DASPU e aberração moral

Fiquei profundamente triste quando li esta matéria da Folha de São Paulo. Foi por meio dela que descobri o site da “DASPU”, uma grife carioca ligada à ONG Davida, que tem como missão “[c]riar oportunidades para o fortalecimento da cidadania das prostitutas, por meio da organização da categoria, da defesa e promoção de direitos, da mobilização e do controle social”.

Não vou colocar aqui o site da “putique” – como é chamada a “loja da DASPU” – porque a decência mo impede. Aliás, aos curiosos que se aventurarem a procurá-lo, aviso que desliguem o som do computador, porque as músicas tocadas na “Rádio DASPU” não seriam tocadas, há alguns anos, nem mesmo nas casas de tolerância. A vulgaridade e as letras chulas expostas assim na internet, a um clique de quem quer que seja, sem nenhum aviso de que se trata de material pornográfico ao extremo, são uma amostra da decadência na qual se encontra a nossa sociedade. Às vezes eu tenho medo da internet…

Pois bem. A tal grife se diz, expressamente, “de quem não tem vergonha de dizer quem é e o que faz”: eis aí a inversão de valores dita às claras, e o vício exaltado como se fosse uma virtude. Não sei se isso é uma hipocrisia sem tamanhos ou uma patologia moral inaudita: gostaria muitíssimo de saber quantos dos que trabalham com esta ONG gostariam que as suas filhas fossem prostitutas. Afinal de contas, assumir uma postura diante do mundo que não se admite aplicar a si próprio é, para dizer o mínimo, equivocado. A grife – diz ainda no seu site – “não pretende tirar ninguém da prostituição”, e é essa intenção diabólica que mais me incomoda.

Se é verdade que sempre houve prostitutas, é igualmente verdade – e isto é o mais importante – que elas nunca gozaram de reconhecimento social como se fizessem parte de uma “categoria” de trabalho com a qual estivesse tudo bem. Sempre houve prostituição, mas a prostituição sempre foi considerada por todos como aquilo que ela é: um terrível pecado e uma grave falha moral. Os que acusam a Igreja de ter tolerado a existência de prostíbulos até mesmo nos estados pontifícios – o que é verdade – “esquecem-se” de notar que entre tolerar um mal e dizer que este mal é um bem vai uma distância muito grande. Diante da impossibilidade de se acabar com a prostituição, deve-se portanto reconhecer que ela é um valor a ser defendido e promovido: eis o “raciocínio” de muitos dos nossos dias.

[Aliás, en passant, vale salientar que este raciocínio tortuoso é aplicado para muitíssimas coisas: se não dá para se acabar com as prostitutas então vamos dizer que a prostituição é um direito a ser reconhecido, se existem homossexuais então vamos reconhecer o casamento gay, se não dá para acabar com as drogas então vamos legalizá-las, se não dá para acabar com o aborto então vamos transformá-lo num direito a ser tutelado pelo Estado, etc, etc.]

A Igreja sabe que o homem é fraco e, por conseguinte, que é capaz das mais terríveis quedas caso não se mantenha vigilante, zeloso na oração e assíduo aos sacramentos; no entanto, não deixa de afirmar ousadamente o ideal de santidade que é possível e aos quais os homens, ainda que fracos, são chamados. Clemência, sim, diante do pecador contrito; mas nunca conivência com o pecado. Ao perder o senso moral, ao rejeitar o referencial absoluto, a sociedade moderna parece não ser mais capaz de apontar um ideal de santidade a ser valorizado para além das misérias humanas. Se há misérias, são estas que devem ser valorizadas: se há prostitutas, elas precisam ser integradas à sociedade naquilo que elas são. Não há ideais, não há mudanças possíveis: há somente a realidade humana nua e crua, e é com esta que se deve trabalhar.

Só que a realidade humana “sozinha” é muito triste. Sem a Graça, sem a vida sobrenatural, o mundo é muito feio e, as sociedades, aberrantes. Não há limites para as atrocidades morais das quais são capazes os homens “sozinhos”: negar a existência de um Referencial e entregar os homens à sua própria natureza nunca será capaz de produzir homens bons. Em frontal oposição a tudo isso está a Igreja, com a mensagem do Evangelho e a afirmação – consoladora! – de que a natureza humana decaída não tem a última palavra, e é possível a conversão, é possível uma mudança de vida. Contra esta mentalidade moderna estão aquelas palavras de Nosso Senhor, segundo as quais as prostitutas precederiam a muitos no Reino dos Céus; mas não as prostitutas “praticantes”, mas sim aquelas que ouvissem o Seu chamado e O obedecessem quando Ele disse para que elas não tornassem a pecar.