O “problema” dos casais recasados I: comunhão espiritual e comunhão sacramental

Não existe nenhum problema com os ditos “casais em segunda união” serem privados da comunhão eucarística. Ou, olhando a questão por outro ângulo, há sim: o problema é a naturalidade com a qual, hoje em dia, encaram-se o adultério e a bigamia. Isso, sim, salta aos olhos e choca, isso é escandaloso, isso deveria provocar-nos repulsa e inspirar-nos lágrimas de reparação pela facilidade com que Nosso Senhor é ofendido. Que aos pecadores públicos sejam negados os sacramentos de vivos é a conseqüência mais óbvia da Doutrina Católica. Que a julguem “dura demais” e procurem por todos os meios desfigurá-la, este é o verdadeiro problema que merece toda a nossa atenção.

Em recente pronunciamento preparatório para o Sínodo dos Bispos que tratará sobre o tema da Família, diante do Papa e dos cardeais reunidos em consistório, o cardeal Kasper fez um discurso que ganhou grande repercussão na mídia. Li primeiro sobre ele aqui e trechos mais amplos da fala do cardeal podem ser encontrados aqui. Algumas conclusões a que parece conduzir o raciocínio do Kasper são tão escandalosas que merecem alguns contrapontos, os quais espero fazer firmes e claros.

Antes de qualquer coisa, é digno de nota que o cardeal, que começou a sua alocução afirmando não ter respostas e sim somente perguntas, tenha vindo com “soluções” tão concretas (e equivocadas, como veremos) para o “problema” dos casais recasados. Há diferenças entre um questionamento verdadeiro e uma pergunta retórica, que podem até confundir as massas mas não escapam aos ouvidos atentos. Por exemplo, o seguinte excerto não contém um questionamento sério, e sim uma pergunta retórica cuja resposta já se encontra implícita na própria formulação do período:

Efectivamente, quien recibe la comunión espiritual es una sola cosa con Jesucristo. […] ¿Por qué, entonces, no puede recibir también la comunión sacramental?

A resposta implícita – à qual o sofista experiente fatalmente conduz o ouvinte incauto – é óbvia: não há nenhuma razão para que uma pessoa que já é «uma só coisa com Jesus Cristo» não possa receber a Comunhão Sacramental. Existe, portanto, uma absurda contradição na praxis da Igreja que precisa ser corrigida o quanto antes. Afinal de contas, se alguém pode tornar-se um só com Cristo, que autoridade terrena poderia negar-lhe a Sagrada Eucaristia?

O sofisma grosseiro por detrás desse raciocínio é ocultar a enorme diferença existente entre a presença real e substancial de Nosso Senhor nas espécies eucarísticas e a Sua presença espiritual na qual o fiel se coloca por meio da oração. É eliminar por completo a diferença existente entre as orações individuais dos fiéis e os Sacramentos – sinais sensíveis e eficazes da Graça – instituídos por Cristo e ministrados por Sua Igreja. É colocar em pé de igualdade a subjetividade da alma que reza e a objetividade da Graça conferida ex opere operato pelos Sacramentos da Nova Aliança. É, em suma, subverter por completo toda a teologia sacramental católica.

É verdade que Deus também confere a Sua Graça por meios desconhecidos aos homens, e que Ele não está de nenhuma maneira preso aos Sete Sacramentos. Mas é igualmente verdade que o modo como se dá a Graça dos Sacramentos é distinto e especialíssimo. Ninguém pode ordinariamente estar certo da pureza de sua contrição perfeita; mas qualquer penitente pode ter certeza de que, quando o padre pronuncia o Ego te absolvo, o perdão de Deus é efetivamente concedido. Um protestante em ignorância invencível pode perfeitamente estar em estado de Graça; mas como esse juízo não pode ser feito senão por Deus, não é lícito participar-lhe a Santíssima Eucaristia. O Batismo de Desejo pode tornar um catecúmeno apto a entrar no Reino dos Céus, mas não lhe permite receber a unção do Santo Crisma.

