“Instrução para os católicos do Brasil quanto à distribuição dos panfletos da CNBB Sul 1” – por prof. Carlos Ramalhete

Instrução para os Católicos do Brasil

quanto à distribuição dos panfletos da CNBB Sul-1

Caros irmãos em Cristo:

Pedimos a gentileza de fazer chegar a quantas pessoas puderem estas valiosas instruções de bons Bispos da Igreja, que apontam os perigos que hoje corre o Brasil.

É possível que venham inimigos da Igreja afirmar que ela não tem o direito de se manifestar em público, especialmente em período eleitoral.

Não é verdade. O papel dos Bispos é de ensinar, santificar e reger. Reger significa justamente apontar o caminho, apontar os perigos, identificar os enganos com que o Inimigo tenta prevalecer.

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Boicote à Canção Nova, já!

Chega de sermos católicos mornos, frios e medrosos! […] Como é que nós ficamos assim, como se nada tivesse acontecendo, numa boa, com medo de perder isso, medo de perder aquilo… que perca tudo! Nós só não podemos perder é Jesus Cristo nessa vida. E a nação brasileira tem que ser uma nação cujo Deus é o Senhor!

Impressionante a coragem do pe. José Augusto, na Canção Nova, afirmando claramente uma série de verdades que certos católicos estão empenhados em ocultar – para vergonha nossa. Vejam aqui a primeira parte do vídeo e aqui a segunda. Boas verdades – necessárias verdades! – que, finalmente, é um padre a falar em cadeia nacional. Nos alto-falantes da Canção Nova, enfim empregados com a seriedade que a situação atual exige.

Mas eu prefiro morrer com a verdade do que viver na mentira e depois ir pro inferno. [aplausos] Eu sei que é fácil para vocês baterem palmas. E depois se esconderem. E depois não se pronunciarem, e não se dizerem, com medo! Mas é fácil bater palmas.

Bravo, pe. José Augusto! Infelizmente, era bom demais para ser verdade, e não durou. Neste vídeo, onde é lida uma “nota oficial da Canção Nova”, o Mons. Jonas – custa-me acreditar que tenha sido realmente ele! – diz que “a Canção Nova não apóia candidatos ou partidos; acolhe a todos”. Não, mons. Jonas, não! “A todos”, não! A todos, o senhor não pode acolher, porque não pode acolher os inimigos de Cristo que atentam contra as leis de Deus, contra a vida humana inocente! Os inimigos devem ser combatidos, e não “acolhidos” – a menos que se convertam. “Acolher” os que militam ostensivamente contra Deus é trair a Cristo. A história já mostrou o bastante que, quem poupa o lobo, termina sacrificando as ovelhas.

Como se a desgraça não fosse já suficiente, foi também publicada esta nota da Fundação João Paulo II, “mantenedora do Sistema Canção Nova de Comunicação”, que desqualifica nominalmente o pe. José Augusto:

E, em especial, sobre o episódio desta manhã, 05 de outubro, não autorizamos o pronunciamento público do sacerdote Padre José Augusto Souza Moreira sobre o Partido dos Trabalhadores, bem como a opinião do mesmo representa tão somente seu pensamento, não sendo em hipótese alguma o pensamento da instituição.

Como assim, as palavras do padre José Augusto não são “em hipótese alguma o pensamento da instituição”?! O padre não falou senão sobre fatos públicos amplamente conhecidos e sobre a Doutrina Católica! Acaso o PT não é um partido favorável ao aborto? Acaso não estamos correndo o risco de que o PT ganhe as eleições do próximo dia 31 de outubro? Acaso não é verdade que os católicos não podem apoiar de nenhuma maneira candidatos nem partidos abortistas? Se estas coisas não são “em hipótese alguma o pensamento da instituição”, então a conclusão que se impera é que esta “instituição” não é católica. Outra tese não é possível de sustentar. E olhe que eu nem comentei, neste post, sobre o escândalo do sr. Gabriel Chalita apoiando escancaradamente a candidata abortista do Partido Abortista dos Trabalhadores

Chega. Já é demais. É necessário fazer um boicote expresso à Canção Nova, posto que a emissora, considerada enquanto instituição, está claramente mancomunada com Satanás e já não tem mais a coragem de anunciar o Evangelho. O sal já perdeu o sabor e, portanto, agora não serve senão para ser calcado aos pés dos homens. Os que colaboram financeiramente com a Canção Nova devem deixar de fazê-lo imediatamente, sob pena de cooperação material com uma farsa de catolicismo que não diz a Verdade e ainda persegue e desacredita os que têm a coragem de proclamá-la. Não podemos aceitar que se utilizem assim em vão do Nome de Deus, enganando o povo fiel e prestando tão grande desserviço à Igreja de Nosso Senhor.

