A “reforma histórica” do Papa Francisco (II) – Os casais divorciados

Dando continuidade ao que já comecei a escrever aqui anteriormente, um outro tema eclesiástico passível de «reforma» com conseqüências que só posso considerar nefastas é a situação dos casais católicos que vivem em «segunda união».

O problema é muito grave; Bento XVI não teve receios de o classificar como «una vera piaga» dos tempos modernos (“uma verdadeira praga do ambiente social contemporâneo”, na tradução controversa que está no site do Vaticano). É uma «praga», sim, mas é também e principalmente uma chaga, uma ferida, que é a tradução mais exata do «piaga» italiano.

Digo que é uma «chaga» porque é uma situação indiscutivelmente dolorosa para os envolvidos, que contam com bem poucas opções: ou esperam a morte do primeiro cônjuge, ou abandonam a sua segunda família (que muitas vezes se trata da família de fato), ou recorrem aos tribunais de nulidade.

Aguardar a morte do cônjuge verdadeiro é uma “solução” que, na prática, não se trata de solução nenhuma. Primeiro porque não há nada que se possa fazer concretamente aqui (assassinar o cônjuge, além de ser um evidente pecado contra o Quinto Mandamento, ainda é, segundo o Direito Canônico, impeditivo para a contração de novas núpcias). Segundo porque condicionar a saúde da própria alma à morte de alguém com quem já se relacionou no passado é no mínimo mesquinho, e não raro monstruoso e doentio. Terceiro porque devem ser bem poucos os casos que são “resolvidos” desta maneira, uma vez que o mais natural é que ambos os cônjuges levem uma vida mais ou menos longa e, portanto, é de se esperar que o bafo frio da Morte só rompa os liames do Sagrado Matrimônio quando constituir uma nova família não tenha mais o vicejo atraente com o qual a idéia se apresentava quando ainda se era relativamente jovem.

Abandonar a/o amante é sem dúvidas a solução mais radicalmente correta: o ímpeto de «mudar de vida» é a conseqüência mais óbvia que se espera de alguém que passe a ter consciência de estar vivendo em pecado grave. Trata-se de uma opção heróica cujo valor não pode ser minimizado: de forma alguma! No entanto, as coisas no mundo real muitas vezes não são assim tão simples. Como falei, por vezes acontece da «segunda união» ser a união de fato: os esposos podem estar já juntos há anos, décadas talvez, podem já ter patrimônio comum e (mais grave) filhos, para os quais a separação dos pais não tem um efeito menos daninho do que um divórcio para os filhos legítimos de um casal regularmente casado

[É preciso registrar aqui uma segunda modalidade de «abandonar a/o amante»: trata-se do que o próprio Bento XVI expôs na seguinte passagem da Sacramentum Caritatis: «Enfim, caso não seja reconhecida a nulidade do vínculo matrimonial e se verifiquem condições objectivas que tornam realmente irreversível a convivência, a Igreja encoraja estes fiéis a esforçarem-se por viver a sua relação segundo as exigências da lei de Deus, como amigos, como irmão e irmã; deste modo poderão novamente abeirar-se da mesa eucarística, com os cuidados previstos por uma comprovada prática eclesial. Para que tal caminho se torne possível e dê frutos, deve ser apoiado pela ajuda dos pastores e por adequadas iniciativas eclesiais, evitando, em todo o caso, de abençoar estas relações para que não surjam entre os fiéis confusões acerca do valor do matrimónio». Trata-se, em suma, de manter em tudo a vida familiar já estabelecida, à exceção das práticas sexuais. Infelizmente, a “invisibilidade” deste sacrifício (uma vez que, de fora, nada muda na vida do casal) e o alto grau de heroísmo que ele exige (mais ainda do que o abandono puro e simples, uma vez que a coabitação, mesmo «como irmão e irmã», comporta uma ocasião de pecado objetiva nada negligenciável) tornam-no tremendamente difícil e impopular para resolver um problema generalizado como este que estamos aqui abordando.]

Sobram os «tribunais de nulidade», sobre os quais Bento XVI falou na exortação pós-sinodal anteriormente citada:

Nos casos em que surjam legitimamente dúvidas sobre a validade do Matrimónio sacramental contraído, deve fazer-se tudo o que for necessário para verificar o fundamento das mesmas. Há que assegurar, pois, no pleno respeito do direito canónico, a presença no território dos tribunais eclesiásticos, o seu carácter pastoral, a sua actividade correcta e pressurosa; é necessário haver, em cada diocese, um número suficiente de pessoas preparadas para o solícito funcionamento dos tribunais eclesiásticos. Recordo que «é uma obrigação grave tornar a actuação institucional da Igreja nos tribunais cada vez mais acessível aos fiéis».

