Os bispos, a CNBB e o Papa

As Conferências Episcopais não fazem parte da hierarquia essencial da Igreja Católica. Elas devem servir apenas como órgãos de assessoria, para facilitar a colaboração entre os bispos. Nunca podem estar acima dos bispos. Isto, aliás, foi dito recentemente até mesmo pelo presidente da CNBB, Dom Geraldo Lyrio Rocha, quando da polêmica envolvendo Dom Luiz Gonzaga Bergonzini e a sua santa denúncia do abortismo do Partido dos Trabalhadores:

“Tenho uma admiração muito grande por Dom Luiz Gonzaga Bergonzini e os seus procedimentos estão dentro daquilo que a Igreja espera. Ele tem o direito e até o dever de, de acordo com sua consciência, orientar seus fiéis do modo que julga mais eficaz mais conveniente. Ele está no exercício de seus direitos como bispo diocesano de Guarulhos e cada instância fala só para o âmbito de sua competência, tanto que ele não se dirigiu à nação brasileira. Este procedimento está absolutamente dentro da normalidade no modo como as coisas da Igreja se encaminham”, afirmou o presidente da CNBB.

“Acima do bispo no governo da Igreja só existe uma autoridade: o papa”, destacou.

Ao contrário do que pensa o brasileiro médio, acima dos bispos está somente o Papa, e não as Conferências Episcopais. A CNBB não está acima dos bispos. Ela, portanto, não fala em nome de todos os bispos (e nem muito menos em nome de uma inexistente “Igreja Brasileira”), não pode impôr absolutamente nada a nenhuma das dioceses do Brasil, nem é uma instância intermediária entre estas e a Santa Sé.

Essas coisas voltaram a ser ditas na última segunda-feira, mas agora na voz do Papa Bento XVI. Em discurso aos bispos da Regional Centro-Oeste, o Vigário de Cristo foi incisivo:

Assim sendo, a Conferência Episcopal promove a união de esforços e de intenções dos Bispos, tornando-se um instrumento para que possam compartilhar as suas fatigas; deve, porém, evitar de colocar-se como uma realidade paralela ou substitutiva do ministério de cada um dos Bispos, ou seja, não mudando a sua relação com a respectiva Igreja particular e com o Colégio Episcopal, nem constituindo um intermediário entre o Bispo e a Sé de Pedro.

[…]

Ao mesmo tempo, é necessário lembrar que os assessores e as estruturas da Conferência Episcopal existem para o serviço aos Bispos, não para substituí-los. Trata-se, em definitiva, de buscar que a Conferência Episcopal, com seus organismos, funcione sempre mais como órgão propulsor da solicitude pastoral dos Bispos, cuja preocupação primária deve ser a salvação das almas, que é, aliás, a missão fundamental da Igreja.

É claro que o Papa está preocupado com a situação da Igreja no Brasil; e é claro que esta situação é calamitosa. Por exemplo, para a próxima Campanha da Fraternidade, a CNBB escolheu um hino abertamente herético, onde diz que a maior obra de Deus foi a Terra, e não o homem (créditos ao Frei Cleiton). É claro que as coisas estão fora dos eixos já há bastante tempo, e precisam ser reorganizadas. Bendito seja Deus pelo Papa Bento XVI, que olha pelo Brasil. Que a Virgem Aparecida Se compadeça desta Terra de Santa Cruz.

“O culto não pode nascer da nossa fantasia” – Bento XVI

Se na liturgia não emergisse a figura de Cristo, que está no seu princípio e está realmente presente para a tornar válida, já não teríamos a liturgia cristã, toda dependente do Senhor e toda suspensa da sua presença criadora.

