Por quê, afinal de contas, um Deus amoroso criou o Inferno?

Recentemente, iniciou-se uma interessante discussão no Deus lo Vult! a respeito da existência real (e eterna) do Inferno, bem como da sua compatibilidade com a noção de um Deus justo e amoroso. Como o assunto vez por outra surge aqui e em outros lugares, vale talvez a pena buscar sistematizá-lo um pouco.

Basicamente, as objeções dos incréus são duas:

a) é totalmente desproporcional impôr uma punição infinita por uma ofensa finita; e

b) um Deus amoroso não poderia torturar eternamente um Seu filho no inferno.

É até possível respondê-las por via direta. Assim, parece-me que a apologética tradicional tem se esmerado por mostrar a) que uma ofensa à majestade infinita de Deus não é “finita” e sim infinita, uma vez que a gravidade da ofensa mede-se, também, pela dignidade do ofendido (e assim, v.g., um mesmo murro que eu desferisse contra três homens diferentes seria gradativamente mais grave conforme o esmurrado fosse um jovem colega de trabalho, um ancião ou o meu pai) – e a justiça exige alguma proporção entre crime e castigo. Do mesmo modo, b) Deus é amor mas é também, em igual – e infinita – medida, justiça, e é precisamente o amor d’Ele que permite aos Seus filhos optarem por O renegar; de modo que, rigorosamente falando, é possível dizer, em alternativa a “Deus condena as almas ao tormento eterno”, que “as almas rejeitam a Deus e se condenam, portanto, à separação definitiva d’Ele”.

Mas fica parecendo que essas coisas não se compreendem perfeitamente quando não se tem uma noção clara dos seus fundamentos: dito de outra maneira, as perguntas acima estão mal-formuladas. O que importa, na verdade, não é que Deus tenha criado o Inferno, e sim que Ele tenha feito homens livres e, portanto, capazes quer de mérito, quer de culpa. Quando se entende isso com todas as suas necessárias consequências, todo o resto do quebra-cabeça se encaixa sem maiores dificuldades intelectuais.

O que é ser «livre»? É poder ser responsabilizado por suas escolhas e, por conseguinte, ser por elas premiado ou castigado. É evidente que a liberdade humana não é “absoluta” porque o seu conhecimento é limitado e a sua vontade é fraca; isso não está em discussão. O fato é que existe alguma liberdade no homem e, portanto, em alguma medida ele é capaz de mérito ou demérito, de prêmio ou de castigo.

 «Mérito» e «culpa» estão aqui empregados no sentido mais direto de um prêmio devido por uma ação moralmente virtuosa e uma punição imposta em consequência de uma atitude moralmente condenável. As duas coisas estão em estreita relação de mútua dependência: uma vez que ambas dependem daquela liberdade fundamental de optar pelo bem ou pelo mal, não é possível haver mérito se não existir possibilidade de culpa (uma vez que a virtude de uma escolha reside precisamente na rejeição à possibilidade de se fazer a escolha oposta – caso contrário, não haveria liberdade verdadeira) e não é possível existir culpa se não houver possibilidade de mérito (vice-versa). Ambas emanam, direta e imediatamente, da liberdade humana: só há mérito/culpa porque há liberdade e, se há liberdade, há também e necessariamente mérito e culpa.

A raiz, portanto, do prêmio e da punição está na liberdade humana, é-lhe inerente e, aliás, faz parte da sua própria definição: ser livre é ser responsável por seus atos, e ser responsável por seus atos é ser capaz de receber, por eles, retribuições positivas ou negativas. Se qualquer um desses três termos – liberdade, mérito e culpa – deixasse de existir, os outros dois cessariam de haver no mesmo exato instante. Ou os três existem, ou não existe nenhum. Por definição. Não dá para ser diferente.

Ora, qual a característica central da Criação de Deus no que concerne ao ser humano? É que Ele nos fez à Sua imagem e semelhança, i.e., fez-nos dotados de inteligência e de vontade, de livre-arbítrio, fez-nos capazes de mérito e culpa. E a liberdade é um bem: por isso que Deus a criou. E é um dom precioso, preciosíssimo: por isso é que foi por amor a nós que Ele no-lo concedeu. E o livre-arbítrio nos foi concedido para que optássemos por Deus. Se há homens que optam livremente por O rejeitar, aí já é uma coisa cuja possibilidade – pela própria natureza da liberdade humana – não pode ser afastada.