Eu morro de medo de tribunais de nulidade, ou melhor, da popularização dos tribunais de nulidade. E isso porque a (enorme!) distinção entre nulidade e anulação é muito difícil de ser assimilada pelas massas. Exteriormente, visivelmente, para a imensa maioria das pessoas uma declaração de nulidade em nada se distingue de uma certidão de divórcio: trata-se de um documento que permite à pessoa “casar de novo”.

Mais ainda: pela minha experiência, dado o estado de miséria religiosa em que se encontra atualmente a maior parte dos católicos, estou intimamente convencido de que o número de Matrimônios nulos atinge facilmente a casa dos 50%. Ora, se os Tribunais Eclesiásticos dessem uma Certidão de Nulidade para cada Matrimônio que de fato é nulo, isso bastaria para que as taxas de nulidade católica se igualassem às de divórcios nos Cartórios Civis! Que golpe mais duro se poderia dar no Matrimônio que a Igreja prega ser «indissolúvel»?

Em uma das crônicas compendiadas no “Claro Escuro” de Gustavo Corção, ele fala que há casais para os quais seria justificável o divórcio. Não obstante, mesmo a estes casais o divórcio não deveria ser concedido, porque o Matrimônio é uma instituição cuja importância transcende os casais concretos: estes deveriam permanecer casados para dar exemplo e testemunho da indissolubilidade matrimonial aos demais casais do mundo. Mutatis mutandis, penso que o mesmíssimo se aplica aos casos de nulidade matrimonial: nem todos os casamentos nulos deveriam receber uma certidão de nulidade, porque a irrevogabilidade dos juramentos prestados diante do altar de Deus é um bem a ser preservado acima dos interesses dos particulares, por legítimos que estes sejam.

É portanto com temor e apreensão que eu vejo uma certa «popularização» dos tribunais de nulidade como se estes fossem “a Solução” para os casais recasados, quando para mim é óbvio que a verdadeira solução só pode ser impedir que “católicos” irresponsáveis simulem sacramentos na Igreja de Deus. Enquanto não se quiser enfrentar este problema com a seriedade que ele exige, ulteriores tentativas de consertar erros passados só vão aumentar ainda mais aquela «chaga» que Bento XVI deplorava na Sacramentum Caritatis.

Como vimos, Bento XVI já clamava por «tornar a actuação institucional da Igreja nos tribunais [de nulidade] cada vez mais acessível aos fiéis», e isso já me dava um frio na espinha. O Papa Francisco parece determinado a pôr isso em prática. Na entrevista realizada no vôo de volta a Roma após a JMJ, ao ser perguntado sobre este assunto, o Sumo Pontífice deu a seguinte resposta:

Este é um tema que sempre pedem. A misericórdia é maior do que aquele caso que o senhor põe. Eu creio que este seja o tempo da misericórdia. (…) Mas os próprios ortodoxos – e aqui abro um parêntese – têm uma prática diferente. Eles seguem a teologia da economia, como eles dizem, e dão uma segunda possibilidade, permitem-no. Mas eu acho que este problema – e fecho o parêntese – deve ser estudado no quadro da pastoral do matrimônio. E, para isso, temos duas coisas: primeira, um dos temas a consultar a estes oito cardeais do Conselho dos Cardeais, com quem nos reuniremos nos dias 1, 2 e 3 de outubro, é como avançar na pastoral do matrimônio, e este problema será lançado lá. E uma segunda coisa: esteve comigo, quinze dias atrás, o secretário do Sínodo dos Bispos, para ver o tema do próximo Sínodo. O tema seria antropológico, mas olhando-o de um lado e de outro, indo e vindo, encontramos este tema antropológico: a fé como ajuda no planejamento da pessoa, mas na família para se debruçar depois sobre a pastoral do matrimônio. Estamos a caminho de uma pastoral do matrimônio um pouco mais profunda. E este é um problema de todos, porque há muitos, não? Por exemplo – digo apenas um – o cardeal Quarracino, meu predecessor, dizia que para ele metade dos matrimônios são nulos. Mas dizia isso, porquê? Porque casam-se sem maturidade, casam-se sem notarem que é para toda a vida, ou casam-se porque socialmente se devem casar. E com isso tem a ver a própria pastoral do matrimônio. E também o problema judicial da nulidade dos matrimônios: isso deve ser revisto, porque os Tribunais eclesiásticos não são suficientes para isso. É complexo o problema da pastoral do matrimônio. Obrigado!

