O que importa é a luta pela santidade

Após a divulgação da última pesquisa Datafolha que anunciou uma nova redução do número de católicos no Brasil — hoje somos apenas 50% dos brasileiros –, a Folha de São Paulo noticiou que a CNBB comentou os dados dizendo que a «[l]uta por justiça é mais relevante que porcentagem de católicos». O aparente absurdo da declaração deixou a muitos perplexos. Olhemos, no entanto, a questão com um pouco mais de cuidado.

Em primeiro lugar, cabe um registro do nosso já antológico mau jornalismo. O primeiro parágrafo da reportagem diz o seguinte:

Mais importante que a porcentagem de católicos no Brasil é “quantas pessoas realmente buscam justiça e vivem o amor até as últimas consequências”, diz o secretário-geral da CNBB (conferência dos bispos brasileiros), dom Leonardo Ulrich Steiner, bispo auxiliar de Brasília.

Aqui já não se fala na «luta» estampada na manchete, embora o sentido ainda seja o mesmo. No entanto, olhando a íntegra da entrevista que a própria matéria disponibiliza mais abaixo, não se encontra a frase entre aspas que abre a reportagem!

O que tem de mais parecido na entrevista de D. Leonardo é o seguinte:

Desse modo, a resposta para a declaração de pertença das pessoas à Igreja ganha um significado mais espiritual que estatístico. Falta-nos, a todos, mais disposição para a conversão de vida e adesão ao cerne da mensagem cristã que é formado pela busca intransigente da justiça e da vivência do amor até as últimas consequências.

Ao que parece, para a sra. Ana Estela de Sousa Pinto (que assina a reportagem), as aspas não significam mais uma citação literal. Aparentemente, no seu estilo jornalístico, o texto que vem entre estes conhecidos sinais gráficos tanto pode significar algo reproduzido literalmente, palavra a palavra, como pode ser qualquer coisa que o jornalista ache que foi dito por alguém. E o pior é que, aqui, o próprio sentido da declaração episcopal foi distorcido: não se trata apenas da mesma coisa dita com palavras diferentes (o que, empregado entre aspas, já seria um absurdo), mas de duas declarações completamente distintas. Porque uma coisa é a «luta por justiça» ser mais importante que o número de católicos, e outra coisa é a constatação de que falta, a todos, uma maior «adesão ao cerne da mensagem cristã»!

Quem passa os olhos pela manchete, ou mesmo quem lê apenas os primeiros parágrafos, fica com a impressão de que a CNBB faz pouco caso da apostasia de milhões de fiéis, trata-a com indiferença, julga que ela não importa; quando na verdade o que se lê na entrevista é um lamento e um pesar pelos tristes números que os anticlericais divulgaram na noite de Natal. Não há o tom de menosprezo que abre a matéria. Este escândalo, portanto, por uma questão de justiça, não seja colocado nas já sobrecarregadas costas de D. Leonardo Steiner. O desdém da instituição não está na pena do seu secretário-geral, mas sim na redação defeituosa da sra. Ana Estela.

Em segundo lugar, é preciso dizer que o número absolutamente não surpreende. Não é verdade que o Brasil seja um país de maioria católica; há muito dizemos que pode até ser grande o número de batizados, mas não o de católicos. Porque “católico não-praticante” é uma contradição em termos, uma vez que a Fé ou bem é vivida, ou não é crida simplesmente. Isso é muito fácil de explicar. Entre diversas outras coisas, a Fé Católica manda que se vá à Missa aos domingos e dias santos. Se a pessoa de ordinário não vai à Missa, então é porque ela não acredita que precise ir à Missa aos domingos e dias santos — não crê na Fé Católica portanto. Uma outra pesquisa feita em 2013 dava conta de que apenas 28% dos que se diziam católicos –ou seja, 16% da população — iam à Missa uma vez na semana. Ora, isso — a prática religiosa semanal — é absolutamente o mínimo! Com menos do que isso não dá para ser adepto do Catolicismo. O número real de católicos brasileiros, assim, deve estar perto de uns 14% da população — o que está bem longe dos 50% que a última pesquisa tão generosamente nos concede.