CNBB censura artigos de bispos

Isto é incrível! O lúcido e corajoso artigo de Dom Luiz Gonzaga Bergonzini sobre as eleições (que eu reproduzi aqui), provavelmente o melhor artigo sobre a situação política atual no Brasil saído da pena de um bispo, foi censurado pela CNBB!

Ontem, neste link, o artigo estava integralmente reproduzido no site da CNBB. O fato provocou uma grata surpresa em muitos – p.ex., via Twitter – que vislumbravam, enfim, uma luz no fim do túnel quente, escuro e sulfúreo de dentro do qual a Conferência costuma emanar os seus comunicados e decretos. Ontem à noite, para a minha surpresa, soube en passant que o artigo havia sido retirado, e só hoje confirmei o fato: há uma mensagem de “404 – Artigo #4132 não encontrado” na página onde, ainda ontem, ecoavam as sábias palavras do bispo de Guarulhos.

Não obstante, no mesmíssimo site da CNBB ainda se encontra, até agora, um artigo que leva por título “Pastorais Sociais e Organismos da CNBB confirmam apoio ao plebiscito pelo limite de propriedade da terra e ao Grito dos Excluídos”, sobre cujo assunto qual eu também já comentei aqui. Inclusive está, no site da CNBB, a íntegra da nota de Dom Pedro Luiz Stringhini.

Nesta nota pode se ler: “convidamos os cristãos e cristãs das dioceses, paróquias, comunidades, movimentos a engajarem-se neste exercício de cidadania”, qual seja, o plebiscito. Curiosamente, no mesmo site da CNBB, (ainda) tem outro artigo, este bom, de Dom Aloísio Roque Opperman, que está censurado. O original (que recebi por email) dizia ainda: “” (p.s.: enganei-me. O artigo de Dom Opperman está na íntegra – mea culpa. O que foi “censurado” – na verdade, não publicado – foi o de Dom Cristiano Krapf, que também pus aqui no Deus lo Vult!, e que dizia com clareza: “nenhum católico é obrigado a participar de uma campanha promovida por uma entidade qualquer, mesmo que conte com o apoio de setores da CNBB”).

A conclusão que se impera, portanto, para longe de qualquer dúvida, é que o site da CNBB não pode ser considerado um site católico. Afinal de contas, os próprios bispos têm, lá, o seu ensinamento censurado! Ao passo que outros falam o que bem entendem. Que vergonha!

Censura e Liberdade

Reinaldo Azevedo contra a censura na internet. Concordo, para o caso específico, mas não para o geral. A premissa utilizada pelo articulista – “os males da liberdade se combatem como mais liberdade” – é falsa. Atenção! O Reinaldo Azevedo faz questão de frisar que isto se aplica “nesse caso”. No entanto, faltou a ele dizer o resto da sua posição; e em outros casos, como se combatem os males da liberdade?

“Liberdade” – na definição que sempre ouvi atribuída a Santo Agostinho, mas não sei a referência – “não é fazer o que se quer, e sim fazer o que se deve porque quer”. À primeira vista, a frase esvazia completamente a noção de “liberdade” que nós temos, mas isso acontece justamente porque a palavra foi prostituída. Liberdade, ao contrário do que prega o nosso século, não está relacionada à ausência de limites para se agir. Liberdade tem a ver com a deliberação individual. Não faz o menor sentido falar em “liberdade absoluta”. Há limites que simplesmente existem, e não podem ser ignorados.

Por exemplo, os limites morais. Advogar uma liberdade que os ignore é como pretender uma geometria euclidiana que “ignore” a limitação dos triângulos de possuírem três lados, ou desejar abolir a limitação da aritmética que está sujeita à contingência da soma de dois números naturais ser sempre maior ou igual a cada um deles. A melhor geometria não é a que é livre o bastante a ponto de desenhar uma bola quadrada, nem a melhor matemática é aquela que escapa à necessidade exata de suas operações – ao contrário, tais coisas teriam pouca ou nenhuma aplicação.