A referência à epikéia ortodoxa, mesmo feita entre parênteses, é significativa e angustiante. Os cismáticos orientais não acreditam na indissolubilidade matrimonial; permitem segundas (e terceiras… e quartas…) núpcias em alguns casos, ao arrepio da Lei de Deus. Obviamente, eu não penso que o Papa vá introduzir esta praxis herética no Ocidente, mas há uma maneira muito simples de seguir-lhe o espírito mesmo respeitando a Doutrina e o Direito: basta estimular os católicos a pleitearem a nulidade do seu primeiro Matrimônio nos Tribunais Eclesiásticos! Doutrinariamente perfeito, canonicamente impecável, pastoralmente desastroso. Se já é difícil às pessoas acreditarem na santidade do Matrimônio, quando se passarem a realizar na Igreja segundas núpcias à mesma proporção que “recasamentos” civis nos Foros de Justiça aí é que o número de matrimônios inválidos vai aumentar ainda mais!

Quem quer que passe os olhos sobre as notícias atuais percebe que a questão dos divorciados na Igreja está na ordem do dia. Ainda não se sabe exatamente o que o Sumo Pontífice vai dispôr para a Igreja; mas dessa “reforma histórica” pode muito bem vir algo de muito, muito ruim. Rezo para que o Espírito Santo ilumine o Vigário de Cristo e ele me surpreenda positivamente neste assunto: porque, se a Igreja continuar no caminho que vem há anos ensaiando, a terrível chaga do divórcio na sociedade contemporânea só vai se tornar maior, mais purulenta e mais difícil de ser sanada.

Publicado por

Jorge Ferraz (admin)

Católico Apostólico Romano, por graça de Deus e clemência da Virgem Santíssima; pecador miserável, a despeito dos muitos favores recebidos do Alto; filho de Deus e da Santa Madre Igreja, com desejo sincero de consumir a vida para a maior glória de Deus.

64 comentários em “A “reforma histórica” do Papa Francisco (II) – Os casais divorciados”

  1. Afinal parece que habitamos o mesmo planeta. Artigo muito bem escrito. Parabéns.

  2. Jorge, entendi a profundidade do artigo bem como a natureza de sua preocupação, entretanto, empiricamente, qual solução você propõe? Porque muitos desses casais em segunda união sentem-se verdadeiramente punidos por não participarem da Eucaristia devido a um matrimônio constituído antes de conhecerem à verdadeira significação do casamento ou mesmo antes de participarem ativamente da Igreja! Abraco!

  3. Duddu,

    Eu não proponho solução nenhuma. A chaga está aí aberta e não vejo como se a possa sanar. O que precisa ser feito é impedir com determinação, mesmo que às custas da impopularidade, que futuras chagas sejam abertas. E cuidar para que os “remédios” aplicados não agravem ainda mais a ferida.

    Abraços,
    Jorge

  4. Se é nulo, é nulo. Se não é nulo, não é nulo. Não podemos ter medo da verdade. O que não se deve fazer é torcê-la. Mentir. Quando isso é feito, é sempre desastroso. É o que o pai da mentira mais quer: que prefiramos desposar a sua filha.

  5. Que os Tribunais Eclesiásticos dêem uma Certidão de Nulidade para cada Matrimônio que de fato é nulo, mesmo que as taxas de nulidade católica se igualem às de divórcios nos Cartórios Civis!

    Golpe duro por ser golpe de verdade.

  6. Solução perfeitamente estúpida, que teria como resultado imediato o crescimento exponencial do número de Matrimônios nulos.

    Que tal também o padre começar a apontar do púlpito os pecados dos seus paroquianos? Nomeando-os e dizendo que fulano é ladrão, sicrano é adúltero, beltrano um fornicador compulsivo? Belíssimo golpe de verdade, não é?

  7. Não proponho como única solução. Mas uma das.

    Jorge… aqueles matrimônios já são nulos, ninguém os anula.

    Que tal também o padre começar a apontar do púlpito os pecados dos seus paroquianos? Nomeando-os e dizendo que fulano é ladrão, sicrano é adúltero, beltrano um fornicador compulsivo? Belíssimo golpe de verdade, não é?

    Comparação disparatada.

    Aquela verdade terá sido buscada pelos primeiros interessados, e — o principal — sua revelação não terá violado a lei da Igreja. O Código de Direito Canônico está para uma situação e não está para outra.

  8. A lei da Igreja é a salvação das almas. Está lá no Direito Canônico como suprema lex.

    Um decreto de nulidade serve única e exclusivamente para que se possa casar (“de novo”). Não é uma afirmação acadêmica sobre a quididade de um contrato particular, é um instrumento jurídico com evidentes efeitos sociais que não podem ser negligenciados. A verdade dos fatos não é o único bem tutelado aqui. Também entra na conta o efeito catequético das decisões tomadas.