A vastidão da impiedade sem dúvidas nos entristece; é verdadeiramente de se pasmar que quatro em cada cinco dos nossos conterrâneos estejam privados da graça dos sacramentos sem a qual não é possível obter o perdão dos pecados e a amizade com Deus. É preciso rezar, e rezar muito!, como o Anjo ensinou em Fátima, pedindo perdão pelos que não amam a Nosso Senhor. É preciso fazer apostolado vigoroso e incansável; não nos é permitido ficar indiferentes diante desta multidão de almas se perdendo à falta dos remédios espirituais mais básicos, e que estão aí, ao alcance de uma caminhada, distribuídos em profusão nas igrejas que os nossos antepassados espalharam Brasil afora. Deus pediu a Caim contas do seu irmão (cf. Gn IV, 9); também nós seremos cobrados, e n’Aquele Dia não Lhe poderemos responder que não somos custodiantes das almas que aprouve a Ele colocar em nosso caminho.

Mas há um terceiro aspecto a ser mencionado. É que, talvez por um ato falho, quiçá pela primeira vez em muitos anos, a resposta da Conferência dos Bispos à apostasia católica é surpreendentemente adequada. Dom Steiner — eu vivi para ver isso! — disse que a Igreja «cuida do anúncio dos valores do Evangelho» e «sua missão central (…) é anunciar integralmente o Evangelho de Cristo».

Sim, a Missão da Igreja é levar a toda criatura humana — a todos os confins da terra — o Evangelho de Cristo, a Boa-Nova da Salvação, em toda a sua integridade: sem nada lhe acrescentar ou suprimir. Como a CNBB é conhecida por há décadas desfigurar a mensagem de Nosso Senhor (cabendo-lhe, em perturbadora parcela, a responsabilidade pelo êxodo de católicos que a Igreja no Brasil vem sofrendo ano após ano), é um alento ver no secretário-geral da CNBB, justo nele!, essa preocupação (ao menos diante da imprensa) com a integralidade do anúncio do Evangelho. Se isso, apenas isso!, fosse feito com os devidos zelo e dedicação, assistiríamos muito em breve a um maravilhoso reflorescimento da Igreja Católica na Terra de Santa Cruz.

A despeito das conotações políticas que a palavra tem no discurso público contemporâneo, «Justiça» é uma palavra muito cara à teologia bíblica e significa santidade. Neste sentido, a frase falsamente atribuída a D. Steiner seria profundamente católica e verdadeira, profética até: para além das pesquisas demográficas, o que importa é a luta pela santidade! Fazendo isso, somente isso!, Deus saberia abençoar o plantio e prover uma colheita generosa. Afinal, não foi o próprio Cristo quem disse que deveríamos buscar primeiro o Reino de Deus e a Sua Justiça, que tudo o mais nos seria dado por acréscimo (cf. Mt VI, 9)? Ouçamos as palavras d’Ele, inadvertidamente ecoadas na manchete adulterada de uma má jornalista. Saibamos lutar, com denodo e galhardia, pela justiça de Deus! Pois com isso teremos a certeza de que omnia adicientur nobis.

E o número de fiéis católicos continua caindo… o que fazer?

Esta notícia é bem antiga (é de 2009, referente ao censo do IBGE 2000), mas os dados do Censo 2010 (as tabelas com dados sobre religião estão aqui) não parecem fornecer nenhuma mudança significativa a este quadro – aliás muito pelo contário. Falando sobre o êxodo de fiéis católicos para as seitas protestantes na capital do país, a pesquisa (do ano 2000) mostrava que a “migração de fiéis da Igreja Católica para a evangélica avança[va] [principalmente] nas áreas mais pobres”. O fenômeno vem ao encontro da minha experiência particular; entre as camadas mais pobres da população brasileira, a mudança de religião dá-se (muito!) mais por afinidades sociológicas do que por convicções teológicas. Citando a matéria do Correio Braziliense:

Existem cerca de 4,7 mil templos da igreja evangélica na capital do Brasil, a maioria em comunidades com menos de duas décadas de existência. E 123 da Igreja Católica. A distância faz com que ocorra quase naturalmente a migração de católicos para cultos evangélicos. É comum nessas regiões a presença de pessoas com histórico familiar baseado no catolicismo participando da pregação protestante. Como se a porta aberta facilitasse a mudança de credo

