O Papa apóia a Campanha da Fraternidade?

ZENIT noticiou que o Papa Bento XVI apóia Campanha da Fraternidade da Igreja no Brasil. A mensagem enviada pelo Papa, publicada em ZENIT e também na Canção Nova, no entanto, destoa tanto da CF que me faz pensar exatamente o contrário. O Papa não “apóia” esta palhaçada que fazem no Brasil. Muito ao contrário, “puxa as orelhas” dos responsáveis pelo escândalo e pela vergonha, esforçando-se para trazer um sentido cristão à politicagem vazia transvestida de evento religioso.

Por exemplo, a mensagem de Sua Santidade fala em “tempo de conversão”, fala que “a justiça humana é sempre frágil e imperfeita”, fala em “pecado original”, em “Nosso Senhor”. É uma mensagem católica. E quanto à Campanha da Fraternidade?

Na oração, a palavra “conversão” aparece duas vezes. É, aliás, digna de louvor, pois fala em esmola, jejum, oração e penitência. Já no Texto Base da CF/2009, a coisa muda um pouco de figura, pois a palavra “conversão” aparece nele apenas 16 vezes (sendo uma na indexação e duas na já citada oração; sobram 13 citações ao longo do texto), num documento de modestas 176 páginas! “Pecado” (e derivados) aparece 10 vezes (e “pecado original”, nenhuma). “Redenção”, “Redentor”, “Sacrifício”, “Calvário”, “Missa”, “Confissão” (ou “Penitência” no sentido do Sacramento) não aparecem uma única vez!! Já “social” (e derivados) aparece 119 vezes, “comunidade”, 52 vezes, “economia” (e derivados), 54 vezes, “política” (e derivados), 65 vezes, “trabalho” (e derivados), 87 vezes, “povo” (e derivados), 43 vezes. E chega que não vou procurar mais.

Cabe perguntar: porventura isso é um documento católico? Na Bibliografia, os “documentos da Igreja” citados ocupam menos de uma única página (ou uma página e meia, se formos considerar como tais os documentos da CNBB…), de um total de cinco. Os títulos dos capítulos, vistos pelo índice, falam sobre coisas como “vida segura”, “pedagogia do controle”, “pirâmide social”, “tipos de violência”, “políticas públicas de segurança”. Tais baboseiras ocupam as primeiras setenta páginas do documento. A partir da página 77, começa-se enfim a falar em Deus mas, já na página 99 (ou seja, pouco mais de vinte páginas depois), voltam os títulos toscos contendo coisas como “ações educativas”, “em busca de um novo modelo penal”, “crimes não convencionais”, e pronto. Depois disso, só anexos. É vergonhoso que um documento de 176 páginas, de uma Conferência Episcopal, reserve pouco mais de 20 páginas para falar sobre coisas católicas (e isso a julgar pelo índice – nem tenho certeza se a segunda parte do documento é mesmo católica como dá a parecer…). Não, sem sombra de dúvidas, o Papa não apóia esta porcaria. Ao contrário, o que ele faz com sua mensagem é dizer “estou de olho”, enquanto tenta recolocar as coisas nos eixos (reconduzindo Cristo para a Quaresma) falando, em uma mensagem de poucas linhas, mais e melhor do que a CNBB com suas 176 páginas de texto-base.

P.S.: Entre os “objetivos específicos” citados pelo malfadado texto-base, à página 16, está escrito o seguinte: Denunciar a predominância do modelo punitivo presente no sistema penal brasileiro, expressão de mera vingança, a fim de incorporar ações educativas, penas alternativas e fóruns de mediação de conflitos que visem à superação dos problemas e à aplicação da justiça restaurativa. Isto é uma grande besteira, porque – como ensina a Igreja – a primeira função da Justiça é exatamente punir para restaurar a desordem introduzida. Às páginas 75 e 94 está escrito, respectivamente, que é necessário superar (…) as relações de ódio e vingança através de relações fundamentadas na misericórdia e que visam não à punição, mas à superação do mal e de suas causas e também que Jesus quer resgatar as pessoas e não puni-las. Tremenda bobagem, empulhação transvestida de ensino católico; a Igreja ensina que “[a] legítima autoridade pública tem o direito e o dever de infligir penas proporcionais à gravidade do delito. A pena tem como primeiro objetivo reparar a desordem introduzida pela culpa” (CIC 2266). É frustrante precisar corrigir coisas tão básicas em um documento emanado por uma Conferência Episcopal.