E quanto ao Inferno ser eterno? Ora, só há duas opções: ou a capacidade humana de ganhar méritos e acumular culpas – de ser premiado e castigado – cessa em algum momento, ou ela não cessa jamais, et tertium non datur. Se ela cessa em algum momento (v.g. com a morte – é a posição católica), então as pessoas que estão no Paraíso nele não podem mais pecar para o perder e, pela mesma razão, as que estão no Inferno não podem se arrepender para de lá sair. E, se ela não cessa em momento algum, então não deixará jamais de haver culpas a serem expiadas, posto que sempre haverá novos pecados em almas eternamente capazes de pecar. Em qualquer dos dois casos, portanto, o Inferno precisa ser eterno. A diferença é apenas se algumas pessoas ficarão lá de uma vez por todas ou se todas as pessoas ficarão eternamente entrando e saindo de lá. Olhadas as coisas por esse ângulo, não parece que a segunda hipótese seja melhor do que a primeira, não é verdade?

Vez por outra me perguntam por que raios Deus colocou a árvore do conhecimento do bem e do mal no meio do jardim do Éden, onde Adão poderia facilmente alcançar-lhe os frutos. Ora, os pais terrestres mantêm as facas de cozinha e os produtos químicos fora do alcance das suas crianças: por que motivo Deus, Pai Perfeitíssimo, fez exatamente o contrário disso com Adão e Eva? A resposta é que Adão e Eva não eram crianças sem uso da razão, e sim seres humanos inteligentíssimos e extremamente aptos, adultos capazes de auto-determinação. Eles não comeram do fruto proibido como uma criança que se machuca sem querer com uma tomada, mas exatamente ao contrário: o Pecado Original foi cometido livre e deliberadamente, com plena consciência e manifesta vontade. É exatamente por isso que é pecado.

E por quê, ainda, Deus permitiu que os nossos Primeiros Pais tivessem a possibilidade de cometer uma coisa tão horrenda como o Pecado? Por tudo o que já se disse até aqui, a resposta é imediata: porque Deus os amava e, amando-os, queria premiá-los com a participação na Sua Eterna Bem-Aventurança a título de mérito, e para que os homens merecessem (na medida contingente de sua natureza de criatura) a Vida Eterna era necessário que eles pudessem, ao mesmo tempo, rejeitar a oferta de Deus. Liberdade, mérito e culpa existem sempre e necessariamente os três juntos, lembremo-nos. Eis aqui, pois, nascidos ao mesmo tempo, de um mesmo gesto de liberalidade divina, o livre-arbítrio, o Céu e o Inferno.

Num dos primeiros cantos (o terceiro, se a memória não me falha) da Comédia de Dante, o poeta coloca no frontispício da porta que conduz às profundezas do Hades uma inscrição que diz ter sido o Amor Supremo quem criou o Inferno. E foi exatamente isso o que aconteceu: foi por Amor que Deus criou os homens livres, e é da liberdade humana que decorre a possibilidade de amar a Deus ou de O rejeitar, de ir ao Céu ou ao Inferno. O verso do poeta é perfeito, e não significa que um sadismo divino criou, para próprio capricho, arbitrariamente, um lugar para torturar os homens: não, nada disso. Significa, isso sim!, que o Amor queria premiar os homens com a Vida Eterna – e, para que tal fosse possível, por uma necessidade imperiosa daquilo mesmo que essas palavras significam, era necessária esta porta pela qual se pode chegar à morada das dores. Uma vez que se entenda isso, aquelas objeções iniciais deixam de fazer sentido; e, em contrapartida, sem que se compreenda a história completa, nenhuma explicação parcial da justiça do Inferno é capaz de convencer.

Publicado por

Jorge Ferraz (admin)

Católico Apostólico Romano, por graça de Deus e clemência da Virgem Santíssima; pecador miserável, a despeito dos muitos favores recebidos do Alto; filho de Deus e da Santa Madre Igreja, com desejo sincero de consumir a vida para a maior glória de Deus.

46 comentários em “Por quê, afinal de contas, um Deus amoroso criou o Inferno?”

  1. Wilson Ramiro,

    Eu ainda vou ler com atenção a oração referida. Posso acessá-la em inglês dentro de edição de 1910 que encontra-se disponível no site dominiopublico.gov.br. Muito obrigado por essa indicação! Através dela eu pude me remeter a outras heranças valiosas deixadas por Santo Agostinho.

    Uma resposta que eu já tinha, e que em certa medida me satisfaz, provavelmente na medida suficiente para amar Deus, e que você parece corroborar, parte de Mateus 13, 10-17: Ele sabe o que dá e o que é justo cobrar.

