Site da Arquidiocese de Olinda e Recife deforma católicos: Carta de bispos eméritos revolucionários é apresentada como material de “formação”!

Nem só de apoios oficiosos ao Grito dos Excluídos vive a Arquidiocese de Olinda e Recife. Não satisfeita em envergonhar os católicos com a descabida participação do Arcebispo Metropolitano num evento onde se contradiz abertamente a doutrina da Igreja Católica, a Mitra também colocou no seu site oficial, na página principal, na seção de “Formação” (!), uma carta divulgada por três bispos eméritos na qual qualquer pessoa com dois dedos de testa reconhece o brado revolucionário de velhos inimigos de Cristo ávidos por transformarem a Igreja Católica no seu próprio e mesquinho projeto fracassado de uma “igreja” em tudo diferente d’Aquela fundada por Nosso Senhor.

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Sob o bem-sonante pedido por uma «Igreja servidora e pobre», os três bispos eméritos – «Dom José Maria Pires, arcebispo emérito da Paraíba, Dom Tomás Balduino, bispo emérito de Goiás e Dom Pedro Casaldáliga, bispo emérito de São Félix do Araguaia» – destilam o seu veneno e conclamam os seus leitores a se colocarem contra a Igreja Católica. As informações abertamente falsas e insinuações diabólicas ocorrem em tal profusão que não podem ser fruto de mero descuido: ao contrário, indicam a tentativa consciente e deliberada de atingir a Igreja nas Suas características essenciais. Veja-se:

A organização do papado como estrutura monárquica centralizada foi instituída a partir do pontificado de Gregório VII, em 1078.

Trata-se de mentira pura e simples. Qualquer pessoa que tenha alguma vez na vida lido algum documento do Concílio Vaticano II (que essas raposas velhas, mentindo de forma descarada, evocam a seu favor!) sabe que a Lumen Gentium dedica um capítulo à «Constituição Hierárquica da Igreja» (LG, Cap. III), onde se pode ler que «para que o (…) episcopado fosse uno e indiviso, colocou o bem-aventurado Pedro à frente dos outros Apóstolos e nele instituiu o princípio e fundamento perpétuo e visível da unidade de fé e comunhão» (LG 18, destaques meus). Não foi portanto Gregório VII quem colocou o papado como uma estrutura monárquica: foi o próprio Nosso Senhor!

Durante o 1º milênio do Cristianismo, o primado do bispo de Roma estava organizado de forma mais colegial e a Igreja toda era mais sinodal.

É mesmo? Quem disse? Não aceitemos levianamente essa “estória” da Carochinha contada por velhos maliciosos no afã de enganar os incautos. Olhemos a História. E, dentre inumeráveis exemplos que poderíamos aduzir aqui para demonstrar a falsidade dessa afirmação dos três bispos eméritos, fiquemos somente com um. De Santo Ireneu de Lião. Que aliás não era Papa.

Mas visto que seria coisa bastante longa elencar, numa obra como esta, as sucessões de todas as igrejas, limitar-nos-emos à maior e mais antiga e conhecida por todos, à igreja fundada e constituída em Roma, pelos dois gloriosíssimos apóstolos, Pedro e Paulo (…). Com efeito, deve necessariamente estar de acordo com ela, por causa da sua origem mais excelente, toda a igreja, isto é, os fiéis de todos os lugares, porque nela sempre foi conservada, de maneira especial, a tradição que deriva dos apóstolos (Sto. Ireneu de Lião, “Contra as Heresias”, Livro III, 3,2. Ed. Paulus, 2ª Edição, 1995, pp.249-250. Grifos meus).

Isto é o que era pregado e crido no século II! Isso sim é História, e isso era o que deveria estar na área de “Formação” de um site que se pretendesse católico. Não as doutrinas vãs de três lobos disfarçados de pastores. Vê-se, assim, que a única “forma colegial” que sempre vigorou na Igreja de Cristo é precisamente aquela da qual fala o Concílio Vaticano II: «o colégio ou corpo episcopal não tem autoridade a não ser em união com o Romano Pontífice, sucessor de Pedro, entendido com sua cabeça, permanecendo inteiro o poder do seu primado sobre todos, quer pastores quer fiéis. Pois o Romano Pontífice, em virtude do seu cargo de vigário de Cristo e pastor de toda a Igreja, tem nela pleno, supremo e universal poder que pode sempre exercer livremente» (LG 22). Esta é a doutrina católica, frontalmente contrária à tagarelice publicada com destaque no site da Arquidiocese de Olinda e Recife.

