A Fé deve ser confessada em toda a sua pureza e integridade – Papa Francisco, Lumen Fidei

Dado que a fé é uma só, deve-se confessar em toda a sua pureza e integridade. Precisamente porque todos os artigos da fé estão unitariamente ligados, negar um deles — mesmo dos que possam parecer menos importantes — equivale a danificar o todo. Cada época pode encontrar pontos da fé mais fáceis ou mais difíceis de aceitar; por isso, é importante vigiar para que se transmita todo o depósito da fé (cf. 1 Tm 6, 20) e para que se insista oportunamente sobre todos os aspectos da confissão de fé. De facto, visto que a unidade da fé é a unidade da Igreja, tirar algo à fé é fazê-lo à verdade da comunhão. Os Padres descreveram a fé como um corpo, o corpo da verdade, com diversos membros, analogamente ao que se passa no corpo de Cristo com o seu prolongamento na Igreja. A integridade da fé foi associada também com a imagem da Igreja virgem, com o seu amor esponsal fiel a Cristo: danificar a fé significa danificar a comunhão com o Senhor. A unidade da fé é, por conseguinte, a de um organismo vivo, como bem evidenciou o Beato John Henry Newman, quando enumera, entre as notas características para distinguir a continuidade da doutrina no tempo, o seu poder de assimilar em si tudo o que encontra, nos diversos âmbitos em que se torna presente, nas diversas culturas que encontra, tudo purificando e levando à sua melhor expressão. É assim que a fé se mostra universal, católica, porque a sua luz cresce para iluminar todo o universo, toda a história.

Papa Francisco
Lumen Fidei, 48

 

“As portas do Abismo nada poderão contra Ela” – Beato John Newman

«Sobre esta pedra edificarei a Minha Igreja; e as portas do abismo nada poderão contra ela.»

Outrora, era uma fonte de perplexidade para quem crê, como lemos nos salmos e nos profetas, ver que os maus tinham êxito onde os servos de Deus pareciam fracassar. E o mesmo se passa ao tempo do Evangelho. E no entanto a Igreja possui este privilégio especial, que mais nenhuma outra religião tem, de saber que, tendo sido fundada aquando de primeira vinda de Cristo, não desaparecerá antes do Seu regresso.

Contudo, em cada geração, parece que sucumbe e que os seus inimigos triunfam. O combate entre a Igreja e o mundo tem isto de particular: parece sempre que o mundo a vence, mas é Ela que de facto ganha. Os seus inimigos triunfam constantemente, dizendo-a vencida; os seus membros perdem frequentemente a esperança. Mas a Igreja permanece. […] Os reinos fundam-se e desmoronam-se; as nações espraiam-se e desaparecem; as dinastias começam e terminam; os príncipes nascem e morrem; as coligações, os partidos, as ligas, os ofícios, as corporações, as instituições, as filosofias, as seitas e as heresias fazem-se e desfazem-se. Elas têm o seu tempo, mais a Igreja é eterna. E contudo, no seu tempo, elas parecerem ter uma grande importância. […]

Neste momento, muitas coisas põem a nossa fé à prova. Não vemos o futuro; não vemos que o que parece agora ter êxito não durará muito tempo. Hoje, vemos filosofias, seitas e clãs alastrarem, florescentes. A Igreja parece pobre e impotente. […] Peçamos a Deus que nos instrua: temos necessidade de ser ensinados por Ele, estamos cegos. Quando as palavras de Cristo puseram os apóstolos à prova, eles pediram-Lhe: «Aumenta a nossa fé» (Lc 17.5). Procuremo-Lo com sinceridade: nós não nos conhecemos; temos necessidade da Sua graça. Qualquer que seja a perplexidade a que o mundo nos induza […], procuremo-Lo com um espírito puro e sincero. Peçamos humildemente que nos mostre o que não compreendemos, que suavize o nosso coração quando ele se obstina, que nos dê a graça de O amarmos e de Lhe obedecermos fielmente na nossa procura.

Sermões sobre os temas do dia, nº 6, «Fé e Experiência», 2.4
Citado por Evangelho Quotidiano, 04/ago/2011

Um novo santo para os nossos tempos?

