O Bom Pastor vai ao encontro da ovelha desgarrada

O site do Vaticano ostenta hoje, logo na sua página inicial, a viagem apostólica do Papa Francisco à Suécia — seguida pelo constrangedor subtítulo de «por ocasião da comemoração comum luterano-católica da reforma». Como o assunto dá margem para muitíssima confusão — com pessoas exultando por um lado porque a Igreja está “aceitando” o protestantismo e, pelo outro, rasgando as vestes porque o Papa é a Besta do Apocalipse –, convém pontuar alguns detalhes aos quais não se costuma dar a devida atenção.

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Duas semanas atrás eu escrevi aqui sobre a peregrinação a Roma que o heresiarca Lutero, em efígie, foi constrangido pelos seus descendentes a fazer. Era Lutero se revirando no túmulo e os protestantes carregando a sua estátua para a apresentar ao Vigário de Cristo. Já então houve quem perguntasse, se fosse assim, como se deveria ler a anunciada viagem do Papa à Suécia que hoje se inicia. Ora, outra leitura não é possível fazer: é o Bom Pastor que, destemidamente, vai mesmo aos mais putrefatos charcos em busca da ovelha desgarrada, a fim de lhe colocar sobre ombros para a trazer de volta ao aprisco de Cristo — no interior do qual somente ela é capaz de encontrar segurança!

É claro que é incômodo ver falar-se de “comemoração” em se tratando de uma revolta luciferina que estraçalhou a Cristandade e precipitou milhões de almas no Inferno pelos últimos quinhentos anos. Dê-se, no entanto, um desconto ao bom-mocismo e à política de boa-vizinhança: é um tributo que mesmo os melhores pagam aos tempos que correm. Etimologicamente comemoração significa “lembrar junto” e pronto; não há que se falar n’alguma conotação laudatória intrínseca ao termo, como se o Papa estivesse louvando a heresia ou enaltecendo o heresiarca. Fui olhar a página da viagem apostólica em seus diversos idiomas; em inglês diz «commemoration», em espanhol, «conmemoración», em italiano «commemorazione». Ora, fala-se sem maiores celeumas em «commemorazioni del centenario» da Primeira Guerra Mundial (do início, em 2014, e não do fim) e em «commemoration of the Holocaust», e ninguém é louco de dizer que, por conta disso, o Holocausto ou a Primeira Guerra sejam coisas positivas. Por mais malsonante que o termo “comemoração” nos seja, portanto, o que interessa é o conteúdo do encontro e não o nome que se lhe dá. O mesmo, aliás, foi dito recentemente por um ex-protestante convertido à Igreja em 2014: a visita do Papa «comemora a reforma, não a celebra».

Os protestantes provavelmente consideram uma coisa boa a origem de sua religião; os católicos certamente não consideramos uma coisa positiva a ruptura eclesiástica. Católicos e protestantes, assim, podem até lembrar juntos o mesmo evento do 31 de outubro, mas o fazem sob óticas distintas: estes o lembram como um feito heroico a ser celebrado, enquanto os primeiros o veem como uma lembrança triste que se deve lutar por não repetir jamais. Toda declaração ecumênica tem um quê de fórmula de compromisso, passível de leituras diferentes por cada um dos lados — é óbvio. Não fosse assim, tratar-se-ia já de plena comunhão e não de caminho ecumênico.

O diálogo ecumênico travado a nível das grandes lideranças religiosas apresenta, assim, essa característica particular: por vezes dá mais ênfase ao consenso político que ao rigor doutrinário. Pode-se até discordar dessa abordagem, mas é equivocado conferir a esses documentos a mesma leitura que se dá aos cânones dos concílios dogmáticos: são dois discursos completamente diferentes a exigir hermenêuticas completamente distintas. Concretamente: diante — por exemplo — da declaração conjunta hoje proferida em Lund pode-se até dizer que silenciar os pontos de discordância entre a Fé e a heresia mais atrapalha que ajuda a causa da plena comunhão, mas não se pode ler na referência aos «dons espirituais e teológicos recebidos através da Reforma», por absurda que seja a frase, uma revogação tardia da Exsurge Domine.

E não se diga que tal é coisa exclusiva do atual pontificado! Bento XVI não foi para Erfurt dizer que o «pensamento de Lutero, a sua espiritualidade inteira era totalmente cristocêntrica»? A única diferença entre as duas atitudes é o estilo do velho pontífice alemão. De resto é a mesma coisa: são os usos contemporâneos, as regras de etiqueta socialmente aceitas nos tempos de hoje. É um equívoco imaginar que elas sejam mais do que fórmulas de tratamento e regras de educação — função fática que só serve para manter aberto o canal de comunicação adequado à sensibilidade contemporânea.

