Os maus professores não podem ser agredidos

Aconteceu recentemente uma história chocante em Santa Catarina: a sra. Marcia Friggi, professora, foi agredida por um aluno de 15 anos. Um soco bastante violento, como o testemunha a foto que viralizou nas redes sociais: nela a professora aparece com o olho roxo e o rosto ensanguentado. Uma completa barbaridade.

Mas o pior: houve quem dissesse que era “bem feito” para a professora, uma vez que ela elogiara, recentemente, a garota que jogou um ovo no deputado Bolsonaro. A sra. Marcia, assim, teria sido vítima daquilo que defendia publicamente — por conta disso, de certa maneira, “merecendo” ser agredida.

A confusão — infelizmente bastante comum — é gigantesca. Para rebater esta loucura em uma palavra, é preciso sustentar que não é permitido agir de maneira injusta nem mesmo contra o mais injusto dos homens. Ponto, isso não admite relativização e nem depende de absolutamente nada. A sra. Marcia pode ser a pior professora do estado de Santa Catarina, pode ser uma hipóstase da docência irresponsável: isso não autoriza um latagão de quinze anos a esbofetear uma senhora. Não autoriza um aluno a agredir um professor. Absolutamente.

Não é possível ter a menor dúvida com relação a isso: salvante talvez situações excepcionalíssimas de legítima defesa que absolutamente nada têm a ver com o caso em pauta, é errado em si mesmo um homem bater em uma mulher. É errado em si mesmo um aluno bater em um professor. É errado em si mesmo um jovem bater em uma pessoa idosa. A história toda é tão errada, e errada em tantas maneiras diferentes, que provoca horror e constrangimento ver as pessoas debochando e dizendo que a sra. Marcia não está senão colhendo aquilo que plantou. É a barbárie já instaurada, já exuberante, no meio mesmo daqueles que pretendem lutar contra ela!

A situação pela qual passou a professora é consequência das idéias estúpidas que ela própria defende: é verdade. Isso, no entanto, não faz com que a história toda seja menos lamentável, nem tampouco nos exime de repudiar a violência como ela deve ser repudiada. Afinal de contas, o mal não se torna bem quando é dirigido contra os nossos inimigos e desafetos: o mal é censurável de onde quer que ele venha e contra quem quer que ele seja exercido. Isso é um princípio absolutamente inegociável; se formos abrir mão de nossos princípios conforme as nossas conveniências, então muito em breve nos tornaremos iguais àqueles que combatemos.

Não há dúvidas de que é necessário lutar contra a influência nefasta dos professores na formação da juventude. Mas o combate deve ser feito com as armas que são lícitas: o mal se combate com o bem e não de nenhuma outra maneira. A injustiça não se pode combater senão com a justiça. Sim, a julgar pelo que se sabe da sra. Marcia Friggi fica bastante claro que ela é fautriz da barbaria que vemos a nosso redor; mas a isso não se responde com socos e agressões. Em uma sociedade minimamente decente é claro que um professor com as idéias dela jamais poderia lecionar em uma escola pública. Do mesmo modo, é evidente que nenhum pai pode deixar o seu filho em uma escola particular que tenha um quadro de professores degenerado — e a presença de tipos como a sra. Marcia é sem dúvidas capaz de tisnar qualquer corpo docente. Tudo isso é muito óbvio e está fora de qualquer discussão. No entanto, se é justo não admitir que o próprio filho tome, com a sra. Marcia, lições de esquerdismo travestidas de educação formal, não se pode condescender com uma agressão física no ambiente escolar. Se é digno proporcionar debates — mesmo acalorados — nos lugares onde a sra. Marcia finge ser professora, não é admissível que se faça vista grossa a um aluno espancando um professor. Isso não é normal e não pode ser enquadrado na lógica do “bem feito!”.

Existem certas coisas que simplesmente não podem ser feitas, independente do quanto as “mereçam” aqueles que as sofrem. Não podem ser sequer aplaudidas, independentemente até de que os que as padecem lhes tenham dado causa. Não importa, um aluno não pode agredir a um professor, ou um filho a um pai, ou um católico a um bispo — pouco importando aqui se se trata de um mau bispo, um mau pai ou um mau professor. Dizê-lo não é, absolutamente, sinônimo de defender a maldade dos maus: ao contrário, quem defende a maldade é justamente aquele que admite que ela seja empregada contra os que praticam o mal.