Como estão distantes de tudo isto quantos, em nome da inculturação, decaem no sincretismo introduzindo ritos tomados de outras religiões ou particularismos culturais na celebração da Santa Missa (cf. Redemptionis Sacramentum, 79)! O mistério eucarístico é um «dom demasiado grande – escrevia o meu venerável predecessor o Papa João Paulo II – para suportar ambigüidades e reduções», particularmente quando, «despojado do seu valor sacrificial, é vivido como se em nada ultrapassasse o sentido e o valor de um encontro fraterno ao redor da mesa» (Enc. Ecclesia de Eucharistia, 10). Subjacente a várias das motivações aduzidas, está uma mentalidade incapaz de aceitar a possibilidade duma real intervenção divina neste mundo em socorro do homem. Este, porém, «descobre-se incapaz de repelir por si mesmo as arremetidas do inimigo: cada um sente-se como que preso com cadeias» (Const. Gaudium et spes, 13). A confissão duma intervenção redentora de Deus para mudar esta situação de alienação e de pecado é vista por quantos partilham a visão deísta como integralista, e o mesmo juízo é feito a propósito de um sinal sacramental que torna presente o sacrifício redentor. Mais aceitável, a seus olhos, seria a celebração de um sinal que corresponda a um vago sentimento de comunidade.

Mas o culto não pode nascer da nossa fantasia; seria um grito na escuridão ou uma simples auto-afirmação. A verdadeira liturgia supõe que Deus responda e nos mostre como podemos adorá-Lo. «A Igreja pode celebrar e adorar o mistério de Cristo presente na Eucaristia, precisamente porque o próprio Cristo Se deu primeiro a ela no sacrifício da Cruz» (Exort. ap. Sacramentum caritatis, 14). A Igreja vive desta presença e tem como razão de ser e existir ampliar esta presença ao mundo inteiro.

Discurso de Bento XVI aos bispos do Brasil, região Norte-2,
em visita ad limina apostolorum

A Gaystapo e a visita do Papa ao Reino Unido

Papa é contra o plano autoritário do Estado Inglês. O post do Ecclesia Una faz referência a uma notícia que saiu em G1, cujo título era “Papa critica projeto de lei britânico contra a discriminação de homossexuais”. A notícia original é da BBC, mas saiu também na Folha e no Estadão. Repercussão ubíqua.

O que o Papa realmente disse está na mensagem aos bispos da Inglaterra e País de Gales em visita ad limina. Não há menção direta à lei que está em votação no parlamento inglês, embora o assunto seja sem dúvidas esse.  A Canção Nova traduziu o texto. O Fratres in Unum também comentou.

Sobre isso, gostaria de reproduzir parte do texto do Ecclesia Una:

Há alguns dias notícia foi publicada na Internet falando dos projetos que andam tentando legalizar na Inglaterra de se ensinar obrigatoriamente educação homossexual. A medida é, sem sombra de dúvida, intolerante. Veja: não estamos falando aqui duma tentativa sadia de pedir respeito aos homossexuais. Estamos falando de uma medida autoritária que visa impor aos alunos de todas as escolas – inclusive as religiosas, conforme atesta esta outra notícia – valores homossexuais. Não é mais um combate à homofobia, é uma tentativa clara e objetiva de se ensinar o homossexualismo em nossas escolas, como se fosse perfeitamente natural e aceitável! Em suma, o combate aqui não é ao preconceito, como expôs o G1, mas à heteronormatividade, ou seja, à idéia de que as relações sexuais moralmente corretas são as que são praticadas entre homem e mulher.

Não se trata de nenhuma novidade. A posição da Igreja é clara e conhecida de todos. O Papa não fez nada além de repetir o ensinamento moral católico que sempre foi ensinado. Não existia, aliás, outra posição que ele pudesse ter tomado. Às vésperas da visita do Santo Padre ao Reino Unido, qual a razão de mobilizar a opinião pública contra o Vigário de Cristo?

É somente provocação? É para indispôr os ingleses contra o Papa e provocar constrangimentos na visita de setembro próximo? Já existe, a propósito, um abaixo-assinado contra ela na internet. E já há ameaças:

Nesta semana, esse grupo [NSS, Sociedade Secular Nacional] lançará uma coalizão denominada “Protesto contra o papa”, integrada por grupos de homossexuais, vítimas da pedofilia de padres, organizações de planejamento familiar e grupos pró-aborto, que pretendem realizar manifestações durante a visita do pontífice.

Esta é a fantástica coerência dos que defendem a “igualdade”. Não aceitam a menor crítica às suas reivindicações anti-naturais, mas não pensam duas vezes antes de organizar protestos contra o líder mundial do catolicismo que lhes vai visitar o país.