Concílio Vaticano II orientou a Igreja para a compreensão do episcopado como um ministério colegial. Essa inovação encontrou, durante o Concílio, a oposição de uma minoria inconformada. O assunto, na verdade, não foi suficientemente amarrado.

Na verdade, está tudo perfeitamente amarrado. Citando de novo a Lumen Gentium (grifos meus):

A Ordem dos Bispos, que sucede ao colégio dos Apóstolos no magistério e no governo pastoral, e, mais ainda, na qual o corpo apostólico se continua perpetuamente, é também juntamente com o Romano Pontífice, sua cabeça, e nunca sem a cabeça, sujeito do supremo e pleno poder sobre toda a Igreja (63), poder este que não se pode exercer senão com o consentimento do Romano Pontífice. Só a Simão colocou o Senhor como pedra e clavário da Igreja (cfr. Mt. 16, 18-19), e o constituiu pastor de todo o Seu rebanho (cfr. Jo. 21, 15 ss.); mas é sabido que o encargo de ligar e desligar conferido a Pedro (Mt. 16,19), foi também atribuído ao colégio dos Apóstolos unido à sua cabeça (Mt. 18,18; 28, 16-20) (64). Este colégio, enquanto composto por muitos, exprime a variedade e universalidade do Povo de Deus e, enquanto reunido sob uma só cabeça, revela a unidade do redil de Cristo. Neste colégio, os Bispos, respeitando fielmente o primado e chefia da sua cabeça, gozam de poder próprio para bem dos seus fiéis e de toda a Igreja, corroborando sem cessar o Espírito Santo a estrutura orgânica e a harmonia desta (LG 22).

Querer forçar uma “colegialidade” independente do Romano Pontífice, assim, significa trair o Concílio Vaticano II. Significa não resgatar um ensinamento que não está “suficientemente  amarrado”, mas sim desdizer abertamente o que os Padres Conciliares ensinaram para toda a Igreja. Quem esses três bispos velhos pensam que são para contradizer tão descaradamente assim todos os bispos católicos do mundo reunidos com o Papa em um Concílio Ecumênico?

Entretanto, para dar passos concretos e eficientes nesse caminho – e que já está acontecendo – ele [o Papa Francisco] precisa da nossa participação ativa e consciente. Devemos fazer isso como forma de compreender a própria função de bispos, não como meros conselheiros e auxiliares do papa, que o ajudam à medida que ele pede ou deseja e sim como pastores, encarregados com o papa de zelar pela comunhão universal e o cuidado de todas as Igrejas.

O chamado ao cisma é sutil mas não pode deixar de ser apontado. Para os autores dessa carta diabólica, os Bispos não deveriam meramente ajudar o Papa «à medida que ele pede ou deseja». A conseqüência lógica e imediata disso é que os Bispos, segundo esta carta que está na parte de “Formação” do site oficial de uma Arquidiocese Católica, deveriam agir por conta própria – «como pastores» – mesmo que o Papa não peça ou não deseje! Ou seja, mesmo contra a vontade do Romano Pontífice! Coisa mais estranha ao catolicismo não pode haver. Contra esta doutrina absurda, repetimos de novo o que já citamos da Constituição Dogmática Lumen Gentium: «o colégio ou corpo episcopal não tem autoridade a não ser em união com o Romano Pontífice» (LG 22). E essa «união» não é uma palavra vazia ou uma mera formalidade, mas ao contrário: para ser real, precisa ser efetiva. Alguém consegue imaginar coisa mais estranha a qualquer possível “união” do que agir à revelia do seu superior, mesmo contra a sua vontade? No entanto, é exatamente isso o que advogam os três autores desta malfadada carta! E a Arquidiocese de Olinda e Recife ainda a coloca com destaque na seção de “Formação” do seu site!

A ocasião, pois, é de assumir o Concílio Vaticano II atualizado

Três raposas velhas não têm autoridade nenhuma para “atualizar” o que todos os bispos do mundo chancelaram em união com o Papa. Deve-se assumir o Concílio Vaticano II com honestidade, com escrupuloso respeito àquilo que ele ensina, e não com essa “atualização” pirata que estas múmias putrefatas querem nos empurrar.

