“A lógica da decadência” – D. Nuno Brás

[Recebi de um leitor do além-mar este artigo – publicado no semanário do Patriarcado de Lisboa – escrito por S.E.R. Dom Nuno Brás, bispo auxiliar de Lisboa. Lê-lo foi um alento; foi como se eu me deparasse de novo com aquela promessa da Virgem Santíssima em Fátima, dizendo que em Portugal sempre se conservaria o dogma da Fé. Corajoso artigo, que reproduzo integralmente, pedindo à Virgem SSma. que possa velar pelo ministério de Dom Nuno Brás; e que Ela faça também com que o Senhor da messe mande mais servos – bons e fiéis servos, como precisamos! – para cuidar da Sua grei.]

A lógica da decadência

Não gosto de ser “profeta da desgraça” mas, infelizmente, creio que nem é preciso ser profeta. Basta, simplesmente, darmo-nos conta da realidade. No mundo ocidental, vivemos numa clara “lógica da decadência”. Em todos os âmbitos e de há vários anos a esta parte.

Na economia, a “ciência das ciências” sem a qual parece que ninguém pode sobreviver, o que importa são os números, as estatísticas, e particularmente o crescimento da riqueza. De tempos-a-tempos vem uma crise, uns quantos declaram falência, outros passam por momentos mais difíceis, mas como, depois, o mecanismo se reajusta por si mesmo, tudo parece acabar bem, como num qualquer romance cor-de-rosa. Só nos esquecemos dos dramas humanos que, entretanto, foram vividos, e daqueles outros criados pela nova situação.

Na vida social, impôs-se o “politicamente correcto” ditado pelos telejornais e respectivos comentadores. Basta que cada um viva de acordo com os padrões estéticos (muito mais importantes hoje que os valores éticos), tenha dinheiro suficiente, gaste bastante em roupa e produtos tecnológicos, e possa viver como egoisticamente lhe apetece. Deixámos de ser uma sociedade, para sermos um conjunto de indivíduos que vivem ao lado uns dos outros, na esperança que ninguém retire ao outro o sossego que lhe é devido. E o direito passou a tutelar esse modo de viver. A família deixou de ter qualquer valor. Tanto dá que possa ou não ser o berço da vida. A lei só tem que defender o egoísta e aquilo que lhe apetece no momento.

Aliás, há muito que a vida humana deixou, efectivamente, de contar. Somos capazes de defender com tenacidade a vida das baleias, dos golfinhos e das plantas raras ou em vias de extinção; mas só em Portugal o Estado patrocinou cerca de 80.000 abortos (80.000 portugueses que foram mortos com a cobertura da lei e das instituições, sem terem cometido qualquer crime), mesmo que, depois, se mostre preocupado com a crescente diminuição da população portuguesa. Não tardará a que surjam opiniões nacionais a defender, como aconteceu numa recente revista britânica, que é perfeitamente legítimo matar recém-nascidos que não se integrem nos padrões decididos pela sociedade.

A própria fé não raras vezes é olhada como sendo demasiado exigente. Por isso, cada um faz os “descontos” que lhe apraz – cada crente (infelizmente, mesmo alguns sacerdotes) acha que a deve viver de uma forma mais suave (leia-se: menos exigente), até para que não o chamem de “fundamentalista” (pecado mortal numa sociedade em decadência e onde tudo vale), e as suas incapacidades, pecados e falta de coragem se vejam pretensamente justificados aos olhos de Deus.

E poderíamos continuar… Mas recuso-me a ser profeta da desgraça. Até porque é neste mundo, que se encaminha a passos largos para a decadência, que Deus nos enviou a proclamar com ousadia a Boa Nova do Evangelho. E essa propõe a todos uma vida nova, “radicalmente nova” – ou seja, nova de raiz, não a partir do homem mas de Deus. Ou melhor, a partir de Jesus de Nazaré.

D. Nuno Brás

Stultorum infinitus est numerus

Engraçados dois comentários que foram feitos aqui recentemente.

O primeiro, no “sobre mim” do blog, disse que “[q]ue Jesus nunca existiu já está mais que provado, e faz muito tempo”. O segundo, no post sobre a Lady Gaga, afirmou que (a confusão é no original) “analisando coerentemente, coisa que este site não exerce, GAGA e a IGREJA CATÒLICA usufruem das mesmas técnicas descritas por mim anteriormente para arrendarem mais fans, fiéis (…) com o único e terrível propósito econômico”.