Igualmente, o melhor homem não é aquele “livre” o suficiente para ser desregrado. O melhor homem é o que tem sob controle as suas paixões e que, dotado de um apurado senso moral, pauta a sua vida por ele – este é verdadeiramente livre, porque não está sujeito à mais terrível escravidão, que é a escravidão do pecado e das próprias paixões. É necessário resgatar o sentido da palavra “liberdade”, distorcido nos nossos dias a ponto de se apresentar quase irreconhecível aos olhos dos homens modernos.

E, voltando à censura estatal ora em pauta, faço coro ao Reinaldo Azevedo e sou a ela contrário exatamente porque ela não é justa, não é razoável, não está orientada ao bem comum. Não por ser um advogado da “liberdade” sem limites, mas por acreditar que a liberdade (a verdadeira, sem aspas) está sendo ultrajada quando os criminosos que tomaram conta dos poderes constituídos, não contentes em sacrificarem a própria liberdade, querem impôr as suas más escolhas aos cidadãos desta Terra de Santa Cruz. Isto, não se pode admitir – esta “liberdade” não têm os excelentíssimos governantes do Brasil.

Aviso

Considerando que o espaço de comentários está sendo tremendamente mal-utilizado, que me está dando muito trabalho moderar tudo a posteriori, que eu não estou online 24h por dia e que, por isso, uma quantidade não-desprezível de blasfêmias e irreverências está sendo exposta entre a sua publicação original e a minha intervenção, faço saber que, doravante e até que as coisas se acalmem, OS COMENTÁRIOS ESTÃO SENDO MODERADOS PREVIAMENTE.

Peço perdão a todos quantos se sentiram ofendidos com o conteúdo inadequado que, à minha revelia, foi divulgado aqui.

Mais sugestões de leituras diversas

– Não lembro (perdoem-me a minha amnésia pós-carnaval) se já linkei isto aqui antes, mas este texto de um jornal português sobre “Excomunhão e Tolerância” ilustra bem o que se pode falar sobre o caso Williamson. Muitíssimo feliz o autor na forma utilizada para criticar a censura anti-qualquer-coisa-referente-ao-Holocausto:

Num mundo que gosta de se anunciar sem preconceitos e repudia a censura, existe um bloqueio drástico sobre o Holocausto. Comentar o horror nazi não pode ser feito fora da versão oficial. São admitidas todas as opiniões, menos essa. O pior é a forma inquisitorial, fanática e abespinhada com que o assunto é enfrentado. Quem nega as câmaras de gás deveria ser tratado com um sorriso pela ignorância e uma gargalhada pela tolice. Hoje o disparate é tanto que não merece mais. Em vez disso todos estes democratas e republicanos, supostamente tolerantes, condenam da forma mais persecutória o Papa por ele terminado o castigo canónico. Parece que Williamson devia ser excomungado de novo, agora não por insubordinação mas por opinião histórica. E Bento XVI também, mesmo não concordando com ele.

– Dois textos do Heitor de Paola sobre o aborto: “Alguns mitos e fatos científicos no debate sobre o aborto” e “Quando começa a vida”. Excelentes, porque argumentam sob uma ótica estritamente científica, evitando ao máximo (julgo eu, propositalmente) qualquer referência ética ou religiosa a fim de que o discurso seja assimilável por qualquer um e se evitem as cretinas acusações de “ingerência religiosa” e “estado laico” e blá-blá-blá. Do segundo:

[É] inevitável concluir que o aborto é uma espécie de homicídio, ou filicídio, de um ser já com individualidade que tem, in potentia, todas as condições de se desenvolver plenamente. Qualquer decisão, seja pessoal, seja jurídica, não deve evitar este conhecimento.

– Mais do Krause: uma tréplica ao artigo de Lucas Camarotti, no Jus Navigandi. A tréplica chama-se Laicismo antimetafísico e o colapso do Ocidente. O cara é muito bom! Excerto:

Tal conceito [de “laicidade ateu e materialista”], além de insustentável do ponto de vista lógico, é propugnado por uma fragorosa minoria, ainda que influente na sociedade. Nele, vislumbra-se a aversão às religiões positivas e a aversão à metafísica, tão cara aos grandes filósofos gregos. Por melhor que seja Richard Rorty, estou certo de que, diante de Aristóteles, que tanto se preocupou com a “filosofia primeira”, posteriormente denominada “metafísica”, ele é um menino de colo.

– O Gustavo teceu uns comentários sobre o III Fórum Mundial de Teologia e Libertação. A matéria completa está lá (para quem tiver estômago); os comentários sensatos do meu amigo, intercalados ao longo do texto, ajudam a torná-lo menos indigesto.

