[OFF] Eu, com câncer (VIII): #MeditandoComJuelho

No último sábado, fui convidado a fazer uma meditação no Retiro Mensal dos Membros do Movimento Regnum Christi, cujo tema era: Porque amo a Cristo, abraço a minha cruz. Agradeço imensamente a oportunidade e a confiança em mim depositada; alegra-me bastante poder ser útil de alguma maneira, mesmo com essas minhas limitações circunstanciais que hoje se somam às que já me são próprias por vida.

meditandocomjuelho

A palestra foi gravada, sem edições e sem revisão. Disponibilizo-a aqui, em formato .mp3 e em vídeo do Youtube, na esperança de que possa servir àquelas pessoas que não tiveram a oportunidade de presenciá-la neste final de semana. Que Deus nos ajude a amá-Lo mais. Amá-Lo sempre e cada vez mais.

Youtube:

Áudio:

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Sexta-Feira Santa

É a Sexta-Feira. Se não quisermos contemplar os julgamentos injustos que sofreu Nosso Senhor; se não suportarmos acompanhar o Seu doloroso caminho até o Calvário; se não formos capazes de nos deter ouvindo aquele grito terrível que anunciou a consumação do Seu Sacrifício, e nem de fixarmos o nosso olhar no Cadáver pendente do madeiro da Cruz; enfim, se nos fosse possível deixar tudo isso de lado, olhar – ainda que de soslaio – para o Senhor Morto já nos seria tremendamente benéfico e já permitiria à nossa alma usufruir dos influxos benéficos da meditação piedosa da Paixão de Cristo. Porque muito do mistério do dia de hoje está condensado no Corpo sem vida de Nosso Senhor, que a Sua Mãe Santíssima recebeu dos braços da Cruz e em cuja honra saem hoje procissões de nossas igrejas, após a Celebração da Paixão do Senhor.

Ó vós que passais, olhai e vede se há dor semelhante! Na imagem do Senhor morto está contida a via crucis e o Gólgota, a injustiça e a culpa, o sofrimento de um Inocente e a dor de uma Mãe. E tudo isso está lá presente precisamente porque não há mais nada: o Amor foi assassinado, o Deus foi expulso da Sua Criação, o Mestre foi silenciado, a Vida jaz no abraço frio da Morte. Tudo está perdido. Somente olhando para Ele morto nós podemos ter uma idéia da dimensão dessa nossa perda. Somente quando Ele não está mais entre nós é que, finalmente, tomamos consciência do quanto d’Ele precisávamos. E estamos novamente diante de uma Viúva chorando a morte do Seu Filho mas, dessa vez, ninguém tem coragem de ordenar-Lhe “levanta-Te!” como Ele costumava fazer. Dessa vez parece que o luto não vai ser interrompido, mas muito pelo contrário: parece que ele não vai deixar de se expandir até abarcar o mundo inteiro.

E o cortejo fúnebre segue pelas ruas da cidade. Os que desfilam com o Senhor Morto têm o Sangue d’Ele escorrendo pelas mãos e derramando-se sobre suas cabeças. E não há sequer um Deus para o Qual eles possam pedir perdão. O Único que os podia perdoar é justamente Este cujo cadáver está sendo levado em procissão. Levam-No, sem saber para onde; choram, sem saber o que fazer.

“Um rei cujo trono é uma cruz” – Bento XVI

Isto pode, sem dúvida, parecer-nos desconcertante! Ainda hoje, como há 2000 anos, habituados a ver os sinais da realeza no sucesso, na força, no dinheiro ou no poder, temos dificuldade em aceitar um tal rei, um rei que Se faz servo dos mais pequeninos, dos mais humildes; um rei cujo trono é uma cruz. E todavia – como ensinam as Escrituras – é assim que se manifesta a glória de Cristo; é na humildade da sua vida terrena que Ele encontra o poder de julgar o mundo. Para Ele, reinar é servir! E aquilo que nos pede é segui-Lo por este caminho: servir, estar atento ao clamor do pobre, do fraco, do marginalizado. A pessoa baptizada sabe que a sua decisão de seguir Cristo pode acarretar-lhe grandes sacrifícios, às vezes até mesmo o da própria vida. Mas, como nos recordou São Paulo, Cristo venceu a morte e arrasta-nos atrás de Si na sua ressurreição; introduz-nos num mundo novo, um mundo de liberdade e felicidade. Ainda hoje temos muitos vínculos com o mundo velho, muitos medos que nos mantêm prisioneiros, impedindo-nos de viver livres e felizes. Deixemos que Cristo nos liberte deste mundo velho. A nossa fé n’Ele, vencedor de todos os nossos medos e misérias, faz-nos entrar num mundo novo: um mundo onde a justiça e a verdade não são objeto de burla, um mundo de liberdade interior e de paz connosco, com os outros e com Deus. Tal é o dom que Deus nos fez no nosso Baptismo.

