Dois textos sobre Niemeyer

Para oferecer um contraponto à onda de bajulação surgida após a recente morte do arquiteto Oscar Niemeyer.

Arquitetura e humanidade, por Carlos Ramalhete. «Stálin e Hitler mandaram construir edifícios gigantescos, em que o homem desaparecia como uma formiga numa mesa. Niemeyer fez edifícios em que o homem desaparecia como uma formiga numa bela escultura; a visão é a mesma, o erro é o mesmo. Difere apenas o talento de quem rascunha as leves linhas com que o humano é negado».

– Niemeyer, a arquitetura da destruição, por Demétrio Magnoli. «A estética de Niemeyer é uma declaração política. Em Brasília, como registrou James Holston, o contraste tipológico entre os edifícios públicos, “objetos excepcionais, figurais, de cunho monumental” e os edifícios residenciais, “objetos seriais, repetidos, que são cotidianos”, representa a utopia regressiva almejada pelo arquiteto. Tinha razão Alberto Moravia quando escreveu para um jornal italiano que a capital recém-inaugurada fazia as pessoas se sentirem “como os minúsculos habitantes de Lilliput” e procurarem “no céu vazio a forma ameaçadora de um novo Gulliver”».

Publicado por

Jorge Ferraz (admin)

Católico Apostólico Romano, por graça de Deus e clemência da Virgem Santíssima; pecador miserável, a despeito dos muitos favores recebidos do Alto; filho de Deus e da Santa Madre Igreja, com desejo sincero de consumir a vida para a maior glória de Deus.

2 comentários em “Dois textos sobre Niemeyer”

  1. Fico impressionado, que até mesmo os militares tenham deixado esse arquiteto trabalhar livremente pelo país e não tenham dado outra cara à Brasília ao longo do regime. Suas construções além de ser um péssimo gosto, enaltece regimes totalitários em suas formas, dando ao Estado o poder de um deus qualquer. Talvez o deus comunismo. E ainda há dioceses com a de BH, que contratou com o então velhaco comuna a construção de uma igreja na cidade.
    Tenha a “santa” paciência!

  2. Por favor né, não se contradiz como o autor. Realmente parece que o texto é voltado ao Niemeyer dos últimos 20 anos – do Parque Dona Lindu, do Museu Nacional. Frederico de Holanda publicou um texto já famoso sobre a crescente opacidade do trabalho de Oscar, que falha como arquitetura em funcionalidade e urbanamente ao não definir o espaço público. Mas vejamos o que o sociólogo disse:

    …[Niemeyer] odeia a história, o espaço público e as pessoas comuns.

    Se Niemeyer odiasse a história, não teria projetado o Grande Hotel de Ouro Preto na década de 40, tão bem integrado no entorno colonial. Se odiasse o espaço público não teria aumentado os pilotis do Palácio Capanema para 10 metros, uma das mais aclamadas realizações da arquitetura/urbanismo modernos. O estranho é que ele diz gostar desse edifício. Deveria perceber a enorme contradição.

    No mesmo quesito, porque ele não menciona a casa do baile, que tão bem dialoga com a lagoa? Ou mesmo a escola Júlia Kubitschek em Diamantina, que mesmo com seu partido claramente moderno tão bem se encaixa e é discreta no contexto (novamente colonial)?

    Agora vem a clássica crítica daqueles que desconhecem Niemeyer – ele odeia as pessoas comuns. Esse senhor fala de Niemeyer como se fosse apenas um arquiteto de monumentos. Esqueça o colégio Cataguases ou o Estadual Central em BH, obras tão bem estudadas e resolvidas para seus usuários. Vamos lembrar apenas dos palácios que sim, requerem uma solução monumental e plasticamente significativa. Afinal, ele estava fazendo uma CAPITAL!

    A falha maior em termos de história está na ligação literal entre o trabalho urbano de Corbusier (a tal ‘arquitetura da destruição’, seria mais apropriado ‘urbanismo da destruição’) com a arquitetura de Niemeyer. Esse texto é uma crítica ao movimento moderno em si, e um tanto quanto tardia. O que ele erroneamente fez foi julgar o trabalho de Niemeyer como materialização de anseios políticos, algo que Corbusier teria adorado. Obviamente sem ter lido sobre o assunto, ele falhou em perceber que muito antes de Brasília a arquitetura que tornou Niemeyer famoso dependeu do estado para construir suas obras, mas que elas espontaneamente, pelo talento de Oscar, traduziram em formas nossa cultura. Na obra de Oscar, o estado foi o meio, e não o objetivo. Em Brasília sim, isso se inverteu. Até entendo algumas críticas da atitude da construção, mas os Palácios da nossa capital, arquitetonicamente falando, são obras primas. Desafio alguém à criticar.

    O que não entendi foi a desesperada tentativa de ligar esse argumento, já errado, com a ideologia comunista de Oscar. Talvez precise reler o texto…

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