Os exemplos se poderiam multiplicar à vontade, mas creio que já tenha ficado claro o que quero dizer: os Sacramentos, por sua própria natureza de sinais sensíveis, exigem certas condições igualmente sensíveis para que possam ser ministrados. As “disposições interiores” sozinhas não bastam: ao pagão é preciso que esteja batizado para receber a absolvição sacramental, por mais pungente e contrito que seja o seu arrependimento, e ao pecador (principalmente ao público!) é necessário que esteja confessado para que possa receber a Sagrada Comunhão, por maior que possa ser a sua união espiritual com Nosso Senhor.

Deus é sempre livre para conferir a Sua Graça. Já os homens, dispensadores d’Ele, não têm a mesma liberdade divina para ministrar os Sacramentos de um modo distinto daquele que o próprio Deus estabeleceu. A (chamemo-la assim) Graça sensível só pode ser ministrada sob circunstâncias objetivamente definidas; em particular, a Comunhão Eucarística só pode ser conferida aos católicos que se encontram em estado de Graça, não o subjetivo, mas o objetivo: o estado em que se encontra o fiel que, havendo pecado mortalmente após o Batismo, tenha confessado arrependido cada uma de suas faltas graves e recebido de um sacerdote a absolvição sacramental. Esta organicidade vital dos Sacramentos não pode ser rompida, e neste itinerário sacramental não é lícito tomar atalhos.

Não é portanto verdade que se negue a Graça de Deus a – p.ex. – um pecador impenitente que se aproxime da Mesa Eucarística. Na verdade, é ele próprio quem A nega a si mesmo, primeiro pelo seu pecado, depois pela recusa a valer-se dos meios instituídos por Cristo para a obtenção do perdão. O caminho para se aproximar dos Sacramentos é público e bem conhecido por todos. Quem se recusa a percorrê-lo na íntegra é o único responsável se não obtém aquilo a que esse caminho conduz.

Publicado por

Jorge Ferraz (admin)

Católico Apostólico Romano, por graça de Deus e clemência da Virgem Santíssima; pecador miserável, a despeito dos muitos favores recebidos do Alto; filho de Deus e da Santa Madre Igreja, com desejo sincero de consumir a vida para a maior glória de Deus.

24 comentários em “O “problema” dos casais recasados I: comunhão espiritual e comunhão sacramental”

  1. Parabenizo-o pelo excelente post e espero que sua saúde esteja tão boa e firme quanto este post.

  2. SE OS RE-CASADOS PUDEREM RECEBER A SANTA EUCARISTIA…
    HOJE HÁ UM TAL DE “QUERO SER FELIZ DE QUALQUER JEITO” QUE NÃO COADUNA COM A DOUTRINA DA IGREJA E A VIDA DOS SANTOS!
    A Exortação Apostólica “Sacramento na Caridade” (2007) de Bento XVI reafirma o convite a cultivar, quanto possível, “um estilo cristão de vida, através da participação da Santa Missa, ainda que sem receber a Comunhão, da escuta da Palavra de Deus, da adoração Eucarística, da oração, da cooperação na vida comunitária, do diálogo franco com um sacerdote ou mestre de vida espiritual, da dedicação ao serviço da caridade, das obras de penitência, do empenho na educação dos filhos”.
    Isso para que se consiga encontrar um caminho comum e necessários que os católicos recasados aceitem a sua realidade, não se excluam, nem se sintam banidos da Igreja, muito menos do abraço do Pai que é amor, ternura e misericórdia.
    Mas os recasados sem eventual dispensa da Igreja não podem comungar, convivem em pecado grave do amasiamento; excluiram-se da Igreja, não ao contrario, e muitos a atacam de “intolerante e discriminadora”; querem uma Igreja “paz e amor” bem adaptada aos tempos modernistas em que apenas Jesus atende as conveniências dos homens.
    Nesta Exortação, Bento XVI insiste na necessidade de uma ação pastoral adequada em relação aos divorciados recasados; continuam a pertencer à Igreja, afirmando tratar-se de “um problema pastoral espinhoso e complexo, que vai corroendo progressivamente os ambientes católicos”. O problema é “espinhoso e complexo”, por isso não é só Roma e não é só a Comunhão que devem ser interpelados!
    Os casais em segunda união têm um papel determinante, mas não poderão participar na Comunhão, mas podem fazê-lo espiritualmente e devem participar “até onde lhes forem possível” da vida na Igreja, como mencionou o Papa João Paulo II no documento da Reconciliação e da Eucaristia.
    Se existisse possibilidade da S Comunhão para os recasados, o relativismo que a tantos católicos infesta, acentuaria-se; apareceriam outras interpelações, querendo mais concessões nisso e naquilo, tais como: evitarem-se confissões auriculares – humilhante – mas por e-mail ou fone, poder ter a esposa e filial, missa da semana valer pelo domingo e vai por aí, e outras reivindicações para mais relativizar a doutrina da Igreja não faltam.
    Continuamos a rezar por v!