Às vezes eu fico pensando de onde é que essa gente surge, o que é que têm na cabeça… Quando eu leio coisas assim, lembro-me daquele texto (de Nelson Rodrigues, se a memória não me trai), segundo o qual os idiotas que sempre ficaram calados hoje em dia se acham no direito de falar – e esse é um dos grandes problemas dos tempos modernos.

Em pleno século XXI o sujeito abrir a boca para dizer que Jesus “nunca existiu” e que isso já está “provado”, é de uma idiotice descomunal. E olhe que ele fala com a empáfia de quem está proclamando uma obviedade. Do mesmo modo, o outro sujeito colocar lado-a-lado a Lady Gaga e a Igreja Católica, dizendo que ambas procuram “mais fiéis” e têm por único “propósito [o] econômico”… tal afirmação absurda e disparatada, em outros tempos, seria facilmente recebida como a idiotice que é. No entanto, hoje os idiotas falam, e falam, e têm público que lhes dê crédito pelas bobagens que afirmam sem enrubescer! De onde veio tanta decadência? Como é possível que as pessoas maltratem tanto as palavras e o discurso, e tenham quem lhes apóie nesta degradante empreitada?

Não sei quem é que dizia que a inteligência é limitada, mas a idiotice não. A cada dia, multiplicam-se os exemplos que corroboram a tese. Mas as Escrituras já diziam que o número dos tolos é infinito: stultorum infinitus est numerus (Liber Ecclesiastes 1,15). O mundo de hoje dá eloqüente testemunho em favor das Sagradas Escrituras! Haveria mais crentes, caso esta prova da inspiração divina da Bíblia não fosse, aquela própria (i.e. o número infinito de idiotas), obstáculo à Fé…

O materialismo da Campanha da Fraternidade

Ano passado, eu escrevi um post aqui no Deus lo Vult! onde eram apresentadas algumas estatísticas sobre o texto-base da Campanha da Fraternidade de então. Este ano, agora que a CNBB disponibilizou a versão eletrônica do texto da CF/2010, eu posso fazer a mesma coisa.

As oitenta páginas do referido documento podem ser baixadas aqui, no site da CNBB. Ao contrário de certas análises de conjunturas que andam circulando internet afora, até onde me conste este é um documento oficial da Conferência, sim.

Eis aqui as estatísticas. A metodologia utilizada é trivial: a caixa de pesquisa do Acrobat Reader. Quando as expressões aparecem “puras”, é porque a busca foi feita por elas ipsis litteris; quando aparece “e derivados”, é porque consultei pelo radical (p. ex., ‘arrepend’, o que engloba tanto ‘arrependimento’ quanto as formas verbais ‘arrependei-vos’, ‘arrependi-me’, ‘arrepender’, etc.).

Os resultados são os seguintes:

  • “Jesus”: 37 ocorrências (“Nosso Senhor”, uma única ocorrência, na oração da CFE).
  • “Católica” e “católicos”: 8 ocorrências.
  • “Conversão” (e derivados): 7 ocorrências.
  • “Oração”: 5 ocorrências (sendo duas vezes no título “oração da CFE 2010”, a do índice e a da página correspondente).
  • “Caridade”: 4 ocorrências.
  • “Esmola”: 3 ocorrências.
  • “Pecado” (e derivados): 2 ocorrências.
  • “Jejum”: 2 ocorrências (e recomendo que vejam quais são!!).
  • “Virgem Maria” (a pesquisa foi feita por “Maria”): 2 ocorrências (“Nossa Senhora”, nenhuma).
  • “Arrependimento” (e derivados): 2 ocorrências.
  • “Sacramento”: 2 ocorrências.
  • “Papa”: 2 ocorrências.
  • “Magistério”: 1 ocorrência.
  • “Penitência”: nenhuma ocorrência.
  • “Eucaristia”: nenhuma ocorrência.
  • “Missa”: nenhuma ocorrência.
  • “Sacerdote”: nenhuma ocorrência.
  • “Calvário”: nenhuma ocorrência.
  • “Cruz”: nenhuma ocorrência.
  • “Trindade”: nenhuma ocorrência.
  • “Santificação”: nenhuma ocorrência (“santificar” tem duas, no comentário sobre o Pai Nosso).
  • “Redenção” (e derivados): nenhuma ocorrência (“Redentor” aparece uma única vez, numa nota de rodapé, em referência – pasmem! – a um livro sobre Martin Luther King, chamado “O Redentor Negro”! Está à página 55).
  • “Confissão” (sacramento): nenhuma ocorrência (há duas referências a “confissão”, na expressão “Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil”, com as maiúsculas por conta da CNBB).

