Não, não há juízes em Brasília

Eu propositalmente mantive silêncio aqui no blog a respeito do julgamento (ora em curso) do STF sobre o escândalo do Mensalão. Não embarquei no entusiasmo nacional pela alegada “limpeza” que se estava fazendo em Brasília, nem faço coro jubiloso aos que estão comemorando a condenação de José Dirceu por compra de votos no esquema. Na verdade, a minha leitura dos fatos vai na contramão deste júbilo cidadão que tem invadido as mídias sociais. Explico o porquê.

Já há algum tempo, passaram a circular no Facebook algumas campanhas como esta que reproduzo abaixo. Consigo entender as razões que fazem com que este sentimento de admiração surja e se tenha o desejo de externá-lo; não concordo, absolutamente, é que ele corresponda à realidade e deva ser motivo de orgulho nacional. Aliás, muito pelo contrário.

Joaquim Barbosa não é um herói nacional. É simplesmente mais um arauto revolucionário empenhado na destruição do Brasil, da mesmíssima laia dos outros ministros do STF que, julgamento após julgamento, têm nos últimos anos utilizado a Suprema Corte como ponta de lança para implantar na sociedade brasileira uma visão de mundo imoral e contrária quer à verdadeira Justiça, quer aos anseios e valores da população brasileira. Não que o Mensalão não tenha sido o maior escândalo de corrupção da história recente do Brasil; é claro que foi. Eu sempre disse que não se tratava de um simples desvio de dinheiro público em benefício próprio, o que seria já bem grave, mas algo infinitamente pior: estamos falando de um esquema de escancarada violação da independência dos Três Poderes da Democracia, onde o Executivo comprava apoio político do Legislativo e, assim, o PT construía para si exatamente a concentração hegemônica de poder que a divisão tripartida dos poderes existe para evitar. Não se trata de um crime de dinheiro; é um golpe de morte na própria instituição da Democracia. É claro que isto é uma coisa enormemente imoral e escandalosa, e é evidente que tal atitude deve ser punida com o máximo rigor. Não é este o ponto.

A questão é que o STF vem aberta e sistematicamente realizando um incansável trabalho de implantar no Brasil – per fas et per nefas – uma visão jurídica imoral e revolucionária, amiúde ao arrepio do próprio ordenamento jurídico vigente – da Constituição Federal inclusive. E a coisa está tão impudicamente escancarada que, nos últimos tempos, a imagem da Suprema Corte estava (graças a Deus!) perigosamente desgastada junto à população brasileira. Ora, que melhor oportunidade para “limpar a barra” da Suprema Casa da Mãe Joana poderia se apresentar que não esta chance de ouro de fazer uma nababesca e midiática condenação exemplar do esquema do Mensalão, escondendo assim sob a glória da aclamação popular presente as vergonhas passadas e passando sobre a Suprema Corte um verniz de Justiça que possa depois ser usado para justificar, retroativamente, todas as barbaridades feitas no passado?

O Ministro Joaquim Barbosa não está “lutando contra os maiores vilões da história do Brasil” (!), é óbvio que não, porque os maiores vilões da história recente desta Pátria são, precisamente, os que usam Toga Preta e sentam-se à Praça dos Três Poderes para, do alto de seus tronos olímpicos, fulminar o Brasil com suas determinações disparatadas. O meritíssimo Joaquim Barbosa inclusive. Veja-se:

– Ministro Joaquim Barbosa sobre a destruição de embriões humanos em pesquisas científicas: «A meu sentir, pedindo vênia aos que pensam de maneira diferente, creio que a permissão para a pesquisa científica, tal como disposta na lei ora atacada, não padece de inconstitucionalidade».

Ministro Joaquim Barbosa sobre a “união homoafetiva”: «O não reconhecimento da união homoafetiva simboliza a posição do Estado de que a afetividade dos homossexuais não tem valor e não merece respeito social. Aqui reside a violação do direito ao reconhecimento que é uma dimensão essencial do princípio da dignidade da pessoa humana».

Ministro Joaquim Barbosa sobre o aborto de anencéfalos (voto que, conforme notícia do STF, foi juntado aos autos do julgamento da ADPF 54): «Em se tratando de feto com vida extra-uterina inviável, a questão que se coloca é: não há possibilidade alguma de que esse feto venha a sobreviver fora do útero materno, pois, qualquer que seja o momento do parto ou a qualquer momento em que se interrompa a gestação, o resultado será invariavelmente o mesmo: a morte do feto ou do bebê. A antecipação desse evento morte em nome da saúde física e psíquica da mulher contrapõe-se ao princípio da dignidade da pessoa humana, em sua perspectiva da liberdade, intimidade e autonomia privada? Nesse caso, a eventual opção da gestante pela interrupção da gravidez poderia ser considerada crime? Entendo que não, Sr. Presidente».

Portanto, este senhor não é um herói; muito pelo contrário aliás. Uma atitude correta isolada não é capaz de transformar ninguém em um herói, nem mesmo que ela seja alvo dos mais potentes holofotes da mídia. É justa, sim, a condenação dos criminosos petistas do caso do mensalão, mas a montanha de injustiças acumulada nos últimos anos pelo STF em geral e pelo Min. Joaquim Barbosa em particular sobrepuja – e muito! – o acerto da decisão presente. Isto não se deve perder de vista.

