Bote Fé Recife: Salve, ó Cruz! Vinde, Vigário de Cristo! #JMJ2013EuApoio

E, em plena segunda-feira, o Ícone de Nossa Senhora e a Cruz da Jornada Mundial da Juventude chegaram a Recife. Em plena segunda-feira, após o trabalho, mandei-me para o Marco Zero; não pude ver a chegada da Cruz e nem a Missa (que foram de tarde), nem a procissão dos símbolos da JMJ saindo da igreja do Nóbrega até a Madre de Deus (idem). Cheguei somente a tempo de ver os shows na grande praça. As pessoas estavam lá, pelo que eu entendi, desde as três horas da tarde; no entanto, estavam ainda cheias de energia. Eram onze horas da noite e era uma segunda-feira: a juventude do Papa, não obstante, estava lá, e estava firme, e estava forte.

Sim, eu sei, não é um evento de aprofundamento catequético e nem de exercícios inacianos de espiritualidade. Eu sei, não tem nada a ver com isso, porque o objetivo aqui é outro totalmente diferente: é mostrar número e força, é um evento (não exclusivamente, mas com um indiscutível aspecto) midiático para servir de eloqüente resposta pública aos que advogam pelo fim da religião ou pela sua perda de influência entre as gerações mais jovens. Contra os argumentos falam os fatos: eu fui ontem ao Marco Zero, e os jovens se fizeram – e muito – presentes. Apesar de ser segunda-feira à noite.

Vinham em grupos dos mais diversos lugares: muitos ostentavam as camisas das suas paróquias, grupos de orações ou pastorais. Outros – muitos outros – envergavam a camisa do “Bote Fé Recife”, com o lema da pré-jornada estampado em um estandarte colorido como sói serem os de nosso carnaval. Não eram pessoas que “caíram ali” do nada: eram jovens que, sem a menor sombra de dúvidas, saíram de suas casas para participar de um evento católico no centro da cidade. Não eram santos e não eram perfeitos, mas e daí? Eu tampouco o sou. Foram chamados e lá estiveram, e fizeram bonito; missão dada, missão cumprida.

Palco do Bote Fé Recife, com a Cruz da Jornada e o Ícone de Nossa Senhora

No fim da noite, o show da banda Anjos de Resgate. Muitos poderão questionar acidamente o estilo musical deles e dizer que isto não é catolicismo nem conversão e que blá-blá-blá; ora, poupem-me da ladainha. Não era uma missa, era um show. Era “música de jovem”. E, no meio daquelas músicas, havia e há elementos de piedade verdadeiros. “Te amar por quem não Te ama, Te adorar por quem não Te adora” ou “a Cruz Sagrada seja a minha luz; não seja o Dragão meu guia” são orações, independente da forma como sejam proferidas. “O Céu inteiro está rezando por ti; / anjos e santos intercedem por ti” é uma consoladora verdade teológica. As músicas sobre a amizade – como “amigos, pra sempre, dois amigos que nasceram pela Fé” ou “nós somos mais que amigos, somos anjos que o Senhor enviou” -, a despeito do exagero que a gente credita à licença poética, exaltam de maneira bonita esta importante virtude natural que somos chamados a sobrenaturalizar. E (embora não tenham cantado, é uma das minhas preferidas) narrar o diálogo entre a Virgem Santíssima e o Arcanjo Gabriel com “- Por que teus lábios tremem tanto assim? Por que não tiras teus olhos de mim? / – Há tanta graça em estar diante de Ti; e o Céu inteiro espera por Teu sim!” é uma bonita forma de proclamar as glórias da Bem-Aventurada Mãe de Deus.

Cruz da Jornada, com a inscrição de SS. João Paulo II

Ao final, ainda tive a chance de subir no palco. E tocar na Cruz! Na Cruz que esteve comigo em Madrid – no peito eu carregava a minha pequena cruz que veio da JMJ do ano passado -, ou melhor, na Cruz que esteve acompanhando tantos jovens ao longo de tantas Jornadas Mundiais da Juventude desde 1984. Era o que dizia a inscrição assinada por João Paulo II e assim datada. As palavras do Beato praticamente ressoavam em nossos ouvidos: “não tenhais medo!”. Sim, Santidade, nós não queremos ter medo. Sim, nós queremos fazer a diferença. Sim, nós queremos viver como Cristo espera que vivamos. Estamos aqui! Que o caminho da Cruz pelo Brasil possa derramar graças por onde quer que Ela passe. E que preparemos bem a Jornada do Rio de Janeiro. Pode vir, Santo Padre! Nós o esperamos ansiosamente.

Angelus Domini nuntiavit Mariae

Hoje é o dia em que, por excelência, podemos rezar o Angelus Domini nuntiavit Mariae. A festa da Anunciação, quando o Anjo fez saber à Virgem Santíssima que Ela seria Mãe do Salvador. Um anjo que possui uma natureza superior à humana, saudando a uma Mulher. Ave, gratia plena! – disse São Gabriel. Ave Maria, cheia de graça! – até hoje nós repetimos. Porque todas as gerações chamarão a Virgem Santíssima de bem-aventurada.