É grande a miséria espiritual dos pobres filhos da Reforma! Não é para os manter na indigência que o Papa Francisco lhes vai ao encontro. O que move o Vigário de Cristo não é a indiferença pela sorte eterna dos que morrem longe da Igreja de Cristo, mas a «esperança da reconciliação» entre os discípulos de Cristo e os sequazes de Lutero. Também pelos hereges morreu Nosso Senhor, também a eles se estende a mensagem salvífica do Evangelho. Não é possível bater o pó das sandálias de uma vez para sempre; a cada homem Cristo dirige o Seu chamado. Para que se converta, evidentemente, que não se trata (talvez não seja nunca demais repetir) de manter os hereges longe da Fé. Mas não se pode simplesmente presumir que todos os transviados do mundo tenham a exata dimensão do quanto estão perdidos.

Se o Papa se apresenta sujo de lama e coberto de espinhos, portanto, talvez não precisemos lançar-lhe em face o desleixo ou censurar-lhe pelas costas a displicência com a qual ele se entrega à causa do Evangelho. Talvez ele esteja fazendo o melhor que pode. Talvez esteja fazendo melhor do que qualquer um de nós faríamos. Talvez ele faça exatamente o que precisa ser feito. Não se passa uma vida inteira pregando em meio aos bárbaros sem lhes adquirir alguns hábitos que pareçam repulsivos a uma sensibilidade mais refinada. Ora, o mundo moderno é completamente insano; deveríamos nos surpreender tanto assim que, à força de ser obrigada a lhe falar dia e noite sobre Cristo, a Igreja historicamente encarnada adquira dele alguns cacoetes?

Talvez a voz cansada do Bispo de Roma não esteja à altura dos coros angélicos que desejaríamos ver anunciando o Evangelho. É possível. Mas Cristo nos mandou seguir o velho pescador e não as falanges angélicas. A submissão ao Romano Pontífice é absolutamente necessária à salvação de toda criatura humana, e a observância dessa regra básica não está condicionada a nenhuma qualidade particular daquele que esteja sentado no Trono de Pedro. Nem muitíssimo menos aos juízes particulares que somos tentados a fazer a respeito das qualidades daquele que porta na fronte a tríplice coroa do poder supremo.

Enfim, o Papa Francisco vai à Suécia. O Bom Pastor vai ao encontro das ovelhas desgarradas em meio aos pântanos pestilentos, do filho pródigo refestelando-se na lavagem dos porcos, dos bastardos de Lutero chafurdando na heresia. Os seus pés podem estar rasgados, suas vestes, enlameadas, sua voz rouca; mas são só os pés dele que conhecem o caminho da Salvação, é nas suas vestes apenas que estão estampadas as insígnias do Rei, é através da voz dele somente que Cristo nos fala e nós O temos que ouvir. 

Isto está além das cortes superiores

O revmo. padre Lodi, do Pró-Vida de Anápolis, foi recentemente condenado pelo Superior Tribunal de Justiça ao pagamento de uma indenização no valor de R$ 60.000,00. Não encontrei ainda o acórdão do REsp 1.467.888 (acho que o STJ ainda não o publicou), pelo qual tenho um particular interesse; no entanto, as notícias que estão sendo veiculadas — “Padre é condenado a pagar danos morais por impedir aborto legal” — possuem logo no título dois graves equívocos: nem o padre impediu nada, nem o aborto era legal!

Quem impediu o aborto foi o Tribunal de Justiça do Estado de Goiás. O padre, ao contrário do que a manchete dá a entender, não entrou no hospital ameaçando os médicos nem manteve a gestante em cárcere privado; ele ingressou com um habeas corpus que foi apreciado pelo Poder Judiciário e ao qual o desembargador Aluísio Ataídes de Sousa deu provimento. Por força de norma constitucional basilar, o Judiciário não pode se furtar a apreciar lesão ou ameaça de lesão a direito (CF, 5º, XXXV). A atuação do padre — e, acrescentamos, do Tribunal — manteve-se, portanto, estritamente dentro legalidade, não se compreendendo como ele possa ser, por isso, agora punido.

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Depois, o aborto não foi legal. Não era legal à época (em 2005) e nem é legal agora em 2016. O julgamento da ADPF 54 autorizou o aborto eugênico não de qualquer criança deficiente, mas sim das crianças portadoras de uma deficiência específica: a anencefalia. O acórdão é claro: o que se permite é a «interrupção da gravidez de feto anencéfalo», e não de feto “portador de doença incompatível com a vida extra-uterina”. Por se tratar de norma que autoriza a violação de direito fundamental — o direito à vida do nascituro — não é admissível a interpretação analógica. Ora, a criança em favor da qual o pe. Lodi impetrou o HC em 2005 era portadora de síndrome de Body Stalk, não de anencefalia. À luz da Constituição Federal, do Pacto de San José da Costa Rica e da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, impossível estender a (aliás já teratológica) interpretação da ADPF em prejuízo da criança por nascer.

