O levante da hipocrisia contra o Estatuto do Nascituro

Recebi a foto abaixo por email (cliquem para vê-la um pouco maior): trata-se da turba abortista aglomerada em São Paulo diante da Catedral da Sé, no último sábado (15 de junho). Protestam contra o Estatuto do Nascituro; houve protestos similares em vários lugares do Brasil. Em Recife, a manifestação deve ter contado com umas cinco pessoas: não faltasse pauta pros jornais, nem saberíamos dela.

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Em São Paulo, havia um número maior de gente. E, mais uma vez, um pequeno grupo de fiéis formou um cordão humano diante das portas do templo de Deus; eram umas vinte pessoas. Segundo um relato colocado no Facebook por uma menina que estava presente, «[r]esistimos bravamente por três horas, aí os policiais nos aconselharam a sair. Pois eles estavam ficando cada vez mais agressivos».

Como já explicamos aqui, é simplesmente incompreensível que possa haver pessoas tão egoístas a ponto de não aceitarem um projeto que manda o Estado prestar auxílio às mulheres que foram vítimas de violência sexual e não desejam abortar. A hipocrisia do discurso abortista aparece às claras quando se percebe que ele na prática força a mulher vítima de estupro a abortar o próprio filho, uma vez que não permite ao Estado oferecer-lhe suporte psicológico e financeiro na situação de vulnerabilidade em que ela se encontra. Não são a favor do “direito de decidir” coisíssima nenhuma. Na verdade, eles se levantam raivosos contra qualquer iniciativa que proponha fornecer à vítima de violência sexual reais possibilidades de escolha. Essa histeria toda dá testemunho inconteste disso.

Enquanto isso, a grande mídia se coloca vergonhosamente a favor dos hipócritas da forma mais cretina possível. Um jornal tem a pachorra de fazer uma enquete perguntando aos internautas se eles são a favor da “bolsa-estupro” (sic) e outro reclama até do material que a CNBB pretende distribuir para os católicos durante um evento católico. Este último, aliás, além de polarizar o discurso de maneira totalmente falsa (médicos e cientistas de um lado contra padres e religiosos do outro), ainda consegue grafar (por duas vezes!) «Estatuto do Nasciturno», o que mostra que não tiveram sequer o cuidado de ler com atenção o que estão empenhados em criticar.

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Como exceção realmente honrosa se encontra o editorial da Gazeta do Povo, mais uma vez nadando contra a corrente das ideologias assassinas da moda e levantando a sua voz em defesa daqueles que ainda não podem falar. Destaco:

Sabemos que o esforço para dissociar a criança do agressor chega a ser heroico, e por isso o Estatuto do Nascituro também prevê o encaminhamento da criança à adoção, rompendo a falsa dicotomia que só apresenta como alternativas válidas nessa situação fazer o aborto ou ficar com a criança – com todas as consequências psicológicas que ambas as escolhas acarretam. Graças à exceção aberta pela lei para não punir abortos em caso de gravidez resultante de estupro, chega a haver uma pressão social para abortar quando uma mulher violentada se descobre grávida do estuprador. Joga-se sobre as costas da mulher, já fragilizada pela violência sofrida, a responsabilidade por uma nova violência, dessa vez contra a criança. A nova legislação permite à mulher buscar uma alternativa sem impedir que ela recorra às possibilidades já previstas pela lei atual; qualquer pessoa preocupada com a ampliação dos direitos da mulher deveria, portanto, receber o Estatuto do Nascituro como um avanço.

O jornal está de parabéns por ser uma das únicas vozes sensatas que ainda restam na grande mídia: não deixem de entrar em contato com ele por meio da página de “Fale Conosco” do editorial ou do email «leitor@gazetadopovo.com.br», a fim de encorajar a redação a continuar com esta tão importante linha editorial. E que ninguém se retraia diante da gritaria dos abortistas, que ninguém se intimide diante do levante da hipocrisia. Apoiar a mulher vítima de estupro é dar-lhe condições dignas de escolher a maneira como pretende tentar seguir a sua vida. Esta verdade não pode ser mudada à força de passeatas mal-fingidas. Nem um milhão de feministas baderneiras podem mudar este fato evidente.

“Não há segredos entre eles, nenhuma falsidade” – Tertuliano, sobre os esposos

[Reproduzo o belo comentário de Tertuliano (+ 220) com o qual o pessoal do Evangelho Quotidiano nos brindou hoje. Mostra que todos os Sacramentos foram instituídos por Cristo e sempre foram tratados com dignidade e reverência dentro da Igreja de Deus. É comum ouvirmos acusações de que “antigamente” a Igreja tinha repulsa ao sexo, o casamento era um mal tolerado, a vida conjugal era a vergonhosa saída para os que não tinham a têmpera necessária para abraçar a vida religiosa, etc.; contra estas bobagens, que se levante o testemunho do Padre de Cartago: louvando – entre fins do século II e início do III – as excelências do Matrimônio cristão.

