Angelus Domini nuntiavit Mariae

Hoje é o dia em que, por excelência, podemos rezar o Angelus Domini nuntiavit Mariae. A festa da Anunciação, quando o Anjo fez saber à Virgem Santíssima que Ela seria Mãe do Salvador. Um anjo que possui uma natureza superior à humana, saudando a uma Mulher. Ave, gratia plena! – disse São Gabriel. Ave Maria, cheia de graça! – até hoje nós repetimos. Porque todas as gerações chamarão a Virgem Santíssima de bem-aventurada.

Lembro-me agora de uma música de Anjos de Resgate. Chama-se “Maria e o Anjo”, e reproduz um hipotético diálogo entre a Virgem Santíssima e o Arcanjo Gabriel no momento da Anunciação. Lembro-me de uns versos que são particularmente felizes, quando a Virgem pergunta ao anjo: “Por que teus lábios tremem tanto assim? / Por que não tiras teus olhos de mim?”. E este, por sua vez, responde: “Há tanta graça em estar diante de ti / e o Céu inteiro espera por teu sim!”.

E gosto de imaginar as glórias da Virgem Santíssima assim, de tal maneira que até mesmo um Arcanjo treme diante d’Ela. Criatura, sim, mas Mãe do Criador, e de tal modo que foi feita Rainha dos Anjos, Regina Angelorum. Naquele instante terrível em que a Virgem Santíssima ainda não havia concebido do Espírito Santo, mas já era cheia de Graça. Aquele instante no qual “o Céu inteiro” aguardava, ansioso, que Ela dissesse “sim”. Maravilhoso prodígio da co-redenção: a Virgem Maria já inicia a salvação do mundo antes mesmo do Verbo fazer-Se carne. E São Gabriel, mensageiro do Altíssimo, embaixador das hostes celestes, treme diante de uma Virgem, esperando-lhe a resposta.

Fiat mihi secundum verbum tuum – Ela responde. Lá no Gênesis, Deus inicia a criação do mundo com um fiatfiat lux. Agora, nos Evangelhos, a Virgem Santíssima inicia a redenção do mundo também com um fiat: só que, dessa vez, é fiat voluntas tua. O poder de Deus cria o mundo, mas é por meio da cooperação livre de uma criatura que se inicia a salvação do mundo. Faça-se, diz a criatura ao Criador; e deste segundo fiat brota uma obra ainda maior do que do primeiro. “Sorri e vai ao Céu anunciar: / sim, eu serei a Mãe do Salvador”, como canta a música à qual me referia antes. E gosto de imaginar o extremo júbilo desta hora. “Sorri” é uma das melhores coisas que se pode dizer de São Gabriel neste momento.

Et Verbum caro factum est. E vimos a Sua Glória. E, por Seu Santíssimo Sangue derramado, tivemos os nossos pecados perdoados. E, por meio d’Ele, fomos feitos filhos de Deus. Maravilhosa obra da graça, a que jamais poderemos agradecer o suficiente e cujas dimensões nunca seremos capazes de abarcar! Mas tudo isto se inicia no dia de hoje, quando a Virgem Santíssima diz “sim” ao plano de Deus, e fiat à vontade do Altíssimo. O milagre da nossa redenção inicia-se na solidão de um quarto, onde uma Virgem encontra-se com um Arcanjo, o qual foi encarregado pelo Onipotente de anunciar-Lhe que Ela conceberia e daria à luz o Filho de Deus.

O Anjo do Senhor anunciou à Virgem Santíssima. E Ela disse “sim”. E concebeu do Espírito Santo. E o Verbo de Deus Se fez carne, e habitou entre nós. Todos os dias somos convidados a relembrar esta história; mas a sua grandeza muitas vezes se esconde na rapidez com a qual repetimos as palavras da oração. Que, hoje, rezemos o Angelus com mais vagar. Que a Anunciação possa nos servir de profícuo objeto de meditação. E que a Virgem Santíssima interceda por nós, a fim de que também – à semelhança d’Ela – possamos dizer ao Deus Altíssimo fiat voluntas tua. Em cada pequeno detalhe de nossas vidas.