Há muito o que se censurar na sra. Marcia, mas isso não exime ninguém de censurar também a violência sofrida por ela. A injustiça praticada contra os injustos é injustiça do mesmo jeito, e merece contenda e combate, repúdio, rechaço e rejeição. Nem mesmo os maus professores podem ser fisicamente agredidos pelos alunos: e se não percebemos isso com a clareza de uma evidência, então talvez estejamos precisando depôr um pouco as armas e pensar com serenidade pelo que é que nós estamos lutando.

Os fins não justificam os meios e, nesta seara, aceitar combater sob as mesmas regras do inimigo é já ser derrotado por ele.

Escola sem Partido: méritos e riscos

A proposta do “Escola sem Partido” está dando o que falar, principalmente por conta de uma consulta pública no site do Senado que vem provocando uma verdadeira guerra virtual nos últimos dias — com a vitória pendendo ora para um lado, ora para o outro. Muita gente me havia pedido para escrever sobre o assunto, e eu estava reticente. Talvez a própria escrita deste texto esclareça as razões da minha resistência original.

Antes de qualquer outra coisa, cabe deixar claro que não se trata de um tema propriamente católico; quero dizer, não se trata de um tema sobre o qual seja possível apresentar uma “resposta católica” universalmente aceita. Conheço gente que está muito entusiasmada com o projeto; conheço, igualmente, gente que tem ressalvas contra ele. Com isso não quero dizer que o problema seja de tal natureza que mereça a indiferença dos católicos; é claro que não. Apenas a solução apresentada não é a única aceitável. A um mesmo problema se pode quase sempre apresentar soluções distintas: por exemplo, a morte de mulheres em decorrência da prática do aborto é sem dúvidas um problema. Isto reconhecem, facilmente, os católicos e as feministas. Já as soluções apresentadas por um grupo e pelo outro são em tudo distintas: os primeiros querem evitar todas as mortes evitando o próprio aborto, e as últimas querem evitar as mortes das mães mediante o asséptico, legal e profissionalizado assassinato dos filhos.

Escola_sem_partido

Aqui a situação é diferente. O problemaa existência de doutrinação nas escolas — é no geral incontestável, ao menos entre os católicos; os inimigos da proposta, por sua vez, debatem-se entre afirmar que não há doutrinação e reclamar o próprio direito de doutrinar em paz. Não nos ocupemos tanto com estes últimos. Procuremos entender o porquê de haver discórdias entre nós.

Os católicos temos uma diferença radical para com os incrédulos do século moderno: nós acreditamos firmemente na existência de uma verdade, com relação à qual os homens têm um dever moral de reconhecimento. Isto significa que não nos é permitido ficar inertes diante das mentiras que contam nas nossas escolas — das quais a comparação entre um santo católico e um assassino comunista é apenas o absurdo mais patente. Teríamos este dever, aliás, ainda que as escolas não tivessem nada a ver conosco; sendo compulsórias para os nossos filhos como o são, no entanto, este dever se nos reveste de maior premência. Trata-se de um problema da mais alta gravidade, cujo reconhecimento é necessário ainda que se possa licitamente divergir quanto aos meios de o enfrentar.

A questão é que, havendo este problema, há (pelo menos) três coisas diferentes em jogo.

a inspiração original do Escola sem Partido, que pode ser resumida na seguinte proposta:

Nada mais simples: basta informar e educar os alunos sobre o direito que eles têm de não ser doutrinados por seus professores; basta informar e educar os professores sobre os limites éticos e jurídicos da sua liberdade de ensinar.

Há modelos de projeto de lei do mesmo Escola sem Partido, dos quais o Federal contém coisas como a que segue:

Art. 8º. O ministério e as secretarias de educação contarão com um canal de comunicação destinado ao recebimento de reclamações relacionadas ao descumprimento desta Lei, assegurado o anonimato.

