárbaros inimigos da civilização que não parecem ser capazes de tolerar a existência de nenhum pensamento – por menor que seja! – destoante da hegemonia ideológica que infelizmente paira sobre o Brasil.

Sobre os recentes dados do IBGE referentes à queda do número de católicos no Brasil

Sobre o último censo do IBGE que mostra uma “queda recorde de fiéis [católicos] no Brasil”, caberia fazer algumas ligeiras observações.

1. Como o Reinaldo apontou, a outra possível leitura dos dados do IBGE é a de que a esmagadora maioria (86,8%) dos brasileiros ainda são cristãos. Cabe, portanto, lembrar o lado cheio do copo.

2. A missão da Igreja Católica não é “ser popular”, e o Seu sucesso é medido pela fidelidade intransigente à Doutrina legada por Seu Divino Fundador – e não por métricas de IBOPE nem por taxas estatísticas de crescimento aplicáveis a empresas ou a bolsa de valores. E, no quesito “fidelidade”, a Igreja de Cristo vai muito bem, obrigado.

3.  Como disse alguém recentemente, a Igreja não está perdendo “fiéis”, e sim infiéis. Os fiéis, graças a Deus, continuam n’Ela. Esta diminuição do número de católicos não implica em uma diminuição da Sua força ou da Sua ação na sociedade porque os que saíram são, precisamente, os que já nada faziam por Ela.

4. A Igreja não tem problema em ser pequena. Historicamente, a propósito, Ela foi minoria (perseguida inclusive) por incontáveis vezes. Mesmo nos momentos de relativa tranqüilidade e de exuberante desenvolvimento do catolicismo, o número de católicos convictos sempre foi e sempre vai ser muitíssimo menor do que o de batizados mais ou menos indiferentes à questão religiosa. A preocupação da Igreja é e sempre foi com a qualidade dos Seus fiéis, e não com a quantidade deles.

5. A evidente maior causa desta diminuição do número de católicos no Brasil é a adoção, por parte de algumas autoridades religiosas, de uma política de “boa convivência” com o mundo que termina degenerando, na prática, na negação da identidade católica. Catolicismo superficial e meloso (= “shows-missa”, “Jesus-amigão”, “fé-auto-ajuda”, etc.) e marxismo putrefato transvestido de doutrina católica (= “Teologia da Libertação”) são os grandes rombos no casco da nau da Igreja no Brasil responsáveis pela maior parte desta sangria de católicos.

6. Com todos os ataques que a Religião Verdadeira sofre nos dias de hoje, o que é verdadeiramente impressionante é que mais da metade dos brasileiros ainda tenham a coragem de se afirmarem católicos diante de um agente do Governo!

Num mundo onde o que é passageiro e efêmero é exaltado quase ao ponto da idolatria (à guisa de exemplo, eu soube recentemente que alguém teve a idéia fantástica de imprimir livros que se auto-destroem (a tinta desaparecendo e as páginas ficando em branco) depois de dois meses), torna-se admirável que ainda haja pessoas dispostas a guardar a Fé legada pelos cristãos dos tempos passados. Contra as tormentas atuais, o que permanece firme como rocha é a clareza daquela promessa de Cristo a São Pedro: non praevalebunt! A cultura do efêmero, por sua própria pregação inconseqüente e irresponsável, há de passar: afirmar isso chega a ser redundante. E então a Igreja há de vicejar novamente sobre os escombros da modernidade falida. Por fim, triunfará o Imaculado Coração da Virgem como Ela prometeu. Façamos cada qual a nossa parte, enquanto esperamos no Senhor. Dias melhores virão, é certo.