Bento XVI (20/11/2011)
Homilia de Cristo-Rei em Benin

A loucura da Cruz

Eu queria escrever este texto ontem, mas não tive tempo. Ontem, dia 14 de setembro, foi a Festa de Exaltação da Santa Cruz; foi também o aniversário (quatro anos!) de entrada em vigor do Motu Proprio Summorum Pontificum, e ainda o dia do esperado encontro entre a Congregação para a Doutrina da Fé e a Fraternidade Sacerdotal São Pio X.

A exaltação da Santa Cruz, do Lenho Santo do Qual pendeu a Salvação do mundo: vinde, adoremos! «Per lignum servi facti sumus, et per sanctam Crucem liberati sumus. Fructus arboris seduxit nos, Filius Dei redemit nos». O mistério é portentoso demais para ser esgotado; as Escrituras Sagradas dirão que a linguagem da Cruz é loucura para os que se perdem. E onde a loucura?

Loucura entre todos os maus católicos inimigos da Santa Missa celebrada na Forma Extraordinária do Rito Romano, da Missa Gregoriana, Missa Tridentina, Missa de São Pio V ou seja lá o nome que lhe queiram dar. O ódio a esta forma piedosa e tradicionalíssima de celebração – de renovação do Sacrifício de Cristo no Calvário – não é, no fundo, outra coisa que não o ódio à Cruz de Cristo, o desespero diante das exigências de uma Fé [a Fé Católica e Apostólica, a Fé dos Apóstolos!] que parece seguir – em tudo – na contramão dos valores pregados pelo mundo de hoje.

Loucura entre os profetas de desgraças que sentem ojeriza pela aproximação da FSSPX à Sé de Pedro, e que intimamente torcem (quiçá rezem…) pelo malogro das conversações e para que os sacerdotes e fiéis ligados a Lefebvre permaneçam para sempre à margem da Barca de Pedro. Este ódio não é, também, outra coisa que não o ódio à intransigência da Fé Católica e Apostólica, às exigências da Cruz que não querem ver exaltada.

E, por fim, loucura nestas palavras de um Sucessor dos Apóstolos, que propõe-nos aos cristãos escondermos a Cruz (!) ao invés de A exaltarmos, em atenção aos infiéis sarracenos (!!). Sua Excelência termina seu texto dizendo que se deve tomar «cuidado com os marcados por símbolos». Eu diria a Dom Demétrio que, antes, devemos tomar cuidado – e muito! – com os marcados por ideologias estranhas à doutrina católica, ainda que se apresentem de mitra e báculo.

Porque nós, cristãos, somos marcados com o sinal de Cristo, e o sinal de Cristo é a Sua Cruz. «Estou pregado à cruz de Cristo» são palavras do Apóstolo (Gl 2, 19b); como podemos então não carregar em nossos corpos as marcas desta tão importante conformação a Nosso Senhor? Nós cristãos somos marcados indelevelmente com o caráter batismal e, mais tarde, com o selo do Santo Crisma. Os que ascendem às Sagradas Ordens recebem ainda um terceiro caráter indelével, o do Sacramento da Ordem. Ao evocar o adágio latino, Dom Demétrio esquece que ele próprio é três vezes marcado por Nosso Senhor. E, por via adversa, por linhas tortas, sem nexo causal, o bispo de Jales termina por dizer uma grande verdade: que os cristãos devem tomar cuidado com ele.