Em contrapartida:

  • “Economia (e derivados): 142 ocorrências.
  • “Solidariedade” (e derivados): 81 ocorrências.
  • “Pobre” (e derivados): 75 ocorrências.
  • “Direito(s)”: 74 ocorrências.
  • “Terra”: 64 ocorrências.
  • “Trabalho”: 56 ocorrências.
  • “Social” (e derivados): 54 ocorrências.
  • “Política” (e derivados): 39 ocorrências.
  • “Mercado” e “Mercadoria”: 30 ocorrências.
  • “Desenvolvimento”: 29 ocorrências.
  • “Povo”: 27 ocorrências.
  • “Miséria”: 12 ocorrências.
  • “Exploração” (e derivados): 11 ocorrências.

Isto é sintomático. No segundo grupo, a palavra que menos aparece é “exploração”; mesmo assim, ela aparece mais do que todas as palavras do primeiro grupo, à exceção de “Jesus”. E até mesmo “política” aparece mais do que “Jesus” neste documento!

Coisas absolutamente fundamentais para qualquer texto que se pretenda servir para o tempo quaresmal, é inexplicável a total ausência de palavras como “Missa”, “Eucaristia” e “Confissão”. Que espécie de preparação para a Páscoa pode ser feita sem que se fale na Santa Missa? Sem que se fale em comunhão eucarística, em confissão dos pecados, em arrependimento? Sem que se fale na Virgem Santíssima? A conclusão é inevitável: este texto não serve para a Quaresma. Não pode servir, porque não trata de temas espirituais. Fica perdido no naturalismo, na horizontalidade, na materialidade estéril – e passa longe das necessidades espirituais dos fiéis católicos.

A julgar por este texto-base, parece ser opinião da CNBB que a Igreja deve, durante a Quaresma, falar mais em exploração do que em oração. Deve falar mais em miséria do que em pecado. Mais em trabalho que em conversão. Mais em política do que em Nosso Senhor.

E isto é muito triste. Se o sal perde o sabor, para quê ele servirá? Até quando suportaremos esta campanha da materialidade, que nega toda a riqueza espiritual do tempo da quaresma, soterrando a piedade católica sob uma profusão de temas naturalistas estéreis? Usquequo, Domine…?

O Papa e a Campanha da Fraternidade 2010

Não achei no site da CNBB o texto base da Campanha da Fraternidade 2010. Estranho, uma vez que a maledetta já começou desde anteontem, Quarta-Feira de Cinzas, competindo com a Quaresma que a Igreja sempre propôs.

Mas li as duas mensagens do Papa Bento XVI, cuja leitura recomendo:

1. Mensagem do Papa Bento XVI para a Quaresma 2010

2. Mensagem do Papa aos Bispos Brasileiros por ocasião da CF 2010

Recomendo principalmente a segunda. Parece ser, de novo, um verdadeiro puxão de orelhas aos responsáveis pela palhaçada tupiniquim que, todo ano, conspurca o tempo santo da Quaresma. E o Papa já fez isso pelo menos uma outra vez, no ano passado. Desta mensagem do Papa aos Bispos, destaco as seguintes frases que – aposto! – não iremos encontrar (nem parecidas) nos textos da Conferência:

  • Com a quarta-feira de cinzas, volta aquele tempo favorável de salvação, que é a Quaresma, com seu apelo insistente: “Reconciliai-vos com Deus” (2Cor 6,2).
  • [R]ecordo que a escravidão ao dinheiro e a injustiça “tem origem no coração do homem, onde se encontram os germes de uma misteriosa convivência com o mal”.
  • Por isso, encorajo-vos a preservar no testemunho do amor de Deus, do Filho de Deus que se fez homem, do amor agraciado com a vida de Deus, do único bem que pode saciar o coração da gente, pois, “mais do que de pão, [o homem] de fato precisa de Deus”.
  • Nós existimos para mostrar Deus aos homens. E só onde se vê Deus, começa verdadeiramente a vida.
  • Se “a boca fala daquilo que o coração está cheio” (Mt 12, 34), podeis conhecer vosso coração a partir das vossas palavras. “Reconciliai-vos com Deus”, de modo que as vossas palavras sirvam sobretudo para falar de Deus e a Deus.