Querer “desenvolver” (isto é: inventar) uma teologia que sirva às nossas pretensões é desonestidade. É como iniciar uma pesquisa científica com uma conclusão pré-fabricada; é ir a campo querendo apenas coletar dados que corroborem o resultado que se quer obter

– O Marcio colocou no Tubo de Ensaio um texto longo, mas que vale muitíssimo a pena, sobre a controvérsia na qual esteve envolvido Galileo; trata-se de uma resenha de um livro publicado recentemente no Brasil pela Loyola. Recomendo fortemente, por ser um compêndio bem interessante e completo (tanto quanto é possível) sobre o assunto.

O tempo mostrou que Galileu tinha razão – mas as descobertas recentes sobre seu processo desmentem vários mitos e mostram que é impossível dividir os personagens do episódio em mocinhos e bandidos. Então, por que ainda hoje existem pessoas (inclusive professores) que continuam a afirmar coisas como “Galileu foi morto na fogueira”? “Quem tem algum preconceito contra a Igreja vai perpetuar os mitos porque sequer vai procurar conhecer os fatos, ou os argumentos contrários. Enquanto o mundo for mundo, essa postura permanecerá”, avalia dom Sérgio.

Os limites da tolerância

Hoje, a senhora Sandra Nunes – velha conhecida de tantos quanto estão acostumados a passear por este blog – foi colocada sob moderação. Os motivos são mais do que evidentes, e estão no comment acima linkado. Não foi sem relutância que tomei esta decisão; todos sabem – eu próprio já frisei aqui por outras vezes – o caráter combativo do Deus lo Vult!, que não apenas prevê mas também (e principalmente) pressupõe as intervenções dos leitores.

Já há algum tempo há moderação neste blog; desde o tristemente célebre ataque dos ateus estrebuchantes que eu percebi não ser possível manter as coisas completamente abertas. No entanto, sempre é de se lamentar quando um debate (ou um debatedor) ultrapassa a fronteira do razoável e passa a ser contraproducente.

A supracitada senhora – alguns poderão dizer – já há muito tempo (talvez até desde sempre) ultrapassou esta fronteira. Eu não discutiria contra esta afirmação. No entanto, se até o presente momento eu julguei ser possível aplicar uma política de tolerância, após sérias reflexões decidi tomar a decisão – não trivial – de suspender o beneplácito.

Tolera-se, por definição, aquilo que é um mal. Em qualquer âmbito da vida, um mal pode ser tolerado caso se tenha em vista um bem maior a ser obtido. Na lógica dos debates de internet, a exposição das posições errôneas é, evidentemente, tolerada para que as suas refutações possam brilhar, e o argumento vencedor possa, se não convencer o debatedor vencido, ao menos fortalecer a convicção dos espectadores. Nem sempre Deus concede a graça de que o inimigo vencido na arena se levante como irmão do vencedor; no entanto, o esplendor da verdade que irradia do argumento bem construído e bem aplicado é menos raro e, geralmente, compensa o mal que se tolera.

Digo apenas “geralmente”, porque há vezes em que o estertor desesperado daquele que não é capaz de manter racionalmente as suas posições termina por obscurecer aquilo que é realmente relevante. E, se isso pode ser tolerado uma, duas, cinco ou dez vezes, chega um ponto em que a tolerância indefinida já pouco ou nada traz de útil; os bens advindos são menores do que os males que estão gozando da tolerância. Aí, é chegada a hora de intervir… Não é o debate em si que se busca cercear, óbvio, porque este, se verdadeiro, não pode senão servir para a defesa da Verdade, de Deus, de Sua Santa Igreja. O que se corta e lança fora é uma deturpação do debate, um seu abuso, uma espécie de caricatura que se instala no lugar onde as pessoas deveriam debater e as impede de o fazerem. E eu não poderia, em consciência, permitir que este espaço por mim idealizado e construído a duras penas fosse de tal maneira pervertido a ponto de não ser mais possível que, nele, se fizesse aquilo mesmo a que ele se propõe. Tolerância tem limites.

Não foi uma atitude fácil nem incontroversa, mas estou convencido de que foi uma atitude necessária. É lamentável, mas não menos necessário. Que a Virgem Santíssima, Sedes Sapientiae, possa interceder por todos nós, e de maneira especial pela sra. Sandra Nunes, a quem – até além de onde foi possível – esforcei-me por manter aqui. Que Deus tenha misericórdia de nós todos.