Bento XVI aos bispos da Regional Nordeste II

[O]s fiéis leigos devem empenhar-se em exprimir na realidade, inclusive através do empenho político, a visão antropológica cristã e a doutrina social da Igreja. Diversamente, os sacerdotes devem permanecer afastados de um engajamento pessoal na política, a fim de favorecerem a unidade e a comunhão de todos os fiéis e assim poderem ser uma referência para todos. É importante fazer crescer esta consciência nos sacerdotes, religiosos e fiéis leigos, encorajando e vigiando para que cada um possa sentir-se motivado a agir segundo o seu próprio estado.

O aprofundamento harmônico, correto e claro da relação entre sacerdócio comum e ministerial constitui atualmente um dos pontos mais delicados do ser e da vida da Igreja. É que o número exíguo de presbíteros poderia levar as comunidades a resignarem-se a esta carência, talvez consolando-se com o fato de a mesma evidenciar melhor o papel dos fiéis leigos. Mas, não é a falta de presbíteros que justifica uma participação mais ativa e numerosa dos leigos. Na realidade, quanto mais os fiéis se tornam conscientes das suas responsabilidades na Igreja, tanto mais sobressaem a identidade específica e o papel insubstituível do sacerdote como pastor do conjunto da comunidade, como testemunha da autenticidade da fé e dispensador, em nome de Cristo-Cabeça, dos mistérios da salvação.

Ad Limina dos Bispos do Brasil – Regional Nordeste 2,
17 de setembro de 2009,
Papa Bento XVI

Escutai, senhores bispos do Brasil!

Prezados Irmãos, nos decênios sucessivos ao Concílio Vaticano II, alguns interpretaram a abertura ao mundo, não como uma exigência do ardor missionário do Coração de Cristo, mas como uma passagem à secularização, vislumbrando nesta alguns valores de grande densidade cristã como igualdade, liberdade, solidariedade, mostrando-se disponíveis a fazer concessões e descobrir campos de cooperação. Assistiu-se assim a intervenções de alguns responsáveis eclesiais em debates éticos, correspondendo às expectativas da opinião pública, mas deixou-se de falar de certas verdades fundamentais da fé, como do pecado, da graça, da vida teologal e dos novíssimos. Insensivelmente caiu-se na auto-secularização de muitas comunidades eclesiais; estas, esperando agradar aos que não vinham, viram partir, defraudados e desiludidos, muitos daqueles que tinham: os nossos contemporâneos, quando vêm ter conosco, querem ver aquilo que não vêem em parte alguma, ou seja, a alegria e a esperança que brotam do fato de estarmos com o Senhor ressuscitado.

[Bento XVI, aos bispos da Conferência Episcopal do Brasil dos Regionais Oeste 1 e 2 em visita ad limina apostolorum]

Que primor! Escutai, senhores bispos do Brasil, escutai. É Pedro quem fala, e vai diretamente ao ponto. “Neste deserto de Deus”  – prossegue o Sumo Pontífice – “a nova geração sente uma grande sede de transcendência”.

“Deserto de Deus”! Que expressão dura. Não menos dura que outra utilizada pelo Papa pouco antes: “ambiente eclesial secularizado”. Expressões duras, mas não menos verdadeiras. Escutai, senhores bispos do Brasil, Pedro falar!

Já há muito tempo vivemos no “deserto de Deus”. Já há muito tempo morremos de sede, à míngua, nesta que outrora foi chamada Terra de Santa Cruz. Já há muito tempo temos fome de transcendência, e as migalhas catadas em meio ao lixo que recebemos dos nossos legítimos pastores não nos são suficientes. Já há muito tempo o ar pestilento do “ambiente eclesial secularizado” tem envenenado e envergonhado a nossa Pátria Amada. Já há muito tempo o cheiro de enxofre e a fumaça de Satanás tomaram o lugar do incenso de agradável odor que, um dia, perfumou as nossas igrejas. Escutai, senhores bispos, porque não somos nós que falamos: é Pedro que fala.

“[E]sperando agradar aos que não vinham, viram partir, defraudados e desiludidos, muitos daqueles que tinham”… que frase espetacular! Escutai, senhores bispos, escutai: há aqueles que não vêem. E não adianta tocar fogo na Igreja em atenção a eles. Não adianta conspurcar o leito conjugal com as prostitutas. O Bom Pastor vai atrás da ovelha tresmalhada, sim, mas entendei, senhores bispos, que os porcos não fazem parte do aprisco do Senhor. Os porcos, exorcizam-se. E não é resfolegando na lama que os senhores bispos ireis trazer de volta os que não querem ser católicos. Escutai, senhores bispos, e entendei: agindo assim, só vereis partir muitos daqueles que tendes. Escutai, senhores bispos, porque é Pedro quem fala, e não nós!