Isto que é citado na reportagem é exatamente a mesma coisa que eu tenho presenciado nos últimos anos em cidades do interior de Pernambuco. A história é assustadoramente a mesma: uma cidadezinha, por razões quaisquer, fica desprovida da assistência espiritual de um sacerdote católico. Há somente uma igreja matriz e algumas capelas, todas servidas por um único sacerdote; quando este, digamos, é transferido, passa-se um tempo (mais ou menos longo – lembro-me de um caso em que tal interstício durou mais de dois anos) até que outro pároco seja nomeado e, durante este tempo, o padre de uma cidade vizinha “acumula” a responsabilidade sobre este povo. Celebra-se Missa (quando muito!) semanalmente; às vezes, ela só ocorre em um domingo por mês. Casamentos e batizados, só no fim do ano. Confissões, sabe lá Deus quando… O povo tenta organizar-se “por conta própria” (digamos, com a recitação semanal do Santo Rosário), mas muitos desanimam neste processo. Ao mesmo tempo, quais cogumelos venenosos em madeira podre, proliferam seitas evangélicas a perder de vista: muitas a cada bairro, quase uma em cada esquina, às vezes duas lado a lado. Sedentos espiritualmente e sem a assistência de um sacerdote católico, o povo acaba indo na “igreja” que fica mais perto. No início ainda são católicos; pouco a pouco, entretanto, envenenados pelo discurso do falso “pastor”, não poucos acabam infelizmente perdendo a Fé. E, quando a situação católica normaliza-se, quando um padre retorna e o culto verdadeiro a Deus é restabelecido, muitos já estão tão afastados do rebanho que a volta é difícil. Muitos, para tristeza de Deus e vergonha desta Terra de Santa Cruz, já estão definitivamente perdidos para Satanás.

A sangria de católicos existe. Infelizmente, muitos dos diagnósticos que nos fazem deste problema só o fazem agravar ainda mais. Não raro nós encontramos quem pretenda descobrir a causa do abandono do catolicismo na “falta de modernização” da Igreja. Sinto dizê-lo, mas é exatamente o contrário. Lembro-me do então Card. Ratzinger (no “A Fé em Crise?” ou no “O Sal da Terra”, agora não me recordo exatamente) falando com todas as letras que o problema não estava na intransigência da Igreja à modernidade, uma vez que a maior parte das seitas protestantes na Europa já havia abraçado alegremente todas as reivindicações imorais do mundo moderno – do aborto ao divórcio, do casamento gay à ordenação de mulheres, da contracepção ao sexo livre, etc. – sem ter contudo logrado estancar a sua perda de fiéis. Por aqui, guardadas as devidas proporções, seguiu-se pelo mesmo caminho; basta ler (p.ex.) este desabafo do pe. David Francisquini sobre as mudanças operadas no cenário católico brasileiro da segunda metade do século passado para cá. Se – graças a Deus! – não se chegou a abraçar institucionalmente a imoralidade escancarada, a vida católica foi tão aviltantemente despojada de todos os seus adornos que passou a ser difícil reconhecer a Esposa de Cristo olhando para a sua face desnuda, vendo-a renunciar aos seus paramentos e trajes reais. A Rainha despojou-se de suas vestes e isto confundiu o povo simples, que passou a ter dificuldades em distingui-La das falsas pretendentes ao Reino de Deus. É preciso reconhecer com tristeza e com clareza esta realidade, para que possamos agir de maneira eficaz na (re)evangelização do nosso povo.

É preciso reconhecer que a mudança do tom do discurso católico provocou uma gravíssima deficiência catequética dos nossos fiéis e, portanto, é urgente resgatar a catequese e a apologética. É preciso reconhecer que é difícil rezar nas nossas missas, de modo que é imperativo o resgate do Eterno na Sagrada Liturgia. É preciso reconhecer que a cupidez de coisas novas que acomete os espíritos modernos, longe de ser uma exigência legítima que se deva satisfazer, tem sido causa de enormes males espirituais para os homens de nosso tempo; e é preciso ter em conta que ela, por forte que pareça, não consegue – sobretudo nos mais simples! – apagar a sede do Infinito que o próprio Deus inscreveu nos corações dos homens. É preciso rezar, e rezar muito, rezar incessantemente, para que Deus tenha piedade de nós, ilumine-nos e nos salve. E, acima de tudo, é preciso não desesperar. Se a solução parece ser humanamente impossível, então é aí que Deus fará resplandecer a Sua força. Afinal, Ele sabe fazer maravilhas naqueles momentos em que tudo parece estar perdido. A obra é d’Ele; e Ele, sem dúvidas, levantar-Se-á para defendê-la. Por mais que a situação atual pareça irreversível, Ele cumprirá a Sua promessa. Non praevalebunt, é a nossa certeza. O Todo-Poderoso não nos abandonará.