O elogio da censura

– Ora, tu sabes que, em qualquer empreendimento, o mais trabalhoso é o começo, sobretudo para quem for novo e tenro? Pois é sobretudo nessa altura que se é moldado, e se enterra a matriz que alguém queira imprimir numa pessoa?
– Absolutamente.
– Então, havemos de consentir sem mais que as crianças escutem fábulas fabricadas ao acaso por quem calhar, e recolham na sua alma opiniões na sua maior parte contrárias às que, quando crescerem, entendemos que deverão ter?
– Não consentiremos de nenhuma maneira.
– Logo, devemos começar por vigiar os autores de fábulas, e selecionar as que forem boas e proscrever as más. As que forem escolhidas, persuadiremos as amas e as mães a contá-las às crianças, e a moldar as suas almas por meio das fábulas, com muito mais cuidado do que os corpos com as mãos.
[Platão, “A República”, Livro II (377a-e); Editora Martin Claret, São Paulo, 2006, pp. 65-66]

Há um princípio fundamental e basilar, não só da Doutrina Católica como também da Lei Natural, segundo o qual o erro não tem direitos. Pode e deve, portanto, ser coibido, principalmente se houver pessoas que, indefesas contra o erro, puderem ser por ele gravemente prejudicadas. Isso tem uma particular validade quando se trata de crianças, seres humanos em formação e que, mais que ninguém, são indefesas diante dos estímulos externos e grandemente influenciáveis por eles.

Platão já tinha percebido isso há mais de dois milênios! N’A República, ele expõe – pela boca de Sócrates – os princípios que, na concepção dele, deveriam nortear a construção – virtualmente ex nihil – de uma cidade. Embora seja verdade que o projeto ao qual se lança o filósofo grego é repleto de abstrações e de sugestões impraticáveis, muitos dos princípios apresentados são verdadeiros. Como, por exemplo, o trecho em epígrafe, que trata sobre a educação das crianças (no caso particular da obra, das crianças que serão soldados, mas é válido para a educação das crianças no geral), e diz que, neste particular de extrema importância, nem tudo é conveniente e algumas coisas podem e devem ser proibidas. Censuradas.

A palavra “censura” é capaz de provocar horror diante de alguns paladinos dos (supostos) direitos humanos modernos, fazendo-os rasgarem as vestes e soltarem gritos histéricos de repulsa. Associam-na imediatamente (talvez porque rime) com outra palavra à qual eles têm horror absoluto, que é “ditadura”. Não pretendo tratar dos dois assuntos, que – ao contrário do que muitos podem querer fazer acreditar – são bastante diversos. Apenas lembro que a histeria supramencionada é particularmente ativa em uma espécie de gente que, em maior ou menor grau, do flerte ao concubinato, é simpática às idéias esquerdistas; o que não deixa de ser cômico, porque o marxismo, não somente em suas manifestações históricas (URSS, China, Cuba) como também em seus princípios, é abertamente ditatorial ([a] purificação da sociedade dos males feudais só é possível se o proletariado, liberto das influências dos partidos burgueses, for capaz de se colocar à frente do campesinato e estabelecer sua ditadura revolucionária. Marx & Engels, “Manifesto do Partido Comunista”). Para essa gente, as mesmas coisas são, ao mesmo tempo, enorme virtude ou pecado abominável, dependendo somente se são aplicadas por elas ou contra elas. É um impressionante cinismo.

Embora todas as ditaduras comunistas apliquem descaradamente a censura (ao mesmo tempo em que todos os esquerdistas repudiam completamente quer a censura, quer as ditaduras), é preciso deixar claro que a censura, como inúmeras outras coisas, não é uma coisa má em si. Ela pode ser má ou boa, infame ou virtuosa, dependendo daquilo que é censurado e do porquê da censura. Um regime assassino censurar a pregação do Evangelho é evidentemente uma coisa má; mas os pais censurarem as coisas que os filhos vêem na internet é uma coisa boa, justa e necessária até. Repetimos o que foi dito acima: o erro não tem direitos. O que a Igreja condenou não foi a censura, e sim – ao contrário – a “liberdade absoluta”: a liberdade de pensar e publicar os próprios pensamentos, subtraída a toda regra, não é por si um bem de que a sociedade tenha que se felicitar; mas é antes a fonte e a origem de muitos males (Leão XIII, Immortale Dei, 38).