    Por outro lado, não chamo “presente” ao que ganho por merecimento de ter agido corretamente. Ou uma pessoa — no caso, Deus — dar (doa) sem cobrança posterior ou ela não doa. Aqui eu não vejo meio termo ou exceção a aplicar a Deus. Se Ele deu a Fé a alguém, não terá sido por um agir correto anterior da pessoa. Para a objeção que declara o julgamento divino acontecer na eternidade, eu respondo que a doação de Deus constitui os entes, e nisso meu pensamento volta a se assemelhar a um determinismo.

    Sê o melhor que puder e implore pela fé, conte com a ajuda de Deus em tudo mesmo ainda que a fé seja vacilante.

    Obrigado. Eu já compartilhava desse juízo.

    Isto é o que eu faço nas muitas décadas de vida. Não temos apostas nesta relação com Deus pois todas as cartas estão abertas, Ele pode ler as nossas cartas e nós também sabemos as cartas que temos e estas são as únicas em jogo.

    Já nisso, nós divergimos. Daí a tal “teologia do cassino”. Eu até concordo que na relação de amizade plena com Deus as coisas se passam como você diz. Mas eu não sou um amigo pleno de Deus e minha crença (fé) reserva esse status aos que estão no Céu sem volta — não o céu figurado de uma vida terrena atualmente feliz.

    Para terminar, quero fazer notar que há algo errado com a citação de Isaías. Veja Isaías 6, 9-10 da Bíblia Ave Maria:

    [9] Vai, pois, dizer a esse povo, disse ele: Escutai, sem chegar a compreender, olhai, sem chegar a ver. [10] Obceca o coração desse povo, ensurdece-lhe os ouvidos, fecha-lhe os olhos, de modo que não veja nada com seus olhos, não ouça com seus ouvidos, não compreenda nada com seu espírito. E não se cure de novo.

    Grifo meu.

  2. No link abaixo podemos encontrar muitos livros de Santo Agostinho ou outros autores.
    https://www.google.com.br/?gws_rd=ssl#q=%22santo+agostinho%22+site:minhateca.com.br

    A citação de Isaias 6,9-10 feita em Mateus 13, 10-17 fica um pouco confusa, mas ela é rigorosamente fiél ao texto citado.
    Isais 6,10
    Bíblia do peregrino.
    Embota o coração deste povo, endurece o seu ouvido, cega seus olhos: que seus olhos não vejam, que seus ouvidos não ouçam, que seu coração não entenda, que não se converta e sare.
    Isais 6,10
    Bíblia de Jerusalém.
    Embota o coração deste povo, torna-lhe pesados os ouvidos, tapa-lhe os olhos, para que não veja com os olhos, não ouça com os ouvidos, seu coração não compreenda, não se converta e não seja curado.
    Isais 6,10
    Bíblia Ave Maria.
    Obceca o coração desse povo, ensurdece-lhe os ouvidos, fecha-lhe os olhos, de modo que não veja nada com seus olhos, não ouça com seus ouvidos, não compreenda nada com seu espírito. E não se cure de novo.
    Mateus 13,15
    Bíblia Ave Maria
    porque o coração deste povo se endureceu: taparam seus ouvidos e fecharam seus olhos, para que seus olhos não vejam e seus ouvidos não ouçam, nem seu coração compreenda: para que não se convertam e eu os sare.

    Isto nos remete ao post de uma forma que eu considero dolorida, ver e ouvir o reino de Deus converteria, mesmo os que por toda a vida detestassem Deus, mas esta conversão já não seria livre e não deveria ocorrer desta forma, portanto a compreensão da mensagem é embotada àqueles não merecedores. A estes o inferno.

  3. Wilson Ramiro, não sei se entendi seu parágrafo conclusivo.

    Se para ir para o Céu é preciso não ser livre, então essa liberdade foi um calote. É fácil dizer “não foi um calote, pois foi dada, é dom”. Porém, o que “é dado” não deve ser cobrado! Se Deus é íntegro e digno, Ele não deve cobrar qualquer que seja, que tenha nos dado, nem mesmo a reciprocidade do amor. Se eu não devolvo, posso ser classificado de mesquinho, mas jamais de injusto (por causa disso).

  4. Caro Alexandre

    Sinto se fui confuso.