  3. No meu modo de ver nesse verdadeiro concubinato dos que se casam sem apoio da Igreja, não foram liberados pelo tribunal eclesiástico, simplesmente se ajuntam, tem de ser levado em conta também que é um escândalo para a sociedade, que os filhos desses ajuntados, criados nessa nova situação já podem ficar predispostos a se casarem de novo, se não der certo o primeiro, como papai ou mamãe, a gente parte para a segunda mulher ou o contrario.
    Esses caras talvez não tivessem se preparado para o casamento direito, deram com os burros n’agua por acharem que casamento é só festa, olharam só ou mais pelas atrações físicas e agora querem segunda chance; e a doutrina da Igreja, passar por cima?
    Acho melhor procurar esses padres tolerantes com isso nos seus redutos, com frei Claudio van Balen lá em BH, a Igreja Católica Brasileira, do bispo excomungado D Carlos, os da TL ou seitas evangélicas onde tudo pode, v quem manda!
    Vocês querem mesmo serem católicos?
    Acredito que sim; mas sob condições…,

  4. Espero que você fique bom logo.

    Quanto ao tópico, você deixou de citar o Papa Francisco, no que me parece uma prudência desmedida, pois, embora ainda não exista qualquer decisão concreta, a opinião do Papa quanto à proposta de Kasper é conhecida de todos. E essa opinião manifesta, independentemente de qualquer decisão posterior, é sozinha capaz de males sem tamanho.
    Espero que quando Francisco tornar mais concreta sua posição você desça desse muro.

  5. Jorge, existem pessoas que tiveram seus casamentos destruídos sem culpa. Essas pessoas ficam condenadas a viver sozinhas ou a viver uma segunda união e serem excluídas da Igreja sem terem pecado contra o matrimônio. A segunda união, por si só, não é o pecado do adultério por que para ser adultério, a pessoa deve primeiro repudiar o primeiro cônjuge, coisa que não houve nesse exemplo. Essas pessoas são vítimas dessa mentalidade secularizada que relativiza o casamento que, para se manter, a vontade de somente um cônjuge não basta. O esforço, por vezes sobre-humano, de somente um cônjuge não basta. Jesus não fala sobre o cônjuge abandonado mas somente do que abandonou e se casou novamente. Esse comente adultério. O catecismo, parágrafo 2386 diz haver diferença “considerável” entre um cônjuge com culpa no divórcio e outro sem culpa, O que na prática essa “considerável” diferença implica, não é dito.

  6. CG, o adultério é não é o “repúdio” do cônjuge. O adultério é o ato sexual realizado por uma pessoa casada com alguém que não é o seu marido ou esposa. Ponto. Essa definição precisa ficar muito clara.

    “Ser abandonado” não é pecado. Claro que não. Ser abandonado é um sofrimento que pode e deve ser unido à Cruz de Nosso Senhor para, assim, se tornar santificante.

    O pecado é se amancebar, é juntar-se carnalmente, à revelia da Igreja, com uma pessoa que não é o seu cônjuge. Só então se dá o pecado e só a partir daqui é que a pessoa, por estar em pecado mortal, deixa de poder comungar até que se arrependa e se confesse.

    A diferença considerável entre o cônjuge que dá causa à separação e o que dela é vítima é muito simples. O primeiro comete pecado contra a primeira união. O segundo, só comete se tentar contrair segundas núpcias. Quando uma família é desfeita, a parte que deu causa ao divórcio sai imediatamente culpada, e a segunda é inocente. Claro que a parte inocente pode e deve continuar freqüentando os Sacramentos. Acontece que, a partir do instante em que ela resolve se juntar com outra pessoa à margem da lei de Deus, ela deixa de ser inocente. São essas as pessoas excluídas da comunhão eucarística (como qualquer outro pecador), e não o simples “cônjuge abandonado”.