Apologia de um leigo (ou “Eu, Apóstata”)

Hoje pela manhã, descubro que o “Denúncias e Críticas” (ou “Denúncias Críticas”, sei lá) publicou um texto totalmente nonsense onde acusa o Deus lo Vult! de ser, verbis, «um exemplo de veículo de informação que trabalha a favor da apostasia». Eu não lembrava do blog, e já tinha começado a escrever aqui que nunca ouvira falar dele até então; no entanto, vi o nome do autor – Armando Cintra, jornalista de Taubaté – e tive a impressão de que ele não me era estranho. Fui procurar e… bingo!

O sr. Cintra foi quem motivou um texto cá do Deus lo Vult! do ano passado, intitulado “A qualidade dos ataques à Igreja”. A relevância jornalística do sujeito é tão grande que eu já me esquecera por completo dele. Vou apenas aproveitar o artigo atual para dar algumas explicações. Vou ignorar a tagarelice sobre “apostasia” que é francamente desinteressante. Sobre este humilde blog, o sr. Cintra fala quanto segue:

É interessante notar que, apesar de defender a Igreja Católica, esta não endossa o blog como sendo um dos seus veículos oficiais de informação. Fica tudo por conta das opiniões pessoais do autor do blog, que também permite comentários anônimos, desde que, independentemente de lógica ou não, defendam a igreja católica e ataquem outras crenças. Este é um exemplo de veículo de informação que trabalha a favor da apostasia.

O “veículo oficial de informação” da Igreja Católica é o site do Vaticano. O resto só é “oficial” dentro de cada âmbito: o site da CNBB é oficial da CNBB, o da Arquidiocese de Olinda e Recife é oficial da Arquidiocese de Olinda e Recife e este blog é oficial de Jorge Ferraz. Ninguém precisa ter “selo de veículo oficial de informação” para falar sobre a Igreja Católica. Na verdade, eu estou aqui atendendo a um pedido da Igreja; veja-se, p.ex., a Christifideles Laici:

Por isso, a Igreja pede aos fiéis leigos que estejam presentes, em nome da coragem e da criatividade intelectual, nos lugares privilegiados da cultura, como são o mundo da escola e da universidade, os ambientes da investigação científica e técnica, os lugares da criação artística e da reflexão humanística (CL 44).

E ainda a Lumen Gentium do Vaticano II:

[T]odo e qualquer leigo, pelos dons que lhe foram concedidos, é ao mesmo tempo testemunha e instrumento vivo da missão da própria Igreja, «segundo a medida concedida por Cristo» (Ef. 4,7). […]  Segundo o grau de ciência, competência e autoridade que possuam, têm o direito, e por vezes mesmo o dever, de expor o seu parecer sobre os assuntos que dizem respeito ao bem da Igreja (LG 33. 37).

Portanto, i) não existe a “lista dos blogs oficiais da Igreja Católica”, ii) ninguém precisa de autorização explícita da hierarquia para falar da Igreja Católica, e iii) a comunhão com a Igreja depende da sintonia entre o discurso de um veículo de comunicação e o ensino da Igreja, e não de se o site é mantido por um leigo, um bispo, uma diocese ou uma Conferência. Neste último quesito, aliás, o Deus lo Vult! vai muito bem na fita, obrigado. Só o que é “opinião pessoal” minha aqui é o que está devidamente identificado como tal: este blog traz com freqüência documentos do Magistério, textos de catequese, escritos dos santos, de teólogos, de Papas, et cetera. E não existe aqui, nem mesmo entre as “opiniões pessoais”, nada que seja contrário à Doutrina Católica.

A acusação de que o blog só permite comentários que, «independentemente de lógica ou não, defendam a igreja católica e ataquem outras crenças» é de uma injustiça atroz. Todo mundo sabe (e inclusive disso muita gente reclama) que, aqui no blog, comentam gatos, cachorros e papagaios, ateus e espíritas, gays, protestantes e pagãos, todo mundo. Aliás, eu não conheço nenhum outro lugar da internet lusófona onde sejam permitidos tantos comentários contraditórios quanto aqui. É possível concordar com esta política (mantida, aliás, desde o início do blog com alterações mínimas que infelizmente foram necessárias) e é possível discordar dela, mas não é aceitável contrariar a realidade e dizer simplesmente que tal política não existe.

Por fim, “apostasia” é o “repúdio total da Fé Católica”, coisa que este blog obviamente não faz e qualquer pessoa que não seja analfabeta é capaz de perceber com cinco minutos por aqui. A acusação absurda e ofensiva é depravadamente falsa, sem o menor cabimento, e contra ela eu manifesto o meu mais veemente repúdio.