[Publico tradução livre de email que recebi  da The Cardinal Newman Society. O email original foi republicado, entre outros, por este blog. É uma excelente notícia! A Buhardilla de Jerónimo também noticiou.]

Um novo santo para os nossos tempos?

É oficial! Em uma atitude extraordinária, o Papa Bento XVI vai pessoalmente betificar o Cardeal John Henry Neman, em setembro próximo, na Inglaterra.

Isso coloca o Cardeal Newman a um passo da canonização!

Isto é imensamente importante para qualquer um que esteja preocupado com a situação da cultura e da Igreja Católica na América. O Cardeal Newman seria um santo perfeito para os nossos tempos.

Ele pode ser um poderoso patrono para a renovação da identidade católica na educação católica… para a adoção [embrace] da autêntica teologia católica… e para a emocionante reunificação com os cristãos anglicanos.

Em oração, Deus nos permite cooperar com os Seus planos para a Igreja e para o mundo. Por este motivo, é muito importante que você se junte a nós em nossa Campanha de Oração pela canonização do Cardeal Newman! Você poderia, por favor, parar por um minuto e fazer duas coisas simples?

1) Rezar a “Oração pela canonização” abaixo [N.T.: Traduzi também a referida oração, apenas para fins de facilitar a compreensão. Lembrando que a minha tradução, obviamente, não tem aprovação eclesiástica; quem puder rezá-la no original, recomendo que o faça].

2) Encaminhar esta mensagem para amigos, que irão ajudar a fazer o céu tremer com suas orações [help storm Heaven with prayer].

[Pai Eterno, Vós levastes JOHN HENRY NEMAN a seguir a bondosa luz da Verdade, e ele obedientemente respondeu ao Vosso celestial chamado a todo custo. Como escritor, pregador, conselheiro e educador, como pastor, Oratoriano e servo dos pobres, ele trabalhou na construção do Vosso Reino.

Concedei que, através do Vosso Vigário na terra, nós possamos ouvir as palavras “Muito bem, servo bom e fiel, entrai na companhia dos santos canonizados”.

Que Vós possais manifestar o poder da intercessão do Vosso servo, por meio de extraordinárias respostas às orações dos fiéis em todo o mundo. Nós rezamos particularmente por nossas intenções, em seu nome e no nome de Jesus Cristo, Vosso Filho e Senhor Nosso.

Amen.]

A Sociedade Cardeal Newman (The Cardinal Newman Society (CNS)) é a patrocinadora do Projeto Legado Newman (Newman Legacy Project), um esforço para preservar e promover o pensamento e a influência do Cardeal Newman, especialmente no que se refere à educação católica.

Este trabalho é feito em parceria com o Oratório de Birmingham, Inglaterra, uma pequena comunidade de padres católicos que foi o lar de Newman depois da sua conversão da Igreja Anglicana e até sua morte em 1890.

O Reverendo Richard Duffield, reitor do Oratório, é o postulador [actor] da Causa de Canonização de Newman. Ele também atua como o John Henry Cardinal Newman Distinguished Fellow, do Centro para o Avanço da Educação Superior Católica [The Center for the Advancement of Catholic Higher Education], uma divisão da CNS.

A Sociedade Cardeal Newman e o Oratório de Birmingham estão promovendo juntos uma peregrinação para a sua beatificação, em setembro, a única peregrinação “oficial” dos Estados Unidos que é endossada pelo Oratório.

Para mais informações sobre esta e outras atividades relacionadas ao Cardeal Newman, acesse www.CardinalNewmanSociety.org.

P.S.: Você poderia, por favor, contribuir para ajudar esta Campanha de Oração e todos os trabalhos da The Cardinal Newman Society para renovar e fortalecer a educação superior católica? Por favor clique aqui. Que Deus o abençoe!

Mais curtas

– Sem tempo de traduzir: Muslim Mob Burns Down 100 Christian Homes in Pakistan. A notícia diz que, na manhã de quarta-feira, cem casas e igrejas cristãs foram incendiadas por muçulmanos no Paquistão. Diz que o ataque foi semelhante a um outro realizado em fevereiro de 1997, quando milhares de casas e igrejas cristãs foram queimadas e centenas de cristãos saíram feridos. A polícia chegou ao local, mas a situação estava fora de controle porque milhares de muçulmanos estavam reunidos. Rezemos pelos cristãos perseguidos.

