Sobre a autenticidade das relíquias de S. Pedro Apóstolo

Na esteira da primeira exibição pública dos ossos do Apóstolo S. Pedro, alguns meios de comunicação relatam o ressurgimento das polêmicas sobre a autenticidade das relíquias. Ora, essa “polêmica” há muito já deu o que tinha que dar.

Estamos falando de ossos com dois mil anos de idade! A Bíblia Sagrada não nos legou o código genético de S. Pedro para que pudéssemos fazer um teste de DNA, e nem foi erigido para o Pescador da Galiléia um monumento funerário da envergadura das Pirâmides egípcias ou do Taj Mahal. Tudo o que temos – mais ainda, tudo o que podemos ter – é o que nos conta a história cristã. O máximo que nós podemos hoje dizer, portanto, é que as descobertas das escavações feitas sob a Basílica de São Pedro são condizentes com os testemunhos históricos que foram conservados pelos cristãos. É o que temos a apresentar ao mundo. E, sinceramente, parece-me mais do que suficiente.

Há um excelente texto em português contando a instigante história dessas escavações, disponível na internet em três partes (parte 1, parte 2 e parte 3). Não quero entrar aqui em detalhes técnicos. Contento-me em expôr alguns pontos sobre o assunto.

1. Não existe nenhuma dúvida razoável de que o túmulo de S. Pedro tenha sido encontrado. Sempre soubemos que Constantino construiu uma Basílica no lugar onde o Primeiro Papa foi enterrado (um antigo cemitério pagão que à época de Constantino já era destino de peregrinação dos cristãos), e que na Renascença os Papas construíram a atual Basílica Vaticana no lugar da de Constantino. As escavações do século passado encontraram essas duas coisas: sob o edifício atual a Basílica velha, e sob ela a necrópole. Dentre os diversos túmulos que a compunham, um se destacava pela sua posição privilegiada, pelos inúmeros afrescos primitivos que o cercavam, pela posição que os demais túmulos ocupavam em relação a ele, por uma antiga inscrição grega enfim: PETRUS ENI, Pedro está aqui.

2. A polêmica envolvendo os ossos do Príncipe dos Apóstolos envolve uma série de aspectos inerentes à maneira como a história se desenrolou nesses dois mil anos. Havia muitas pessoas – cristãos anônimos – enterradas próximas a S. Pedro; o decurso dos séculos danificou as construções originais; no interior do túmulo foram encontrados ossos de pessoas distintas; etc. Mas, sobretudo, a polêmica reside no fato de que os restos mortais de S. Pedro não foram encontrados exatamente no interior do túmulo do Apóstolo, e sim em uma cavidade de mármore próxima. Não obstante, são ossos de uma única pessoa, do séc. I, de compleição robusta, morto entre os 60 e 70 anos; são ossos que passaram algum tempo enterrados na terra nua (mesma terra do chão do túmulo) e, depois, séculos envoltos em púrpura e fios de ouro.

3. A explicação é óbvia: S. Pedro foi enterrado no chão da necrópole. Os cristãos rapidamente transformaram o lugar em um centro de peregrinação. Foi erigido – ainda durante o tempo das perseguições – um monumento fúnebre no local. Para evitar profanações, em algum momento os restos mortais do Apóstolo foram trasladados do chão do túmulo para um nicho na parede do próprio monumento. Quando Constantino construiu a sua Basílica, envolveu os ossos em púrpura imperial e fechou todo o complexo, só aberto nas escavações do séc. XX. Isso é perfeitamente plausível e bate com as descobertas que foram feitas.

4. As conclusões são tão certas quanto a arqueologia é capaz de proporcionar. A autoridade da Igreja reconheceu a autenticidade dessas relíquias, não nas expressões peremptórias das declarações dogmáticas, mas com fórmulas adequadas à natureza do conhecimento histórico: Paulo VI disse que as relíquias foram identificadas «de modo que se pode julgar convincente», e na urna ontem apresentada ao mundo está gravado que os ossos são atribuídos a S. Pedro («B. Petri. Ap. esse putantur»). É o máximo a que a ciência humana é capaz de chegar. E ela, mais uma vez, está do lado da Igreja.

Publicado por

Jorge Ferraz (admin)

Católico Apostólico Romano, por graça de Deus e clemência da Virgem Santíssima; pecador miserável, a despeito dos muitos favores recebidos do Alto; filho de Deus e da Santa Madre Igreja, com desejo sincero de consumir a vida para a maior glória de Deus.

4 comentários em “Sobre a autenticidade das relíquias de S. Pedro Apóstolo”

  1. O Vaticano está sempre lotado de peregrinos e turistas. São filas imensas. Claro que VALE A PENA conhecer!!
    Porém, há um local que NÃO HÁ filas imensas de turistas japoneses…
    Sim, lá no Vaticano!! Justamente onde está o TROFÉU de São Pedro. PETRUS ENI
    Quem for ao Vaticano, não deixe de agendar uma visita guiada aos Scavi. Com certeza será uma experiência única.

  2. Mas é possível ossos humanos manterem-se intactos após 2 mil anos?

  3. Caro Carlos Eduardo, é possível, sim. Aliás, não somente após 2 mil anos: considere, a propósito, os restos ósseos de seres humanos do Paleolítico (mais de 12 mil anos atrás).

    Sob condições especiais até material não ósseo pode ser conservado por milhares de anos.

  4. O VATICANO É O LUGAR MAIS INCRIVÉL DA TERRA.
    “QUEM TEM O SABER DETEM O PODER”.
    GOSTARIA EU SIMPLES MORTAL, DE OBTER ESSES CONHECIMENTOS, MISTICOS E RELIGIOSOS…..
    OBRIGADA, PELA OPORTUNIDADE…………..

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