O objetivo deste blog é servir a Igreja Católica. Se ele não atinge os fins para os quais foi criado (e muitas vezes há muita coisa a melhorar) é propter peccata mea. Posso facilmente aceitar (e eu penso nisso todos os dias) que o Deus lo Vult! poderia e deveria ser bem melhor; mas daí a “trabalhar a favor da apostasia” vai uma distância imensa e absurda, cuja transposição qualquer pessoa com tele-encéfalo minimamente desenvolvido e polegar opositor percebe ser totalmente nonsense. E disto eu tenho convicção por conta dos comentários que recebo de pessoas normais, de bons católicos, tanto leigos quanto sacerdotes. Porque, afinal de contas, para medir a ortodoxia de um apostolado, são estas as manifestações dignas de credibilidade – e não as diatribes de um jornalista anti-clerical de Taubaté.

A porca retorna ao lamaçal

“[O Ecumenismo é], na verdade, uma traição a Jesus Cristo. Dar esperanças de que há salvação por qualquer outro caminho que não seja Jesus Cristo. Então tudo isso foi me afastando [da Igreja]. A princípio eu pensei que estes erros e outros (…) eram em razão do Concílio Vaticano II. Eu disse (…) estes papas chamados ‘conciliares’, a partir de João XXIII até Bento XVI não são papas. Eles são falsos papas. E eles é que trouxeram isso. Mas, para a minha surpresa, estudando a história da Igreja, eu descobri que esses erros que nós vivemos hoje, eles já estavam de alguma maneira desde o início do catolicismo, por volta do século IV, a partir de Constantino”.

– Diácono Francisco Almeida Araújo.

Foi “pastor” batista. Deixou a Igreja Evangélica, voltou para a Igreja Católica onde foi ordenado diácono e, hoje, arrepende-se profundamente disso. Está empenhado em divulgar publicamente a sua apostasia. Retornou ao lamaçal de onde, com a graça de Deus, saíra. É lamentável.

Escreveu uma confissão pública, no fim da vida. Gravou um testemunho em vídeo. A porca retorna ao lamaçal (cf. IIPd 2, 22) – é lamentável! É como fala a passagem dos Evangelhos:

Quando o espírito impuro sai de um homem, ei-lo errante por lugares áridos à procura de um repouso que não acha. Diz ele, então: Voltarei para a casa donde saí. E, voltando, encontra-a vazia, limpa e enfeitada. Vai, então, buscar sete outros espíritos piores que ele, e entram nessa casa e se estabelecem aí; e o último estado daquele homem torna-se pior que o primeiro. Tal será a sorte desta geração perversa (Mt 12, 43-45).

E as “razões” dadas pelo neo-herege são totalmente desarrazoadas. Falou em “ecumenismo”, confundindo-o com a “ecumania” irenista tantas vezes condenadas pela Igreja. Não explicou os motivos que o levaram do sedevacantismo para o protestantismo; para quem assiste ao vídeo, a impressão que fica é somente a de que um abismo atrai outro abismo. Mentiu, dizendo que a infalibilidade papal era desconhecida até o século XIX. Distorceu, para variar, a Doutrina Católica referente à mediação única de Nosso Senhor e à intercessão dos santos. Defendeu a noção estúpida e anti-bíblica de que Deus não recompensa as boas obras dos cristãos, chegando inclusive ao cúmulo de afirmar o nonsense (frontalmente contrário à realidade, aliás) de que nós fazemos boas obras porque esta é a nossa natureza. É lamentável.

A Cruz de Nosso Senhor foi “suficiente”? Sem dúvidas que o foi, mas o que significa isso? Que Ela é a fonte da qual brotam todos os méritos, o instrumento da nossa redenção somente em união ao qual podemos também nós merecer sobrenaturalmente o que quer que seja? Se for isso, então em nada se distingue esta concepção da Doutrina Católica, estando o sr. Francisco a atacar espantalhos. Agora, se ele quiser dizer que ninguém precisa fazer nada e ninguém é capaz de merecer nada, bastando “sozinha” a Cruz de Cristo sem nenhuma cooperação humana, então esta doutrina é diabólica e anti-bíblica. Porque é o Apóstolo quem diz, para calar a boca do herege:

O que falta às tribulações de Cristo, completo na minha carne, por seu corpo que é a Igreja (Cl 1, 24).