– Charge contra Dom José publicada na Folha de Pernambuco; aquele sorriso idiota não está senão no rosto dos inimigos da Igreja, que se sentem aliviados por não precisarem mais encarar um Sucessor dos Apóstolos que faz jus ao báculo que empunha. Mas o ódio dos anti-clericais a Sua Excelência Reverendíssima só faz dar testemunho em favor do excelente trabalho realizado por Dom José Cardoso Olinda e Recife: os ataques o honram.

Fetos em 3D; que interessante! A técnica permite que sejam gerados modelos tridimensionais físicos dos fetos ainda no útero – vejam algumas fotos aqui. O projeto é do designer brasileiro Jorge Roberto Lopes dos Santos. Só é de se lamentar a diferença entre a aplicação da técnica no Brasil e no Reino Unido: “Enquanto no Brasil o foco principal é tentar fazer com que mães e pais compreendam alguma malformação de seus bebês, no Reino Unido os modelos são usados para incentivar o apego da mãe em relação ao filho”, segundo a matéria de G1.

– Vi hoje no boletim do VIS (aqui reproduzido): o Santo Padre aprovou a publicação do decreto concernente a um milagre do Venerable Siervo de Dios John Henry Newman, inglés, (1801-1890), cardenal y fundador de los Oratorios de San Felipe Neri en Inglaterra. Fico feliz, porque o ex-protestante convertido sempre me pareceu bem digno da honra dos altares.

– “Pretender que alguém possa controlar a natureza e regular os ritmos do clima, sobre tudo quando nem sequer nós somos capazes de predizê-lo corretamente, é algo patentemente absurdo”; foi a frase proferida na International Conference on Climate Change. A conferência já está na sua terceira edição, os cientistas (perto de 400) que dela participaram publicaram um livro de 880 páginas contendo “uma refutação dos mitos climáticos ” e, no entanto, “[e]ssas grandes assembléias não tiveram quase cobertura na mídia brasileira”. Muito perspicaz a frase com que se encerra o artigo: “O catastrofismo ecologista reedita a historinha da criança impotente que pretende frear o mar construindo muralhas de areia. E, ainda depois choraminga porque não está conseguindo”.

Janua Coeli – In Annuntiatione Domini

Die 25 martii

In Annuntiatione Domini

[Visitem o SanctaMissa.org]

HONRAR A MÃE É HONRAR O FILHO

Confessar que Maria é mãe de Deus, é preservar a doutrina do Apóstolo São João que nos diz: “o que vimos e ouvimos vo-lo isso anunciamos” (1Jo 1, 3), fugindo de qualquer subterfúgio; é a pedra de toque com que detectamos as pretensões dos maus espíritos, do “Anticristo que entrou no mundo” (cf. 1Jo 4, 3). Essa confissão declara que Ele é Deus, implica que Ele é homem, sugere que Ele segue sendo Deus, mesmo se fazendo homem; e que é verdadeiro homem, mesmo sendo Deus.

Quando os hereges voltaram a surgir no século XVI, não encontraram tática mais certeira para seus perversos propósitos de destruir a fé verdadeira, ridicularizando e blasfemando contra as prerrogativas de Maria, pois tinham por certo que, se conseguissem que o mundo desonrasse a Mãe, disso se seguiria a desonra do Filho. A Igreja Católica e Satanás estavam de acordo com isso: o Filho e a Mãe estão intimamente ligados; a experiência de quatro séculos confirmou seus testemunhos, pois os católicos que honraram a Mãe seguem adorando o Filho, enquanto os protestantes, que deixaram de confessar o Filho, começaram a zombar da Mãe.

Percebe-se nesse exemplo a coerente harmonia que há na doutrina revelada, como uma verdade repercute sobre a outra. Exaltar Maria é honrar Jesus. Convinha que Maria, que era somente criatura – sendo a mais excelsa de todas – tivesse de levar a cabo a tarefa de instrumento. Como outros, Ela veio ao mundo para realizar uma obra; tinha uma missão a cumprir; possui a graça e a glória não por si mesma, mas por seu Criador. A Maria foi confiada a custódia da Encarnação. A tarefa lhe é encomendada: “Eis que uma Virgem está grávida e dará à luz um filho e dar-lhe-á o nome de Emanuel” (Is 7, 14).