“Quanto a mim, não pretendo, jamais, gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo” (Gl 6, 14). Que nós façamos nossas estas palavras de São Paulo. Que nós não nos gloriemos neste mundo, a não ser na Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo, na festa litúrgica de ontem exaltada. Que nós tenhamos sempre a ousadia de ostentar esta Cruz bem alto – sem respeito humano, sem receios de ofender hereges ou infiéis -, porque só assim as pessoas poderão ser atraídas a Ela. Que nós – como cantam as composições populares de antigamente – possamos sempre, aqui na Terra, cantar louvores à Santa Cruz, a despeito do que digam o mundo e os maus prelados.

Curtas

O Ano Sacerdotal: coletânea de textos do Papa Bento XVI organizada pelo pe. Demétrio Gomes. «As páginas deste livro contêm as principais intervenções do Romano Pontífice dirigidas aos sacerdotes ao longo do Ano Sacerdotal. Constituirão, certamente, um sólido alimento para a meditação dos sacerdotes, assim como uma preciosa catequese para todos os membros da Santa Igreja acerca deste ministério sagrado». São 205 páginas, pela Editora Ecclesiae.

Fica a dica. Mais informações aqui.

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Bispo mexicano afirma que o Vaticano lhe pediu explicações sobre seu apoio a um grupo gay. Trata-se de Dom Raúl Vera López.

Para quem não conhece a história: no início do mês passado apareceram alguns “fiéis” gays, com o apoio do bispo, pedindo um “matrimônio gay”. Os católicos, naturalmente indignados com este vergonhoso apoio dado por Sua Excelência, manifestaram-se pedindo um bispo católico para a diocese de Saltillo – ao que Dom Raúl respondeu oficialmente: “por fidelidade ao ministério pastoral que desempenha, (o Bispo Vera) não cessará seu dinamismo e sua voz, que procuram contribuir à construção de comunidades de fé mais viva e comprometidas e de uma sociedade mais humana”. Apareceu também um abaixo-assinado “em solidariedade” a Sua Excelência.

Pois bem, agora o Vaticano pede esclarecimentos a Dom Raúl Vera López. “Não estou contra o magistério da Igreja, nem estou promovendo a desonestidade, iria contra meus princípios promover a depravação ou a degeneração das pessoas”, disse Sua Excelência. Veremos se o compromisso do bispo de Saltillo é com o Evangelho ou com a Agenda Gay.

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Jovem religiosa defende o uso público do hábito desafiando a Cristofobia. À Paris! A garota foi ao Liceu Carnot de hábito e provocou a ira dos professores laicistas. “Os jornais fizeram estardalhaço com o fato e o secretariado geral do ensino católico exigiu que a irmã Ana Verônica desse prova de ‘juízo’ e comparecesse usando roupas civis”.

A matéria acima diz que a irmã escreveu uma carta em resposta, que foi publicada pelo La Croix. Não encontrei a original. Encontrei este áudio do dia 23 de junho que minha incompetência lingüística me impede de entender a contento. No entanto, a polêmica é verdadeira. Tristes tempos em que provoca polêmica o fato de uma freira se vestir… como freira! Parabéns a Sœur Anne-Véronique. Que Nosso Senhor possa, n’Aquele Dia Terrível, testemunhar em favor desta garota que, aqui na terra, não hesitou em dar testemunho d’Ele.

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– É também interessante este texto do Fratres sobre a Cruz de Cristo e os judeus. Interessante, porque o rabino de Roma parece descobrir a pólvora:

« Pois então há o risco – prossegue – de se entrar na teología da substituição e a Cruz se converte em obstáculo. O diálogo judaico-cristão corre inevitavelmente este risco, porque a idéia do cumprimento das promessas judaicas é a base da fé cristã; assim, o afirmar-se desta fé implica sempre uma idéia implícita de integração, se não de superação da fé judaica ».

De Segni continua: « a língua do diálogo deve ser comum e o projeto deve ser compartilhado. Se os termos do diálogo são baseados em cristãos indicando aos judeus o caminho da Cruz, não se entende o porque do diálogo nem o porque de Assis ».

Ora, como já dissemos e repetimos incontáveis vezes, o objetivo do “ecumenismo” e do diálogo inter-religioso não é outro que não a conversão de todos os homens à Igreja Católica, Única Igreja de Cristo e caminho necessário para a salvação. Se o De Segni não entendeu isto ainda, então ele realmente não faz a menor idéia do que é o “diálogo” ou do porquê de encontros como o de Assis.