    Elevar as declarações de nulidade aos mesmos patamares dos divórcios civis vai causar um terrível e profundo dano às almas, exatamente porque a distinção entre «anular» e «decretar nulo» não é facilmente perceptível para os pequeninos. E escandalizar os pequeninos é aquele pecado sobre o qual Nosso Senhor falou que melhor seria ser lançado ao mar com uma pedra amarrada ao pescoço.

    Passar a imagem de que se consegue “casar de novo” na Igreja com a mesma facilidade com a qual se assina um papel nos cartórios civis causa um dano infinitamente maior do que apontar pecados particulares.

  9. Jorge, “vai desculpando aí…” mas eu não vou além. Meu objetivo não é teimar com você. Eu coloquei minha opinião. Também coloquei o que não é opinião. Quem quiser entender ou verificar, leia-nos. Continuarmos seria desfocar. Respeito suas preocupações.

    Eu aprendo muito com Jorge Ferraz. Mas não posso concordar 100% com ele. Não confundam as coisas: isso não é ingratidão.

  10. Discussões simples não tem graça…

    Deixem-me entrar .

    Um exemplo; (verídico)

    Um senhor meu amigo, trabalhou toda a sua vida sem jamais descuidar da Igreja, católico sempre de mangas arregaçadas, depois de muitos anos, já em idade avançada, sua esposa veio a falecer, filhos criados, sozinho. Veio a coabitar com uma senhora quase da sua idade, ambos sozinhos, mas ela saída de um casamento desfeito e com o marido ainda vivo. O meu amigo católico, a partir do dia que recebeu a outra mulher sob o seu teto, não mais comungou, como manda a lei da Igreja, este meu amigo manteve-se católico participante, até onde lhe era permitido, ele permaneceu católico até o dia de sua morte. Ainda hoje a pastoral do canto é identificada pelo nome deste meu amigo. Colega de empresa, após seu falecimento, o nome dele foi dado ao anfiteatro de nossa sede regional.

    O casamento não deve ter como utilidade resolver quimeras, o casamento tem que ser indissolúvel, ou não será sacramento.

    Quando alguém deseja que sua união seja considerada nula, não é que esta pessoa preocupe-se com a sua fé, normalmente esta pessoa não é mais católica, ela deseja apenas repetir uma “atividade social com cunho religioso”.

    Outro exemplo(verídico)

    Um padre amigo meu, disse que o casamento de um primo dele era nulo!!!! Inquirido explicou que, quando o casamento acontecia o tal primo pensava consigo os maiores absurdos e maiores baixarias contra sua ainda noiva. Mas celebrado o casamento e havendo consumação do fato ele volta a baila agora querendo justificar a anulação.
    Na minha opinião este rapaz de mínima índole, caso conseguisse seu objetivo de tornar nula sua união, deveria ter qualquer tipo de união futura impedida dentro da Igreja, e que afastar qualquer mulher de tal sujeito seria pelo bem dela, jamais dele.
    Infelizmente meu bom e tendencioso padre manteve seu ponto de vista.

    Mesmo que algum fator possa tornar nulo um casamento, o desejo de acertar e o esforço do casal pode transformar um casamento NULO em um casamento feliz e não mais nulo.

    Caro Alexandre, creio que a preocupação do Jorge é pertinente. Eu diria que todo casamento carrega consigo algum fator de nulidade, diria que a imaturidade somente seria superada depois de 5 ou 6 “casamentos”, e vai por aí. Casamento não é um caminho, que estando errado, volta-se e busca outro, não é uma loteria onde acerta-se ou erra-se. Casamento é mais um ajuntar folhas ao vento a dois, os problemas (folhas) sempre estarão nos cercando, apenas a própria fé nos mantém.

    Para um católico mesmo que pela fraqueza humana esteja em uma segunda união, sabe que NÃO existe fator de nulidade em um casamento, que não pudesse ser superado, e quando o tal fator existiu, na celebração do casamento faltou o católico.

  11. Não há nada de complicado nesta questão.A doutrina católica é clara quanta a isto: segunda união=adultério;adultério=pecado mortal;morrer em pecado mortal=inferno.Portanto,indepedentemente de qualquer laço afetivo entre estes adúlteros,ambos devem separar-se caso queiram salvar suas almas.

  12. Renato W,
    se a questão fosse assim tão simples, porque os Pontífices ‘perderiam’ tempo procurando uma solução adequada e que prestasse justiça a verdadeiros católicos(como o senhor do exemplo do Wilson Ramiro) em segunda união?
    Lembre-se de que N. Senhor tem medidas de justiça e condenação, mas também de MISERICÓRDIA!

    Abraço.