(…) reivindicando os plenos direitos da mulher, superando a respeito os fechamentos advindos de uma eclesiologia equivocada.

Para bom entendedor, pingo é letra. Quais são os «fechamentos» impostos às mulheres pela Igreja? A referência à ordenação feminina salta aos olhos. No entanto, sobre este assunto já se manifestou definitivamente o Magistério da Igreja por meio do Papa João Paulo II:

Portanto, para que seja excluída qualquer dúvida em assunto da máxima importância, que pertence à própria constituição divina da Igreja, em virtude do meu ministério de confirmar os irmãos (cfr Lc 22,32), declaro que a Igreja não tem absolutamente a faculdade de conferir a ordenação sacerdotal às mulheres, e que esta sentença deve ser considerada como definitiva por todos os fiéis da Igreja (Ordinatio Sacerdotalis, 4).

Esta é a sã eclesiologia católica, que três bispos eméritos têm a desfaçatez de chamar de «equivocada» em uma carta à qual a Arquidiocese de Olinda e Recife dá publicidade por meio do seu site oficial! Afinal de contas, o que pretende a Mitra olindo-recifense? Servir à Igreja ou espalhar a revolta contra Ela?

[O] clericalismo vem excluindo o protagonismo eclesial dos leigos e leigas, fazendo o sacramento da ordem se sobrepor ao sacramento do batismo e à radical igualdade em Cristo de todos os batizados e batizadas.

É exatamente pelo fato desses três bispos serem batizados que devem respeito às autoridades eclesiásticas, em particular ao Magistério da Igreja. E, portanto, não poderiam jamais vir a público usando as suas credenciais de «bispos eméritos» para atacar a Igreja Católica e promover a subversão de Sua Doutrina. Que estes bispos comecem dando o exemplo e respeitando com seriedade as obrigações decorrentes do seu Batismo, em particular a submissão àquilo que ensina a Santa Madre Igreja! Seria engraçado se não fosse trágico: quando querem minar a importância do sacerdócio católico, falam em «radical igualdade em Cristo de todos os batizados e batizadas». Para poderem passar uma falsa aparência de autoridade nos seus ataques ao que a Igreja ensina, no entanto, não coram de vergonha em se alardearem bispos com o pretenso direito de agir mesmo quando o Papa não peça ou não deseje! E é esta hipocrisia sem tamanhos que o site da Arquidiocese apresenta como “Formação” para os católicos que por lá passarem!

Nos nossos países, é preciso ter a liberdade de desocidentalizar a linguagem da fé e da liturgia latina.

A tagarelice é pura birra contra a Igreja. Nós, países latino-americanos, estamos jurídica e historicamente ligados ao Rito Romano, quer os três bispos gostem, quer não. E ainda: que me conste, nós estamos no Ocidente! Nada do que é “ocidental” nos é estranho.

Finalmente, está em jogo o nosso diálogo com o mundo. Está em questão qual a imagem de Deus que damos ao mundo e o testemunhamos pelo nosso modo de ser, pela linguagem de nossas celebrações e pela forma que toma nossa pastoral.

O testemunho que somos chamados a dar ao mundo passa pelo respeito à nossa própria identidade e pela obediência àquilo que anunciamos. Ora, que “testemunho” é possível dar ao mundo quando se levanta de maneira tão cretina contra a instituição que se diz servir? Como é possível testemunhar alguma coisa para os de fora quando três bispos eméritos clamam à rebelião contra os fundamentos da Igreja? O que estes bispos eméritos estão fazendo, na verdade, é um grandíssimo e eloqüente contra-testemunho. Que a Arquidiocese de Olinda e Recife faça coro a tão grande pedra de tropeço é um escândalo injustificável.

“É hora de despertar, é hora e de vestir as armas da luz” (13,11). Seja essa a nossa mística e nosso mais profundo amor.

É verdadeiramente irônico que terminem conclamando os leitores a vestir «as armas da luz» três lobos caquéticos que no decurso do seu texto teceram incansáveis loas ao nefasto Pacto das Catacumbas

Vistamos, sim, as armas da luz, que são as armas da Verdade. E, como vimos, a Verdade passa longe desta carta escrita por três bispos eméritos que, longe de quererem servir à Igreja de Cristo, são movidos por um amor desmesurado a si próprios e a “modelos” fracassados de igreja que eles não conseguiram enquanto jovens colocar no lugar da Igreja de Nosso Senhor. Pretendem consegui-lo agora, quando já estão velhos e quando as suas mentiras já estão mais do que batidas?

