Dois textos sobre Niemeyer

Para oferecer um contraponto à onda de bajulação surgida após a recente morte do arquiteto Oscar Niemeyer.

Arquitetura e humanidade, por Carlos Ramalhete. «Stálin e Hitler mandaram construir edifícios gigantescos, em que o homem desaparecia como uma formiga numa mesa. Niemeyer fez edifícios em que o homem desaparecia como uma formiga numa bela escultura; a visão é a mesma, o erro é o mesmo. Difere apenas o talento de quem rascunha as leves linhas com que o humano é negado».

– Niemeyer, a arquitetura da destruição, por Demétrio Magnoli. «A estética de Niemeyer é uma declaração política. Em Brasília, como registrou James Holston, o contraste tipológico entre os edifícios públicos, “objetos excepcionais, figurais, de cunho monumental” e os edifícios residenciais, “objetos seriais, repetidos, que são cotidianos”, representa a utopia regressiva almejada pelo arquiteto. Tinha razão Alberto Moravia quando escreveu para um jornal italiano que a capital recém-inaugurada fazia as pessoas se sentirem “como os minúsculos habitantes de Lilliput” e procurarem “no céu vazio a forma ameaçadora de um novo Gulliver”».