À luz de uma visão mais ampla, este julgamento atual não destoa de todos os outros. Muito pelo contrário, complementa-os admiravelmente, conferindo-lhes um poderoso elemento de legitimação: ora, se a Suprema Corte teve coragem de julgar com acerto este caso de corrupção política, como acusar-lhe de conspiração contra a Pátria? Como negar a seriedade deste tribunal? Como não confiar no julgamento deste impoluto herói nacional de toga brilhante que está empenhado em uma cruzada santa contra a corrupção no Brasil?

Sob um olhar mais aguçado, assim, este julgamento é somente mais um passo orquestrado da Revolução. Se humanamente orquestrado, embora seja possível, eu não o sei dizer; mas em obediência (quiçá involuntária) a um plano mais amplo de não-sei-que hostes infernais, com toda a certeza. Porque o desenho é muito claro para que não seja notado e, os seus desdobramentos lógicos, evidentes demais para não serem inferidos. Olhando para o processo como um todo, trata-se, objetivamente, de um sacrifício de indivíduos para salvar o processo revolucionário. Exemplo mais clássico de modus operandi da Revolução é impossível.

Hoje de manhã eu ouvia na CBN que José Dirceu fizera questão de participar de reunião do Diretório Nacional do PT, desejando as honrarias de um herói injustiçado e manifestando repúdio à decisão injusta do STF. E, embora esta analogia seja evidentemente falaciosa, ela não perde a sua força retórica calhorda: em um instante, eu vi todos nós, conservadores que lutamos contra os descalabros do STF, colocados pelos inimigos da Pátria lado-a-lado com petistas corruptos esperneando contra as justíssimas e sagradas decisões da Suprema Corte Brasileira. Não, não há juízes em Brasília. Há somente um teatro de fantoches, uma tentativa de tratar o povo brasileiro como se fôssemos marionete em mãos invisíveis de um punhado de megalomaníacos, arrogantes que padecem de um patológico e perigoso complexo de Deus. Nós não estamos assistindo a uma revitalização da moralidade das instituições brasileiras, muito pelo contrário. Embora escondido sob a pirotecnia da vez, o processo revolucionário segue o seu curso. E nós não temos o direito de nos deixarmos distrair pelos fogos de artifício.

Protestos, credulidade e teorias da conspiração

Hoje eu estou, ao mesmo tempo, muito cético e muito afeito a teorias conspiratórias. Como eu comentei ontem, fora publicado no site da ABGLT um convite para um “evento” de protesto que incluiria a queima de um exemplar da Bíblia Sagrada. O evento – que a entidade posteriormente classificou como um ataque hacker – estava marcado para ontem à tarde e obviamente provocou a indignação de muita gente.

Os fatos são os seguintes: o tal aviso mudou, saiu e voltou pelo menos três vezes do site da ABGLT entre a terça e a quarta-feira. “Protestos” de militantes gays tremendamente ofensivos a símbolos sagrados do Cristianismo são a coisa mais banal e corriqueira do mundo. A capacidade de vitimização dos gayzistas ultrapassa todas as medidas da razoabilidade. A ABGLT foi à imprensa alardear ter sido hackeada. Assim sendo, a dúvida é perfeitamente legítima: a que tipo de militante – hacker ou não – interessa mais plantar uma notícia falsa (mas verossímil) no site de uma conhecida associação gay brasileira que, depois, vai usar o fato para se fazer mais uma vez de vítima, para acusar mais uma vez os seus opositores e para “demonstrar” a “homofobia” vigente em nossa sociedade – que exigiria a imediata distribuição do kit-gay nas escolas e a aprovação sem demora da lei da Mordaça Gay? A um “conservador”, ou a um gayzista? Sim, o meu álter-ego conspiratório exige que eu lance a dúvida.

Voltemos ao dia de ontem! Logo no início da tarde, começou-se a divulgar (via blogs e Twitter) que os militantes homossexuais estavam queimando bíblias dentro da UnB – de novo, uma notícia perfeitamente verossímil. Veja-se, por exemplo, aqui, aqui, aqui e aqui. No entanto, agora – passadas já algumas horas do suposto evento – prevalece o meu lado cético: onde estão as fotos e os vídeos de semelhante protesto pirotécnico? Nenhum órgão de imprensa registrou o protesto, não havia um único fotógrafo, ninguém tinha um celular à mão? Não é razoável que ninguém tenha sido capaz de registrar este ato de “tolerância” homossexual, até porque todos foram orientados a fazê-lo.

Portanto, até que me apareçam os vídeos e fotos da manifestação piromaníaca gay de ontem, tal evento é boato. E aqui volta o meu lado conspiratório: a quem interessa divulgar esta mentira facilmente desmascarável contra os homossexuais? Aos cristãos, ou aos próprios militantes gays – que aliás já têm histórico de ridicularizar os que são contra o PLC 122?

E tudo isso aconteceu ontem, porque ontem era o dia do protesto contra o PLC 122/2006 que reuniu milhares de católicos e protestantes em frente ao Congresso Nacional. O Jornal Nacional, ao menos, noticiou à noite: tanto o protesto quanto a entrega de um milhão de assinaturas contra o PLC 122/2006. No entanto, durante o dia, a repercussão deste evento (real) foi, de certo modo, sufocada pelos gritos de protesto contra queimas de bíblias que – em princípio – não ocorreram! É lamentável. Não dá para dizer de onde partiram os primeiros boatos. No entanto, uma coisa dá para dizer com certeza: esta história indubitavelmente beneficiou mais os revolucionários gayzistas do que os defensores da família. O Movimento Gay sem dúvidas saiu no lucro.