Fonte: EAQ, 14 de junho de 2013]

Comentário do dia
Tertuliano (c. 155-c. 220), teólogo
À esposa, II, 9

Onde dois estiverem reunidos, Cristo estará presente

Onde encontrar palavras para exprimir toda a excelência e felicidade do matrimónio cristão? A Igreja redige o contrato, a oferta eucarística confirma-o, a bênção coloca-lhe o selo, os anjos que são dele testemunha registam-no, e o Pai dos céus ratifica-o. Que aliança doce e santa a de dois fiéis que carregam o mesmo jugo (cf Mt 11,29), reunidos na mesma esperança, no mesmo desejo, na mesma disciplina, no mesmo serviço! Ambos são filhos do mesmo Pai, servos do mesmo Senhor […], formando uma só carne (cf Mt 19,5), um só espírito. Oram juntos, adoram juntos, jejuam juntos, ensinam-se um ao outro, encorajam-se um ao outro, apoiam-se um ao outro.

Encontramo-los juntos na igreja, juntos no banquete divino. Partilham por igual a pobreza e a abundância, as perseguições e as consolações. Não há segredos entre eles, nenhuma falsidade: confiança inviolável, solicitude recíproca, nenhum motivo de tristeza. Não têm de se esconder um do outro para visitar os doentes, para dar assistência aos indigentes; a sua esmola não é motivo de disputa, os seus sacrifícios não conhecem escrúpulos, a observância dos seus deveres quotidianos é sem entraves. Entre eles não há sinais da cruz furtivos, nem saudações inquietas, nem acções de graças mudas. Da sua boca, livre como o seu coração, elevam-se hinos e cânticos; a sua única rivalidade é a de ver quem celebra melhor os louvores do Senhor. Cristo alegra-Se com tal união; a tais esposos Ele envia a sua paz. «Onde dois estiverem reunidos», Ele também está presente (cf Mt 18,20); e onde Ele está presente, o inimigo da nossa salvação não tem lugar.

O patrimônio comum de todos os homens

Está simplesmente antológica a coluna do Carlos Ramalhete de ontem na Gazeta do Povo: invejo a capacidade do articulista de dizer tanto em tão exíguo espaço de jornal! É até difícil selecionar um trecho para citar aqui. Leiam-no lá na íntegra.

O que o Ramalhete faz é classificar as recentes manifestações ocorridas em Brasília (aqui e aqui) como um legítimo grito por liberdade que brota do fundo do peito da natureza humana aviltada por um sem-número de políticas imorais impostas à população brasileira pelos revolucionários que hoje se encontram no poder. E o faz com a sua particular perspicácia, apontando um fato bem óbvio que as práticas fascistas dos que têm voz na mídia se empenham por ocultar: o “fundamentalismo religioso” é o que separa as religiões, e não o que as une. Ora, uma movimentação que reúne em torno de um objetivo comum católicos e espíritas, protestantes e umbandistas, budistas e agnósticos não pode, por definição, ser um ato de fundamentalismo religioso.

Se religiões tão díspares e contraditórias entre si são unânimes em afirmar um determinado valor moral, então é óbvio que a origem deste valor deve ser buscada naquilo que é comum a todos os que o afirmam, e não no que os distingue. O que distingue um protestante de um muçulmano e de um agnóstico é justamente a sua religião e, portanto, não pode ser ela a origem daquele valor moral que estamos buscando. Esta só pode estar naquilo que os une, não no que os separa; e o que os une é a sua natureza humana. O fato de culturas religiosas tão radicalmente irredutíveis entre si afirmarem em uníssono uma mesma coisa exige que o fundamento desta coisa esteja naquilo que transcende as culturas religiosas, naquilo que é comum a todos os homens independente da religião que professem. É este patrimônio comum que está sendo atacado. É por isso que o Carlos afirma com toda a propriedade: «Natureza, não religião».

Os brasileiros começam a se levantar. As pessoas de boa vontade começam a deixar o estado letárgico em que se encontram e já ensaiam dizer em público, em alta voz, que não suportam mais os descalabros dos nossos governantes, as abominações impostas a ferro e fogo pelos poderes públicos. A iniqüidade já foi longe demais, e é do bom povo brasileiro que virá a oposição a ela: do povo ordeiro que por sua própria índole não é afeito a confrontos abertos com a autoridade, mas que não tem mais condições de suportar o vilipêndio da natureza humana praticado pelos nossos governantes, «o caos antinatural que nos vem sendo imposto». Como dizem os franceses, chassez le naturel, il revient au galop: e esta cavalaria por vezes vem de onde menos se espera.

O pelagianismo e “essa coisa de contar”: entre a TL e o Papa Francisco

Uma seqüência de três posts do Rorate Caeli (aqui, aqui e aqui), aos quais desgraçadamente o Fratres in Unum fez eco do lado de cá do Equador (aqui), colocou recentemente o mundo católico em polvorosa. O motivo é que o Papa Francisco encontrou-se com um grupo de representantes da CLAR (Confederação Latino-americana e Caribenha de Religiosas e Religiosos) e, neste encontro, teria feito algumas declarações inusuais. O encontro é fato, mas as declarações são fofoca pura no sentido mais depreciativo da expressão. No entanto, como elas ganharam enorme repercussão (saindo até nas páginas da mídia secular, como o El Mundo), pode ser proveitoso analisá-las um pouco.