Rezemos pelo clero. Em especial, pelo episcopado. E rezemos pelo Papa. Peçamos ao Senhor – de joelhos! – pela conversão dos pecadores, liberdade e exaltação da Santa Madre Igreja.

Feliz desfecho na Venezuela

O secretário da Conferência Episcopal Venezuelana, Dom Jesús González de Zárate, informou a ZENIT nesta terça-feira que o Governo de Hugo Chávez permitiu que os bispos venezuelanos fizessem a viagem ad limina apostolorum. Como foi aqui dito ontem, havia doze bispos cujos passaportes não estavam regularizados e que, por conta disso e da morosidade das autoridades em atender aos seus pedidos, corriam o risco de não terem os seus documentos preparados a tempo de fazerem a viagem.

Como disse Dom Jesús, “graças à colaboração do Ministério das Relações Exteriores, os prelados puderam obter o documento a tempo e todos conseguiram viajar para Roma”. Deo Gratias.

O que havia acontecido era o seguinte: “por uma determinação do governo venezuelano, em janeiro passado, negou-se aos bispos a renovação do passaporte diplomático, um documento especial de viagem que se dá a certos cidadãos e que facilita sua mobilização em território estrangeiro” e, por conta disso, “12 dos bispos venezuelanos, que tinham seu passaporte vencido, tiveram de tramitar sua renovação como qualquer cidadão. Por políticas do Estado, na Venezuela o trâmite de renovação do passaporte se realiza de maneira lenta. Por esta razão, os bispos corriam o risco de não viajar a Roma”.

Agradeçamos a Deus pelo feliz desfecho do conflito entre o ditador comunista e a Igreja de Nosso Senhor, e continuemos em oração à Virgem Santíssima para que Ela Se compadeça da Venezuela.

Chávez impede bispos de fazerem visita ad limina

Reproduzo notícia que – até onde eu saiba – não saiu na mídia brasileira: o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, negou o visto a doze bispos que iam se encontrar com o Papa na visita ad limina:

02/06/09 O ditador mais famoso da América Hispânica, Hugo Chávez, que tem nas mãos o destino de mais de 30 milhões de pessoas há quase 10 anos, alcançou de novo a imprensa internacional por sua negação de conceder o visto a 12 bispos que iam encontrar-se com o Papa Bento XVI por ocasião de sua visita ad limina. Os esforços do Núncio de Sua Santidade na Venezuela foram em vão, já que a petição dirigida ao Vice-Ministro do Interior do país foi completamente ignorada pelas autoridades do regime bolivariano revolucionário comunista.

SECTOR CATÓLICO une-se às petições internacionais enviadas a Caracas nestes dias, para que o ditador recobre o juízo e permita a estes prelados da Igreja exercerem seu ministério com plenas garantias; e [para que] respeite, de uma vez por todas, a liberdade religiosa do seu povo e da Igreja, cujo dever máximo é o de anunciar o Evangelho a todos os povos e nações. E, de quebra, fazemos também a ele um pedido: que abandone o poder e vá para sua casa.

Entendam bem o que está acontecendo: a visita ad limina Apostolorum é uma obrigação dos bispos católicos de, a cada cinco anos, visitarem o Papa e prestarem contas de suas Dioceses. O fato, portanto, é que Hugo Chávez está pondo empecilhos ao encontro de bispos católicos com o Papa!

Radio Cristiandad fala que Chávez negou “el pasaporte necesario para que salgan del país”. O Periodista Digital fala que, a estes doze bispos, “el Gobierno no les ha otorgado/renovado/prolongado su pasaporte”. E depois há os que dizem que estamos exagerando quando falamos em perseguição religiosa na Venezuela! Que Deus tenha piedade desta Terra de Santa Cruz e não permita que sigamos os passos do ditador venezuelano. E que a Virgem Santíssima interceda pela Igreja na ditadura chavista.