“Técnica” eugenista para impedir transmissão de doenças genéticas

Divulgou-se na mídia uma técnica para «evita[r] que doenças genéticas sejam transmitidas para filhos». A notícia é alvissareira e muito nos anima! O repórter começa falando em “tratamento”. Após alguns minutos mostrando mulheres grávidas fazendo Yoga, o repórter anuncia a nova “técnica toda especial” que evita que doenças graves sejam transmitidas para bebês. Aqui começa o nosso horror.

Um casal quer ter filhos, mas o marido sofre de uma grave doença e tem medo de transmiti-la aos seus filhos. A doença: paramiloidose, transmitida geneticamente. O tratamento: DGPI. Diagnóstico Genético Pré-Implantacional. A médica descreve a técnica (aos 4m20s): «[a] gente escolhe, entre os vários embriões que são feitos (sic) por fertilização in vitro, quais aqueles que não são portadores daquela doença para serem implantados». E o resultado desta aplicação concreta: «[d]as 11 células [i.e., dos nove embriões], em nove a doença apareceu. Apenas dois embriões eram livres da paramiloidose». Estes últimos foram implantados, e um deles nasceu. A reportagem se exime de chamar a atenção para este “detalhe”, mas os outros nove embriões, naturalmente, eram produtos defeituosos e foram descartados.

Grande técnica! Faz-se um embrião, se ele não for saudável, descarta-se-lhe e faz-se outro! E o repórter, aos 5m20s, ainda vem falar sobre as questões éticas que esta técnica pode levantar… incrivelmente, não percebe ele que os limites éticos já foram jogados no lixo há muito tempo, junto com os outro nove filhos “defeituosos” que este casal descartou até conseguir uma criança perfeita.

A diferença entre isto e os bebês espartanos que, após o nascimento, eram lançados montanha abaixo caso fossem defeituosos é nenhuma: apenas o progresso da técnica elevou a níveis ultra-eficientes a velha eugenia. Ao invés da montanha onde um ancião avaliava minuciosamente o recém-nascido, uma placa de Petri onde o cientista analisa com avançado aparato tecnológico o recém-fecundado. Nada muda: um e outro serão descartados se não forem perfeitos. E ainda chamam isto de “avanço da ciência”! Barbárie e decadência, isto sim. Voltamos aos tempos pagãos, e – graças ao progresso científico – conseguimos realizar as suas barbaridades de modo muito mais eficaz. Isto não é motivo para se comemorar.

A cura dos doentes não vem da destruição de embriões humanos: um Nobel para o dr. Yamanaka

Leiam na íntegra este artigo da dra. Lenise Garcia publicado ontem na Gazeta do Povo, do qual reproduzo aqui somente um trecho. Nele, a professora da UnB comenta o recente Nobel de Medicina concedido ao Dr. Shinya Yamanaka (premiação conjunta, dividida com o inglês John B. Gurdon) por conta de sua descoberta das células-tronco pluripotentes induzidas (iPS). O que confirma novamente aquilo que – contra os protestos das Zatz da vida – nós sempre dissemos: o sacrifício de embriões humanos em laboratórios não é necessário para o tratamento de pessoas doentes. Os benefícios médicos podem perfeitamente vir (e geralmente vêm) da boa ciência, e não de uma ideologia cientificista ávida por transgredir todos os limites éticos e transformar seres humanos em cobaias vivas, em fanáticas e imorais tentativas de encontrar a panacéia universal.

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No dia 11 de dezembro de 2007, comentando o artigo em que pela primeira vez demonstrou a possibilidade de se obterem células-tronco pluripotentes induzidas a partir de células de pele humanas, ele [o dr. Yamanaka] relatou ao jornal The New York Times o efeito que teve sobre ele o olhar ao microscópio, a convite de um amigo, um dos embriões humanos estocados na clínica: “quando vi o embrião, eu de repente me dei conta de que havia uma diferença muito pequena entre ele e minhas filhas. Pensei: nós não podemos continuar destruindo embriões para nossa pesquisa. Deve haver outro meio.”

Para encontrar esse “outro meio”, o dr. Yamanaka dedicou vários anos de pesquisas, que o levaram não somente ao sucesso técnico na obtenção das células pluripotentes, mas também a um grande aprofundamento no conhecimento que hoje temos sobre a regulação gênica.