Lembro-me agora de uma música de Anjos de Resgate. Chama-se “Maria e o Anjo”, e reproduz um hipotético diálogo entre a Virgem Santíssima e o Arcanjo Gabriel no momento da Anunciação. Lembro-me de uns versos que são particularmente felizes, quando a Virgem pergunta ao anjo: “Por que teus lábios tremem tanto assim? / Por que não tiras teus olhos de mim?”. E este, por sua vez, responde: “Há tanta graça em estar diante de ti / e o Céu inteiro espera por teu sim!”.

E gosto de imaginar as glórias da Virgem Santíssima assim, de tal maneira que até mesmo um Arcanjo treme diante d’Ela. Criatura, sim, mas Mãe do Criador, e de tal modo que foi feita Rainha dos Anjos, Regina Angelorum. Naquele instante terrível em que a Virgem Santíssima ainda não havia concebido do Espírito Santo, mas já era cheia de Graça. Aquele instante no qual “o Céu inteiro” aguardava, ansioso, que Ela dissesse “sim”. Maravilhoso prodígio da co-redenção: a Virgem Maria já inicia a salvação do mundo antes mesmo do Verbo fazer-Se carne. E São Gabriel, mensageiro do Altíssimo, embaixador das hostes celestes, treme diante de uma Virgem, esperando-lhe a resposta.

Fiat mihi secundum verbum tuum – Ela responde. Lá no Gênesis, Deus inicia a criação do mundo com um fiatfiat lux. Agora, nos Evangelhos, a Virgem Santíssima inicia a redenção do mundo também com um fiat: só que, dessa vez, é fiat voluntas tua. O poder de Deus cria o mundo, mas é por meio da cooperação livre de uma criatura que se inicia a salvação do mundo. Faça-se, diz a criatura ao Criador; e deste segundo fiat brota uma obra ainda maior do que do primeiro. “Sorri e vai ao Céu anunciar: / sim, eu serei a Mãe do Salvador”, como canta a música à qual me referia antes. E gosto de imaginar o extremo júbilo desta hora. “Sorri” é uma das melhores coisas que se pode dizer de São Gabriel neste momento.

Et Verbum caro factum est. E vimos a Sua Glória. E, por Seu Santíssimo Sangue derramado, tivemos os nossos pecados perdoados. E, por meio d’Ele, fomos feitos filhos de Deus. Maravilhosa obra da graça, a que jamais poderemos agradecer o suficiente e cujas dimensões nunca seremos capazes de abarcar! Mas tudo isto se inicia no dia de hoje, quando a Virgem Santíssima diz “sim” ao plano de Deus, e fiat à vontade do Altíssimo. O milagre da nossa redenção inicia-se na solidão de um quarto, onde uma Virgem encontra-se com um Arcanjo, o qual foi encarregado pelo Onipotente de anunciar-Lhe que Ela conceberia e daria à luz o Filho de Deus.

O Anjo do Senhor anunciou à Virgem Santíssima. E Ela disse “sim”. E concebeu do Espírito Santo. E o Verbo de Deus Se fez carne, e habitou entre nós. Todos os dias somos convidados a relembrar esta história; mas a sua grandeza muitas vezes se esconde na rapidez com a qual repetimos as palavras da oração. Que, hoje, rezemos o Angelus com mais vagar. Que a Anunciação possa nos servir de profícuo objeto de meditação. E que a Virgem Santíssima interceda por nós, a fim de que também – à semelhança d’Ela – possamos dizer ao Deus Altíssimo fiat voluntas tua. Em cada pequeno detalhe de nossas vidas.

Impressões sobre o EJF

[corridas e de memória, senão acabo não fazendo isso nunca]

– É um mega-evento, sem dúvidas. Estrutura gigantesca, no Centro de Convenções, ocupando diversas salas, corredores, o auditório. Muitas coisas acontecendo ao mesmo tempo: “acolhida das crianças” (tinha uma “competição de robótica” que eu fiquei com água na boca para participar! Pena que era só até os 17 anos…), capela com adoração permanente, café com shows musicais, workshops, stands falando sobre os diversos apostolados do movimento… muita coisa.

– É uma bonita experiência de, digamos, “comunhão eclesial”, tanto dentro do movimento Regnum Christi (a presença do diretor geral e de vários membros do Brasil inteiro e até de outros países) quanto do movimento com a Igreja (ilustrada de maneira eloqüente pela presença do Cardeal Franc Rodé, CM). Muito bom rever amigos que eu não via há longa data, que me fazem falta e com quem eu tenho bem menos contato do que eu gostaria! Uma “imagem visível da comunhão dos santos”, poder-se-ia dizer do EJF.

– Muitas palestras primorosas. Sobre os mais variados assuntos: desde sexualidade (com ênfase nos efeitos deletérios das pílulas anticoncepcionais na feminilidade da mulher) até testemunhos de atletas paraolímpicos (que nos deixavam com uma incômoda e salutar impressão de como são pequenos os nossos problemas e como somos ingratos pelas coisas que temos). Não seria capaz de citar todas.

