Ô, ô, seu moço, do disco voador…

Ontem foi um dia estranho. Às seis horas da noite – hora do Angelus -, quando eu já estava saindo do trabalho, uma última olhada no blog revelou-me uma coisa inusitada: o Deus lo Vult! tinha emplacado um post no TOP-10 do WordPress (estava à nona posição hoje de manhã). Ao primeiro impulso de alegria pela alta posição ocupada pelo blog, sobreveio no entanto a frustração quando vi que o post que havia “emplacado” era o que falava sobre os ETs da “Federação da Luz” de ontem.

Um comentário superficial sobre uma história manifestamente absurda e ridícula: eis o que o número de acessos dos internautas elegeu como assunto da mais alta importância! E não foi um fenômeno isolado, porque grande parte dos top-posts, ainda hoje, estão falando sobre a [cancelada] visita dos ETs da sra. Goodchild ao planeta Terra. Dos ETs, ninguém sabe, ninguém viu; tirando alguns fakes na blogosfera (alguns até agora na lista dos Best Of The Day), nada digno de menção aconteceu ontem.

Resultado da brincadeira: mais da metade dos visitantes deste BLOG, ontem, foram pessoas completamente alheias à sua proposta. É muita gente. E fico aqui pensando… o que será que isso significa? Será que há mais pessoas interessadas em ETs e notícias sensacionalistas nonsense do que em coisas (no meu entender) mais sérias como Cristo e a Igreja? Será que ETs são mais interessantes do que os temas que costumam aparecer por aqui? Será que eu deveria fechar o Deus lo Vult! e começar a escrever sobre ufologia? Será que o TOP-10 não significa absolutamente nada? Será que muitas pessoas estão com tempo sobrando para gastar com futilidades? Será que as pessoas são crédulas o suficiente para acreditar em tudo o que lêem?

O meu maior problema atual, no entanto, é o que fazer com as estatísticas bagunçadas pelo surto ufológico de ontem! Culpa dos ETs…

Os ETs de 14 de outubro

Descobri por acaso que os dois primeiros posts em português do “Top Posts from around WordPress.com” referem-se a um fato iminente: vai ocorrer amanhã. O post que encabeça a lista dos TOPs é do dia 18 de setembro, e intitula-se “OVNI em 14 de outubro de 2008”; não tem absolutamente nada, só um vídeo do youtube. E, neste vídeo de seis minutos, regado a “música de ETs” e a imagens de naves espaciais, está a mensagem reveladora.

Começa: a canalizadora australiana Blossom Goodchild está em contato há muitos anos com uma entidade que se autodenomina “Federação da Luz”. O meu primeiro impulso foi achar que era alguma maluquice espírita (sabe Deus o que é uma “canalizadora”), mas fui procurar o site da tal Blossom Goodchild e descobri que Blossom é uma mulher:

Blossom Goodchild é uma médium profissional de “linha direta” (direct voice) que trabalha canalisando espíritos e energias cósmicas [ou “energias espirituais e cósmicas”]. Ela tem canalizado o Espírito Nativo Indígena Americano “Nuvem Branca” há sete anos, e partilha suas mensagens de Amor Incondicional por meio de leituras pessoais e reuniões de grupo.

Pelo que dá para entender da insanidade, portanto, “canalizadora” é uma espécie de médium, e o meu feeling inicial estava correto. A mensagem diz que uma “nave espacial” da tal “Federação da Luz” vai aparecer na Terra – mais precisamente, no Hemisfério Sul – e ficar visível “de forma bastante clara” por três dias. Não há, entretanto, motivo para pânico, porque os ETs vêm “em amor”. Qual a relação entre os ETs e a mediunidade, sabe-o Deus; aquele negócio de projeto SETI parece ter ficado ultrapassado, e a moda agora é comunicação por canais mediúnicos.

Mas o que é realmente bizarro é quando, lá pelos quatro minutos de vídeo, a tal Federação diz: nós temos plantado e regado algumas sementes de verdade no seu planeta em preparação para estes dias. Sementes de Verdade! Plantadas pelos extraterrestres em nosso mundo! Eram os deuses astronautas? Será que os ETs são católicos? Segue a mensagem: o véu será removido. Desengano-me; o véu já foi rasgado há dois mil anos, de modo que não há mais nada para se remover, e qualquer promessa neste sentido é vã e enganadora. Um nonsense envolvido em terminologia religiosa, eis tudo.

Canso-me do blá-blá-blá, olho o relógio: passa das onze. Em muitos lugares do planeta, já é dia 14; vou à janela, olho pro céu. A única coisa claramente visível é a lua cheia, sem dúvidas bonita – se calhar, um espetáculo até mais bonito do que o desfile das supostas naves espaciais. Acho que a Goodchild vai precisar arranjar outro emprego. Boa noite.