Ateus: reencenando velhos erros

Eu acho engraçado como ainda existem estudiosos com a audácia de prever que o ateísmo tomará o lugar das religiões. Parece que eles não aprenderam nada! Durante o Iluminismo francês, Voltaire já previra o fim da Igreja Católica para muito em breve, acusando-A de atrapalhar os avanços científicos (mesmo que grande parte dos cientistas da época fossem jesuítas) – como se vê, nada mudou. Faz quase trezentos anos! E o nosso século, que se gaba de ser progressista e avançado, ainda se mantém terrivelmente preso aos preconceitos iluministas. Enquanto o mundo gira e a Cruz permanece inabalável, enquanto os inimigos de Deus passam e a Igreja de Cristo permanece, parece não haver nada de novo sob o sol. Os modismos (inclusive os intelectuais) passam, e a palavra de Deus permanece. Os homens já deveriam ter aprendido. Mas somos uma gente de cerviz dura.

Écrasez l’Infâme! Esmagai a Infame! Embora a perseguição exista desde a época de Cristo, creio ter sido Voltaire o primeiro a formular o grito de guerra neste imperativo satânico. Contudo, o mais impressionante é que Voltaire perdeu e, mesmo assim, possui ainda hoje uma multidão de asseclas seguindo-lhe os passos que a História já mostrou não levarem a lugar algum – senão a um precipício. Por quê?

O fenômeno parece apresentar-se em todos os lugares – recentemente eu lia sobre um pastor protestante ateu… E, por mais que seja necessário relativizar os dados do estudo (pois quem se diz “sem religião” não quer, nem de longe, dizer-se “ateu”), o fato é que as coisas me parecem estar encaminhadas nesta direção sim. Afinal, o individualismo é já o primeiro passo para o ateísmo (como aliás mostra o caso do pastor ateu). Ter uma confiança absoluta em si é já ter perdido o senso das proporções, é já ter direcionado o seu ato de fé para quem dele não é digno. Daqui para o ateísmo explícito, é só dar mais alguns passos.

Trata-se, no fundo, de uma antiquíssima tentação, de um pecado provavelmente tão velho quanto o próprio mundo – quiçá ainda mais. Trata-se de uma paráfrase (apresentando-se sempre em formas novas mas, no fundo, com a mesma essência podre e carcomida pelos séculos de sempre) do Non Serviam! que Lúcifer lançou à face do Deus Onipotente. O ateísmo não é senão um orgulho doentio, uma confiança desmesurada em si próprio.

Recentemente alguém me falava de um filósofo que postulara a inexistência de Deus “argumentando” que seria inconcebível existir alguma coisa maior do que ele [= o autor do “argumento”] próprio. É bastante óbvio que isto não é um argumento, mas é uma desculpa psicológica que ao orgulhoso sem dúvidas deve parecer bastante razoável: “não, eu não acredito que exista alguém maior do que mim”. Para mim, é exatamente este o pensamento que a imensíssima maioria dos ateus faz – mesmo que seja apenas tacitamente, no fundo do coração, repetindo-o freqüentemente para amortecer a própria consciência.

Afinal, o que é a fé inabalável na Ciência senão uma confiança absoluta no poderio humano e, portanto, em si próprio – parte da espécie humana? Existe porventura alguém que exija confiança cega na inteligência humana e que não esteja, no próprio ato de proferir este dogma, pensando em sua própria inteligência? Colocar o progresso (feito por homens e direcionado a homens) como fim último da vida humana não é incluir-se entre os artífices disto que se compreende como sendo a razão da existência? Por mais voltas que demos, não dá para escapar da inevitável conclusão: “eu sou a coisa mais importante do mundo, e não pode existir no mundo nada mais importante do que eu”.

Assim, muito ao invés de ser um ato de “inteligência”, de “liberdade” ou de qualquer outro nome pomposo que lhe queiramos dar, o ateísmo é no fundo um ato de orgulho. Se o nosso mundo está ficando mais ateu, isto significa simplesmente que estamos criando gerações de orgulhosos pretensamente auto-suficientes, que julgam ter o rei na barriga e entendem que o modelo ptolomaico está errado porque o universo inteiro, afinal de contas, gravita em torno de seus próprios umbigos. Portanto, isto é antes motivo de sérias preocupações do que de júbilo. Como na esmagadora maioria das coisas que o engenho humano é capaz de produzir por si só, este “mundo ateu” é pobre, feio, mesquinho, triste, degradante.

Ateísmo: religião que deu errado

Na esteira do texto sobre a parede vazia atéia aqui publicado recentemente, um dos comentadores do blog trouxe um texto sobre os supostos respeito e consideração que os ateus têm para com as religiões. Como foge demasiadamente das questões sobre a imposição da simbologia atéia nos órgãos públicos (texto original), passo a comentá-lo aqui. Em vermelho e itálico, o texto comentado; em fonte normal, os meus comentários.

Um erro comum aos ateus, todavia, é demonizar completamente as religiões.