Será que os responsáveis pela infâmia que atende pelo nome de “CF” entenderam, ou vai ser preciso desenhar? A Quaresma é tempo de salvação, de reconciliação com Deus, e não de doutrinação ideológica de baixa qualidade. A injustiça nasce do coração do homem, e não do sistema econômico atualmente vigente, do neoliberalismo ou da globalização. O homem precisa de Deus, mais do que de comida. A Igreja existe para mostrar Deus aos homens, e não há vida verdadeira sem Ele. E as palavras dos homens da Igreja devem falar de Deus e a Deus, e não de Marx aos “oprimidos”.

“Podeis conhecer vosso coração a partir das vossas palavras” – é Pedro quem fala. Aos bispos brasileiros. Não estamos abandonados. De longe, da Cidade Eterna, de Roma, temos um ancião que olha por nós. Mesmo no deserto materialista ao qual todo ano nos lançam os nossos reverendíssimos pastores, recebemos de Roma palavras que nos falam de Deus.

Esforcemo-nos por viver santamente a Quaresma, apesar do lixo que nos empurram. Que a Virgem Dolorosa tenha misericórdia dos fiéis brasileiros. E que as palavras o Vigário de Cristo nos sirvam de alento: a Igreja é maior do que a CF. Apesar da Campanha, graças a Deus, ainda é Quaresma.

Quem é socialista propõe uma via comprovadamente retrógrada

[Faço questão de publicar cum jubilo o pequeno artigo de S.E.R. Dom Aloísio Roque Oppermann, cujo título é “Pode existir socialismo cristão?”, e que foi publicado – pasmem! – no site da CNBB. Os grifos são meus.

Vamos ver se, agora, alguns políticos ditos católicos acordam, algumas múmias da Teologia da Libertação voltam para os seus túmulos e alguns leigos param de apoiar partidos socialistas.]

Recebo uma revista católica, que leio religiosamente. Destina-se aos Jovens. É escrita por uma equipe de pessoas de bom nível intelectual e didático. Mas lá no fundo, a linha de pensamento me deixa preocupado. Entre outras coisas, mensalmente sai um artigo que louva certas revoluções, de viés claramente esquerdizantes. É um estímulo aos jovens, para canalizar suas energias, de modo bem suave, para o socialismo. A mesma impressão me causa o Stedile, com seus sequazes nem sempre de origem rural. Novas terras para cultivar, é o que menos interessa. O que se busca é uma nova ordem social, evidentemente socialista. (Ou seria anarquista?) Em todas as latitudes, em qualquer ramo, sempre que se apresenta um corifeu do socialismo, ele se auto-reveste das características simpáticas de moderno, avançado, restaurador da justiça, criador da abundância para todos, enfim, da prosperidade agora ao alcance da mão.

Felizmente, já temos no mundo uma vasta experiência socialista, de duzentos anos, que se instalou em vários países, e deixou rastos de sangue e de atraso. Assim conhecemos sua face. Vejamos as características de tal linha econômico-política. Ela é invencivelmente de alma atéia. E como não consegue convencer a população, via raciocínio, então lança mão do cerceamento da liberdade.  Esvazia tudo o que é de ordem particular, para destinar todos os bens para a administração da sociedade. Como, no seu entender, a livre iniciativa só visa o lucro pessoal e o egoísmo, então o Estado é que deve planejar a produção e a distribuição dos bens. Cabe-lhe ditar regras para a imprensa, selecionar a linha ideológica da escola, e impor a revolução violenta, para implantar o regime dos miseráveis. Para o triunfo do socialismo, a via democrática se mostrou um caminho inviável. Só a coação, para eles, é que resolve. É claro que existem vários tipos de socialismo, mas suas semelhanças são enormes. Com essa descrição também não posso aprovar o capitalismo grosseiro. Mas este admite reformulações, deixa espaço para os partidos de tônica social, e aceita (às vezes constrangido), em aperfeiçoar-se pela Doutrina Social da Igreja. Gente, vamos encurtar caminhos: a via socialista, definitivamente, não é solução. Quem é socialista propõe uma via, comprovadamente retrógrada.

“O Vaticano não é rico”

Sobre as finanças do Vaticano: ‘‘O Vaticano não é rico” – Entrevista com John L. Allen Jr. O vaticanista, para quem não conhece, é o correspondente da NCR e autor do livro “Opus Dei: os mitos e a realidade”. Alguns dados retirados da entrevista:

  • o orçamento anual do Vaticano é de US$ 300 milhões;
  • 50% deste orçamento vem de doações;
  • a avaliação das propriedades do Vaticano deveria se aproximar dos US$ 500 milhões;
  • nos Estados Unidos, a Universidade de Notre Dame – que é a maior universidade católica do país – tem um orçamento operativo de mais de US$ 1 bilhão – isto é, pode financiar o Vaticano três vezes.