    Eu Creio …
    Para ir para o céu é fundamental ser livre e é fundamental que a certeza da vida eterna seja baseada na fé.
    Se houvesse uma forma “matemática” e indubitável de provar o Reino dos Céus e portanto esta certeza dispensaria a fé, então o Reino dos Céus estaria impossível para quem soubesse de sua existência de forma matemática sem a a necessidade da fé.

    A fé não nasce quando se tem certeza sem a fé. Nem parece necessária.

    Cristo quando pregava a boa nova, explicava como seria a vida eterna e fazia milagres extraordinários. Com tamanha força de atração que mesmo pessoas que fossem mau intencionadas, ou sem interesse em mudar de vida, ficariam “convertidas” pelo conhecimento da verdade. Vertendo o conhecimento em parábolas Cristo impediu que aqueles que desejavam a salvação sem conversão verdadeira a obtivessem.

    A fé e consequentemente a vida eterna são dons gratuitos de Deus, para todos os que convertem livremente suas vidas. Porém esta conversão não nos é apenas cara é para muitos impossível, é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha.

    No momento da crucificação, Cristo perdoou o bandido que se arrependeu, Ele não disse aos dois, “quentem não daqui a pouco todos estarão no céu”. O dom gratuito da vida eterna exige arrependimento e isto é muito caro. Entretanto aos homens de bom coração o arrependimento ainda que necessário é uma carga muito leve, quase imperceptível.

    Deus não nos cobra o céu, é algo que não teríamos como pagar, mas quem o recebe já o fez por merecer.
    …Creio eu.

  5. Wilson Ramiro,

    Usamos a palavra “fé” para designar coisas diferentes. Compreendo que você usa da maneira mais esperada por todos. Segundo o que assumi a cerca d’a cognição enraizar-se na fé, uma “prova matemática” do Reino dos Céus não dispensaria a fé. Cada um tem uma fé.

    Não penso que vertendo o conhecimento em parábolas Cristo impede a salvação sem conversão verdadeira. Isso pode ter acontecido com alguns, mas o que realmente impede a salvação, pelo contrário, é a vontade divergente da vontade divina. Satanás certamente tem o entendimento de todas as parábolas. Ele entende tudo. Mas “não quer” o que Deus quer, conscientemente não quer, e por isso está condenado. Hoje em dia, o jovem de classe média que se empenhe em estudos bíblicos também entenderá as parábolas. Se não for salvo, terá sido por outro motivo. Inclui esse sentido aquilo de “a salvação não vem pelo conhecimento (pelas letras)”.

    Se a Fé, e consequentemente a vida eterna, são para os que se convertem livremente suas vidas, NÃO SÃO DONS GRATUITOS. Simples assim! Ou mudam minha vontade tirando minha liberdade, nisso cobrando-me minha liberdade, ou exigem que eu me converta por decisão própria, nisso cobrando-me uma resposta.

    Como algo mais difícil de obter do que um camelo passar pelo buraco de uma agulha pode ser gratuito? Se for num sentido usado por quem garimpa ouro ou pedras preciosas. Quando é achado, diz-se “ganhei”. Porém, na verdade, fez-se muito investimento e grande esforço para um garimpo continuado (não baseado apenas num lance esporádico de sorte). Aquela pepita ou aquela pedra achada CUSTA, NÃO É GRATUITA.

    Não temos como pagar tudo que está suposto devermos, mas Deus cobra seja lá o que for que ele dê em troca. Dos mais ignorantes (aqueles de menos capacidade interrogadora), ele faz o saque maior notoriedade. A postura dos mais questionadores resume-se em virar pra Deus e indagar: “Você deu! E quer algo em troca?! Que estória é essa? Você deu…”

  6. A Liberdade
    A ideia de liberdade não se prende a o quê se pode fazer nesta vida, mas sim a o quê se pode fazer com esta vida e quiça depois, sendo claro que quando optamos por dar um sentido além do material para nossa vida também restringimos nossas alternativas de quê podemos fazer na nossa vida.
    Se alguém for materialista, excluindo a possibilidade de Deus, sua vida iniciou e terminará sem qualquer alternativa, e isto independe de qualquer atitude ou comportamento que o sujeito escolha. ele terá liberdade total com o quê fazer na vida, mas isto é alternativas zero, liberdade zero no o quê fazer com a vida.

    Deus e sua possibilidade de vida eterna não é uma restrição da liberdade pre existente, pois ela não existe.

    Todas as alternativas de vida e comportamentos que poderíamos assumir nesta vida e que comprometeriam a felicidade da vida eterna, são, quase sempre, geradores de prazeres e nunca seriam geradores de felicidade, mesmo nesta vida. Há uma perfeita coerência entre o que é exigido do homem e o que é melhor para o homem, mesmo que ele jamais aceite.