    Abraços,
    Jorge

  7. Até que enfim apareceu um cardeal evoluído! Vamos ver se a voz do cardeal Kasper será ouvida!

  8. Jorge, concordo contigo em quase tudo (adultério não é o “ato sexual” mas o simples “desejar” o outro, já é adultério). Existem adúlteros casados que não fizeram ato sexual fora do casamento. Pessoas abandonadas (ou que tiveram, sem culpa, seu casamento destruído) permanecem com a vocação para formar sua família. Vocação tão forte como qualquer outra. Se encontram outra pessoa nas mesmas condições formam outra família sobre os escombros das suas. Penso que devemos entender qual seria a intenção do Senhor nessa lei. Entendo que seja a defesa da família, não por que é bonito mas por que é bom para o indivíduo e para a sociedade que as famílias sejam perenes. A reconstrução das famílias dentro, claro, do temor a Deus, por pessoas sem culpa no primeiro casamento é socialmente positivo (de duas famílias destruídas, cria-se uma nova), não será, portanto, positivo também individualmente e positivo diante de Deus? A redução “adultério=ato sexual com outra pessoa que não o cônjuge” nos leva a julgar as pessoas de forma muito superficial. A indicação da Igreja de que o cônjuge inocente tenha que viver na castidade pelo resto da vida talvez possa ser revista dada a epidemia de divórcios e de católicos inocentes que se vêem obrigados a isso por pessoas que não temem a Deus. Acho que isso talvez não fira o mandamento e seja a concretização do que fala o catecismo.

  9. Francisco ficou muito animado com a proposta de Kasper; Francisco deu uma entrevista recente onde mostra como aos poucos ele vai impondo a vontade modernista ao mencionar que:

    “Sobre os divorciados, o Pontífice reafirma que toda decisão será fruto de reflexão profunda; que o matrimônio é entre homem e mulher, e que as uniões civis são pactos de convivência de várias naturezas. “É preciso analisar os casos em sua diversidade.”

    “…e que as uniões civis são pactos de convivência de várias naturezas. “É preciso analisar os casos em sua diversidade.”

    Pronto!, é o primeiro passo para futuramente apoiar a tal “união homossexual”.

    Mudando de assunto mais ainda na área sobre defender a Fé e Moral Católica. O Rei da Bélgica já assinou documentos apoiando o aborto, a “união homossexual”, a eutanásia e recentemente a “eutanásia para crianças”: Se a igreja conciliar do Vaticano II, e os seus “papas”, são legítimos, o que falta para eles excomungarem o Rei belga?

  10. De repente o Cardeal Kasper acredita ter encontrado uma falha na milenar doutrina católica, ele percebeu um monstro que oprime os católicos “puramente” recasados.

    Os monstros não são criados, os monstros são percebidos.
    Você poderia matar quem cria monstros, mas nada pode fazer contra quem os percebe, no fim criar ou perceber monstros tem pouca diferença.

    Alguns grandes males ao longo da história tem afligido os homens, destes, muitos são gerados por: Orgulho; Vanglória; gula; avareza; luxuria; preguiça; ou ira, mas os mais trágicos são imputados ao amor, mas nunca é amor verdadeiro.

    Quando um cardeal ama de forma desmedida os fiéis que sofrem por erros que cometeram, e se a fé lhe escapa, ao invés de lutar para os que caíram, saiam do erro, ou que outros não caiam no mesmo erro, resolve descaracterizar o erro. Ele esquece que as leis da Igreja não existem pelo prazer de castigar os que caem. Não adianta fazer engordar todos os recasados com quilos de hóstias profanadas, se eles forem sinceros perceberão que o vazio que sentem não será preenchido, eles abandonaram uma Igreja verdadeira e querem voltar a uma imitação barata.