Entre o que ensina a Igreja e o que dizem três hippies velhos que perderam o bonde da história, é bastante óbvio que qualquer pessoa que tenha amor à própria alma deve dar ouvidos não a estes, mas sim Àquela que é a Esposa de Cristo. Desgraçadamente, há aqueles que preferem deformar os fiéis católicos pelos quais tinham o dever de zelar. É verdadeiramente lamentável que a Arquidiocese de Olinda e Recife prefira se unir aos escarnecedores e transformar o seu site oficial em palanque para que velhos caquéticos destilem o seu ranço anti-católico e conclamem os seus ouvintes a uma ridícula rebelião contra Aquela que as portas do Inferno jamais vencerão. É uma vergonha que um site de uma Arquidiocese católica se preste a disseminar assim a revolta contra a Igreja.

Igreja Católica e politicagem eclesial

Eu havia lido este artigo nonsense publicado pelo Correio do Brasil. Pode ser classificado simplesmente como “lixo” por uma série de motivos, entre os quais pode-se destacar:

a) não existe no país uma “ultradireita católica”;
b) caso existisse, certamente ela se identificaria mais com os “conservadores” do que com os progressistas;
c) a Igreja não se identifica com os “progressistas” (como o título dá a entender);
d) as comparações com a política (p.ex., falar em setores da Igreja “no campo da centro-direita” (sic)) simplesmente não se aplicam à Igreja;
e) nunca existiu uma “campanha de difamação contra Dilma Rousseff” nos panfletos escritos pela Regional Sul 1 para as eleições presidenciais de outubro passado;
f) etc.

O artigo é tão ruim – mas tão ruim – que eu imediatamente o associei àquele tipo particularmente calhorda de mídia que pode ser classificada simplesmente como máquina de propaganda da mentira (por mais deslavada que seja), com o objetivo de fazê-la passar por verdade por mera força da repetição. Os fatos praticamente se perdem e só a muito custo são encontrados por debaixo da torrente ideológica despejada pelo artigo. O “esquema” (de apresentar a Igreja como um reflexo do [rascunho mais superficial do] jogo político brasileiro) simplesmente não comporta a realidade eclesial e, portanto, todo o longo e enfadonho artigo possui desde o começo um vício de princípio que o compromete totalmente – é já natimorto.

A Igreja não pode ser entendida por meio da simplificação grosseira de “direita” e “esquerda” (relativamente) válidas na esfera política. A Igreja existe antes da política poder ser dividida em “esquerda e direita”. Aliás, a própria política é muito mais complicada do que isto e, quando se vai analisar a Igreja, é necessário ter em conta outros fatos que não meramente os políticos: a Igreja é uma sociedade perfeita que existe no mundo para perpetuar a obra de salvação de Nosso Senhor Jesus Cristo e tem por fim precípuo a salvação das almas, uma a uma. O relacionamento da Igreja com os poderes seculares deve ser entendido sempre em subordinação àquele fim, e a própria “política” intramuros da Igreja não cabe no reducionismo maniqueísta dentro do qual alguns querem empurrar a realidade até que ela “caiba” mesmo que à força.

Mas, como às vezes acontece, algumas coisas acidentais acabam sendo interessantes. No caso do artigo do Correio do Brasil, foi o Blogonicvs a notar a fala do excelentíssimo senhor bispo Dom Waldyr Calheiros. Cito-o (o blog, não o bispo): “[e]nquanto nos EUA um cardeal reza pelas vítimas do aborto em frente a um centro de aborto internacional, no Brasil, para o nosso eterno desgosto, alguns bispos pensam (…) que alertar o povo dos perigos de uma candidata que pretende legalizar a morte de inocentes é uma besteira!”. E está muito bem dito.

Quem é, afinal de contas, Dom Waldyr? O Correio do Brasil diz que é da “Diocese de Barra do Piraí e Volta Redonda”. É uma meia-verdade; Sua Excelência é emérito desde 1999… Sobre os bispos eméritos, é fundamental a leitura deste texto do Oblatvs publicado imediatamente após a eleição de Dom Damasceno para a presidência da CNBB, na semana passada. É verdade que “a reforma católica segue avante, ainda que lentamente!”. Mas ainda estamos muito longe de uma situação minimamente aceitável – e ainda temos muito o que fazer.