    PS: Jorge, no meu comentário anterior, esqueci de parabenizar-lhe pelas suas sempre pertinentes postagens. Se serve de algo, saiba que elas engrandecem meu conhecimento sobre nossa Igreja, além de alimentarem a minha fé! Deus te abençoe.

  13. Duddu, muito obrigado. É uma imerecida alegria poder ser útil de alguma maneira.

    Renato W, há, sim, muita coisa complicada nesta questão. Não estão em jogo somente os laços afetivos entre os dois adúlteros, mas também os aspectos social e familiar daquela união de fato. Colocando neste caldo o número absurdo de matrimônios nulos, a coisa dá até medo de olhar.

  14. Primeiramente, o maior problema é o caso dos casais casados validamente que, por qualquer razão, separam-se. Os casos de verdadeira nulidade o tribunal eclesiástico resolve numa “canetada”, têm seus custos mas nada de impossível.
    Hoje fala-se em “viver de aparência”. Sobre isso digo: se o matrimônio foi válido, o casal pode aparentemente separar-se, mas de fato continuarão sendo uma só carne. Vive de aparências alguém validamente casado que chama seu cônjuge de “ex-marido” ou “ex-esposa”. É mais provável a existência de Papai Noel e de coelhinho da Páscoa do que de ex-marido após um casamento válido, com ambos os cônjuges vivos.
    Jorge foi feliz em apresentar a separação como solução heróica para as pessoas que se convertem após terem se envolvido numa situação de união ilegítima. Em Esdras 10, a Sagrada Escritura relata exemplos luminosos de pessoas que o fizeram. Essa situação difícil é vivida também pelos habitantes de países onde a poligamia é praxe, quando resolvem se converter ao Cristianismo.
    “A reconciliação pelo sacramento da Penitência só pode ser concedida aos que se mostram arrependidos por haver violado o sinal da Aliança e da fidelidade a Cristo e se comprometem a viver numa continência completa” (Catecismo, 1650).
    Com essas palavras, o Catecismo praticamente resume toda a situação: se um “casal de segunda união”, arrependido por seu pecado mortal (aliás, é bom lembrar que todos os que não têm pecado mortal e crêem na Eucaristia podem comungar, portanto o simples deixar de fazê-lo não é solução, é conseqüência de pecado mortal!), decide separar-se, o objetivo só pode ser o de praticar a continência daí por diante. Este é o fim a ser atingido: continência! Ora, se a separação representar problemas à educação dos filhos, busque-se outro meio de atingir o fim. A dificuldade de se viver em continência debaixo do mesmo teto nada mais é que conseqüência prática de pecados anteriores, o que fica evidente se considerarmos o exemplo dos namorados e noivos cristãos, que assim vivem até o casamento. Minha esposa e eu por exemplo casamos virgens 5 anos após o início do namoro, a continência tornou-se, naquele período, algo natural, que exigia um esforço bem menor do que para evitar outros tipos de pecado. Alguém, por outro lado, que tenha se habituado a pecar contra a castidade, terá uma luta muito mais dura pela frente como conseqüência dos erros do passado. Assumir essa luta é uma penitência nobre!
    No caso daqueles que decidirem continuar morando juntos, porém em continência, penso que dormir em quartos separados seria um ótimo meio, tanto de se atingir o objetivo principal – castidade – quanto até mesmo de dar bom exemplo aos filhos, pois quando tiverem idade suficiente para entender, certamente questionarão os pais sobre o motivo dos quartos separados.
    É a única forma dessas pessoas, atingidas por tal “chaga”, viverem o mais puro AMOR dentro de suas famílias, pois “o amor vem de Deus” (I João 4,7), logo tudo o que não vem de Deus não é amor, embora o inimigo das almas tenha o costume de reforçar suas sugestões com o mentiroso argumento “mas é por amor”. Precisamos desmascarar mais esta falácia, típica do pai da mentira.
    Esse caminho não é fácil, é dificílimo, como dito acima em conseqüência de pecados passados; mas é o caminho natural da Salvação para essas pessoas juntamente com suas famílias.
    Desculpai-me pela longa extensão do comentário.

  15. Jorge,

    Só agora pude ler este post. Bem escrito, mas, um tanto pessimista, talvez por não compreender de forma adequada as preocupações dos últimos papas a respeito do tema – muito especialmente Bento XVI. Ou talvez seja eu, otimista demais, que não esteja compreendendo bem.