Este erro é mais do que “comum”, é virtualmente onipresente, mas vamos lá…

Não; a religião não é boa nem é má.

Começou mal…

A religião é indubitavelmente boa, pelo menos considerando o fim ao qual ela se presta, qual seja, o de religar o homem à divindade. Naturalmente, os que rezam conforme o credo ateu não são capazes de perceber este aspecto incontestavelmente positivo do fenômeno religioso, mas isso pouco importa. As coisas não mudam o seu ser para agradar às visões parciais e distorcidas de um subconjunto (e ainda ínfimo, diga-se de passagem) da humanidade.

Ela assume a característica que damos a ela: podemos usar a religião como desculpa para atos vis, ou como influência para grandes bondades.

Isto aqui são outros quinhentos.

Mutatis mutandis, podemos dizer que a linguagem é uma característica humana indubitavelmente boa, porque ela se presta a tornar possível a comunicação entre os homens, o intercâmbio de idéias, a expressão do pensamento, et cetera. E, naturalmente, alguém pode usar a linguagem para inventar mentiras, para caluniar, para ofender. Isto é uma distorção da linguagem, uma traição àquilo que é o seu fim precípuo.

Seria uma profunda insanidade dizer que, por conta disso, a linguagem “não é boa nem é má”! A linguagem, em si, é boa, ponto. O que não a impede de ser mal utilizada.

Já a religião (pelo menos a esmagadora maioria das religiões) não prescreve jamais “atos vis”, e sim somente atos virtuosos. Alguém “usar a religião como desculpa para atos vis” só é possível (na esmagadora maioria dos casos, ao menos) por meio da desobediência aos próprios preceitos da religião. Portanto, não faz o menor sentido fazer um juízo de valor negativo (ou “neutro”) das religiões por causa de coisas que são feitas à revelia delas.

A religião não é uma aberração; como estaria, então, presente em todas as culturas humanas?

Perfeitamente.

O que muitos ateus radicais precisam entender é que a religião nada mais foi do que o primeiro fazer-científico da humanidade. Como os egípcios, por exemplo, poderiam explicar os fenômenos ao seu redor? Como os primeiros humanos explicariam o fato de serem tão mais desenvolvidos que os demais animais? Como poderíamos entender, nesse tempo, a natureza da “consciência”?

Já isto aqui é um perfeito absurdo.

A religião nunca teve como objetivo (somente) a explicação de eventos empíricos [e, nas vezes em que ela fez isso, foi apenas de modo acidental]. A religião (considerada em si) é a resposta do ser humano à afirmação da sua consciência de que existe uma divindade, existe um transcendente, com o qual ele [o ser humano] tem o desejo de se relacionar. É este o problema que a religião “se propõe a resolver”. O problema das leis da matéria e dos fenômenos naturais é um outro problema.

Tanto que as duas coisas (religião e fazer científico) sempre coexistiram, não apenas “nos primórdios da humanidade” (o homem primitivo que tinha provavelmente religiões anímicas é o mesmo que inventou a roda e aprendeu a fazer fogo) como em todos os tempos, povos e culturas.

O conhecimento primitivo impulsionou a criação de mitos e crenças, tanto que as maiores religiões do planeta se originaram em eras de pouco conhecimento científico.

Bobagem completa. O Cristianismo converteu o mundo romano e o helênico, perto dos quais a virtual totalidade dos atuais inimigos da religião são de uma pobreza intelectual sofrível.

Outrossim, e apenas como ad hominem, é interessante: muitos gostam de exaltar o avanço científico de civilizações antigas, como por exemplo dos Maias, ou dos egípcios que construíram pirâmides sem que até hoje saibamos como, et cetera, et cetera. No entanto, todos esses povos foram sempre profundamente religiosos…

O problema da religião é que ela se infiltrou demais na cultura humana; somos seres naturalmente “religiosos”, mas deveríamos ir abandonando a religião conforme conhecemos a elegância do funcionamento das coisas, desde a física à biologia.

Outro completo absurdo. Se somos seres “naturalmente religiosos”, é óbvio que a cultura humana deve estar impregnada de religião. Estranho seria se fosse diferente. É como (de novo, mutatis mutandis) dizer que somos seres naturalmente comunicativos e lamentar, depois, que a linguagem tenha penetrado demais na cultura humana…

E a segunda parte do período padece, de novo, do mesmo erro de base ao qual já fiz referência acima: o objetivo da religião não é, e nem nunca foi, explicar “o funcionamento das coisas”.