Repito novamente: é lamentável! Que a Virgem Santíssima, que já intercedeu uma vez pelo diácono Francisco livrando-o da boca do leão, possa socorrer-lhe novamente neste momento em que ele cospe n’Aquela que o ajudou em suas necessidades. E que cada um examine a si mesmo, sempre! Quem julga estar de pé, cuide para que não caia (cf. 1Cor 10, 12) – é o ensino escriturístico cristalino, contra a doutrina anti-bíblica da “certeza da salvação”. E do qual a cada dia encontramos mais e mais exemplos, como a própria história do diácono Francisco nos mostra.

Sobre o mesmo assunto, ler também:

Comentários em um testemunho de apostasia

Algumas considerações sobre o caso do ex-diácono Francisco Araújo

P.S.: Ao que consta, morreu reconciliado com a Igreja. Deo Gratias.

Curtas

Candidata do PT vai à missa e recebe benção de mães de santo. Calma, não foi ao mesmo tempo. A missa foi pela manhã e, a macumba, à noite. Detalhe: “[a] missa da qual Dilma participou faz parte da programação do 16º Congresso Eucarístico Nacional, promovido pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB)”.

E foi noticiada pela CNBB: Na missa dos excluídos, Dilma Rousseff fala sobre Ficha Limpa e Congresso Eucarístico. Pelas fotos que há no site da Conferência, eu acho – e sinceramente espero – que ela não tenha falado isso na Missa, e sim após a Missa. O que vem a ser uma “missa dos excluídos”, no entanto, acho que é assunto para um sínodo eucarístico tupiniquim definir.

* * *

– Outro assunto: padre deixa batina durante Missa para ser “pastor”. As aspas são minhas, porque no título original há uma maiúscula que considero quase blasfema [p.s.: e que foi corrigida – obrigado, Claudiomar!]. Em um dos links lá citados, há a seguinte declaração do sacerdote: “Não tem condição de eu voltar porque eu conheço a palavra. Deixe eu dizer uma coisa a você, 90% das pessoas que estão na igreja, porque gostam deste negócio de imagem, gosta de procissão, a gente prega sobre a idolatria e aí as pessoas não aceitam que está na palavra, então este foi um dos grandes motivos da minha saída”. Deus do Céu, qualquer criança semi-catequizada não se deixa engabelar por esta conversa mole protestante! Alguém feche o seminário de onde este homem saiu.

Enquanto isso, na Austrália, há uma campanha “Becoming Catholic”. A chamada logo no início da página diz: “Bem-vindo. A porta está aberta. Você está interessado em se tornar católico?”. E há diversos textos disponíveis, sobre “como alguém se torna católico”?, “a jornada”, “quem vai lhe acompanhar?”. Excelente iniciativa! Quando veremos uma coisa parecida aqui, nesta Terra de Santa Cruz?

* * *

CNBB reforça veto a padres homossexuais, segundo a Folha. Lá no final do texto: “Para Toni Reis, presidente da ABGLT (Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais), a posição da Igreja é uma ‘atitude da idade das trevas'”. É, a Gaystapo não dorme…

E confunde deliberadamente as coisas. Recentemente, uns alunos da USP protestaram contra um artigo “homofóbico” de um jornal de estudantes de Farmácia. Concedamos: o artigo d’O Parasita é agressivo. Trata-se de resposta dos alunos à imposição gayzista, tudo bem, entende-se; mas conclamar as pessoas a jogarem fezes nos homossexuais ultrapassa os limites do razoável e os faz perder a razão.

Coisa completamente diferente encontramos nas declarações dos bispos brasileiros. No entanto, em Porto Alegre, uma ONG gayzista está organizando uma manifestação na frente da Catedral, próxima quarta-feira, ao meio dia, para protestar contra as “declarações homofóbicas” de Dom Dadeus. Aos católicos de Porto Alegre, se puderem, peço que defendam a Catedral! Afinal de contas, nunca se sabe do que os fanáticos da Gaystapo são capazes. E Nosso Senhor saberá recompensar os católicos fiéis.

No início do mês, na Inglaterra, prenderam um protestante que “ousou” dizer que o homossexualismo era pecado. É esta a tolerância da Gaystapo, é isto o que os gayzistas querem. Não nos deixemos enganar. Não nos intimidemos diante da histeria dos ímpios. Sejamos firmes, sejamos católicos. Que São Miguel Arcanjo nos defenda no combate.