De todas as coisas que podem ser concluídas a partir da leitura do texto, a mais evidente é a sua inverossimilhança tanto maior quanto mais filo-modernistas são as palavras que a CLAR põe nos lábios do Papa Francisco. O apogeu deste delírio se encontra aqui (na tradução do Fratres):

Partilho com vocês duas preocupações. Uma é a corrente pelagiana que existe na Igreja neste momento. Há alguns grupos restauracionistas. Conheço alguns; coube a mim recebê-los em Buenos Aires. E nos sentimos como se tivéssemos voltado 60 anos atrás! Antes do Concílio… Sentimo-nos em 1940… Um relato, só para ilustrar esse grupo, não é para que riam disso, eu tive respeito, mas preocupa-me; quando eu fui eleito, recebi uma carta de um desses grupos, e eles disseram: “Sua Santidade, nós lhe oferecemos este tesouro espiritual: 3.525 rosários.” Por que eles não dizem: “nós rezamos pelo senhor, pedimos…”? Mas essa coisa de contar… E esses grupos voltam a práticas e disciplinas que eu experimentei – não vocês, porque vocês não são velhos – a disciplinas, a coisas que naquele momento aconteceram, mas não agora, elas não existem hoje em dia…

Que o Papa não tenha nenhuma predileção especial pelas disciplinas católicas pré-conciliares é uma coisa que me parece bastante evidente. No entanto, que ele fosse capaz de zombar das orações que fiéis lhe entregaram, é um absurdo sem nenhum cabimento. Não é plausível – absolutamente! – que o Papa tenha pronunciado essas palavras, por pelo menos quatro razões.

Primeiro, porque o hábito de contabilizar rosários (e missas, e comunhões, etc.) não é uma prática da década de 40. Chama-se “ramalhete espiritual” e nunca deixou de ser praticada, ao menos esporadicamente, pela totalidade do mundo católico sério. Por ocasião do conclave que elegeu o Papa Francisco foi criado um site especificamente para este fim, cujos resultados foram depois entregues aos cardeais em Roma: naquele momento, eram «37450 Missas, 121434 Pai Nossos, 661646 Ave Marias, 41038 Angelus, 41988 Terços, 13853 Vias Sacras, 20130 Adorações (horas), 17843 Jejuns (dias) e 29401 Sacrifícios». Ainda: que me conste, o Apostolado da Oração (que não tem nada de “grupo restauracionista”!) sempre teve a prática de produzir ramalhetes espirituais, e não é crível que o Arcebispo de Buenos Aires pudesse desconhecer este fato. O mais provável, certamente, é que a parte podre da vida religiosa, a cúpula da CLAR que se encontrou com o Papa, por não rezar e por estar acostumada a tratar com desdém aquelas velhinhas de fitas vermelhas, desconheça o fato de que o costume não é apanágio do mundo tradicionalista.

Segundo, porque o Papa já falou de “pelagianismo” antes, e o alvo da crítica pontifícia era exatamente o oposto do excesso de orações: era a falta delas! De fato, assim se expressou o Papa Francisco: «os cursos de auto-ajuda na vida podem ser úteis, mas viver a nossa vida sacerdotal passando de um curso ao outro, de método em método leva a tornar-se pelagianos, faz-nos minimizar o poder da graça». Estas palavras estão no site do Vaticano e, portanto, nós temos certeza de que o Papa as disse; já as da CLAR…

Terceiro, porque imaginar que o Papa – e justo o Papa Francisco! – pudesse exercer a maledicência diante uma comitiva oficial é mais do que inverossímil: é ultrajante à pessoa do Santo Padre, injurioso, inadmissível e não pode ser tomado a sério por ninguém. Como disse um amigo, tem toda a cara de ser intriga TL, que lamentavelmente o mundo tradicionalista recebe de braços abertos e divulga alegremente como se fosse a coisa mais fidedigna do mundo. Mais uma vez, estas supostas palavras do Papa Francisco estão em franca oposição às suas palavras reconhecidamente autênticas: há não muito tempo, ele disse com todas as letras que «as fofocas destroem a Igreja»! Acusá-lo de fazer em privado aquilo que ele condena em público é tremendamente ofensivo, e semelhante insinuação não deveria ser aceita por ninguém sem que fossem apresentadas provas bastante sólidas a seu favor. E o relato oficioso de uma comitiva da CLAR não atende aos critérios mínimos de confiabilidade exigidos para pôr em dúvida o caráter do Papa Francisco.

Quarto, porque quando a coisa começou a feder a presidência da CLAR veio a público dizer que não era bem assim: lamentou a divulgação do texto e acrescentou, como se fosse uma banalidade, que «não se pode atribuir ao Santo Padre, com segurança, as expressões singulares contidas no texto, mas apenas o seu sentido geral».