Quando estava na terra cuidou pessoalmente de seu Filho, levou-o em seu seio, abrigou-o com seus braços, alimentou-o em seu peito, agora também – até o último momento da vida da Igreja – seus privilégios e a devoção dirigida a Maria proclamam e definem a fé reta acerca de Jesus como Deus e como Homem. Uma igreja dedicada, um altar que se erige em seu nome, uma imagem, uma ladainha que a louva, uma Ave Maria que se reza, comunica-nos a memória d’Aquele que, sendo louvado desde a eternidade, “não desprezou as entranhas de uma Virgem”, para benefício dos pecadores. Por isso, como a Igreja a proclama, Maria é a Torre de Davi, é a defesa alta e poderosa do verdadeiro Rei de Israel; por isso, a Igreja diz também em uma antífona: “Só Ela destruiu [sozinha] todas as heresias no mundo inteiro”.

[…]

MARIA, PORTA DO CÉU

Maria é chamada Porta do Céu porque foi o caminho que o Senhor escolheu para do céu descer à terra. O profeta Ezequiel, profetizando sobre Maria, diz: “Este pórtico ficará fechado. Não se abrirá e ninguém entrará por ele, porque por ele entrou Iahweh, o Deus de Israel, pelo que permanecerá fechado. O Príncipe, contudo, se sentará aí” (Ex 44, 2-3).

Pois bem, isso se cumpriu, não porque Nosso Senhor tomou a carne de Maria tornando-se seu filho, e sim porque Ela ocupou um lugar na economia da Redenção; cumpriu no espírito e na vontade, como em seu corpo. Eva participou da queda do homem, sendo Adão quem nos representou e seu pecado nos fez pecadores. Foi Eva quem tomou a iniciativa e tentou Adão. A Escritura diz: “A mulher viu que a árvore era boa ao apetite e formosa à vista, e que essa árvore era desejável para adquirir discernimento. Tomou-lhe do fruto e comeu. Deu-o também a seu marido, que com ela estava, e ele comeu” (Gn 3, 6). Convinha, pois, à misericórdia de Deus que, como pela mulher começou a destruição do mundo, também fosse pela mulher que começasse a reconstrução; e como Eva abriu o caminho à obra fatal de Adão, também Maria abrisse o caminho à obra prima do segundo Adão, Nosso Senhor Jesus Cristo, que veio salvar o mundo morrendo na Cruz. Por isso, Maria é chamada pelos Santos Padres, segunda e perfeita Eva, porque deu o primeiro passo na salvação da humanidade que Eva havia levado à ruína.

Como e quando tomou Maria parte inicial, na restauração do mundo? Quando o anjo Gabriel apareceu para lhe dar a conhecer a excelsa dignidade que ia ter. São Paulo diz: “que ofereçais vossos corpos como sacrifício vivo, santo e agradável a Deus: esse é o vosso culto espiritual” (Rm 12, 1). Devemos não só rezar com os lábios, jejuar, fazer penitência exterior, ser castos em nossos corpos, mas também devemos ser obedientes e puros de espírito. Com respeito à Santíssima Virgem, foi desejo de Deus que aceitasse voluntariamente e com pleno conhecimento ser Mãe de Nosso Senhor, não que fosse um mero instrumento passivo cuja maternidade não teria mérito nem recompensa. Quanto mais altos são nossos dons, mais alta é nossa responsabilidade. Não foi uma carga leve estar tão intimamente próxima do Redentor dos homens e a Virgem a experimentou quando sofreu junto com Ele. Por isso, ponderando bem as palavras do anjo antes de dar uma resposta, primeiro perguntou se uma missão tão excelsa, suporia a perda da virgindade que Ela havia consagrado a Deus. Quando o anjo lhe respondeu que de nenhuma maneira, então, com o pleno consentimento de um coração cheio do amor de Deus, com humildade disse: “Eis a serva do Senhor; faça-se m mim segundo tua palavra” (Lc 1, 38). Com esse consentimento se converteu na Porta do Céu.

[Cardeal Newman, “Reflexões sobre a Virgem Santíssima”, pp. 19-21; 64-66. Editora Formatto, São Paulo, 2006]