Ainda considerando concesso non dato que a excludente criada pelo STF fosse aplicável ao caso, seria evidente não se tratar de aplicação direta da norma (afinal, as deficiências tratadas em um e em outro caso são distintas!) e, portanto, a divergência na interpretação seria, no mínimo, legítima — o que por si só bastaria para descaracterizar o abuso de direito. Se há divergência interpretativa legítima então a boa-fé é de se presumir; presumindo-se a boa-fé, não há que se falar em abuso de direito.

A decisão do STJ, assim, é toda de se lamentar. Mas como Deus não permite um mal de que não possa tirar um bem ainda maior, essa triste história nos proporcionou duas pequenas pérolas — que em certo sentido pertencem ao passado, é verdade, mas cuja lembrança hoje é um refrigério a nos animar.

Primeiro, o desfecho do caso. Tristíssimo — a mãe, que já havia iniciado o abortamento quando chegou a liminar do TJ-GO, voltou para casa e agonizou em dores de parto por mais de uma semana até que o seu organismo envenenado expulsasse prematuramente a sua filha que, deficiente, sobreviveu pouco menos de duas horas –, mas que tem um detalhe importante. É o próprio padre Lodi quem no-lo recorda: «[d]e qualquer forma, ela [a criança] recebeu um nome [Geovana Gomes Leneu] e foi sepultada, destino bem melhor que o de ser jogada fora e misturada ao lixo hospitalar». E dar um nome e uma sepultura a um ser humano precocemente falecido é coisa bastante digna, que resplandece com vigor no meio das trevas dessa história dolorosa.

Segundo, um HC julgado pelo próprio STJ em 2004 (HC 32159/RJ). Na ocasião, a 5ª turma concedeu um habeas corpus em favor de uma criança anencéfala — eram tempos que não haviam sido ainda maculados pela barbárie da ADPF 54! Naquele seu relatório, a ministra Laurita Vaz reproduziu esta passagem preciosa, preciosíssima, da lavra do MPF:

Não é correto, como faz a il. Des. Gizelda Leitão Teixeira, dizer da invocação constitucional “como garantidora do direito à vida, nada mais”.

Ora, o direito à vida é tudo, por isso que nada mais se considera quando ele é questionado, caindo, então, no vazio tal questionamento.

Não são assim, “velhos e surrados argumentos de defesa pura e simples da vida” como estabeleceu a il. Desembargadora.

Qualquer argumento em favor da vida jamais será velho e surrado.

O que é preciso compreender-se – e agora sim surge a incidência do princípio da razoabilidade – é que vida intra-uterina existe.

É que, mesmo nesse estágio, sentimentos de acolhida, carinho, amor, passam por certo, do pai e da mãe, mormente desta para o feto.

Se ele está fisicamente deformado – por mais feio que possa parecer [–] isto jamais impedirá que a acolhida, o carinho, o amor flua à vida, que existe, e enquanto existir possa.

Isso, graças a Deus, está além da ciência.

Já se vão mais de dez anos! Mas estas palavras nos soam ainda atualíssimas e têm muito a nos dizer, a nós, nestes tristes anos em que o mundo é regido pelo utilitarismo mais doentio — que descarta vidas humanas como se fossem produtos defeituosos, sob a mais dolorosa indiferença da opinião pública. Hoje, como em 2004, a vida intra-uterina existe. E hoje, como então, e como sempre, ela deve ser protegida «enquanto existir possa». Isto está além da ciência e — acrescento eu — além das cortes superiores. Esta verdade é que deve ser guardada, defendida e divulgada, ainda que contra todos. Por esta causa valem quaisquer sacrifícios. É isso que nos torna merecedores de viver. É isso o que nos mantém humanos.

As tatuagens e a liturgia tridentina

A respeito da polêmica envolvendo a Sara Winter, as tatuagens e uma Missa do IBP em Brasília, conforme relatada pelo sr. Thácio Siqueira em três posts consecutivos (aqui, aqui e aqui), parece oportuno fazer algumas considerações.

1. A despeito de quaisquer boas intenções que possa ter havido de ambos os lados, o resultado é uma tragédia completa. Por um lado, uma recém-convertida saindo aos prantos de um templo católico por ter sido quase escorraçada de lá no meio de uma Missa; por outro lado, um «professor de Teologia e Filosofia, formado em Roma» publicando absurdos na internet e indispondo a opinião pública contra uma espiritualidade católica, santa e legítima. É difícil imaginar como as coisas poderiam sair pior.