    Alguns membros da Igreja acreditam que muitos fiéis católicos sofrem por situações das quais não são completamente culpados e transformaram verdades de fé em monstros insensíveis, que separam católicos, que amam a sua igreja, da fé católica. Estes senhores senis ainda não perceberam que temos pouco ou nenhum controle sobre os fatos e acontecimentos de nossa vida e apenas somos cobrados pela forma como respondemos àquilo que não geramos.
    Como este clero condescendente pode pregar “Se teu olho direito é para ti causa de queda, arranca-o e lança-o longe de ti”, se não consegue dizer: “Todo o que abandonar sua mulher e casar com outra, comete adultério; e quem se casar com a mulher rejeitada, comete adultério também”. (Lc 16,18)

    Infelizmente nada caracteriza melhor um herege do que um cardeal, que resolve escolher uma ou outra verdade de fé para pinçar fora da doutrina católica.
    Para compreender e melhor contestar quem apresenta ideia hereges é preciso primeiro entender que as heresia são criada, pelo menos as que mais perduram, na busca de um bem pretendido e para combater a heresia temos que ver o herege como um homem sincero, estúpido, mas sincero.

    A não colocação do Papa no estágio atual da discussão, se deve a que, no fim é a decisão do Papa que será conhecida, será a que prevalecerá e nela será depositada sua autoridade. Agora é a hora de todos sustentarem suas “verdades”.

  11. CG, não se trata de julgar ninguém. Eu não tenho a menor dúvida de que muitos adúlteros me precederão no Reino dos Céus (vou falar mais sobre isso na parte III do texto, ainda em elaboração). Quando Nosso Senhor disse isso sobre as prostitutas, não se tratava de transformar a prostituição nunca coisa “positiva” diante de Deus. Igualmente agora, é impossível transformar o adultério num valor.

    Não existe nenhuma redução em definir o ato sexual realizado fora do matrimônio como “adultério” (se quem o pratica for casado) ou “fornicação” (se for entre solteiros), como não há nenhuma redução em definir “mentira” como expressão contrária ao pensamento, ou “roubo” como apropriação indevida do que pertence a outrem, etc. As definições são absolutamente necessárias para que saibamos o que as coisas são.

    A indicação da Igreja de que o cônjuge inocente tenha que viver na castidade pelo resto da vida talvez possa ser revista dada a epidemia de divórcios e de católicos inocentes que se vêem obrigados a isso por pessoas que não temem a Deus. Acho que isso talvez não fira o mandamento e seja a concretização do que fala o catecismo.

    Pois é, você acha muito errado :) Não existe nenhuma possibilidade da Igreja “rever” aquilo que o próprio Deus estabeleceu. O próprio Card. Kasper o afirma com todas as letras:

    O que a Igreja pode fazer em tais situações [divorciados em segunda união]? Não pode propor uma solução diferente ou contrária às palavras de Jesus. A indissolubilidade de um matrimônio sacramental e a impossibilidade de novo matrimônio durante a vida do outro parceiro faz parte da tradição de fé vinculante da Igreja, que não pode ser abandonada ou dissolvida, remetendo-se a uma compreensão superficial da misericórdia a baixo preço. A misericórdia de Deus, em última análise, é a fidelidade de Deus a si mesmo e à sua caridade (Discurso do Cardeal Walter Kasper no Consistório, grifos meus).

    Pessoas podem ser abandonadas sem culpa, é verdade. Mas ninguém assume um segundo relacionamento sem responsabilidade por isso.

    Abraços,
    Jorge

  12. Excelente post. Espero que o segundo venha logo. Eu creio firmemente na doutrina católica nesse ponto. Se não segui-la, Deus vai me pedir contas e não poderei terem conta a ignorância invencível. Contudo, me inquieta muito as questões relacionadas ao fato consumado. Em outras palavras, gente que está em uma segunda união estabilizada há muitos anos (com filhos, talvez). Difícil falar em dissolução nesses casos. Tenho um verdadeiro compadecimento dessas pessoas.

  13. Há diferenças entre um questionamento verdadeiro e uma pergunta retórica

    A moda é fingir que se é questionador! Então passa a ser “a coisa mais linda do mundo” ser questionador (dos valores mais nobres). Talvez a maioria desses que fingem ser questionadores não tenham noção do estrago que estão fazendo com suas poses de questionadores em “palestras de resolve nada”, abrindo as portas aos que verdadeiramente questionam para por abaixo o que estiver em pé.

  14. Jorge,

    Tu pode indicar aqui no site, fontes na internet com escritos de São João da Cruz ou artigos sobre ele?