Campanha de apostasia lusitana

Em um comentário que alguém fez aqui hoje, nem me lembro onde, era feita menção a esta Campanha de Apostasia 2010, da Associação Ateísta Portuguesa. As suas justificativas:

Apenas cerca de 18 por cento dos portugueses se afirmam como “católicos praticantes”, um número que tem vindo a diminuir de forma consistente ao longo dos anos;

Desde 2007 existem por ano mais casamentos civis do que religiosos;

Desde 2008 cerca de um terço dos nascimentos ocorrem inclusive fora do casamento, segundo dados do INE.

Estes números ilustram uma clara e progressiva secularização da sociedade Portuguesa, de todo incompatível com a encenação pia levada a efeito [a visita do Papa Bento XVI a Portugal] com a cumplicidade e a expensas do estado laico.

A proposta dos membros da AAP é o envio, à paróquia onde foram batizados e à diocese à qual ela pertence, de uma “carta de pedido de apostasia”, onde se pede que o nome do ateu seja removido dos livros de Batismo – nos quais deve ser registrado: “Renegou ao seu baptismo e foi declarado apóstata por carta escrita”.

Para entender melhor qual a reivindicação dos lusitanos apóstatas, vale a pena ler o seguinte texto do Pontifício Conselho para [a interpretação d]os textos legislativos: sobre o Actus formalis defectionis ab Ecclesia catholica. Quanto a esta campanha, só dois comentários e uma pergunta:

1. Um comentário: é honesta a atitude dos apóstatas. Têm o meu total apoio. Lógico que eu não desejo que ninguém abandone a Fé Católica sem a qual é impossível agradar a Deus, mas todos sabemos que a Fé não pode ser imposta ou forçada. Se o sujeito não quer ser católico, que não seja. Nós outros continuaremos a rezar por ele.

2. A pergunta: quais são os “privilégios injustos e injustificáveis” que a Igreja Católica está “reclamando” junto ao estado laico português? Afinal de contas, de quê exatamente se queixam os ateus?

3. Outro comentário: se os ateus estão dizendo que só 18% dos portugueses são católicos praticantes e, por isso, não se justifica a “tolerância de ponto” que está sendo concedida a estes católicos durante a visita pontifícia, quero só ver a quantidade de apostasias formais que a AAP vai conseguir. Porque, embora seja até provável que muitos não abracem com entusiasmo a Fé Católica e Apostólica, duvido muitíssimo que sejam muitos os que abracem com fervor a fé atéia. Sugiro à AAP que, depois, produza um relatório com as solicitações formais que foram realizadas. E vamos ver do lado de quem os números estão.

En Passant

O “Pacientes na Tribulação” resolveu escrever contra um artigo do Veritatis Splendor – artigo este, aliás, que foi posteriormente tirado do ar pelo próprio VS. Não tenho tempo para me meter na polêmica agora [ainda tenho, aliás, algumas pendências com os senhores Sandro Pontes e Felipe Coelho aqui, das quais não me esqueci]; gostaria somente de registrar o ocorrido e comentar uma frase feita nos comentários. O autor do blog disse o seguinte:

Quando os protestantes falam em “Roma”, eles querem atacar a Igreja Católica enquanto instituição. Quando um tradicional usa o termo “Roma modernista”, ainda que impróprio, refere-se aos modernistas infiltrados na Santa Igreja de Roma.

E isso não me parece uma diferença lá muito grande, porque também os protestantes não atacam “a Igreja em Si” com a clareza de consciência de que o estão fazendo, e sim a Igreja Católica que, para eles, não é a Igreja de Cristo. Pari passu, quando os “tradicionalistas” atacam o Papa [que, para alguns, não é o Vigário de Cristo…], a semelhança [antes que comecem os protestos, uso o termo “semelhança” de propósito, a “igualdade” preferindo-o] é evidente.

– Na Argentina [a notícia tem um mês mas eu ainda não comentei sobre o assunto aqui] segue o processo de descristianização da sociedade por meio da campanha de apostasia coletiva promovida no país. Os inimigos da Igreja que, antes, agiam de maneira sutil, envenenando a cultura, promovendo anti-valores nos meios de comunicação, debochando dos religiosos, etc., agora saem às ruas para, às claras, falar em apostasia e em repúdio formal à Igreja de Nosso Senhor.