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2. Sobre as tatuagens, no mérito, eu confesso que não sei de onde foi tirada a informação de que fazê-las seria pecado mortal contra o Quinto Mandamento. O Catecismo não diz isso, nem o novo, nem o Tridentino. O Compêndio do Del Greco não tem um verbete “tatuagem” no índice remissivo. A Teología Moral para seglares do pe. Royo Marín não diz nada sobre o tema, nem o Compendio Moral Salmaticense. Desconheço, do mesmo modo, qualquer pronunciamento da Santa Sé, do Papa ou dos Dicastérios Romanos, a respeito do assunto. Não se compreende, assim, que “pecado mortal” seria esse que, desconhecido dos moralistas e dos documentos eclesiásticos, pode licitamente ser bramido em uma Missa contra uma recém-convertida que traz ainda em seu corpo as cicatrizes de sua vida pregressa — e aqui chegamos ao ponto seguinte.

3. Sobre as tatuagens, na forma, a coisa não podia ser mais desajeitada. Sinceramente! Conceda-se, ad argumentandum, que as tatuagens sejam pecado mortal; por conta disso se vai expôr uma fiel no meio da missa, uma visitante, diante de toda a comunidade reunida? Não se cogitou, se se julgasse realmente preciso, repreender em privado? Era mesmo necessário o julgamento em público, a crítica feita do alto do púlpito, a censura áspera e claramente endereçada diante de todos?

Mais até: o pecado é um ato que se pratica, e não uma condição que se adquire. A tatuagem não é um ato humano e sim uma marca, uma coisa; se houvesse pecado aqui, ele obviamente seria o de fazer a tatuagem, e não o simples fato de possuí-la. Concedendo portanto que um pastor de almas pudesse censurar e repreender um fiel que estivesse em vias de fazer uma tatuagem, não se pode transpôr essa mesma lógica para um fiel que possua uma tatuagem já feita. Como saber se a tinta na pele não é meramente o resquício de um pecado já há muito arrependido? Como inferir, dos desenhos no corpo feitos no passado (sabe-se lá o quão distante!), a presença de um vilipêndio em ato ao templo do Espírito Santo em que, pelo Batismo, se torna o corpo humano?

Finalmente, a exigência de se reverter as consequências dos pecados anteriormente cometidos não é absoluta. Quem rouba um relógio precisa devolver o relógio roubado ou o equivalente, sem dúvidas; mas quem amputa o próprio braço não está forçado a implantar um braço biônico, a quem comete um aborto não é exigido que adote uma criança, quem faz vasectomia não é constrangido a se submeter a uma segunda cirurgia para reverter a esterilidade provocada. Por que cargas d’água quem fez uma tatuagem — tudo isso considerando que fazer tatuagem fosse pecado! — estaria moralmente obrigado a removê-la?

Tudo isso parece um excesso de zelo totalmente desordenado. E tal falta de sensibilidade dos envolvidos nessa quixotesca cruzada contra as tatuagens — é o ponto seguinte — terminou por dar azo a que o sr. Thácio Siqueira denegrisse a imagem dos fiéis que aderem à espiritualidade católica tradicional, prestando um enorme desserviço à causa da Liturgia.

4. No afã de protestar contra o absurdo de que foi vítima a Sara Winter, o sr. Thácio terminou por voltar os seus canhões contra a própria espiritualidade católica tradicional, criticando a coisa certa pelas razões erradas e protagonizando um espetáculo tão contraditório quanto deplorável.

O primeiro relato é este aqui. O desdém do professor pelas formas clássicas da liturgia perpassa todo o texto, a começar pelo título onde chama a Missa Tridentina de “algo muito estranho”. Critica as normas de vestimenta, o uso do véu, até o latim do sacerdote. Chama o rito tridentino de “pouquíssimo acolhedor”. Chega ao ponto de chamar o Santo Sacrifício celebrado segundo as rubricas de 62 de “missa”, assim entre aspas (!):

Começou a “missa”. Tudo em latim. Legal! Mas, não dava pra entender nada por falha de dicção do sacerdote.

segundo relato é inteiramente dedicado a denegrir, em público e com uma dose bastante ácida de ironia, o pároco da referida paróquia, o próprio Instituto Bom Pastor e, indiretamente, todos os fiéis que cultivam a espiritualidade tradicional. Percebam, o sujeito confessadamente não conhece nada do rito, a sua única experiência foi no último domingo e, mesmo assim, ele se julga no direito de desabonar todos os católicos do mundo que de algum modo participam da liturgia gregoriana:

O Bom Pastor dá a vida pelas suas ovelhas, o Bom Pastor deixa as noventa e nove ovelhas e vai em busca da que ficou para trás, o Bom Pastor carrega a ovelha no colo, o Bom Pastor não humilha alguém em público.

Confesso que não conhecia esse Instituto Bom Pastor até o acontecido no último domingo, mas a maioria das pessoas que comentaram no meu site defendendo tal Instituto demonstraram uma animosidade que me assustou.

Serão assim todos os seguidores de tal rito?