“Apenas o seu sentido geral”, certo. Esta declaração camaleônica pode significar qualquer coisa. Ela, no entanto, nos dá autorização para rejeitar, e com veemência, que o Papa possa ter menosprezado a piedade tradicional de tantos católicos que rezam por ele. Dá-nos autorização para descartar esta intriga que um grupelho da Teologia da Libertação parece empenhado (com a inacreditável ajuda da mídia tradicionalista!) em provocar. Entre a TL e o Papa Francisco, parece-me óbvio que todo homem de bem tem o dever moral de se colocar ao lado deste último.

E no sentido geral, será que é possível interpretar corretamente estas declarações? Será que se pode criticar esta prática tradicional de alguma maneira? Sim, por certo, e fazer esta meditação é sem dúvidas proveitoso para quem tem o costume de confeccionar ramalhetes espirituais. Para tanto, remeto à leitura deste post, do qual traduzo (rápida e livremente) apenas o finalzinho:

A oração não muda Deus, ela muda a nós. Todas as nossas orações vocais, por mais que remontem às grandes tradições da Igreja, precisam desta espécie de substrato [hinterland] se nós não quisermos moldá-las, involuntariamente, às nossas próprias paixões.

E é a isto que eu penso que o Papa se referiu quando falou de Pelagianismo no contexto de contar rosários. (…) Se a oração é um sistema preconcebido e humanamente controlável – com as numerosas parafernálias das ações racionais -, então em que medida ela pode ser uma relação com Deus, uma união de corações e mentes? Não há máquinas de rezar, como não há máquinas de amar. Estas coisas não funcionam desta maneira.

Esta reflexão, sim, este sentido geral, é razoável imaginar que o Papa Francisco possa ter feito. O tom de deboche que a CLAR empregou (certamente para indispôr bons católicos para com o Vigário de Cristo, criando atritos desnecessários dentro da Igreja de Deus), este não. Decerto não vem do Papa, e sim do ranço estrebuchante de uma teologia moribunda que, contra tudo o que esperava, está vendo no Papa Francisco o coveiro destinado pela Providência a lançar a última pá de cal sobre o seu caixão.

Last but not least, não deixem de ver a foto (ao que parece, oficial) do encontro. Notem duas coisas. Primeiro, a total falta de respeito dos membros desta comitiva, apresentando-se à paisana diante do Vigário de Cristo: sem uma legenda na foto ninguém diria que se trata de superiores religiosos. Segundo, a cara do Papa Francisco, o novo Papa-Sorriso, que ainda outro dia afirmou que «o cristão jamais é triste». Vejam o terrível efeito que a CLAR conseguiu provocar no Bispo de Roma.

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Rezemos pelo Papa, porque ele precisa desesperadamente de nossas orações. Rezemos com amor e confiança, com submissão filial ao Vigário de Cristo, sem nos deixarmos perturbar com o que dizem inimigos declarados da Igreja Católica. Rezemos à Santíssima Virgem, a quem o Papa tem tão especial devoção, para que Ela o ilumine sempre no governo da Igreja e não o entregue jamais nas mãos dos seus inimigos. Mesmo dos que o visitam em comitivas oficiais. Mesmo dos que dão crédito a fofocas.

“A questão, senhores, não é de ciência, mas de fobia” – José Antonio de Laburu, S.J.

[…]

Senhores, desejais crítica? Quereis ciência? Pois em plena ciência e crítica histórica, deveis admitir a historicidade dos Evangelhos.

Em suas páginas, constituindo sua essência, depositadas estão algumas das provas apresentadas por Jesus Cristo, fiadoras de sua missão e de sua Pessoa.

Muitos de vós negais os fatos que não se enquadram nas vossas idéias e nas vossas tendências afetivas! E ainda alardeais ciência…

Senhores! Isto não é sério, nem sincero. É algo espantoso.

* * *

Todo crítico especialista nesta matéria admite as obras de Heródoto e de Tucídides. Pois bem, senhores[,] quem mencionou Heródoto pela primeira vez, e cem anos após sua morte, foi Aristóteles. E o primeiro a reconhecer como autênticas as obras de Tucídides foi Cícero, trezentos anos depois do seu desaparecimento.

Considera-se suficiente para que o crítico, exibindo erudição[,] admita Heródoto e Tucídides como autores de tais e tais obras, o simples depoimento de testemunhas que viveram de cem a trezentos anos posteriormente à sua morte.

Senhores, é de grande proveito observar que aqueles que, nos Evangelhos, fogem da luz, são os mesmos que admitem, sem a menor hesitação, a vida e a doutrina de Buda. Mas o livro Lalita Vistara, que contém a história de Buda, é reconhecido, de olhos fechados, por todos os críticos, como do Século I antes de Cristo, isto é, redigido pelo menos três séculos após a morte de Buda.

A questão, senhores, não é de ciência, mas de fobia.

Disse-o expressamente Strauss: Não querem admitir os Evangelhos, não porque haja razões para isto, mas para não admitir as conseqüências morais dos mesmos.

Mais – confessa terminantemente Zeller: ainda que tivessem a prova máxima de Jesus Cristo, corroborada por argumentos de maior força e mais valor, jamais acreditariam nele.

Foi o que aconteceu com os judeus e se passa com os incrédulos de hoje.

