Dois excelentes textos do pe. Anderson Alves que foram publicados este mês. O segundo é particularmente interessante, e não merece menos do que a minha enfática recomendação de leitura.
1. Os reis-magos, homens de diálogo em busca da verdade. «Os magos buscaram a verdade, seguindo o caminho do diálogo, que era o mesmo de Sócrates e também de Abraão, que, ao ser interpelado por Deus, saiu de sua pátria, de si mesmo, o que implica sacrifícios. Para os magos, a peregrinação exterior terminou no encontro com o Rei dos judeus que nasceu como uma pobre criança e aí iniciava uma nova peregrinação para eles: aquela Revelação da verdade de Deus era uma luz nova que lhes abria horizontes novos de existência e que devia ser comunicada».
2. O Ateísmo é uma escolha racional? «[É] comum pensar que o relativismo funde o ateísmo; que as pessoas que não aceitam Deus, fazem-no porque não querem aceitar a existência da verdade, à qual deveriam se submeter. Isso é um absurdo. O ateísmo parte de uma afirmação que tem valor de verdade absoluta: Deus não existe. Se essa afirmação não fosse tomada pelos ateus como verdade, eles simplesmente deixariam de ser ateus. O relativismo para eles se dá somente nas “verdades” inferiores e todos deveriam se submeter ao imperativo único da nova moral: é proibido estabelecer regras morais».
P.S.: Não deixem também de ler “É possível um relativismo absoluto?”, do mesmo sacerdote, dando continuidade ao tema.
Em relação ao artigo “O Ateísmo é uma escolha racional?”, creio que os argumentos do Pe Anderson, data vênia, misturam planos distintos de análise. A meu ver, o ateísmo não é incompatível com o relativismo, pelo menos não com o relativismo moral, sendo este o que mais comumente se afirma por aí. É preciso separar fatos e valores. Quando os ateus afirmam a inexistência de Deus, estão afirmando o que eles julgam ser um fato, conforme as “evidências” que alegam encontrar. Desse “fato”, pode-se depreender também a inexistência de valores (o “tudo é permitido” de Ivan Karamázov), uma vez que os valores estão sempre relacionados a uma pessoa, a uma subjetividade (em última instância, à pessoa de Deus). Portanto, a meu ver, não há incompatibilidade entre o ateísmo e o relativismo. Muito pelo contrário: são irmãos siameses. A equação ateísta é: se não há Deus (fato), não há valores absolutos (relativismo).
O que acha?
Luciano, penso que é exatamente isto: o relativismo decorre do “fato” de que não há Deus, e não o contrário. É precisamente isto que o padre está dizendo.
Não se trata de uma “incompatibilidade” entre ateísmo e relativismo, mas de uma incoerência interna: o ateísmo está erigido sobre a firme e inabalável certeza de que Deus não existe, e esta certeza inabalável e firme é o contrário mesmo do relativismo.
Abraços,
Jorge
Jorge e Luciano, é precisamente esta a incoerência fundamental do relativismo, advindo do seguinte paradoxo:
afirmação básica do relativismo: “não existe verdade absoluta”.
Se essa proposição for verdadeira, então será uma verdade absoluta, contradizendo-se.
Se falsa, significará, ainda, que existem verdades absolutas.
Isto bastaria para mostrar (a alguém lúcido e honesto) a ilogicidade do relativismo. O problema é que muitos deles não querem saber de lógica, coerência, nem tem amor à verdade.