A humanidade, porém, levou a religião muito “à sério”:

O que é uma coisa perfeitamente natural, considerando que a religião é inerente ao ser humano.

religião e ciência se tornaram coisas antagônicas, quando na verdade a religião nada mais é do que a primeira expressão científica do ser humano. É uma ciência rude, primitiva, mas é um tipo de ciência (os próprios religiosos fundamentam suas crenças em argumentos e desenvolvem teorias teológicas).

Isto aqui é o samba do crioulo doido.

Em primeiro lugar, religião e ciência só “se tornaram antagônicas” na cabeça de alguns religiosos fundamentalistas (e incluo aqui os adeptos da religiosidade atéia, como Dawkins, p.ex.). Ciência e Religião são perfeitamente compatíveis, como sempre o foram, e como qualquer pesquisa elementar sobre o assunto é capaz de mostrar.

Em segundo lugar, como já foi dito, é simplesmente falso que a religião tenha sido “a primeira expressão científica do ser humano”. Isto está errado, o objetivo da religião é outro, sempre foi. Enquanto os ateus continuarem tratando a religião sob este prisma desfocado, não terão a menor idéia do inimigo que se propõem a combater.

Em terceiro lugar, “teorias teológicas” não têm nada a ver com ciência, e não se faz a menor idéia de como isto veio parar aqui.

Mas é uma ciência que sobrevive apenas pela metafísica (uma forma de filosofia inteiramente subjetiva, baseada em especulações e pensamentos, não em observação analítica) e pelo fundamentalismo (a antítese moderna da razão).

Mais absurdos…

A religião não sobrevive “apenas” (!) pela metafísica, mas também pela filosofia em seu sentido mais amplo (da qual a metafísica é uma parte) e pela História. Estou, propositalmente, desconsiderando os fatores internos ao fenômeno religioso que o fazem sobreviver.

Depois, a (boa) filosofia em geral (e a metafísica em particular) é e sempre foi baseada na observação da realidade (tendo sido apenas a filosofia moderna quem rompeu com este princípio). “Metafísica”, aliás, foi um termo cunhado precisamente por Aristóteles e cujo estudo foi posto, em seus escritos, logo em seguida aos tomos que tratavam da física – e tendo esta por base, acrescente-se.

Ainda: não existe nenhum problema em tratar as coisas por meio de “especulações”. A menos, é claro, que se negue a capacidade da razão humana de atingir a verdade, pressuposto que no entanto faria toda a ciência experimental moderna cair por terra.

Ademais, a acusação de “fundamentalismo” é totamente gratuita.

A religião é o apêndice da ciência: foi útil para a humanidade em seus primeiros “passos”, mas se tornou, naturalmente, ultrapassada e inútil.

De novo: a religião tem objetivos diferentes da ciência. Enquanto esta se preocupa com os fenômenos naturais, aquela se preocupa com o transcendente e a sua relação com os homens. São dois campos de ação totalmente diferentes.

E a relação dos homens com Deus não se tornou, de modo algum, “ultrapassada e inútil”. Os homens continuam precisando se relacionar com Deus, hoje como nos primórdios da humanidade.

A recusa sistemática em tratar a religião da maneira como ela é – aliás, da maneira como ela se apresenta! – é típica do fundamentalismo irracional dos paladinos da nova religião atéia.

Ou, como diz Hitchens, “a religião é uma ciência que deu errado”.

Parafraseando (e corrigindo) Hitchens: o ateísmo, este sim, é uma religião que deu muito errado!

Novo! Lista dos cientistas que a Inquisição queimou por causa de suas pesquisas!

Pegando carona no Tubo de Ensaio, apresento aqui a inédita lista completa de todos os cientistas queimados pela Inquisição por conta de suas pesquisas. É revolucionário. Segue abaixo:

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Impressionante, não?

Sobre espiritismo e catolicismo

Quero prestar a minha homenagem ao centenário do nascimento de Chico Xavier, transcrevendo algumas páginas de uma obra fundamental sobre o assunto: “Espiritismo – orientação para os católicos”, do frei Boaventura Kloppenburg. O texto é grande (quem tiver interesse, clique em “Leia o resto deste artigo”, abaixo, para lê-lo na íntegra), mas é muito rico de conteúdo.

Gostaria de transcrever, antes de tudo, algumas linhas que o bom franciscano coloca no prefácio da supracitada obra:

Não sou novato em matéria de espiritismo. Na década de 50 publiquei sobre a matéria livros, cadernos, folhetos e artigos sem conta. Era antes do Concílio Vaticano II (1962-1965), quando defendíamos nossa fé cristã e nossa Santa Igreja contra os ataques de seus adversários. E entre eles estava evidentemente o espiritismo. Era a apologética. Meus escritos, então, estavam sem dúvida marcados pelo ânimo de defesa da fé, para a orientação dos católicos. De um dos meus folhetos (“Por que o católico não pode ser espírita”) chegamos atirar, em sucessivas edições de cem ou duzentos mil exemplares, mais de um milhão de cópias.