    A Grande ironia é que tudo o que chamamos de liberdade que desejamos não perder é justamente prisões onde nos encontramos. Se o alimento é saudável, a gula é uma prisão cujo carcereiro cuidadoso é uma demônio ao qual obedecemos e chamamos de “meu amor inseparável”, e assim “celas a celas”, pecados a pecados. Na vida eterna apenas pessoas livres podem entrar e pecar não é liberdade, todo pecador renitente carrega uma horda de demônios que ele se recusa a deixar do lado de fora da porta do céu.

    “O homem que procura a verdade, busca a Deus, mesmo que não tenha consciência disto” (Santo Agostinho)
    Claro que tudo isto é o quê eu quero crer!

  7. Muito disso eu também creio. Quero só fazer nota de que, quando referi-me a supostas “doações gratuita” de Deus, eu não remeti somente a coisas materiais. Muito pelo contrário. Eu tinha em mente TUDO que é bem em alguma medida. Por exemplo, os vários prazeres da carne e a capacidade de ignorar ou fugir de coisas ou situações desagradáveis ou difíceis.

    Se eu for pensar e não abdicar de ser eu mesmo como sugere Cristo com aquele “renuncie-se a si mesmo”, vejo como defeituosa essa concepção de liberdade que a Igreja “trabalhou” e nos prega, se for para assumir que muita coisa é dom. Deus nos dá alguns bens terrenos e o Céu, se renunciarmos a vários outros bens (que, no pacote, vem com o inferno). Ora, ISSO NÃO É LIBERDADE, segundo o conceito mais puro de liberdade que próprio O Ser compartilhado d’Ele nos ensina ou insinua desde sempre. É só obediência e partido, devolução e cumplicidade, parceria. Dito de outro modo, a Igreja nos ensina uma ressignificação para “liberdade”, e o aceite a esta só está no alcance do homem médio exatamente na medida em que este é falho e medíocre, aceitando a Deus como aceitaria a Satanás: como senhor e provedor, líder do time, cúmplice e parceiro.

    O que eu quero dizer com isso? Deus e Satanás são apenas os dois senhores possíveis. NENHUM REALMENTE DÁ ALGO GRATUITAMENTE; só “Deus” como eu (mancado) o imagino: um doador verdadeiro que, no final de umas contas, não reclamará senhorio, devolução, cumplicidade ou parceria. Há quem acredite poder escapar daqueles dois, mas Cristo chamou essas pessoas de mornas, e a opinião geral dos servos de Deus é a de que todos aqueles do meio estão enganados e servindo ao outro senhor de uma forma até menos digna do que aquela dos que são “maus por excelência”.

  8. – supostas “doações gratuitas
    – que O próprio O Ser compartilhado
    – como eu (ainda que mancando)
    “maus por excelência” (que servem a Satanás consciente e deliberadamente)

  9. Creio que quando Cristo disse renuncie-se a si mesmo, ele se referia aos apegos que mantemos nesta vida, com os quais a virtude não se harmoniza.

    E quando afirmamos que não achamos certo, Abdicar de ser eu mesmo seria melhor verificar se este, “eu mesmo” não construímos usando como referência os apegos mais carnais.
    “Ora, se faço o que não quero, já não sou eu que faço, mas sim o pecado que em mim habita”. (Rm 7,20)

    Crendo em Deus devemos dizer que Ele nos conhece melhor e mais intimamente que nós mesmos, e podemos dizer ainda que Ele está melhor qualificado que nós para escolher o caminho que pode nos dar mais felicidade. Deixar-se nas mãos de Deus seria a melhor aposta.

    Comparando de forma bem simples, poderíamos pegar uma galinha, uma galinha normal, e jogá-la na água, e falar: pronto você galinha é livre para nadar, poderíamos tirar o peixe da prisão do aquário, jogá-lo pela janela na rua e gritar, pronto peixe você está livre para seguir seu caminho. Estes animais irracionais jamais, por conta própria tomariam decisões tão erradas para o seu destino, estes animais instintivamente e sem poder usar livre arbítrio fazem aquilo para o que foram criados para fazer. O conhecimento do bem e do mal que é possível ao homem e é o motivo de estarmos nesta condição decaída, mais o sofrimento que nos cerceia deveriam ser motivo mais que suficiente para ansiarmos voltar ao convívio de Deus.