Por fim, o terceiro relato é um mero mosaico desconexo de copiar-e-colar textos sobre a Forma Extraordinária do Rito Romano. É o mais equilibrado dos três, provavelmente por ser o que contém menos texto próprio do sr. Thácio.

5. A atitude do sr. Thácio, conquanto motivada por uma causa justa, é toda de se censurar. Primeiro que ele não tem direito algum de tratar de maneira assim tão desdenhosa — debochada até — um rito católico legítimo, aprovado e autorizado pela Igreja. Segundo: não tem lógica nenhuma, nem é justo de nenhuma maneira, utilizar uma única experiência particular — realizada uma única vez na vida e em uma única igreja específica — para lançar em público a pecha da suspeição sobre todos os sacerdotes e leigos que integram o IBP (um instituto canônico regularmente erigido pela própria Santa Sé), nem muitíssimo menos sobre todos os católicos que, não pertencendo ao IBP, todavia sentem-se de algum modo ligados à Forma Extraordinária do Rito Romano (os «seguidores de tal rito», como ele se refere acusadoramente a nós). Terceiro, é assustadoramente contraditório protestar contra a exposição pública dos supostos pecados de uma fiel católica na igreja… expondo publicamente, na internet, os alegados defeitos de um sacerdote católico! Quer dizer, o padre fazer isso na igreja é inadmissível, mas o leigo fazer o mesmo na internet está tudo bem? Que loucura é essa?

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6. Por fim, registre-se aqui o nosso duplo desagravo. Primeiro, aos católicos tradicionais, cuja imagem foi manchada pelo “tradicionalismo” de um lado e pelo “anti-tradicionalismo” do outro. Não aceitamos a pecha da arrogância, do sectarismo, da falta de acolhimento: se alguns católicos possuem algum ranço jansenista isso é lá com eles, não sendo justo extrapolar os defeitos de particulares para um grupo não-uniforme de católicos e nem muitíssimo menos para um rito legítimo da Igreja enquanto tal. E segundo, e principalmente, a Sara Winter, pessoa que por sua história de vida é digna de toda a nossa compreensão e que pela boa vontade que vem demonstrando merece as portas de todas as igrejas abertas de par em par para si. Sara, o autor dessas linhas não tem nada a ver com a igrejinha de Brasília de onde você saiu em lágrimas no domingo passado; mas, na qualidade de católico, venho aqui oferecer as minhas desculpas, a minha solidariedade e as minhas orações.

A ressurreição da carne e a cremação

Algumas pessoas me perguntam se é verdade que o Vaticano proibiu a cremação. Não, não é verdade. O que aconteceu foi que hoje, 25 de outubro, foi publicada uma instrução da Congregação para a Doutrina da Fé — Ad resurgendum cum Christo — contendo algumas normas a respeito «da conservação das cinzas da cremação».

Primeiramente e antes de qualquer outra coisa, se estão sendo publicadas normas sobre o que se pode e o que não se pode fazer com as cinzas da cremação, é evidente que a cremação em si não pode ser proibida — senão não teria sentido disciplinar o destino das cinzas. A autorização para que os católicos sejam cremados, portanto, é tácita e se infere do próprio título da instrução. Se tal não fosse o bastante, o documento ainda diz textualmente que «a Igreja não vê razões doutrinais para impedir tal práxis [da cremação]; uma vez que a cremação do cadáver não toca o espírito e não impede à omnipotência divina de ressuscitar o corpo» (ARCC, 4).

Em segundo lugar, é preciso deixar também claro que a Igreja tem uma preferência manifesta e vultosa pelo enterramento: a prática de enterrar os mortos é muito mais adequada e muito mais conforme à Fé Cristã por várias razões. Primeiro porque é, historicamente, a prática distintiva do Cristianismo frente aos pagãos da Antiguidade (estes, que cremavam os seus mortos).  Segundo porque propicia a existência dos cemitérios, dos campos santos, esses lugares sagrados de oração e de meditação onde aqueles que morreram esperam o dia terrível da Ressurreição dos Mortos. Terceiro porque ela representa melhor a crença na ressurreição da carne, este ponto da Fé Católica que, paradoxalmente, é tão negligenciado mesmo no século materialista em que vivemos.

Confesso não conhecer as minudências escatológicas das outras religiões (não sei, por exemplo, como os muçulmanos entendem o negócio do paraíso com as virgens), mas o credo cristão é bastante claro e literal: Deus haverá de ressuscitar o mesmo corpo que nós possuímos hoje. Não é um corpo “espiritual” nem “metafórico”, mas um corpo físico mesmo, formado de matéria, que ocupa lugar no espaço, que possui sentidos, enfim, um corpo como os corpos que nós conhecemos. “Ah, mas vai ser exatamente igual, vai sentir dor, vai ter os mesmos dentes faltantes, essas coisas?” Não, aí não. Na Ressurreição da carne o nosso corpo será glorificado e, portanto, vai possuir algumas características que hoje não possuímos — a teologia clássica elenca a impassibilidade, a sutileza, a agilidade e a claridade –, sem que contanto deixe de ser um corpo.