Veio então o Concílio com seu apelo ecumênico para o diálogo e a união. Dizia-se que o Vaticano II acabara de vez com a apologética. Em conseqüência e obediente, afastei-me da liça. Meus livros sobre a matéria não foram mais publicados. Os espíritas respiraram então à vontade. Mas, de fato, depois não houve nem diálogo nem muito menos união.

É por este motivo que julgo importante rasgar o véu do silêncio pernicioso, e do tácito pacto de “não-agressão” que, em última instância, é hipócrita. O espiritismo é uma falsa doutrina. Espiritismo e Catolicismo são mutuamente excludentes. Ninguém pode ser, ao mesmo tempo, católico e espírita.

Quem quiser adquirir o livro na íntegra, pode comprá-lo no Submarino clicando aqui.

E, sobre o mesmo assunto, vale a pena ler também

1. ‘Chico Xavier exalava amor’, diz padre de Uberaba.

P.S.: (04-jun-2010): Resposta do padre de Uberaba à falsa matéria de G1.

2. As fraudes de Chico Xavier.

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4. ANÁLISE PSICOLÓGICA DE UMA MENSAGEM PSICOGRAFADA

Figuremos um fenômeno autêntico de psicografia, sem fraude nem simulação. Façamos mesmo a melhor suposição, do ponto de vista espírita: um médium, residente no Rio, sente repentinamente impulso estranho e involuntário na mão, pega de um lápis, coloca a mão e o lápis sobre uma folha de papel, a mão escreve nervosamente, sem que o médium tenha a menor idéia (é “médium mecânico”, segundo a terminologia de Kardec), e eis que aparece a seguinte mensagem: “Papai está doente. Alice”. – Mas o pai do médium mora em São Paulo e o médium ainda ontem recebera uma carta de casa informando que lá todos vão bem. “Alice” seria o nome do espírito “guia”. Imediatamente nosso médium pede uma ligação telefônica para São Paulo e de lá vem a informação clara e inegável: “Papai está doente”.

Eis o fenômeno. Kardec e seus seguidores o terão certamente como um bom e raro fenômeno espírita. Digo “raro” porque a grande maioria das mensagens psicografadas não traz nenhuma surpresa na mensagem; e também porque, segundo Kardec, os médiuns mecânicos são raros.

Tentemos agora uma serena análise psicológica deste fenômeno, de acordo com os conhecimentos de hoje. O fenômeno, como se vê, não é simples, mas complexo. Analisando-o e decompondo-o em suas partes constitutivas, teremos quatro elementos:

1. O movimento impulsivo e involuntário da mão do médium com o lápis;
2. a escrita inconsciente, mas inteligente, produzindo uma mensagem;
3. a mensagem surpreendente, com um conteúdo que o médium não podia conhecer;
4. o nome estranho que assina o recado.

Ora, não é difícil demonstrar, à luz dos atuais conhecimentos, que cada Um destes quatro elementos constitutivos está perfeitamente dentro do âmbito das potências e faculdades naturais da alma humana, sem precisar, para sua realização, do concurso de espíritos ou almas desencarnadas. Logo, também o seu conjunto, ou a conjunção dos quatro elementos num só fenômeno complexo, é natural ou, como diriam os espíritas, é “anímico” (segundo a terminologia não muito feliz de Aksakof e Bozzano). Para fazer esta demonstração basta recordar resumidamente o seguinte:

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Saber, poder e responsabilidade

Eu concordo em parte com o Cardoso neste post. Entre outras coisas, o articulista diz que a internet “sozinha” – ao contrário do que alguns apregoam – não faz com que as pessoas tenham um salto intelectual qualitativo. E o exemplo citado por ele é irrefutável:

Quando o email se popularizou vários acadêmicos deram entrevistas dizendo que era uma Era de Ouro da Palavra Escrita, as crianças escreveriam como nunca, teríamos milhares de novos autores, o ensino do idioma no colégio seria facilitado, etc.

Aí veio o miguxês.

As ferramentas são somente ferramentas, e dar poder às pessoas não necessariamente vai fazer com que elas adquiram responsabilidades. Às vezes, funciona. Outras vezes, no entanto – e, infelizmente, na maior parte das vezes -, as pessoas não mudam (talvez piorem), e utilizam mal o poder que lhes foi concedido.