Digamos, pois, ousadamente, que a censura é necessária, sim; não censura da Verdade (como nos países comunistas), mas censura dos erros e dos vícios, dentros dos justos limites: porque é verdade que há as liberdades individuais, mas há também o bem comum que precisa ser especialmente considerado. Em particular, os pais têm o direito de educarem os seus filhos na Lei de Deus e, por conseguinte, têm o direito de não quererem expôr as suas crianças aos erros e aos vícios. A bandeira da “liberdade absoluta” ostentada por esquerdistas e filo-esquerdistas é falsa em si (já que a liberdade absoluta é um grande mal) e cínica considerando os que a levantam (já que não há liberdade nos países comunistas). O espantalho não nos assusta. Há um Deus, há uma Verdade e, por conseguinte, há coisas dignas de louvor e coisas dignas de repreensão, não sendo justo que ambas tenham o mesmo tratamento – certas coisas podem e devem ser censuradas. Afinal, as coisas justas são dignas de serem incentivadas e, as ímpias, de serem reprimidas, se quisermos que os nossos jovens “sejam tementes aos deuses e semelhantes a eles, na máxima medida em que isto for possível ao ser humano” (Platão, op. cit., p. 73).

A perversão da infância

A Globo está retransmitindo, em Vale a Pena Ver de Novo, a novela “Mulheres Apaixonadas”. Descobri por acaso: passando por um ambiente onde havia uma televisão ligada, fui atraído pela música – da qual gosto – de Tom Jobim, “pela luz dos olhos teus”. O atrativo musical, no entanto, provocou-me estupor quando eu vi o que estava sendo exibido na televisão: uma jovem no seu quarto, em roupas íntimas, escolhendo um vestido. Olhei para o relógio: era perto das três horas da tarde.

Três horas da tarde, e uma senhorita de calcinha e soutien na televisão! A novela, quando foi exibida pela primeira vez (em 2003, segundo a wikipedia), só ia ao ar às nove horas da noite. Particularmente, considero que este tipo de censura de horário apresenta uma deficiência intrínseca, porque o que é imoral e contra os bons constumes não é para ser exibido em horário algum. No entanto, na atual conjuntura, é um mal menor que esse tipo de lixo fique restrito às horas mais avançadas da noite. Oras, pelo visto, nem esse cuidado nós temos mais, porque aquilo que era considerado inapropriado para a exibição “mais cedo” em 2003 é, hoje, exibido no meio da tarde, quando as crianças estão assistindo televisão!

Digam o que disserem, mas para mim é extremamente óbvio que a exposição de crianças a este tipo de estímulos inadequados à idade delas provoca efeitos extremamente deletérios. Um exemplo extremamente claro disso pode ser encontrado neste excremento que pretende ser uma publicação sobre educação (Cuidado! Conteúdo inadequado!), onde é citado um caso ocorrido em uma sala de aula. A menina – de oito anos – pergunta à professora: Professora, por que a minha [censurado] pisca quando vejo um homem e uma mulher se beijando na televisão?

Estes depravados que pervertem a inocência infantil deveriam ser presos, ao invés de ganharem destaque no cenário educacional com teorias estúpidas sobre “educação” para a sexualidade. O problema, no entanto, não se resume à pornografia nas escolas, porque a exposição da criança à depravação televisiva já desperta nela um interesse extemporâneo pela sua sexualidade, como nos mostra a citada reportagem da revista “Nova Escola”. Há outras coisas que apontam para a mesma dedução. Por exemplo, o fato de que a primeira menstruação das meninas vem cada vez mais cedo (embora esta reportagem negue o efeito do meio depravado ao qual são submetidas as crianças), o que é atestado inclusive pelo site do Governo Federal. Evidentemente, as meninas também fazem sexo cada vez mais cedo. E, sem dúvidas, a exibição de imoralidades como “Mulheres Apaixonadas” às três horas da tarde – esta novela, inclusive, é aquela que tem um casal de lésbicas – contribui para isso. Que os pais vigiem; a televisão não é mais inócua nem mesmo no meio da tarde.

Pobres de nós! Uma sociedade que defende a aberração anti-natural do homossexualismo (defendendo portanto também a descaracterização do ato sexual, que perde completa e intrinsecamente a sua finalidade procriativa), que promove o controle de natalidade, que legitima o aborto (assassinato de crianças indefesas) e que expõe seus futuros cidadãos à perversão desde a mais tenra infância, evidentemente não pode esperar para si senão um futuro sombrio. Um futuro que ninguém em sã consciência quer para os seus filhos. Que Deus tenha misericórdia de nós todos.