    Independente de qualquer coisa, recomendo aqui a leitura de um documento escrito em 1998 pelo então Cardeal Ratzinger a respeito do tema. Foi um documento cuja leitura me ajudou a compreender melhor os limites e as verdadeiras preocupações dos papas a respeito dos recasados. O documento também trata um pouco daquela questão da falta de fé (se esta é ou não motivo para nulidade) levantada por Bento XVI algumas vezes durante o seu pontificado. Ei-lo: http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/documents/rc_con_cfaith_doc_19980101_ratzinger-comm-divorced_po.html

    Em suma, é um tema complicado e, por isso mesmo, precisa ser bem aprofundado pela Igreja.

    Abraços.

  16. Eu acho que a nossa Igreja não deve regulamentar a segunda união, terceira ou mais de casamentos porque isto, só vai, acarretar dores e sofrimentos e a desvalorização da aliança com Deus através do Sacramento do Matrimônio! Não sou casada mais já rejeitei me unir a um homem divorciado por causa dos ensinamentos de Jesus Cristo e da minha Igreja e, preferi, ficar com a Eucaristia que me faz um bem muito profundo! E também, por, ter exemplo na minha própria família! Minha irmã, sendo casada e desquitada, vou, dizer mesmo, foi,amante de um homem casado, teve, uma filha com ele e quem, teve, que , criar e educar a criança, foi a esposa do casamento legítimo. Por isso, sou radicalmente contra a legitimidade de segunda união pela nossa Igreja a não ser em caso de nulidade reconhecida!

  17. Minha família profundamente católica se abalou muito com esta situação acima citada pois na época minha Mãe, sofria de um derrame. Enfim, foi muito triste para nós pois minha irmã assim como eu e meu irmão também, recebeu princípios religiosos como nós mais não os seguiu e, foi, avisada que não se casasse pois, sabíamos que não daria certo! Mais ela não ouviu os conselhos que, lhe foram , dados!!!!,

  18. Grande parte dos casamentos celebrados já nascem nulos. Aqui há uma certa dose de ingenuidade e puritanismo intransigente de quem julga e escreve de maneira impensada as coisas. A situação de milhares de jovens brasileiros que, em um mundo supersexualizado, engravidam e por conta disso, resolvem casar-se (os que casam), torna o casamento automaticamente nulo por falta de verdadeira responsabilidade, consciência do sacramento e, acima de tudo, liberdade. O casamento é muito mais que a celebração. Tanto é que é oficiado pelos próprios nubentes e confirmado pelo sacerdote. O casamento é a consciência de “unir para sempre sua carne à de outra pessoa, mesmo que os espíritos não estejam unidos (Chesterton)”. O problema é que a maioria dos comentaristas desta página falam a partir do próprio nariz. São inabaláveis. Não caem (queira Deus que não mesmo, sinceramente). Mas imaginem, se algum dia, livre-os Deus, vós valentes guerreiros e jogadores das almas dos servos – que não são seus – no inferno, por algum acaso vires a cair neste ou noutro erro. Puxa vida! Deixam de ser católicos? Não! Estão condenados? NÃO SABEMOS! O que passa no teu coração e no de Deus? Tens amizade com teu Senhor, que conhece o barro de que és feito? Quantos vivem NO sacramento, mas pulam suas cerquinhas, ou cometem outros atos bárbaros (mesmo que não o adultério)? Serão salvos? Muito farisaico da nossa parte. Não estou minimizando o tamanho do pecado dos casais em segunda união. Sabem que não podem se aproximar da mesa da comunhão e pior, não podem confessar-se. Isto em si, acreditem, é uma tortura. Mas se é amigo de Deus, se é católico, porque não abandona a “amante” e volta???? perguntam-se os agudos amigos. É isso que a Santa Igreja analisa. Cada caso é um caso. Os que SÃO NULOS SÃO NULOS e se se espalhar é porque a formação de jovens namorados e noivos é pífia e a família vive uma época de atentados. A Igreja declara inexistente os que são inexistentes, do contrário é mentir para contrariar estatísticas. E, mesmo para os que não têm desculpas, mas que vivem sinceramente, até melhor e de maneira mais cristã seu casamento que no primeiro, a Igreja que é a ÚNICA a guardar o depósito do julgamento, aplica a eles a misericórdia, de que tanto falam, mas que tão pouco conhecem.

    Em tempo, vos fala um católico apostólico romano, convicto, pecador, que tem o privilégio de servir na casa de Deus há vinte e um anos, que já julgou muito o pecado dos outros e jogou muita gente na tristeza de ficar separado de seu próprio Pai pela estreiteza do que pensa ser certo! Provavelmente para vossas excelências, um leproso… casado em segunda união!