E este é o enorme pecado contra o Espírito Santo, do qual o grande perdoador Jesus Cristo Nosso Senhor diz que “não haverá perdão para quem blasfemar contra o Espírito Santo”.

É o pecado de desprezar e caluniar as obras manifestas de Deus.

Isto[,] como se vê, não tem perdão, não porque o pecador, arrependido, não possa obtê-lo, pois Deus perdoa a quem se arrepende, mas sim porque os que procedem dessa forma fecham para si próprios, da maneira mais absoluta, o caminho da conversão.

Ah! que dó sentiu Jesus Cristo dessa gente! Ele, que propiciou as máximas garantias em prol da verdade! Quanta pena lhe causou essa conduta!

Com que dor de coração exclamou Jesus Cristo diante desse tristíssimo proceder: “Se eu não tivesse vindo e não lhes houvesse falado, não teriam culpa, mas agora não têm desculpa do seu pecado… Se eu não houvesse feito entre eles tais obras, como nenhum outro as fez, não teriam culpa, mas agora viram-nas e, contudo, aborreceram-me a mim, e não só a mim, mas também a meu Pai” (cf. Jo XV, 22-24).

“Lux venit in mundum”. A luz veio ao mundo…

Bem nítido está no Evangelho tudo quanto se refere à pessoa de Jesus Cristo e a suas obras.

Mas “amaram os homens mais as trevas do que a luz”…

José Antonio de Laburu, S.J.
Jesus Cristo é Deus? – Conferências sobre a divindade de Jesus Cristo
Edições Loyola, São Paulo, 1966
pp.72-74

Marcha das vadias em Guarulhos: o contra-protesto

Na semana passada, as auto-intituladas “vadias” ameaçavam veladamente marchar sobre a Catedral de Guarulhos no domingo. A concentração estava marcada para o Marco Zero da cidade, curiosamente no mesmo lugar onde se encontra a Catedral de Nossa Senhora da Conceição.

Nós levamos a sério. Em carta enviada «[à] Polícia Militar do Estado de São Paulo, [à] Polícia Civil do Estado de São Paulo, [à] Prefeitura Municipal de Guarulhos, [à] Secretaria Municipal de Segurança Pública de Guarulhos [e à] Imprensa», o pároco da Catedral denunciou as articulações diabólicas das revoltosas e solicitou às autoridades públicas proteção: transferência da marcha para outro lugar e «fornecimento de policiais em número adequado e de obstáculos para impedir a violação do solo sagrado da Catedral Nossa Senhora da Conceição e dos direitos de todas as pessoas católicas».

No domingo, nós estávamos a postos. Diante da Catedral, de joelhos, rezando à Santíssima Virgem que não permitisse o vilipêndio do templo erigido em honra à Sua Imaculada Conceição. Prontos para não deixarmos as desocupadas profanarem o lugar sagrado.

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E a “marcha” foi um verdadeiro fiasco. O Fratres (de onde foram também retiradas estas fotos) nos traz o pequeno relato do Júnior Ferreira:

A ‘marcha das  vadias’ em Guarulhos foi um fiasco. Tinha tanta polícia na frente da Catedral, que achávamos que iam ter pelo menos um número aceitável de pelo menos umas 500 pessoas, mas se tivesse 30 era muito!! Nós não conseguimos ouvi-las, pois o terço foi rezado na sacada do coro da Catedral, com caixas de som potentes, e o órgão musical dava mais beleza às nossas ladainhas. Um grupo de pessoas fizeram uma corrente humana nas portas da igreja, caso os desordeiros inventassem de invadir, como fizeram na Bélgica. Uma representação por parte de católicos foi enviada a polícia, que proibiu nudez no protesto. As pessoas que passavam pelo Centro nem davam bola para os manifestantes. Nossa Senhora esteve conosco ! Uma Missa foi rezada após o terço, a os manifestantes cansados, desistiram e foram embora!

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Impedimos o vandalismo das desocupadas, Deo Gratias. Os católicos de Guarulhos estão de parabéns.

Por fim, a cereja do bolo: num patético exercício de jus sperniandi extemporâneo, a Lola reclama que duas meninas foram presas “porque o padre mandou” e, sob ameças vagas e vaticínios apocalípticos, a organização da Marcha promete um «novo ato». «Amanhã vai ser maior».

Sim. Amanhã vai ser maior.  Já chega desses “protestos” de mau gosto, que há muito já deixaram de ser em defesa de legítimos direitos das mulheres. Já chega dessas agressões em público mal-disfarçadas de “liberdade de expressão”. A Civilização há de sobreviver a barbárie: amanhã vai ser um novo dia. O sol há de raiar contra o vandalismo obscurantista das revolucionárias das maminhas ao léu.

Miscelânea: manuscritos, Beleza, divórcios, senso comum, ateísmo

– A descoberta de uma Bíblia de 1500 anos, dizem, «preocupa [o] Vaticano». Por quê? Por se tratar de um «original» (sic) do «Evangelho de Barnabé» que, entre outras coisas, teria previsto «a vinda do profeta Maomé, mostrando a verdade da religião do Islã» (!).