Na verdade, nada substitui a educação, e “educação” não deve ser confundida meramente com “informação”. Hoje em dia temos muita informação. Qualquer criança “sabe” (= ter informação) muito mais coisa do que um adulto médio de algumas décadas atrás. Mas não sabe o que fazer com isso. Informação em demasia, sem desenvolver os processos intelectuais necessários para processá-la, e sem um senso moral apurado para saber o que fazer com ela, é um desastre.

A internet cria o “miguxês”, mas este não é o único problema dos nossos dias. O excesso de informação, dissociado de uma formação moral decente, cria as aberrações morais hodiernas. Pode-se clonar? Clone-se. Pode-se fertilizar artificialmente? Fertilize-se. Pode-se curar doenças destruindo embriões humanos? Destrua-se e cure-se. Pode-se abortar com segurança? Aborte-se. Et cetera, que esta lista é bem grande.

Na verdade, confunde-se o “pode-se” técnico com o “pode-se” moral. Não lembro quem diz uma frase parecida, mas já a escutei mais de uma vez: [p.s.: Fides et Ratio, 88] ter capacidade técnica de fazer algo não significa que este algo pode ser feito. As crianças de hoje sabem, do ponto de vista informativo, muito mais do que os adultos de antigamente; mas até mesmo as crianças de antigamente sabiam “certo” e “errado” muito melhor do que alguns adultos dos nossos dias…

O progresso técnico desvinculado da moral é em grande parte responsável pela crise dos nossos dias. Isto obviamente não significa que somos contra o progresso técnico, da mesma forma que não somos contra a internet por causa da nova gramática “miguxa”. Mas somos, sim, contra a desvirtuação das ferramentas, e pregamos, sim, que haja ordem nas coisas. Afinal de contas, há usos mais nobres para a internet que o miguxês. E há usos mais nobres para a ciência que a degradação do ser humano. Os irresponsáveis defensores de uma ciência sem ética correspondem perfeitamente aos “miguxos” da internet, só que num plano mais elevado, mais sério, e mais desastroso.

Os clones da Dra. Zatz

Loucuras da dra. Zatz: estamos mais próximos de produzir um clone humano? O “raciocínio” da geneticista: é mais fácil [do ponto de vista técnico] clonar um ser humano por meio das iPS do que por clonagem terapêutica. Os religiosos foram contra a clonagem terapêutica e aplaudiram as iPS. Então, os religiosos são culpados por se terem aberto as portas à clonagem humana que eles próprios condenam (!).

Resta “somente” lembrar à Mayana que “clonagem terapêutica” é já clonagem e, portanto, condenável ab initio. A petição de princípio é gritante: para a Mayana Zatz, um “clone” é somente um ser adulto. A ovelha Dolly só passou a ser um clone… quando nasceu! Se a gente pegasse um óvulo humano e inserisse nele material genético adulto, “transformando-o” num embrião – “clonagem terapêutica” -, isso não seria clonagem, na cabeça da cientista. Mas, graças a Deus, a realidade não é plasmada pelo raciocínio da Dra. Zatz.

Se a clonagem terapêutica é já clonagem, o mesmo não acontece com as células-tronco pluripotentes induzidas (iPS) – e esta “sutil” distinção parece escapar completamente à Mayana Zatz. A técnica permite, sim, que as células adultas sejam reduzidas ao estado de embrião – e isto seria clonagem, moralmente inaceitável -, mas permite igualmente que elas não o sejam. Com as iPS, não é necessário (é possível, mas não necessário) produzir embriões para fins terapêuticos, ao contrário da assim chamada clonagem terapêutica. Portanto, é óbvio que não há problemas morais intrínsecos com esta técnica.

Se isso tornou mais fácil produzir clones adultos, tal temor só se justifica por causa da mesma falta de ética que nós denunciamos o tempo inteiro, e que está presente na sanha por clonagem terapêutica e por pesquisas com embriões humanos. E vem a dra. Zatz falar de ética… oras, o que ela sabe sobre o assunto? É a Igreja que é Mestra em Moral, e não a dra. Zatz. Louvável (sem dúvidas) a preocupação da geneticista, mas completamente inócua, porque se assenta sobre a areia. Há pessoas sem ética que poderiam usar iPS para clonar humanos? Há, sem dúvidas. Mas há igualmente pessoas sem ética que destroem embriões humanos em laboratório. E estas últimas não são muito melhores do que as primeiras.