É um texto interessante para quem gosta de esbravejar contra a riqueza e o fausto nos quais vive a Igreja Católica, enquanto o mundo passa fome. Em particular, é relevante a seguinte informação, que aliás tenho a impressão de já ter reproduzido aqui: “Desde o final da década de 70 até o começo dos 90, eles estavam com números vermelhos quase todos os anos. Depois, chegou um cardeal norte-americano de Detroit encarregado da operação financeira, que era conhecido por ser alguém habilidoso com o dinheiro. Ele corrigiu o déficit, e eles obtiveram números azuis por vários anos. A partir daí, veio uma crise financeira, e voltaram a ter números vermelhos, mesmo que o déficit não tenha sido muito grande. Em geral, a Igreja não obtém excedentes significativos”.

Por uma Quaresma católica

Está chegando a época da humilhação anual à Igreja de Nosso Senhor. A Campanha da Fraternidade 2010 promete. Com o tema “Economia e Vida” e o lema “Vocês não podem servir a Deus e ao dinheiro” (ou seria o contrário?), a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil parece se preparar para uma nova rodada de desprezos a assuntos como graça, sacramentos, oração, mortificação, jejum, penitência, esmola e outras coisas que, no resto do mundo, têm tudo a ver com Quaresma.

No Brasil, na cabeça da CNBB, o que tem a ver com Quaresma é… economia. Como se os bispos fossem economistas, ou como se a Verdadeira Economia estivesse entre aquelas verdades reveladas cuja profissão expressa é absolutamente necessária para a salvação de toda a criatura, ou como se os maiores pecados dos católicos brasileiros fossem a conivência, direta ou indireta, com o “sistema” intrinsecamente injusto que dirige a nossa sociedade.

O Danilo escreveu ontem sobre o assunto. Recebi um email de um amigo comentando o texto-base da CF que, não obstante, vou me abster de citar aqui porque não o encontrei até o presente momento no site da Conferência. O Puggina também escreveu, no Mídia Sem Máscara, um artigo sobre as tolices beato-marxistas das Campanhas da Fraternidade. É crescente a insatisfação das pessoas sensatas com esta palhaçada que, todo santo ano, é feita justamente no tempo talvez mais importante do Calendário Litúrgico da Igreja. E até quando vai continuar?

O mais frustrante é que já é tarde para fazer muita coisa. Já estão escolhidos o tema e o lema, os cartazes estão prontos, a divulgação já começou, e o texto-base provavelmente já está escrito e deverá estar disponível no site da CNBB muito em breve. Ano passado, eu tinha feito o propósito de ensaiar uma mobilização para que, ao menos, esta maledetta campanha fosse colocada bem longe da Quaresma. Não fiz nada – mea culpa. Desta vez, vamos aproveitar enquanto a indignação ainda está fervendo o sangue. Queremos uma Quaresma católica, e isso não pode ser pedir demais.

Ligeiro apanhado: Economia, Gayzismo

Não existem crises econômicas, mas crises morais – é o que diz Eulogio López, diretor do Hispanidad. “[O] Ocidente não está deixando de ser o motor do desenvolvimento econômico do mundo porque perdeu o trem tecnológico, mas porque não tem filhos. Ter filhos é um preceito moral mas também uma lei econômica. Sem filhos não há pessoas, não há contribuintes que suportem o Estado de Bem-Estar. É a tautologia de que se não há vitalidade as sociedades morrem. Portanto, o aborto e o conjunto de políticas antinatalistas são os vilões de uma economia sã”.

– Ouvi dizer que o primeiro a sustentar a tese, precisamente contra Malthus, foi um economista chamado Friedrich List. Não conheço nada sobre ele. No entanto, soube por ZENIT que “o economista Ettore Gotti Tedeschi, expoente dos maiores grupos bancários mundiais, indicou o Papa Bento XVI para o Nobel de Economia”. Precisamente por ter escrito com clareza, na Caritas in Veritate, que “que a crise econômica é filha da queda da natalidade”.

– Será que vão escutar o Papa? A julgar por dois economistas do The Economist, espero que sim. Eles dizem que Deus está de volta. A tese deles diz que “la religión está jugando un papel cada vez más importante en la vida pública e intelectual”; queira Deus que isso seja verdade. Quanto aos dois autores do texto, uma informação interessante: “[e]l primero es católico; el segundo se declara ateo”.