– O fotógrafo dos papas, Arturo Mari, contou-nos diversos relatos sobre a vida dos pontífices com os quais ele conviveu, desde João XXIII, com uma ênfase em João Paulo II. Deste último, falou-nos (como testemunha ocular) do atentado de 1981 e do segundo atentado que o papa sofreu a faca, pouco depois; do seu encontro com o presidente da (então) Tchecoslováquia e com Mikhail Gorbachev; de um encontro com leprosos numa ilha da África (se a memória não me falha) e de uma visita ao Peru na qual Sua Santidade subiu numa mesa e, por sobre um muro farpado, falou aos terroristas do Sendero Luminoso que ele estava ali, que eles (os terroristas) eram assassinos que um dia iam ser julgados por Deus, e que (o Papa) não tinha medo deles; enfim, contou-nos diversas coisas interessantes, muitas das quais eu nunca tinha ouvido falar.

– O ator de Hollywood convertido ao catolicismo, Eduardo Verástegui, produtor do filme Bella, contou-nos o seu testemunho. Como ele levava uma vida promíscua, como uma sua professora de inglês fê-lo ver um dia a incoerêncida da sua vida (ao ser perguntado com que tipo de homem ele gostaria que uma sua filha casasse, ele descreveu “um santo”; ao final, a mulher perguntou-lhe simplesmente se ele era assim e, diante da resposta negativa, por que ele exigia algo que ele próprio não era), como ele decidiu que, desde então, não participaria mais de nenhum filme que ofendesse sua fé, sua família ou seu país. Aconselhado por um legionário, abriu uma produtora – a Metanoia Films – com o objetivo de não produzir senão filmes que passassem valores morais verdadeiros. Bella (não assisti ainda) é fruto deste trabalho.

– Como cada coisa tem o seu lugar, ao lado dos aplausos eufóricos diante dos belos testemunhos que se sucediam, havia o silêncio reverente diante do Sagrado; em particular, registro o terço solene, rezado diante do Santíssimo que foi exposto ao som do Pange Lingua e recolhido enquanto se cantava o Adoremus in Aeternum. Majestoso.

– Não faz parte do evento, mas fui à gravação do DVD do Anjos de Resgate. Terceira fila, à esquerda do palco; não sou o maior fã da banda, mas até gosto de algumas músicas – que ficam muito bem longe da Liturgia. Acho válido que os meninos que gostem disso possam escutá-lo, contanto que as coisas não se misturem (p. ex., eu gosto de frevo, mas tenho horror à sua presença na Liturgia – quando a Campanha da Fraternidade teve aquela música em ritmo de marchinha de carnaval “Levanta-te, chega pra cá e vem para o meio…” eu manifestei aberta discordância e claro descontentamento). Boas músicas (não sei o nome de todas, mas foram cantadas “foi por você”, “peregrino do amor”, “tua família volta pra ela”, “estou aqui”, “o céu inteiro está rezando por ti”, “como uma rosa esmagada no chão” e outras tantas) no repertório, muitos simpáticos os músicos (entra e sai, falam conosco, troca cenário, passa pó de arroz, repete a música – gravação de DVD tem dessas coisas); por esses aspectos, foi uma boa noite.

– Não posso, no entanto, em consciência, deixar de falar sobre uma coisa terrível que presenciei neste show. Após uma excelente manifestação de um dos integrantes da banda sobre a radical oposição entre as exigências da mídia e as convicções do grupo – e da afirmação peremptória de que eles poderiam até não conseguir nunca gravar nada, mas não iam abrir mão de utilizar a banda como “ministério” para passar valores católicos -, eis que, no meio do show, da gravação do DVD, no palco, alguém tem a brilhante idéia de colocar um altar (!) e trazer o Santíssimo para uma adoração (!!). Francamente! Não saberia apontar agora os documentos da Igreja que restringem os lugares nos quais é lícito fazer adoração eucarística, mas é óbvio que [no mínimo] não convém levar o Santíssimo Sacramento para um palco de um show! Isto termina por “queimar o filme” das pessoas que eu tentava há pouco defender, porque revela uma radical incapacidade de separar o culto público da Igreja das músicas populares que elas gostam de ouvir e de tocar. Foi triste, muito triste.

– A viagem, por fim, deixa saudades. Não encontrei todas as pessoas que gostaria, mas encontrei algumas; é um verdadeiro oásis, no meio do mundo em que vivemos, ver um evento católico no qual existem dezenas de sacerdotes presentes, disponíveis o dia inteiro para ouvir confissões e dar direção espiritual, com uma capela onde há sempre muitas pessoas de joelhos diante de Cristo Eucarístico, com um cardeal celebrando a Missa de encerramento e um coral entoando o Sanctus, e tantas coisas mais que eu sem dúvidas estou esquecendo. Próximo EJF, esperamos que seja em Recife (ou, ao menos, no nordeste); já visitei muito os meus amigos de longe, e agora é minha vez de ser visitado.