Como é possível que um manuscrito «do século V ou VI» possa ser o «original» de Barnabé se este viveu no século I da Era Cristã é um mistério que está para muito além da capacidade de entendimento dos meros mortais. Afora esse prodígio verdadeiramente portentoso, contudo, não há nada de novo na descoberta. O Evangelho de Barnabé (inclusive com a suposta profecia sobre o Islã) já é conhecido. A única coisa digna de nota aqui é a data: a dar crédito às notícias, o manuscrito recém-descoberto seria de um século antes do próprio nascimento de Maomé. A julgar pelo que já se sabe do livro, contudo, isto seria claramente impossível. Provavelmente estamos diante de mais uma falsificação, com a qual não é necessário desperdiçarmos o nosso tempo.

* * *

– O culto à feiura no mundo revolucionário – merece (e muito) uma leitura. «Tragicamente, nosso mundo não reconhece sequer o que é o feio. Já dissemos que a beleza é aquilo que quando visto agrada e, portanto, o lógico seria que o feio fosse aquilo que quando visto desagrada. Mas olhem para a nossa sociedade, na qual o que agrada é o macabro, o esquisito, o torto e o deformado; na qual, por muitos anos, a peça mais popular de cinema — número um durante semanas — foi um filme sobre um canibal. São o mal e o feio que agora deleitam. Bem-vindos ao bravo novo mundo: o que em outra época teria sido chamado de mau agora é qualificado como bom, e o que era considerado feio é agora considerado bonito».

Nestes tempos em que mesmo a nossa arquitetura sacra é destituída do mais elementar senso estético, encontrar um padre defendendo o valor da Beleza é um verdadeiro refrigério. Ouçam-no! No meio do turbilhão de valores em que vivemos, é a Beleza que salvará o mundo.

* * *

– Este texto do Ad Hominem conclama à leitura de “Claro Escuro”, de Gustavo Corção. Faço coro ao pedido; a coletânea de artigos do grande jornalista foi uma das leituras mais prazerosas e instrutivas sobre o assunto que eu já fiz na minha vida. O transcurso dos anos não foi capaz de mitigar o impacto que as palavras de Corção ainda hoje provocam em mim; ainda hoje, leio-o com o deslumbramento de quem estivesse lhe pondo os olhos pela primeira vez. Não são todos os autores os que são capazes desse prodígio.

Para exemplificar isto que estou tentando dizer, trago apenas um excerto do excerto trazido pela Day Teixeira, enfaticamente recomendando aos meus leitores que procurem a íntegra da obra:

Assim como se abrem os olhos [da criança] para o jogo das leis naturais, abrem-se também para essa realidade de pedra que a protege, que a envolve, como paredes de uma casa viva. Por isso, a separação dos cônjuges terá para a criança um aspecto de alucinação. Não se trata apenas de um afastamento livremente consentido de duas pessoas que livremente se uniram. Não será apenas a quebra de um juramento ou a rescisão de um contrato. A separação dos pais, para a criança, é um absurdo. Não é um drama moral, é uma tragédia cósmica. Não é conflito de duas pessoas, é conflito dos elementos constitutivos do universo. O mundo enlouqueceu se os pais se separam. Na mente infantil, a repercussão afetiva e intelectual significa um abalo de todas as fundamentais experiências até então colhidas. É como se a água deixasse de molhar, o sol deixasse de brilhar, a pedra deixasse de ser dura. Não é muito difícil extrapolar as consequências de tão brutal experiência: os psiquiatras estão aí para dizer no que dão os filhos do divórcio.

Sensacional.

* * *

– “A filosofia do senso comum”, na Revista Vila Nova. Dentre os quatro «elementos fundamentais do senso comum» que Chesterton coloca como premissas necessárias à compreensão das coisas ao nosso redor, destaco um:

2. Todo homem em sã consciência, acredita não somente que este mundo existe, mas também que ele tem importância. Todo homem acredita que há, em nós, um tipo de obrigação de nos interessarmos por esta visão da vida. Não concordaria com alguém que dissesse, “Eu não escolhi esta farsa e ela me aborrece. Fiquei sabendo que uma senhora idosa está sendo assassinada no andar de baixo, mas eu vou é dormir”. O fato de que há um dever de melhorar coisas não feitas por nós é algo que não foi provado e não se pode provar.

E este «dever de melhorar coisas não feitas por nós» é talvez um dos elementos mais indispensáveis à vida em sociedade. No entanto, que importância se lhe dá hoje em dia…? De tanto serem cerceadas as investigações sobre a sua gênese, talvez um dos maiores desafios atuais seja limitar o efeito social deletério dos que, de tanto se desinteressarem por essas coisas, chegam a negar a sua própria existência.

* * *

«Na primeira condenação no Brasil por discriminação contra religiosos, a justiça condenou este ano a rede de televisão Bandeirantes depois que um de seus apresentadores afirmou que o assassinato de uma criança só podia ter sido cometido por ateus, também acusados por ele “da guerra, da peste, da fome e de tudo o mais”».