  15. “””Efectivamente, quien recibe la comunión espiritual es una sola cosa con Jesucristo. […] ¿Por qué, entonces, no puede recibir también la comunión sacramental?”””

    A ideia de que uma possível comunhão espiritual, liberaria para a comunhão sacramental é uma inversão completa de valores, na verdade a impossibilidade da comunhão sacramental invalida qualquer tipo pretendido de comunhão espiritual. O que espanta é a ingenuidade dos argumento e como não foram desmontados no nascimento, isto é, o cardeal Kasper usar estes argumentos é compreensível, pois o demônio que o impele usa de argumentos incipientes, mas ninguém questionar uma “comunhão espiritual” com Cristo sem remissão de pecado é fim de mundo.

    A comunhão espiritual não é uma trapaça para subverter a comunhão sacramental. Para que a comunhão espiritual seja válida a pessoa não pode estar impedida da comunhão sacramental. É fundamental que haja o desejo verdadeiro da comunhão sacramental e que força maior a impeça.
    A comunhão com Cristo se dá pela comunhão com o corpo de Cristo que é a Igreja, qualquer outra forma que se pretenda é protestantismol.

  16. Wilson Ramiro, a comunhão espiritual “pode” acontecer sem que um terceiro juiz humano (você ou outro, eclesiástico ou não) seja capaz de determinar que ela está acontecendo. O Primeiro Juiz: Jesus. O segundo juiz, “naturalmente”: a própria pessoa. O Primeiro fala através da consciência do segundo. No ato mesmo, que é muitíssimo particular, a Igreja é tão somente intercessora.

    Quem, com o auxílio de juízo dado pela Igreja, impedido da Comunhão Sacramental, busca a Comunhão Espiritual, deve fazê-lo “na esperança” de recebê-la por Misericórdia. É POSSÍVEL! Errado é pretender recebê-la como certa, 2+2=4, e errado também é desesperar e “chutar o balde”.

    O melhor, obviamente, é buscar a contrição completa e buscar afastar todo o pecado. Digo “buscar” e “buscar” porque ninguém é capaz de fazer essas coisas sem abrir-se aos auxílios divinos (que aliás podem vir através de pessoas).

  17. Caro Alexandre

    “As pessoas que não podem Comungar sacramentalmente o Corpo de Cristo, seja por qual motivo for, podem, no entanto recebê-Lo na alma, espiritualmente, basta ter esse desejo.” (site Cléofas)
    Isto é uma verdade extremamente particular e não tem nenhum valor além do particular a que se destina é uma questão, fiel e Cristo, e assim deve permanecer.

    O Cardeal Kasper, nos diz que após a comunhão espiritual qualquer pessoa está unida a Cristo e assim toda a Igreja tem que reconhecer esta união. Pior é que esta frase retira a discussão do escopo do problema, concordando com esta ideia, não ser católico ou mesmo ser anti católico, não é impeditivo para esta comunhão.
    Como o objetivo da religião católica é a “re-ligação” com Deus e como existem muitas “religiões” mais degustáveis. Que estamos fazendo aqui?

    Caso a pessoa NÃO seja católica, no momento não me interessa.

    Caso a pessoa seja católica, apenas se uma força maior a impedir de chegar até a Eucaristia, justificaria a comunhão espiritual, pois para estar com Cristo é necessário querer e querer é não estar ofendendo o que prega a doutrina católica, sejam quais forem as consequências. Ninguém pode desejar tando a Santa Eucaristia e desprezar a doutrina, é bobo.

    Eu busco ser perdoado dos meus muitos pecados para, quem sabe, vir estar uno com Cristo. Se podemos nos unir a Cristo em pecado, pra que perdão.

    O que o cardeal Kasper faz é uma desonestidade. Ele diz que se alguém em segunda união faz uma comunhão espiritual com Cristo, estão consequentemente a segunda união deixa de ser pecado. Se uma comunhão espiritual é um ato particular da pessoa com Cristo e a ciência ou concordância de terceiro não é necessária, fica claro que isto não pode ser usado como argumento em um outro caso onde a validação do ato seja necessário pela doutrina. A própria igreja jamais afirmou que ela define que vai para o céu ou o inferno ela apenas apresenta a doutrina que preserva e o julgamento é de Deus.