As relações disso com a inumação são bastante óbvias: se o Cristianismo vive da espera da ressurreição da carne, e se essa ressurreição dar-se-á no mesmo corpo que vivia, então a prática de deitar este corpo em repouso em algum lugar — o cemitério — é bastante proporcionada com a crença que os cristãos professamos. Se o corpo vai ressurgir, então existe nele alguma coisa de sagrado — e, portanto, exige-se-lhe um respeito diferente do que se concede a uma coisa (por útil que nos seja!) que nós usamos e depois jogamos fora, porque se estragou e não nos serve mais, e não a voltaremos a usar. Na verdade, nós não “usamos” o nosso corpo como querem os espíritas, nós somos o nosso corpo, por conta da composição hilemórfica — corpo e alma em união substancial — do ser humano.

“Ah, mas os corpos podem ter sido destruídos por ocasião da própria morte, como por exemplo um incêndio ou um naufrágio; além disso, os católicos sempre tiveram a prática de destruir os corpos dos santos, despedaçando-os em mil e uma relíquias”. Sim, tudo isso é verdade, e nada disso constitui verdadeiro empecilho a que Deus ressurja o corpo por ocasião do Juízo Final, e é exatamente por conta dessas coisas que não existe nenhum óbice intrínseco à prática da cremação. Deus é Onipotente para reconstituir os corpos ainda que os seus pedaços se tenham espalhado por toda a Terra: o mesmo corpo, convém lembrar, não significa a mesma matéria (até porque a matéria que o nosso corpo possui hoje não é mais a mesma que possuía quando éramos crianças, e não obstante continua sendo o nosso corpo). Santo Tomás já falava isso no século XIII: «as cinzas de um corpo humano devem, na ressurreição, voltar a constituir a mesma parte do corpo que nelas se dissolveu»? E concluía pela negativa: «nas cousas artificiais não é necessário, para reparar uma obra com a mesma matéria, que as partes dessa matéria sejam colocadas no mesmo lugar. Logo, nem é necessário que tal se dê com o homem».

O que diz, em suma, a Ad resurgendum cum Christo? Apenas disciplina aquilo que já estava dito no Catecismo. Este dizia: «[a] Igreja permite a cremação a não ser que esta ponha em causa a fé na ressurreição dos corpos» (CCE, 2301). Aquela enumera alguns atos concretos que põem «em causa a fé na ressurreição dos corpos» e que, portanto, são proibidos. As normas são as seguintes: as cinzas devem ser conservadas em um lugar sagrado, como um cemitério ou igreja (n. 5); apenas muito excepcionalmente, e com autorização da autoridade eclesiástica, podem ser conservadas em casas particulares (n. 6); não se podem dispersar as cinzas «no ar, na terra ou na água ou, ainda, em qualquer outro lugar», nem transformá-las em jóias ou outros objetos (n. 7). Com isso se condenam as práticas atualmente vigentes que vão de encontro àquela Fé na ressurreição da carne que é apanágio do Cristianismo.

O mundo precisa do testemunho da ressurreição. A Igreja, consciente do valor dos símbolos e zelosa pela fé dos fiéis, estabelece normas específicas sobre o cuidado que se deve ter com os mortos no mundo materialista e imanentista em que nós vivemos. As atitudes que nos cercam e as práticas sociais com as quais nos acostumamos podem não raro nos levar ao obscurecimento da Fé; para evitar este risco, em boa hora vem a lume esta instrução da Congregatio Pro Doctrina Fidei. Façamo-la conhecida, a fim de dissipar os equívocos tão comuns neste tema.

Crowdfunding: Família Católica, Igreja Doméstica

É provavelmente desnecessário apresentar o dr. Rafael Vitola Brodbeck, delegado de polícia e pai de quatro filhos, que desde os áureos tempos do Veritatis Splendor é referência nacional na área da apologética católica. Desnecessário, também, parece ser falar da dra. Aline Rocha Taddei Brodbeck, professora e advogada, autora do Femina e esposa do Rafael. Estes nomes por si sós já são credenciais e dispensam maiores apresentações.

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O que é importante falar aqui é sobre o novo livro, escrito em co-autoria por ambos, intitulado Família Católica, Igreja Doméstica. É uma seqüência de ineditismos. Trata-se do primeiro livro escrito por ambos, marido e esposa juntos. É a primeira vez que a editora Simonsen vai lançar na arena editorial tupiniquim uma obra que ostente o temível brasão Brodbeck. E é um livro sem precedentes no mercado nacional, abordando um tema tão importante quanto negligenciado.