    Fomos criados por Deus que em todos, plantou o “desejo de Deus”.

    És grande, Senhor e infinitamente digno de ser louvado; grande é teu poder, e incomensurável tua sabedoria. E o homem, pequena parte de tua criação quer louvar-te, e precisamente o homem que, revestido de sua mortalidade, traz em si o testemunho do pecado e a prova de que resistes aos soberbos. Todavia, o homem, partícula de tua criação, deseja louvar-te. Tu mesmo que incitas ao deleite no teu louvor, porque nos fizeste para ti, e nosso coração está inquieto enquanto não encontrar em ti descanso. (santo Agostinho, Confissões)

    Louvar a Deus não é um ato mecânico de prestar continência, mas uma ato prazeroso que conduz para o homem o amor de Deus.

  10. seguindo a linha teórica de inferno eterno, todos nós então ja temos acesso a vida eterna sem mesmo fazer nada por onde, pois tanto no céu, quanto no inferno ja “vivemos” eternamente. afinal, não é eterno? então não é preciso seguir e aceitar Deus para ter acesso à vida eterna, pois ja temos acesso à ela tanto no inferno como no céu. por isso essa dialética não faz sentido.

    eu interpreto que os dignos terão vida eterna com Deus, ja os indignos serão excluídos, apenas deixarão de existir, eu acho que o inferno não existe, se vc dar uma vasculhada nas antigas escrituras de aramaico vai ver que não é dito inferno la nenhuma vez, e sim algo chamado “Sheol” que traduzindo seria “Sepultura” a morte eterna, e não um inferno sádico.

  11. Logan, não entendi o que você quis dizer.

    “Vida eterna”, no contexto escatológico, é uma metonímia. Não é simplesmente uma vida “que não tem fim”, mas a vida que não tem fim na amizade com Deus. Não se trata de simples continuar existindo; por contraposição, o “continuar existindo” no Inferno — apartado de Deus — é chamado de Morte Eterna.

    Nosso Senhor nos Evangelhos foi muito claro em dizer que existe um lugar de fogo eterno onde haverá “choro e ranger de dentes”. Isso me parece muito diferente de “deixar de existir”, afinal de contas, quem não existe não tem dente pra ranger nem olhos pra chorar.

  12. Diante do Senhor, não há paralelos que permitam identificar aquilo que Lhe é natural. Por isso, não podemos definir para o Criador padrões ou parâmetros do que seja justo, correto, bom e adequado. Os padrões da dimensão terrena e finita não podem ser parâmetros ou projeções para aquilo que está infinitamente acima da percepção e do conhecimento humanos.

    A Bíblia fornece algumas pistas sobre a pessoa de Deus. Ela diz que Deus é puro, santo, justo e amoroso. Sua santa Lei também possui esses atributos, pois é a expressão de Seu caráter. Assim, a conseqüência negativa surge porque o padrão divino para a vida humana é rompido. O “castigo”, antes de ser um ato isolado de um Ser superior e rigoroso, nada mais é do que o exercício zeloso e exigente da própria virtude que foi desprezada.

  13. Jéssica Freire de Souza, com outras palavras, primeiro você nos diz que não temos parâmetros, depois você nos diz que acreditar na Bíblia requer parâmetros. Ou seja, você está nos dizendo que nada sabemos e nada podemos ajuizar. Mas não se vive assim! Sua fala está NULA.

  14. Alexandre quis dizer que não podemos atribuir ao Criador padrões ou parâmetros da nossa dimensão terrena e finita que são limitas perante ao Senhor que é o dono da sabedoria e de todo conhecimento, do ouro e da prata, e não que sejamos desprovidos de inteligência e habilidades, tudo o que temos é concedido a nós por ele, por termos limitações é a razão de questionarmos determinadas coisas, no entanto a palavra de Deus diz que “As coisas ocultas pertencem a Deus e as reveladas pertencem a nós…”. A palavra de Deus também diz que “tudo o que se discerne espiritualmente se discerne bem em tudo”, porque foi estabelecido que a nossa fé não pode se apoiar na sabedoria dos homens, pois se assim fosse, nossa fé seria no homem e não em Deus, nossa fé se apoia unicamente e precisamente no poder de Deus. Nossa definição de visão não pode ter como absoluto apenas nos fatos naturais, temos que também procurar se ter mais extensão de percepção na dimensão espiritual. Nem tudo é palavra, pois mata e o espírito vivifica!
    Sugiro que você leia 1 Coríntios 2 que talvez você consiga esclarecer mais esse fato!

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