Os homens querem ouvir falar de Deus

Aos que “profetizam” o fim iminente da Igreja Católica por conta da sua recusa obstinada em “abrir-se” às novas exigências (i)morais do mundo moderno, eu recomendo a leitura destes dados recentes sobre a Comunhão Anglicana, do qual traduzo apenas o trecho mais ilustrativo:

Os episcopais já aprovaram tudo o que os “progres” exigem e ainda mais. Repassamos:

– No século XVI, o anglicanismo aceitou o clero casado.
– Em 1930, aceitaram a contracepção. A causa: o clero casado. Davam mal exemplo, tinham poucos filhos (é o que explica um historiador luterano).
– Em 1976, os episcopais aprovaram o “sacerdócio” feminino.
– Em 1989, ordenou-se a primeira bispa episcopal.
– Em 1994, proibiu-se toda terapia para deixar o homossexualismo.
– Em 2000, aceitou-se como correto o sexo fora do Matrimônio.
– Em 2003, ordenaram como bispo Gene Robinson, um senhor divorciado de sua esposa, com dois filhos, que vivia «maritalmente» com outro homem (em 2011 ele deixou o cargo, embora continue sendo “lobbista” no clero anglicano. Foi o primeiro bispo homossexual praticante [el primer obispo homosexual activo].
– Em 2006, os episcopais admitiam o matrimônio homossexual.
– Em 2010, presumia-se ordenar em Los Angeles a uma bispa lésbica praticante.
– Em 1 de janeiro de 2011, um bispo episcopal casava (com estardalhaço da mídia) duas sacerdotisas lésbicas, uma das quais a famosa militante abortista Katherine Ragsdale.

Nada disso atraiu pessoas a esta igreja. Perderam um terço de seus fiéis no século XXI: tinham 3,4 milhões em 2001, e só 1,9 em 2012.

A História dá mostras suficientes de que esta religião do bom-mocismo e da última moda não tem condições de atrair os homens que foram criados para Deus. Elas podem até crescer num momento de frenesi inicial, mas é somente isto: pirotecnia vazia, fogo de palha incapaz de perdurar ao longo de uma geração sequer. Os homens não querem ouvir a agenda ideológica do dia nas suas igrejas: se eles quisessem isso, bastar-lhes-ia ligar a televisão – que é mais prática, mais barata e mais interessante. Os homens querem ouvir falar de Deus. E um deus que dissesse uma coisa agora e daqui a pouco dissesse o seu contrário não poderia ser Deus.

Os homens querem nobreza, e não subserviência vil a todas as imoralidades que surgem a cada dia. Ortega y Gasset, n’A Rebelião das Massas, lembra que nobreza implica em deveres: noblesse oblige. Os homens querem um objetivo mais alto para as suas vidas, querem um ideal pelo qual valha a pena lutar, um esforço que lhes permita impôr a marca do seu caráter à sua existência: não querem viver “ao Deus-dará”, como se fossem animais guiados unicamente por instintos e cujo propósito maior é fazer o que lhes é prazeroso e fugir do que lhes aborrece. Não há nobreza em ser guiado pelo amor ao baixo-ventre; e que exemplo melhor da coroação deste ignóbil apetite do que a “religião” que vive de fazer concessões às exigências do mundo?

Alguém citou aqui no blog recentemente umas projeções de que o Brasil poderia se tornar um país com maioria protestante dentro de uns vinte anos. Com a devida vênia, eu discordo dessas previsões: julgo-as, aliás, tão completamente distantes da realidade que só poderiam sair da pena de quem não tem noção nenhuma de religião. O protestantismo no Brasil é somente vácuo do catolicismo. Ao contrário de nações tradicionalmente protestantes, no Brasil só se tem oba-oba: oscilando entre fideísmos grosseiros (neo)pentecostais e progressismos teológicos natimortos, não há raízes no protestantismo tupiniquim.