Anjos e Demônios

[ATENÇÃO! CONTÉM REVELAÇÕES SOBRE O ENREDO (SPOILERS)!]

angels_demonsMais pernicioso do que “O Código da Vinci”, porque mais sutil: foi a opinião com a qual saí ontem da sessão de cinema onde fui para ver Anjos e Demônios. Comentava com um amigo no caminho de volta – aliás, leiam as considerações dele sobre a película – que, neste filme – ao contrário do Código da Vinci que intenta “revolucionar” tudo o que se sabe sobre o Cristianismo -, a cantilena é a mesma do início ao fim: a Igreja Católica é inimiga da Ciência. A repetição da tese ad nauseam, das mais variadas formas ao longo do enredo, aliada ao já conhecido e amplamente disseminado preconceito histórico contra a Igreja adotado por grande parte das pessoas, faz com que o espectador saia do cinema, sim, com uma visão negativa e equivocada da Igreja.

O personagem do Tom Hanks ajuda. O seu ar de superioridade, a ironia com a qual ele trata – muito “apropriadamente”, dentro do enredo – todas as coisas referentes à Igreja, a sua mania de comentar en passant assuntos que ele “conhece muito bem” (as “informações enciclopédicas” das quais fala o Cardoso) e todos os demais ignoram, etc: a receita faz com que o público seja cativado pelo prof. Langdon – e, por conseguinte, pelas suas opiniões. Logo no início do filme, falando sobre a “célebre” cena de Pio IX com um martelo e um cinzel na mão, atravessando às pressas os corredores vaticanos para “castrar” as estátuas renascentistas… oras, nunca ouvi falar de semelhante coisa na vida. As estátuas renascentistas são imorais e a “cobertura” dos órgãos sexuais com folhas é posterior às obras; isso todo mundo sabe. No entanto, acho bem pouco provável que, por todos os séculos compreendidos entre o Renascimento e Pio IX, as estátuas tenham ficado indecorosamente expostas sem que ninguém parecesse se preocupar com elas; e, ainda que isso tenha acontecido, a cena do Papa quebrando-as pessoalmente raia o inverossímil.

A mesma coisa com La Purga. La Purga! “Vocês não lêem nem a sua própria história?”, pergunta com aquele jeito arrogante o prof. Langdon aos – se minha memória não me falha – membros da Guarda Suíça. “A Igreja mandou marcar a ferro quatro cientistas porque as suas conclusões científicas discordavam das do Vaticano, o que fez com que os Illuminati passassem a ser violentos”. A culpa – de novo! – é da Igreja Católica. Esqueceu-se o sr. Langdon de fornecer mais detalhes sobre estas pobres vítimas da violência vaticana. Quem são eles? Quando isso aconteceu? Onde? Mas o Dan Brown não pode fornecer essas informações, porque senão a invenção dele seria mais facilmente desmascarada.

Continua o prof. Langdon com as suas bobagens: os “altares da Ciência” construídos em igrejas de Roma, Galileo e Bernini como Illuminati, o “caminho da iluminação” que devia ser percorrido pelos que quisessem ser admitidos à sociedade secreta, o Diagramma Veritatis escrito por Galileo que ensina como chegar a este caminho… a Igreja sempre retratada como obscurantista, inimiga da ciência, e os cientistas em guerra constante contra Ela, zombando d’Ela ao se reunírem às barbas dos cardeais no Castelo Sant’Angelo, colocando nas igrejas d’Ela as pistas a serem descobertas por quem quisesse ser um Iluminado.

Mas a figura do camerlengo é uma das piores. Aparentemente colocado para ser uma contraposição ao ceticismo do prof. Langdon, e depois revelado como o responsável – de alguma maneira mirabolante – pelo roubo da anti-matéria, seqüestro dos cardeais e elaboração de um plano infalível para salvar a Cidade do Vaticano da bomba que ele próprio armou e, por conseguinte, ser aclamado Papa graças ao heroísmo de sua atitude, a Igreja está muito mal representada por este jovem sacerdote. Todo o seu discurso inflamado em favor da Igreja, proferido ao colégio cardinalício, está enviesado pela mesmíssima falsa oposição Igreja x Ciência do prof. Langdon. Se até mesmo o personagem “católico” da trama concorda plenamente com o simbologista, então – é o que facilmente conclui o espectador – a Igreja é mesmo responsável por todas essas barbaridades contra a Ciência perpetradas ao longo dos séculos. Nem mesmo a reviravolta final que o mostra como responsável por toda a tragédia ao invés de paladino salvador é o suficiente para macular por completo todas as suas atitudes ao longo do filme. Permanece, por exemplo, um nobre ideal a ser buscado a idéia dele de “mudar” a Igreja e fazê-la “não ser mais” (!) inimiga da Ciência. E as pessoas que tenham “simpatia” pela Igreja são, diante do filme, “empurradas” a terem exatamente esta posição: ah, os erros pertencem ao passado e vamos construir uma Igreja que “não seja mais” inimiga da Ciência. Propositalmente, não existe uma posição que seja simpática à Igreja, não existe alternativa ao erro de fundo da falsa oposição existente entre fé e ciência: os inimigos da Igreja tratam-Na no máximo com indiferença porque Ela não é amiga da Ciência, e os amigos da Igreja querem que Ela mude para que seja amiga da Ciência…