A campanha de apostasia em andamento na Argentina foi lançada no dia 7 de março com o slogan “Não em meu nome!”. O objetivo é fazer chegar á Igreja católica argentina o maior número de pedidos de apostasia. A este propósito foi criado um site onde os interessados a pedir a apostasia podem baixar e preencher uma carta endereçadas às autoridades eclesiásticas.

Deus tenha piedade da Argentina.

Missas suspensas em Cidade do México, por causa da gripe suína; o México confirmou a oitava morte. Os colégios estão fechados, mas as igrejas não: os fiéis podem continuar a rezar nelas, caso o desejem. Não entendo, portanto, o motivo da suspensão das celebrações; da última vez que isso aconteceu no México, os motivos eram mais sérios e, os resultados, foram mais trágicos [aliás, vale muito a pena – recomendo enfaticamente – ver um velho cristero falando sobre “el gobierno cabrón” e cantando Viva Cristo Rei!]. Que Nossa Senhora de Guadalupe proteja o México: Santa Maria de Guadalupe, a ti rogamos proteção e amparo, para que em breve vençamos essa epidemia que afligiu o nosso país, pois tu nos amas com um afeto especial. Com o teu cuidado maternal velas sobre nós e com a tua intercessão maternal estás sempre disponível para nós.

Garota em São Paulo está grávida da namorada; lesbianismo, dupla de homossexuais cuidando de crianças, fecundação artificial heteróloga, barriga de aluguel: um verdadeiro compêndio de imoralidades e de ofensas à lei de Deus. Segundo a notícia dada por Jamildo, o que as duas querem “é sair da maternidade juntas, com um documento que permita registrar as crianças no cartório com o sobrenome de cada uma e o nome das duas mães na certidão de nascimento”; acaso isso é permitido no Brasil?! Ontem à noite, nasceram os gêmeos. Diante das câmeras. Sob o entusiasmo dos gayzistas de todos os naipes. Tenha Deus misericórdia de nós todos.

Niterói: padre excomungado

Eu havia comentado aqui há um mês sobre a valente atitude de Dom Alano, Arcebispo de Niterói, quando do afastamento de um padre e da exigência de uma retratação dos “fiéis” que cometeram o sacrilégio de, em sinal de “protesto” pelo sobredito afastamento, darem às costas (!!!) à celebração da Santa Missa pelo padre designado para assumir a paróquia.

Agora, um mês depois, um amigo sacerdote de Niterói deu-me a triste notícia de que o sacerdote afastado por Dom Alano apostatou e se uniu à “Igreja Católica Apostólica Brasileira”. A mesma notícia foi dada – só vi depois – pelo Fratres in Unum.

Sinceramente, eu não consigo entender o que leva um sacerdote do Deus Altíssimo a trocar a sua dignidade pela primeira igrejola meia-boca e tosca que se lhe apresente. A atitude que provoca escândalo termina por arrastar à perdição também as almas dos fiéis pelas quais o padre apóstata era responsável – a mesma notícia d’O Dia acima linkada fala que “ele celebra no quintal de outra residência missas que vêm atraindo cerca de 150 pessoas”. Cento e cinqüenta almas, arrancadas à Santa Igreja de Deus, arrastadas para a lama por causa de um mau sacerdote!

Nota Oficial da Arquidiocese de Niterói
Nota Oficial da Arquidiocese de Niterói

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Dom Alano teve mais uma vez a valentia – que falta que isto faz nos nossos dias; que exemplo de sucessor dos Apóstolos, sentinela fiel da parcela do povo de Deus a ele confiada! – de denunciar o erro. Em uma nota oficial emitida pela Arquidiocese, afirmou sem arrodeios que o padre incorreu no delito de apostasia e, portanto, “colocou-se fora da nossa comunhão eclesial” – ou seja, foi excomungado. Adverte ainda as pessoas que “participarem das celebrações da ICAB incorrem formalmente no pecado de apostasia e se colocam fora da comunhão da Igreja Católica Apostólica Romana”.

Termina Sua Excelência Reverendíssima pedindo as orações de todos pelo sacerdote e pelos fiéis que estejam tentados a segui-lo em sua loucura, “a fim de que, por intercessão da Virgem Maria arrependam-se de seus erros e retornem um dia ao seio da Verdadeira Igreja de Jesus Cristo”. Rezemos, sim, por esta terrível notícia que é motivo de profunda tristeza para toda a Igreja; e agradeçamos a Deus pela exemplar atitude de Dom Frei Alano Maria Pena, O.P., valente sucessor dos Apóstolos e honra dos filhos de São Domingos.