    Uno Cuore et Anima Una…

  19. Ok,lendo os comentarios acima,tive comigo que mesmo me casando novo (19 anos),sem entender o verdadeiro valor do matrimonio,desfazendo meu casamento,e hoje vivendo a 7 anos com outra pessoa (lembrando que nos conhecemos depois da separação e que essa pessoa não foi motivação para o fim do meu casamento),seguindo a igreja catolica, tanto eu qnto ela levando uma vida em fé sou jugado pecador! Um grande abços aos que comentaram acima pensando ser Deus e julgando uma coisa que atrapalha e faz sangrar como uma punhalada um casal que quer levar a vida como pede as leis de Deus, talvez seja por isso que as igrejas evangelicas de todo o mundo estão a crescer sem controle,talvez porque todo mundo tem direito sim a uma segunda chance,tentem pensar um pouco nas pessoas direitas nao só nas erradas q vivem em pecados como dizem,não matei, naõ roubei, não trai, posso ser pecador em estar em outro relacionamento em ser pai da nova familia,que assim seja,mais nao me escondo atras de tais entendimentos, outros pecadores muito pior que eu julgam a Nulidade Matrimonial, muito cuidado amigo, hoje sou eu amanha pode ser voçê,nada é eterno,,, abcs

  20. tive um casamento feliz durante r anos , após isso minha esposa revelou seu lado adultero, resisti durante anos……..perdoando e acreditando que iria para com essa vida……..mas mesmo assim os atos continuavam e eu resistindo ai ela resolveu seguir seu rumo na sua vida escolhida.
    Jorge
    Pergunto, eu que vivia o sacramento estou agora fardado a viver a vida sem uma companheira????? Sem comungar???
    Ao me confessar meu Paraco me questionou por nao mais estava participando da eucaristia, falei o te tinha ocorrido e que isto estava me levando a loucura, pois me fazia grande falta o alimento do espirito ( a hostia consagrada ) para minha alegria ele me disse que eu poderia e deveria sim comungar, pois as leias da igreja devem ser seguidas, mas assima de tudo Deus quer nos ver feliz… sua mesiricordia e sua julgamento somente a Ele pertence.
    A sagrada escritura diz que apos casarmos somos uma so carme.
    A sagrada escritura diz que as mulheres devem se submissas.

    Qual sua opiniao sobre minha considerações???

  21. Passei por isso tambem amigo e nao me sinto pecador participando da eucaristia,continue siga sua vida amigo deus sabe do nosso coração ,ele nao nos deixa só, um abraço.

  22. Qualquer discussão neste sentido vindo de nós pecadores e como falou alguém na discussão acima, “adulteros” não deve ser considerado. A verdade e que Deus deseja a felicidade de todos. Casamentos em sofrimento gera “pessoas adulteras”, então quem é aquele que está “cuspindo” na dor dos casais de segunda união…quem tem o direito …. o divorcio vai continuar aumentando devido a falta do amor de Deus na vida de um casal…vai acontecer por muitos outros motivos…não será a abertura total a eucaristia que irá aumentar…o não acolhimento total dos casais de segunda união pela igreja demonstra a exclusão de pessoas que ama a Deus acima de tudo…

  23. Caros Marcia, Douglas, Luis.

    O pensamento de que a Igreja deve ser conveniente e atender às nossas necessidades, NÃO é pensamento Católico.
    Afirmar que se a Igreja não for “flexível” vai perder católicos para “igrejas” evangélicas é mentira, o que ocorre é a presença de pessoas evangélicas que se dizem católicas pedindo que a Igreja Católica se transforme na “congregação católica apostólica romana”.
    Se fosse possível salvar a alma em qualquer igrejinha de esquina EU estaria lá, agora se salvar a alma não tem importância para vocês Tão fazendo o que aqui??

    Com as ideias que carregam vocês nunca foram católicos e jamais virão a ser, sem que passem por uma profunda conversão de “desejos”.

    Wilson Ramiro

  24. Tem pessoas dentro da Igreja que se comportam tal e qual crianças mimadas ou adolescentes imaturos que não aceitam não como resposta ou que não satisfaçam a sua vontade. Isso não dá. Igreja não é a casa da mãe joana.

  25. acho q casais de segunda união deveria serem analisados para depois serem julgados pois cada caso e um caso não acho certo realizar um casamento de duas crianças se envolvem em relacionamento onde surge uma gravidez em q o juiz tem q assinar para poderem casar e casam-se na igreja a maioria se separam algum tempo depois e ai estas crianças nunca mais vai poder ter uma união verdadeira e difícil de entender