Sim, a afirmação da Fé Católica é, ipso facto, a negação de toda e qualquer outra falsa fé, e isto é bastante evidente. Que bom que um rabino descobriu o sol ao meio-dia! Já é meio caminho andado para que ele possa agora, enfim, deixar que o Onipotente tire-lhe dos olhos o véu da cegueira e o conduza à Igreja de Nosso Senhor.

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Deve-se prender mulheres por causa do aborto? Via Wagner Moura. Não vou dizer do que se trata, vejam lá. Recomendo enfaticamente a leitura. Só para dar um gostinho: «É, amiguinhos, assim é o mundo pós-descriminalização do aborto. Você aí pensando que ser contra o aborto não implica em ser contra a descriminalização do aborto uma vez que assim todos poderão ser amigos e felizes… Você é só um idiota. Obrigado».

Que assim seja!

Leio em ZENIT que Dom Fernando Saburido vai receber o pálio no próximo dia 29 de junho. A mesma notícia recorda que a peça de lã branca é “símbolo da união com o sucessor de Pedro”. Que assim seja! Oremus pro Antistite nostro Ferdinando – stet et pascat in fortitudine tua, Domine, in sublimitate nominis tui.

Leio também que o Papa Bento XVI, em discurso aos bispos do Regional Leste II da CNBB, disse recentemente que os bispos têm “a missão de ensinar com audácia a verdade que se deve crer e viver, apresentando-a de forma autêntica”, e também que eles devem “procurar que a liturgia seja verdadeiramente uma epifania do mistério, isto é, expressão da natureza genuína da Igreja, que ativamente presta culto a Deus por Cristo no Espírito Santo”; pois “[d]e todos os deveres do (…) ministério [episcopal], «o mais imperioso e importante é a responsabilidade pela celebração da Eucaristia»”. Que assim seja! Não só para a “Regional Leste II”, mas para todo o Brasil.

E, por fim, leio com alegria o Santo Padre lembrar que, para ser cristão, é necessário tomar a sua cruz. “Tomar sua cruz significa empenhar-se em vencer o pecado que obstaculiza o caminho em direção a Deus, acolher diariamente a vontade do Senhor, intensificar sua fé especialmente diante dos problemas, das dificuldades, do sofrimento”. Que assim seja! Para todos nós, ad majorem Dei Gloriam.

Sinal sensível da graça invisível…

Fonte: “Água cai em forma de terço”.

Sepultados com ele no batismo, com ele também ressuscitastes por vossa fé no poder de Deus, que o ressuscitou dos mortos.

Mortos pelos vossos pecados e pela incircuncisão da vossa carne, chamou-vos novamente à vida em companhia com ele. É ele que nos perdoou todos os pecados, cancelando o documento escrito contra nós, cujas prescrições nos condenavam. Aboliu-o definitivamente, ao encravá-lo na cruz.

Espoliou os principados e potestades, e os expôs ao ridículo, triunfando deles pela cruz.

Carta de São Paulo aos Colossenses, Capítulo II, versículos do 12 ao 15.

“Só o Amor redime” – Bento XVI

Portanto, vale a pena deixar-se tocar pelo fogo do Espírito Santo! A dor que nos chega é necessária à nossa transformação. É a realidade da Cruz: não por acaso, na linguagem de Jesus, o “fogo” é sobretudo uma representação do mistério da Cruz, sem o qual não existe Cristianismo. Por isso, iluminados e confortados por estas palavras de vida, elevemos nossas invocações: vinde, Espírito Santo! Acendei em nós o fogo do Vosso amor! Saibamos que esta é uma oração audaciosa, com a qual pedimos ser tocados pelas chamas de Deus; mas saibamos sobretudo que estas chamas – e somente estas – têm o poder de nos salvar. Não queiramos, para defender a nossa vida, perder aquela Eterna que Deus nos quer doar. Nós temos necessidade do fogo do Espírito Santo, porque só o Amor redime. Amen!