Retomando, para terminar, uma crítica que já ouvi em outros lugares: diante de todas as mentiras do filme, pode-se objetar dizendo “ah, mas isso tudo é ficção, é como X-MEN, e não dá para exigir que as obras de ficção sejam verdadeiras”. As obras de ficção não precisam ser verdadeiras, é claro, mas também não podem apresentar informações falsas como se fossem verdadeiras. E Anjos e Demônios faz exatamente isso. Afinal, no meio de um monte de coisas verdadeiras (com algumas falhas aqui ou ali, mas em substância verdadeiras) como a Igreja, o Papa, o camerlengo, o colégio cardinalício, o Conclave, os arquivos vaticanos, Galileo, Bernini, o êxtase de Santa Teresa, o Castelo Sant’Angelo… quem é que vai saber se a história da castração das estátuas de Pio IX é mentira ou verdade? Ou se a existência de cientistas Illuminati é mentira ou verdade? Ou se La Purga é mentira ou verdade? O filme tenciona, sim, confundir e consegue. Como já falei no início (e é, a meu ver, a pior coisa da obra), a visão da “Igreja inimiga da Ciência” – a mentira repetida do início ao fim, em todas as partes da trama – impregna-se fortemente em quem assiste Anjos e Demônios. Agora ouse dizer a alguém que isso é ficção…

Vendendo esperanças

Há quase um ano, escrevi aqui o seguinte sobre um menino de nove anos de idade, doente, e que, por ocasião do julgamento sobre as pesquisas com células-tronco embrionárias pelo STF, acompanhava tudo com bastante ansiedade:

Ele tem nove anos, e já pergunta quando vão sair os remédios. Quem é que vai se preocupar em dizer ao menino, dia após dia, mês após mês, ano após ano, que ele espere a panacéia universal que vai ser descoberta “logo amanhã”?

Ontem, no entanto, saiu na Folha de São Paulo uma reportagem que levava o seguinte título: “Acho um absurdo vender esperanças”, diz secretária de SP sobre células-tronco. E, no corpo da matéria – que continha uma entrevista -, constava o seguinte:

Folha – A secretaria auxilia no financiamento das pesquisas com células-tronco em andamento?

Battistella – Acho um absurdo vender esperanças. Sou absolutamente contra a forma como se coloca isso [as pesquisas] para o público. A ciência de boa qualidade consegue superar as barreiras sem perder de vista os limites éticos. Não entendo que esse seja o caminho mais rápido para melhorar a vida das pessoas com deficiência. Temos de ter esperança, sempre, mas não ilusões. Esse é um caminho que ainda não se mostrou viável na questão da lesão medular, da paraplegia. É preciso olhar para aquilo que a vida nos deu e viver com aquilo que temos. Cruzar os braços e ficar esperando o resultado de uma pesquisa enquanto a vida passa lá fora é um absurdo. Não podemos colocar as pessoas em uma situação de risco perdendo de vista o direito à vida. A secretaria não reservou nenhum recurso para esse tipo de pesquisa. Entendo que células-tronco têm resultado de sucesso para alguns tipos de câncer. Mas o grupo de pessoas que a secretaria representa precisa de outras linhas de pesquisa que o coloque dentro da sociedade.

Ah, pois muito bem. E por que ninguém se preocupou com a venda de esperanças no ano passado, por ocasião do lobby feito pela legalização das pesquisas, alguém pode me explicar? O senso de responsabilidade da Folha de São Paulo está uns doze meses atrasado. A sra. Linamara Rizzo Battistella deveria ter sido ouvida um ano atrás.

P.S.: Sou capaz de apostar que a sra. Battistella não é católica, já que a reportagem não faz – estranhamente! – a menor alusão ao obscurantismo religioso ou às trevas medievais, mesmo tendo a médica afirmado “que a pasta do governo de São Paulo não vai destinar nenhum centavo para estudos relativos às células-tronco”…

P.S.2: Tomei ciência desta notícia por email, vinda de uma certa senhora que se diz católica, e que foi capaz de fazer o seguinte comentário na mensagem enviada:

Não contente em desativar o local onde realizam pesquisas, “cede-lo” e  para a “Canção Nova” novamente o Governo Serra mostra que não se importa e não tem interesse em pesquisas.

Eles querem um Estado atrasado, retrogrado, dependente.

Eles nivelam por baixo.

Deus nos livre e nos guarde de ter esse homem na Presidência.

Haja paciência…