– A dra. Rozangela Alves Justino – que está sendo perseguida pela Gaystapo por oferecer tratamento psicológico para os seus pacientes que desejarem largar a homossexualidade – concedeu uma entrevista à Folha que foi publicada hoje (via IHU). Sem papas na língua. O homossexualismo “[é] uma doença. E uma doença que estão querendo implantar em toda sociedade. Há um grupo com finalidades políticas e econômicas que quer estabelecer a liberação sexual, inclusive o abuso sexual contra criança. Esse é o movimento que me persegue e que tem feito alianças com conselhos de psicologia para implantar a ditadura gay”.

– Reportagem politicamente incorreta ao extremo no Courage Latino: Estilo de vida homosexual reduce más años de vida… que fumar. “[E]ntre 1990 y 2002, los hombres heterosexuales casados morían a la edad promedio de 74 años, mientras que los homosexuales varones “casados” lo hicieron a la edad promedio de 51 años”. E a pergunta inconveniente: ¿Qué justificación existe para condenar el hábito de fumar y aceptar la homosexualidad? A pergunta retórica bem que poderia ser feita com mais freqüência. Quem sabe o mundo acorde, antes que seja tarde.

Papa – crise mundial

Um amigo economista contou-nos que há, na segunda página do caderno de economia do Estado de São Paulo, uma coluna diária com “frases de impacto” curtas proferidas por algum economista ou analista econômico, e que estas frases costumam ser bem selecionadas. Acho que é a esta página que ele se refere. E, na edição de hoje, quem aparece com frase e foto é o papa Bento XVI. A frase é a seguinte:

“A crise financeira mundial mostra que a fé em Deus triunfará sobre a vida destinada à busca da riqueza material”.

Papa Bento XVI, discursando sobre a futilidade dos bens materiais

Interessante! Eu já havia visto na BBC uma matéria relacionada a isso, inclusive com comentários muito bons. Fui procurar a íntegra deste discurso do Santo Padre, e não o encontrei em português; provavelmente, as palavras do Papa foram colhidas desta meditação aos bispos participantes do Sínodo sobre a Palavra de Deus, que foi publicada em forma de reportagem, e não de íntegra. A íntegra está em italiano. No entanto, é curioso notar que o Papa não estava falando sobre crises de mercado, e sim sobre a palavra de Deus, em um comentário ao salmo 118(119). São palavras do Santo Padre [tradução livre]:

No fim do Sermão da Montanha, o Senhor nos fala das duas possibilidades de construir a casa da [nossa] própria vida: sobre a areia e sobre a rocha. Sobre a areia constrói quem constrói somente sobre coisas visíveis e tangíveis, sobre o sucesso, sobre a carreira, sobre o dinheiro. Aparentemente estas coisas são a verdadeira realidade. Mas tudo isso um dia passará. Vemo-lo agora, na quebra dos grandes bancos: este dinheiro desapareceu, não é nada. E assim todas essas coisas, que se parecem com a realidade verdadeira sobre a qual [se] assentam, são realidades de segunda ordem. Quem constrói a sua vida sobre essas realidades, sobre a matéria, sobre o sucesso, sobre tudo aquilo que parece [= que é aparência], constrói sobre a areia. Somente a Palavra de Deus é fundamento de toda a realidade, é estável como o Céu e ainda mais do que o Céu, é a [própria] realidade. Portanto devemos mudar o nosso conceito de realismo. Realista é quem reconhece na Palavra de Deus, nesta realidade aparentemente tão débil, o fundamento de tudo. Realista é quem constrói a sua vida sobre este fundamento que se mantém permanentemente. E, assim, aqueles primeiros versículos do salmo nos convidam a descobrir qual é a realidade e encontrar deste modo o fundamento da nossa vida, como construir a nossa vida.

O triste é encontrar alguns comentários ridículos sobre o assunto na internet, como se as palavras do Papa fossem uma intervenção autoritária e hipócrita em um assunto que não lhe diz respeito, ou como se algumas pessoas estivessem continuamente em “posição de ataque”, procurando qualquer coisa para criticar; porque, francamente, estas palavras do Santo Padre são tais que não deveriam desagradar ninguém que estivesse em seu estado normal. Mas isso a gente deixa pra lá… declinate a me maligni et scrutabor mandata Dei mei (Psalmorum 118, 115).