Os problemas do mundo moderno não nos são impostos do alto, das grandes organizações, do Estado altamente centralizador, dos ricos e poderosos, do Movimento Gay internacional, do globalismo comunista, dos modernistas que ocupam cargos elevados na hierarquia eclesiástica. Nada disso. Todas as dificuldades que nós enfrentamos têm a sua gênese na dissolução da família — e é somente no fortalecimento desta célula mater da sociedade que se poderá encontrar a superação dessas e de todas as outras possíveis dificuldades capazes de flagelar o mundo. As instâncias burocráticas imiscuem-se na vida privada porque as famílias lhes deixam o espaço aberto; esta e não outra é a raiz dos problemas modernos. É verdade que ninguém pode fazer nada contra os grandes organismos internacionais; mas qualquer um pode voltar pra casa, amar a sua família e sacrificar-se pela santificação dela.

A frase é de Santa Teresa de Calcutá: se você quiser fazer algo pela paz mundial, vá para casa e ame a sua família. Não se trata de arroubo de retórica e nem de metáfora piedosa: nada disso, a frase revela uma lucidez e um pragmatismo dos quais somente os grandes santos são capazes. Porque a paz é fruto da justiça (cf. Is 32, 17) e esta se inicia nas pequenas coisas. Uma família arruinada é provavelmente a primeira grande injustiça que está ao alcance de qualquer pessoa; e combater as injustiças — mormente as que se nos aparecem, as que somente nós podemos combater — outra coisa não é que promover a paz.

A família se reveste, assim, dessa espécie curiosa de universal exclusividade: por um lado, praticamente não existe ser humano que não possa fazer alguma coisa pela sua família; por outro lado, cada família só pode ser cuidada pelos que dela fazem parte e por ninguém mais. É um dever tão geral que se impõe a todos; é um dever tão particular que não há quem o possa cumprir no lugar do outro.

Por isso que é importante se preparar para viver bem em família, e neste quesito os autores do livro têm bastante o que compartilhar. São católicos praticantes, que gozam de reconhecimento quer profissional, quer nos apostolados religiosos que exercem, que desde 2013 estão envolvidos no projeto que culminou neste livro, que desde o ano passado ministram cursos sobre como catequizar seus filhos em casa, que, em suma, têm suficiente experiência para realizar esta empreitada. Fazem jus à credibilidade que lhes tributo aqui.

O livro está em campanha de financiamento coletivo pelo Kickante; faltam apenas 16 dias e ainda 60% do valor a ser arrecadado. Acessem lá e verifiquem como podem contribuir. Não se trata de simples doação, mas sim de efetiva aquisição do livro, de acordo com a recompensa escolhida: há-as para todos os gostos. Por exemplo, a edição impressa sai por R$ 45,00; por sua vez, o próprio “Família Católica, Igreja Doméstica”, mais uma cópia do “Guia Politicamente Incorreto da Literatura”, mais “O Outro Lado do Feminismo”, mais o nome impresso no livro, custa apenas por R$ 120,00. E há diversas outras. Cliquem e vejam como podem ajudar.

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Mas atenção, que se o valor do projeto não for alcançado o livro não será editado (e o dinheiro das contribuições, óbvio, será devolvido); isso significa que ele não poderá ser adquirido depois. Para que o livro chegue depois às livrarias é preciso que a campanha seja agora bem sucedida. Não deixe para mais tarde; colabore agora com esta obra civilizacional. Os autores — e o Brasil — agradecem.

Lutero, enfim, vai a Roma

Um leitor faz a gentileza de me perguntar:

Queria ver sua explicação para a imagem de Lutero no Vaticano. Sei que você terá uma boa explicação. Já vi um padre dizer no facebook que foi uma provocação dos protestantes. A sua será semelhante? Algo do tipo: os luteranos que trouxeram e seria falta de educação não colocar ali?

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Não acho que tenha sido provocação. A questão me parece toda outra.

Deus criou o ser humano para Si, como diz Sto. Agostinho, e por isso o coração do homem vive inquieto enquanto não repousa n’Ele. Esta inquietude pode ser ignorada e pode ser posta de lado, pode ser enterrada por um tempo, pode ser disfarçada, maquiada, anestesiada, pode tudo: só não pode ser plenamente vencida. Porque ela foi posta pelo próprio Deus e, portanto, nada que o homem faça por si só, por suas próprias forças, será capaz de prevalecer sobre aquilo que Deus mesmo estabeleceu. É como, mutatis mutandis, aquela inimizade — inimicitias ponam… — que no início do Mundo foi estabelecida entre os filhos de Deus e os filhos das Trevas. Ela simplesmente não pode ser superada: o engenho humano não pode, absolutamente não pode lograr sucesso contra a vontade positiva do Onipotente.