Parece-me, ao contrário, que o catolicismo voltará a crescer, após uma ou duas gerações perdidas. Colhendo ao acaso as notícias de hoje, recentemente se divulgou a conversão da Leah Libresco, blogueira (ex-)atéia americana que mantêm o Unequally Yoked; e o Twitter do Papa Bento XVI anunciado hoje pela manhã (@Pontifex) já conta agora com mais de 144.000 seguidores. E coisas assim acontecem todos os dias, mesmo na internet! E quanto à graça de Deus que opera longe dos holofotes virtuais? E quanto ao território duramente conquistado passo a passo na vida quotidiana de tantos católicos (padres principalmente, mas também leigos) que não entra na rede mundial de computadores?

Próximo sábado é dia da Imaculada Conceição e, neste dia, centenas de pessoas Brasil afora irão fazer ou renovar a sua Consagração Total à Santíssima Virgem. Ela, que prometeu em Fátima que o Seu Imaculado Coração triunfaria: estamos aguardando o cumprimento desta promessa, o Reino da Virgem cujo advento é tão certo quanto a aurora. Porque não é de “novidades” que nós precisamos, mas muito pelo contrário: temos sede da Palavra de Deus que é Eterna, que Se encarnou um dia para nos salvar e que, ainda hoje, continua viva e eficaz no seio da Santa Igreja cuja missão é levar a salvação de Deus a toda criatura humana. E cada vez mais as pessoas estão percebendo estas verdades. No meio de tantas confusões, as pessoas estão (re)aprendendo a se voltar para a Igreja, Farol imóvel e seguro a guiar os navegantes pelos mares atribulados desta vida.

Alguns pontos sobre a Anglicanorum Coetibus

1. A iniciativa do retorno dos anglicanos à comunhão com a Igreja Católica partiu dos próprios anglicanos – “Nestes últimos anos, o Espírito Santo conduziu grupos de anglicanos a pedir repetida e insistentemente para serem recebidos na plena comunhão católica individual e coletivamente” (AC, preâmbulo).

2. A ereção dos Ordinariatos Pessoais estará sob a responsabilidade da Congregação para a Doutrina da Fé (AC I §1), e eles estão sujeitos a este Dicastério (NC 1); exatamente para que seja feito um acompanhamento mais próximo dos possíveis desvios doutrinários nos quais podem incorrer aqueles recém-saídos da heresia.

3. Estes grupos de anglicanos professam a Fé Católica, expressa no Catecismo da Igreja Católica (AC I §5), o qual foi assinado pelos convertidos como sinal de profissão de Fé e abjuração dos erros passados.

4. Só é possível aos fiéis anglicanos fazerem parte destes Ordinariatos “após ter[em] feito sua Profissão de Fé e recebido os Sacramentos da Iniciação” (NC 5 §1). Aqueles que foram batizados como católicos só podem fazer parte de um destes Ordinariatos se forem “membros de uma família que pertença ao Ordinariato” (id. ibid.).

5. Os ministros anglicanos serão ordenados sacerdotes católicos após uma análise caso a caso. Somente aqueles “que cumprem os requisitos estabelecidos pelo direito canônico e não estão impedidos por irregularidades ou outros impedimentos” poderão ser admitidos “como candidatos às Ordens Sagradas na Igreja Católica” – o grifo é meu (AC VI §1).

6. Os ministros anglicanos não-casados deverão abraçar o celibato (AC VI §1).

7. Apesar de poder celebrar “segundo os livros litúrgicos próprios da tradição anglicana aprovados pela Santa Sé”, o Ordinariato não pode “excluir as celebrações litúrgicas segundo o Rito Romano” (AC III).

8. Os sacerdotes católicos que tenham abandonado a Fé e abraçado a heresia, caso retornem à Igreja, “não podem exercer o ministério sagrado no Ordinariato” (NC 6 §2).

9. Os seminaristas do Ordinariato estudarão junto com os seminaristas católicos da diocese, “especialmente nas áreas de formação doutrinal e pastoral” (AC VI §5); exatamente para garantir que a formação teológica destes futuros sacerdotes seja católica, afastando-se do anglicanismo.

10. A formação dos seminaristas do Ordinariato “naqueles aspectos do patrimônio anglicano que são de particular valor” deve ser feita “em completa harmonia com a tradição católica” (NC 10 §1).