  18. Wilson Ramiro, você fala que aquela é uma verdade “extremamente particular”, como se esses adjetivos constituíssem o mais importante para a licença. Não são. O valor principal é que defende-se a existência de uma “possibilidade”. Dá-se espaço à esperança. Ela está sempre com alguma incerteza; não tem espaço onde o que se tem é certeza.

    Eu não conheço o que diz o Cardeal Kasper. Não estou defendendo o que desconheço. Estou conversando as ideias que estão expostas.

    Por outro lado, ainda que eu reconheça que o caminho certo é ser católico, preciso contrariar você mais uma vez: sim, não ser católico, ou mesmo ser um anti-católico, por ignorância ou falta de alcance intelectual, carência de discernimento, sem culpa, não é impeditivo para a Comunhão Espiritual. Deus nos fez sabedores e ignorantes em todos os naipes. Um Deus onipotente, onisciente, onipresente, Sumo Bem, Justiça, Verdade, não cobraria de suas criaturas limitadas mais do que Ele mesmo as deu. Não seria justo, não seria verdadeiro, não seria nobre, não seria inteligente, não seria digno. Dito de outra forma: Deus não nos fez antas para nos destinar — por sermos estúpidos — ao inferno. Ele nos fez à sua imagem e semelhança, mas também “sumos idiotas”, sob um aspecto ou outro.

    O “adestramento” que facilita a vida material e espiritual daqueles que misteriosamente são privilegiados, ao qual muitos chamam “educação” (falo de letras mesmo, e de criação, como se diz no interior do Brasil, nem tanto de boas maneiras), não tem o mínimo valor decisivo para a salvação da alma.

    Ser católico não confere entendimento comum e/ou pleno. Ser católico não tira a pessoa daquelas categorias que sempre servirão para desculpar os ignorantes. Há destes em todas as religiões, inclusive no catolicismo. Na verdade, não tem valor procurá-los. Eu mesmo sou um, em algo. Você mesmo é um, em algo. As pessoas discordam sobre os assuntos mais variados e ninguém sabe, fora de um ato de fé, onde está a verdade sobre essa ou aquela coisa. E essa ou aquela coisa pode sim, mais ou menos, importar perante Deus, por mais banal que pareça. Não como valor absoluto, mas como ingrediente do processo consciente de certo ou errado em cada alma.

    Com isso eu estou dizendo que cada um faça o que bem entender?! Não. Eu digo que cada um busque a Deus mas não se surpreenda se o que encontra difere do que os outros 7 bilhões encontram, pois não significa que uma das partes, naquela questão, necessariamente irá para o inferno. Nesse mundo de certo e errado as únicas saídas não são o certo e o perdão. Esta é uma falsa dicotomia. As pessoas tendem a somente se importar com o juízo de Deus como se tudo de errado fosse para ser ou não perdoado. E não é assim! Muita coisa há de errado que nunca precisará de perdão, pois o que caberá será tão somente uma DESCULPA.

    Devemos, sim, buscar o perdão pelos males que fazemos. Mas precisamos ainda, esperar para nós e para os outros “a desculpa”, que não requer qualquer arrependimento mas humildade, de reconhecermo-nos ignorantes e impotentes.

    Nota: estou consciente que alguns classificam essa minha postura como orgulho e soberba. O parágrafo acima sinaliza o que eu considero orgulho e soberba.

    Repito: não estou me detendo a defender o Cardeal Kasper. Aliás, acho que nunca li ou ouvi palavra dele.

  19. Caro Alexandre

    …o post é sobre doutrina católica e como pervertê-la de forma desonesta, mas parecendo sutil.

    Alguns prelados desejando reduzir o sofrimento causado pela “horrível doutrina católica” resolveram que se deve remover algumas palavras de Jesus sobre o recasamento, desta forma já eliminamos a luxuria, depois veremos o que podemos fazer coma gula … Oficializando a heresia.

    Eu tenho muita dificuldade com meus pecados, mas vencendo-os ou não, eles continuam sendo pecados pelos quais sempre terei que pedir perdão. A confissão não é permitida ao recasados, seria sarcasmo permiti-la.

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