  26. Sou divorciado e vivo há 5 anos casado em segunda união. Agradeço a Deus todo dia ter colocado na minha vida a atual esposa. Ela tambem teve um primeiro casamento e teve dois filhos, assim como eu. Nossos filhos se dao muito bem. Nossos ex companheiros ja estao.tambem casados.
    Depois que estou em segunda união, voltei a frequentar a igreja. E somos muito felizes, com respeito, amor, compreensao, cumplicidade. Nunca fui tao feliz. Participamos do grupo Bom Pastor, formado por casais de 2 uniao.
    Portanto nao me considero uma praga, ou uma chaga. Muito menos me considero menos cristão do que os outros. Somos pecadores. Nem mais nem menos do que os outros. Mas somos, de fato autores do único pecado que nao tem perdao para os catolicos: ter se divirciado. Para o aborto, o assassinato, o roubo, o extrupo, a corrupção, a avareza, ou qualquer outro mal, pode-se perdoar e o ex pecador deixa de ser praga, chaga, pois passa a poder ter a Graça de participar dos sacramentos. Nós nao. Por mais que vivamos buscando a santidade, agindo dentro de uma pratica cristã, não tem saida nem perdão. Ha nao ser que abandone quem hoje lhe faz feliz., lhe trata bem, lhe levou de volta para a igreja. Jesus deixou, dentro do contexto da época a indissolubilidade do casamento. Mas onde esta dito por Jesus ou mesmo pelos apóstolos que so pode comungar os sem pecados? Em que passagem dos evangelhos Jesus só se aproxima dos sem pecados? E quem disse que quem comunga não tem pecado? Ou mesmo que o padre que consagra o pão e o vinho nao os tenha? Mas eu, por mais que me esforce, nao terei o perdão da igreja, pois de Jesus meu coração e as bênçãos que Ele me deu ao me trazer minha atual esoosa eu ja recebi. Amém

  27. Roci Ciro, nenhum Papa disse que aquelas pessoas que estão em segunda união são praga ou chaga. O que tratou-se nesses termos foi o problema. O ideal é não haver segunda união, e haver é um problema. Mesmo que você ainda não concorde com isso, por favor, separe as coisas: ninguém disse “se você está em segunda união, você é uma praga que deve ser eliminada”.

  28. Perfeito seu esclarecimento, Alexandre. O problema é de fato uma chaga, os relatos acima demonstram o grau de dor que provoca. Em agricultura, chamam-se “pragas” os agentes causadores de prejuízo severo à produtividade, e com grande potencial de multiplicar-se e espalhar-se, donde decorre a perfeita analogia com a tal “segunda união”. Não que as pessoas sejam pragas ou chagas, mas é evidente que a tal chaga alastrou-se como praga.
    E o afrouxamento das consciências, muitas vezes promovido pelos próprios grupos de segunda união formados dentro de nossas igrejas, apoiado no subjetivismo de que o protestantismo impregnou a mentalidade corrente entre nosso povo (onde vale o que “eu sinto”, “sinto-me mais pecador” ou “menos pecador”), esse afrouxamento é o açúcar que os demônios misturaram ao veneno do pecado, e é uma praguinha também, atrasa terrivelmente o progresso espiritual que as almas, feridas pela chaga, poderiam fazer se decidissem pela continência como recomenda o Catecismo e o documento Familiaris Consortio. Poderiam sim, a duras penas, é impossível por força humana mas possível pela graça santificante, exatamente como ocorre com o abandono de qualquer outro pecado!
    “Vai-se constituindo uma ditadura do relativismo que nada reconhece como definitivo e que deixa como última medida apenas o próprio eu e as suas vontades.” (Joseph Ratzinger, no início do Conclave que viria a elegê-lo Papa).

  29. Sr. Roci Ciro,

    Solidarizo-me com a situação do senhor e reconheço (como disse em outro comentário aqui recentemente) a cruz carregada por pessoas que vivem em uma união adulterina. Mas por favor não pense que o seu pecado não tem perdão, porque isso é desesperar da misericórdia de Deus. Todo pecado tem perdão, basta arrepender-se dele e o largar. Continue freqüentando a Igreja e rezando muito a Deus, que Ele há de lhe conceder a graça do arrependimento e a força necessária para viver de acordo com a Sua Santa vontade.

    Que quem está em pecado mortal não pode comungar é dito pelo Apóstolo:

    Portanto, todo aquele que comer o pão ou beber o cálice do Senhor indignamente será culpável do corpo e do sangue do Senhor. Que cada um se examine a si mesmo, e assim coma desse pão e beba desse cálice. Aquele que o come e o bebe sem distinguir o corpo do Senhor, come e bebe a sua própria condenação. (ICor XI, 27-29)

    Acredite, o esforço necessário para que o senhor possa obter o perdão da Igreja é menor – muito menor! – do que o mundo histérico e inimigo de Cristo quer lhe fazer acreditar. Não existe nenhuma Cruz para a qual Deus não conceda também a força de a carregar.

    Abraços,
    Jorge

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