Trata-se de uma matéria do Diário de Pernambuco sobre o ateísmo, e a condenação à qual ela se refere é a que o Datena sofreu por conta de denúncia da Atea. Já a conhecia, mas ainda não atentara para o fato de que o ateu foi beneficiado pela lei que proíbe a «discriminação contra religiosos». De fato, no relatório da referida sentença, há o seguinte:

Este atuar, no entendimento do autor, extrapola os limites da liberdade de expressão, estando tipificado penalmente no artigo 20, parágrafo 2°, da lei 7.716-89.

E o que é que diz o Art. 20 da 7716/89? Simplesmente tipifica o crime de «[p]raticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional». Ora, como ateísmo evidentemente não é “raça”, “cor”, “etnia” e nem “procedência nacional”, segue-se que a única discriminação que o apresentador da Bandeirantes pode ter cometido é a de «religião». Quando lhes convém, os ateístas aparentemente não têm nenhum problema em serem contados entre os religiosos.

Não deixa de ser irônico. Quando nós dizemos que o ateísmo é claramente uma posição religiosa com no máximo tanto valor quanto qualquer outra religião da humanidade, começa a chover ateísta protestando. No entanto, quando a religião ateísta se sente ofendida em cadeia nacional, a Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos não se faz de rogada e passa a exigir que seja aplicada em seu favor uma lei que proíbe o preconceito de «religião».

Desmascarando um discurso de ódio: contra os que são contra a dita “bolsa-estupro”

De ontem para hoje, por conta da sua aprovação na CFT da Câmara dos Deputados, multiplicaram-se internet afora as críticas ao Estatuto do Nascituro. A maior parte delas está francamente empenhada em lhe conferir um rótulo odioso por meio do recurso exaustivo à expressão “bolsa-estupro”, atribuída pejorativamente ao projeto de lei.

Um rótulo odioso, como nos ensina Schopenhauer, é um estratagema de falsa retórica que pretende desqualificar um argumento por meio de sua (indevida) vinculação a uma «categoria geralmente detestada». Ou seja, torna-se desnecessário entrar no mérito do argumento: basta lançar-lhe alguma pecha detestável, que a repulsa àquela categoria transmite-se naturalmente para o objeto rotulado. Aplicando a falácia ao caso em prática, temos o seguinte: o estupro é socialmente detestável, e com razão. Então, se associamos o PL 478/2007 ao estupro, a repulsa ao crime transfere-se automaticamente para o Projeto de Lei e não temos necessidade de fazer mais nada contra ele porque já o tornamos socialmente rejeitado. Não por ele ter sido refutado na esfera dos argumentos, mas somente porque se tornou odiado no âmbito das impressões subjetivas.

Vê-se, desde logo, que se trata de expediente típico de quem não tem argumentos. Mas como se defender dessa canalhice? A primeira e mais urgente coisa a ser feita é negar o apodo: não existe nenhuma «bolsa-estupro». A segunda, é demonstrar a má-fé da construção da alcunha: o texto ora em trâmite do PL 478/2007 (que é um substitutivo) tem 14 artigos, dos quais somente um trata da violência sexual; de sorte que a expressão «bolsa-estupro» é de um reducionismo oportunista grosseiro. A terceira é esclarecer o que o Estatuto do Nascituro realmente dispõe: não se trata de revogar artigo algum do Código Penal e nem muito menos de obrigar a mulher a sustentar o filho do estuprador, mas tão-somente de, caso ela o deseje, ajudá-la a criar o próprio filho.

E com duas ligeiras considerações desmascaremos este rasgar de vestes hipócrita. Primeira: sob qual absurdo pretexto alguém pode ser contra o custeio pelo Estado de uma criança cuja mãe não tem condições de a sustentar? Então a pobre da mulher, além de sofrer violência sexual, se não quiser assassinar o próprio filho tem que ser obrigada a cuidar dele sem nenhum tipo de ajuda dos Poderes Públicos? Veja-se o tamanho da monstruosidade que a ideologia abortista leva as pessoas a defenderem!

Segunda: os defensores do aborto são os primeiros a se dizerem a favor da “escolha” da mulher [pro-choice] e pela sua liberdade de fazer o que bem entender com o próprio corpo. Deveriam, portanto, por coerência, apoiar com entusiasmo o Art. 13 do Estatuto do Nascituro, que, dispondo sobre o auxílio psicológico e financeiro à mulher vítima de estupro que opte pela não-interrupção da gravidez, dá as condições necessárias para o efetivo exercício da sua liberdade. Afinal de contas, liberdade só existe quando se pode escolher entre dois caminhos possíveis. A mulher que não tem condições de criar um filho, assim, é na verdade constrangida ao aborto pelas circunstâncias em que se encontra. Dizer que uma vítima de estupro pobre e assustada está sendo «livre» quando opta pelo aborto é uma piada de muito mau gosto: se ela não tem condições financeiras ou psicológicas de ter aquela criança, é óbvio que não cabe falar em escolha alguma aqui. O PL 478/2007, prevendo o «acompanhamento psicológico da mãe» e os «meios econômicos suficientes para cuidar da vida, da saúde do desenvolvimento e da educação da criança», está assim restabelecendo a autonomia da mulher e garantindo-lhe o legítimo direito de decidir. Afinal, há de se convir que não se exerce «direito de escolha» algum quando se opta por uma coisa porque não se tem condições de fazer a outra.