Bento XVI
Cappella papale nella Solennità di Pentecoste – Omelia del Santo Padre Benedetto XVI
Domenica, 23 maggio 2010

Sexta-Feira, Passio Domini

Na realidade, nada é tão escuro e misterioso como a morte do Filho de Deus, que junto com Deus Pai é a fonte e plenitude da vida. Mas também nada é tão luminoso, porque aqui refulge a glória de Deus, a glória do Amor onipotente e misericordioso.

Card. Camillo Ruini, Via-Sacra no Coliseu, Sexta-Feira Santa 2010.
Décima Segunda estação: Jesus morre na Cruz.

Na Sexta-Feira da Paixão, nós não temos sequer missa. O único ato litúrgico do dia tem lugar às três horas da tarde, hora em que Nosso Senhor morreu. Prolongamento da cerimônia de ontem, que iniciou o Tríduo Sacro, a Celebração da Paixão do Senhor de hoje tem como principal característica o silêncio. Não há palavras capazes de exprimir adequadamente o grande mistério da morte de Deus. Resta-nos uma muda contemplação.

Os instrumentos musicais emudeceram desde ontem, e as matracas ainda tomam o lugar dos sinos alegres. A procissão de entrada, silenciosa, é quase lúgubre; este efeito é ainda mais intensificado pelo altar desnudo, o sacrário aberto e vazio, os crucifixos cobertos com pano. Prostra-se o sacerdote diante do altar, junto com os acólitos, e assim permanece por um breve período. A adoração silenciosa, quase perplexa, é o que resta ao pecador que se encontra diante do amor infinito de Deus, revelado em sua faceta mais radical.

Aqueles que, ontem, aceitaram que o Senhor lavasse os seus pés, precisam hoje aceitar que Ele lave os seus pecados. O paralelo é notável: São Pedro, ontem, disse a Nosso Senhor que Ele não lhe lavaria os pés: hoje, tentou impedir “a coorte e os guardas de serviço dos pontífices e dos fariseus” (Jo XVIII, 3) de levarem Nosso Senhor. E as duas respostas que Cristo deu, ontem e hoje, complementam-se de maneira fantástica: “se eu não tos lavar [os pés], não terás parte comigo”, ontem; e “[n]ão hei de beber eu o cálice que o Pai me deu?”, hoje. É como se dissesse Nosso Senhor: “veja, eu vou sofrer e vou ser crucificado, e vou morrer por ti, e se não o aceitares, não poderás permanecer comigo”.

Foi difícil a São Pedro permitir que Nosso Senhor lhe lavasse os pés; como não deve ter sido difícil aceitar que Ele morresse em seu favor! O silêncio, da celebração de hoje, é pesado também porque é humilhante. É quando o orgulho humano precisa ser quebrado, e é quando precisamos aceitar – porque não ousamos pedir – que o Deus Onipotente faça, por nós, algo que nós próprios muito provavelmente não faríamos por ninguém. Deus sofre por nós, e morre por nós, e o doloroso é que nós não podemos impedi-Lo, porque somos pecadores e precisamos do Seu Sacrifício Redentor. O silêncio é também contrito: a que ponto chegamos? Os nossos pecados são tantos e tão numerosos que conduziram Deus à morte. Fizemos tudo tão errado que o preço do conserto é o Divino Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo derramado na Cruz.

“Senhor, perdoai-me” – é o grito que sobe do fundo do coração do homem que percebe o seu papel no drama que hoje se desenrola. Um duplo papel, aliás, que só faz sentido dentro da lógica do amor radical de Deus pelos seres humanos: nós somos, ao mesmo tempo, causa e fim dos sofrimentos do Filho de Deus. São os meus pecados que pregam Nosso Senhor na Cruz (Senhor, perdoai-me!), e é a morte de Nosso Senhor na Cruz que perdoa os meus pecados (Senhor, obrigado!). Somos, ao mesmo tempo, culpados e beneficiários. Como exprimir esta singular condição? Ajoelhamo-nos na leitura da Paixão de Nosso Senhor, quando Ele inclina a cabeça e rende o espírito – mais do que isso, não podemos fazer.

Mas também desçamos com Nosso Senhor ao túmulo. Preparemo-nos para o Sábado Santo, para o Terceiro Dia que já vem, quando Ele há de romper o Sepulcro e ressurgir, vencedor. Mas, por enquanto, é ausência. O Senhor está morto. Que a Paixão de Cristo possa nos confortar.