Nada que os homens façam por sua própria conta será capaz de (re)estabelecer a unidade do gênero humano. Aqui falharam todas as empresas humanas, todos os impérios do passado, todas as potências do presente, todas as construções teóricas e os modelos de pensamento, tudo, tudo. As verdadeiras paz e concórdia só são possíveis aos pés da Cruz de Nosso Senhor, e mil vezes o mundo não queira aceitar esta verdade, mil vezes será despedaçado por guerras fratricidas. Nem sequer a própria Igreja, digo, nem sequer os próprios homens pertencentes à Igreja, os católicos, independente do prestígio do qual gozem, poderão ser vitoriosos nesta seara: os católicos podem anunciar mil e um arranjos de convivência pacífica plural, podem se esforçar pessoalmente na consecução de semelhante objetivo, e pode ser até — concedamos — que em determinados momentos eles o devam realmente fazer: o resultado assim obtido será sempre uma obra inacabada, terá sempre algo de contingente, de frágil, de periclitante, não raro prestes a desmoronar ao mais leve sopro de realidade. É evidente, todos nós o sabemos, que alguma paz cotidiana e pragmática, alguma condescendência hic et nunc, precisa ser feita para possibilitar um mínimo de vida em sociedade: nós fazemos isso o tempo inteiro. Esse armistício temporário, no entanto, essa — eis a palavra verdadeira — indiferença tolerante não se pode revestir de características deontológicas absolutas. É dizer: não se trata de um fim último a ser buscado a todo custo. Não é assim que as coisas devem ser, embora seja possível que, em determinadas circunstâncias concretas, elas praticamente (só) possam ser assim. Na percepção clara da diferença entre uma coisa e outra reside a distinção entre a Fé e a apostasia.

Volto aos luteranos para explicar o que quero dizer. Deve ser bem difícil ser herege; a posição em que se encontram os filhos da Reforma luciferina do ex-monge alemão é sem dúvidas bastante desagradável. Em todos os aspectos o luteranismo é insustentável: nos (incontáveis) vícios pessoais do seu fundador, nas conseqüências históricas dramáticas de seus pressupostos (eis aí o esfacelamento do Protestantismo em milhares de seitas mutuamente incompreensíveis entre si), na incoerência de sua visão histórica do Cristianismo (afinal de contas, por onde andaria o Paráclito no milênio e meio compreendido entre a ascensão de Cristo e as 95 Teses?), na maleabilidade promíscua de sua doutrina contemporânea (por exemplo, há diversas denominações luteranas hoje favoráveis às práticas homossexuais — talvez até mais do que contrárias), et cetera. Ora, Deus criou os homens para Si; e parece evidente que a Babel protestante, assim como a primeira, não é capaz de conduzir os homens ao céu.

E alguns luteranos o percebem. Eles notam que falta alguma coisa no arremedo de religião que eles se acostumaram a chamar de “igrejas”; é a sede de Deus que clama mais forte nas profundezas de suas almas e que, incapaz de se saciar no lamaçal da heresia luterana, reclama águas mais puras. O encontro dos luteranos com o Papa na última quinta-feira, assim, é talvez a mais eloqüente manifestação da falência do luteranismo. São os filhos degredados, sujos, maltrapilhos e machucados, voltando sobre os passos do pai louco e prestando, timidamente, a vassalagem contra a qual o seu patriarca originalmente se revoltou.

Uma peregrinação saída «dalla regione di Lutero» em direção à «sede del Vescovo di Roma» carrega um simbolismo que não se pode ignorar: são os protestantes dando as costas ao heresiarca, deixando Lutero para trás, e caminhando de maneira esforçada, firme, resoluta — ultrapassando os acidentes geográficos e as fronteiras dos países — rumo ao Doce Cristo na Terra!

No limiar da Reforma, quando Lutero não havia ainda rompido definitivamente com a Igreja, ele foi convidado a ir a Roma para defender as suas doutrinas. Recusou-se. Posteriormente o Concílio de Trento convidou os protestantes para participarem das assembleias conciliares. É possível dizer que o convite lançado há quase cinco séculos ainda estava aberto e, finalmente, de algum modo o Heresiarca lhe deu na última semana uma resposta. Leão X não logrou trazer Lutero a Roma; Francisco fê-lo ser carregado pela sua estirpe degenerada em desesperada peregrinação. O monge bêbado provavelmente encararia muito a contragosto semelhante patacoada. Mas aos filhos não deve ser impedido entrar pela porta da Vida Eterna que o pai louco fechou atrás de si.

Enfim, perguntam-me se isso foi uma provocação. Eu digo que foi uma catarse. O luteranismo chegou a tornar-se tão insuportável que, na busca desesperada pelo Deus que Lutero expulsou das igrejas que roubou ao Papa, os luteranos aceitaram até mesmo carregar nas costas o monge rebelde de volta para o Vaticano.