Não se enganem os leitores: este levante orquestrado contra o Estatuto do Nascituro não é fruto de humanismo ou de compaixão pelas mulheres. Não se baseia em nobres ideais de progresso e liberdade e não está nem um pouco preocupado com as vidas daquelas que ele diz defender. Muito pelo contrário, é o debater-se de uma ideologia assassina que, sob o pretexto de defender a liberdade, condena as mulheres à solução fácil do aborto e não tolera nada que venha dar opções verdadeiras às vítimas de violência sexual. É disso que se trata. Não dêem ouvidos a esta hipocrisia.

Sobre o «sou feliz sendo prostituta» do Ministério da Saúde

A Gazeta do Povo de Curitiba publicou mais uma vez um corajoso e oportuno editorial: «Um apagão ético-jurídico», falando sobre a “campanha de apologia à prostituição que o Ministério da Saúde colocou e retirou do ar”. Trata-se da campanha que continha, entre outras, a imagem abaixo. O responsável por ela foi demitido após o escândalo.

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Não me parece crível que a veiculação dessa campanha possa ter sido um mero engano. Afinal de contas, exaltar a prostituição está perfeitamente de acordo com os rumos que a nossa elite “bem-pensante” julga necessário impôr ao país para o “modernizar” (a bandeira, inclusive, é despudoradamente defendida na Câmara pelo sr. Jean Wyllys, o deputado que parece ter um prazer doentio em se colocar a favor de tudo o que não presta). O mais provável é que a peça tenha sido calculadamente liberada para “sondar” a aceitação popular; se não houvessem chovido reclamações, eu sinceramente duvido de que o senhor Padilha tivesse se dado ao trabalho de mover mundos e fundos para retirar a campanha de circulação.

Mas voltemos ao editorial do periódico curitibano. A Gazeta do Povo é contundente no seu diagnóstico:

Em questões que envolvem a dignidade humana, a mera neutralidade do Estado já seria preocupante, por ser, no fundo, uma omissão. Mas pior ainda é ver o poder público abraçar essas plataformas, chegando-se a extremos como o “Eu sou feliz sendo prostituta”.

E, no fundo, trata-se exatamente disso. Palavras como “direitos humanos”, “dignidade humana” e similares são hoje em dia meros talismãs destituídos de significado, empregados no discurso político para justificar quaisquer barbaridades que os detentores do poder em um determinado momento histórico julguem por bem impôr à população. A prostituição é somente o aspecto menos tragável dessa revolução moral abjeta, uma coisa contra a qual os cidadãos ainda acham importante se levantar. É óbvio que não há nada de digno na mercantilização do sexo; que seja necessário defender publicamente isso contra uma campanha oficial do Governo do Brasil que afirma haver felicidade na prostituição, no entanto, serve para nos fazer ver quão densas são as trevas em que o Século XXI achou a sociedade brasileira mergulhada.

Em um comentário que enviei à Gazeta do Povo cumprimentando-a pelo editorial [coisa que, aliás, recomendo que todos façam; ou pelo site ou pelo email leitor@gazetadopovo.com.br], eu pontuei que nem sempre dignidade e liberdade andam de mãos dadas. O livre-arbítrio humano, que sem dúvidas é parte constituinte da nossa dignidade, por sua própria natureza pode ser empregado para nos degradar. Qualquer pessoa há de convir que existem diversas formas pelas quais um ser humano pode degradar-se a si mesmo, e que portanto somente o binômio “voluntário” x “coagido” não se revela satisfatório para nos dizer se certas atitudes são dignas ou não. É importante defender a liberdade sim, mas isso não nos pode fazer fechar os olhos à existência de certas coisas que, por mais que nos incomodem e desconcertem, são ao mesmo tempo radicalmente voluntárias e vergonhosamente indignas. E, se é sem dúvidas necessário defender a liberdade, não se pode nunca, a este pretexto, louvar a degradação humana.

Estatuto do Nascituro aprovado na CFT!

No final desta manhã, o Estatuto do Nascituro foi aprovado pela Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados. Votação simbólica, com apenas quatro ou cinco oposições. Agora o projeto segue para a Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania. Nossos agradecimentos a todos os que colaboraram, de uma forma ou de outra, para este importante resultado. Vencemos esta batalha! Mas a guerra continua.

Abaixo, uma foto dos céus de Brasília sobre a Marcha da Cidadania pela Vida de ontem. Outras podem ser encontradas no Flickr do Brasil Sem Aborto.

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Que orvalhem os Céus sobre nós, e que brote a justiça deste solo brasileiro. Já basta de dor e de iniqüidade, já basta de crimes e de omissão. Que nos ajudem os Céus, os Eternos, que sobre nós brilham com muito mais fulgor e beleza do que este do Planalto Central ao entardecer. Levantai-Vos, ó Virgem Aparecida, e defendei Vosso Brasil!