Parágrafo único. As reclamações referidas no caput deste artigo deverão ser encaminhadas ao órgão do Ministério Público incumbido da defesa dos interesses da criança e do adolescente, sob pena de responsabilidade.

E há o projeto de lei efetivamente em tramitação no Congresso, que é praticamente igual ao modelo acima apresentado, com talvez uma única diferença — um dispositivo que proíbe “a veiculação de conteúdos ou a realização de atividades que possam estar em conflito com as convicções religiosas ou morais dos pais ou responsáveis pelos estudantes” –, sobre a qual o próprio idealizador do movimento já se manifestou de maneira contrária.

A grande questão é que da inspiração primeira ao que é possível fazer vai uma distância muito longa, por vezes maior do que aceitável pelos partidários da insatisfação original. Que há um problema de doutrinação nas nossas escolas, há; mas como combatê-lo eficazmente? Uma lei não funciona somente para o que ela “foi pensada” para fazer; mormente no caos jurídico contemporâneo, uma lei tem vida própria e os seus efeitos podem se espraiar por situações muito distantes das que os seus idealizadores originalmente imaginaram. O PL 867/2015, por exemplo, diz um dos princípios aos quais atenderá a educação nacional é o “pluralismo de ideias no ambiente acadêmico”.

A justificativa do projeto e o histórico da educação brasileira nos dizem que, com isso, pretende-se limitar o discurso hegemônico da esquerda; mas não é difícil imaginar uma situação na qual professores decentes passem a ser perseguidos com base nesta lei. Afinal de contas, se é para haver “pluralismo de idéias”, então um professor que diga que os homens e as mulheres são naturalmente diferentes entre si precisa, também, contrabalancear esta afirmação dizendo igualmente — e de forma neutra, isenta — que há quem diga que ser homem ou ser mulher é meramente uma construção social, e que qualquer das duas teorias é em princípio aceitável. Do mesmo modo, uma professora de biologia que diga que a vida do indivíduo humano se inicia com a concepção deverá, de maneira equilibrada e imparcial, afirmar que há também quem diga que ela só inicia em outro momento — com a nidação, a formação do sistema nervoso central ou sabe-se lá o quê, e antes disso o embrião ou o feto humano não passa de um punhado de células com as quais é possível fazer qualquer coisa. Em suma: a lei, que objetiva dar espaço à verdade no meio de um oceano de mentiras, pode muito facilmente ser usada para exigir que a mentira seja introduzida naqueles (já escassos!) espaços onde a verdade é privilegiada.

Não vou me alongar muito. Não sei exatamente o que pensar sobre o projeto; por um lado intuo que a gritaria das esquerdas é sinal de que o Nagib acertou no ponto correto e, ao mesmo tempo, não quero simplesmente fazer “fogo amigo” contra pessoas que têm uma visão de mundo correta, sadia e necessária. Por outro lado, compreendo as ressalvas que outras pessoas — também católicas, também sérias, também preocupadas com os rumos da sociedade — fazem a respeito do projeto, e até faço minhas algumas delas. Arrisco-me a dizer somente duas coisas.

Uma: que o efeito simbólico do projeto de lei pode ser salutar. O próprio Miguel Nagib já disse que, no seu projeto, “o que interessa é o cartaz com os deveres do professor”. Talvez fosse interessante, então, remover os elementos burocráticos que podem dar azo a perseguições políticas e insistir somente no constrangimento que o cartaz onipresente pode provocar em educadores picaretas. A lei assim não haveria de ensejar punições administrativas; mas teria um efeito retórico que talvez não seja de se negligenciar.

Duas: que o mais importante em matéria de educação é firmar independência frente ao Estado, e não chamá-lo para tutelar os interesses legítimos da sociedade! O importante é que os pais eduquem os filhos — e exijam que eles sejam bem educados se, por acaso, precisarem terceirizar este seu dever. O importante é garantir o direito de ensinar o que é correto, e não demandar que o Estado exija quotas iguais para a verdade e para a mentira a todos os que exercem o múnus da docência. Não é suficiente fazer concessões para limitar o avanço do mal; é preciso, corajosamente e com uma santa altivez, fazer o bem. De peito aberto, de fronte erguida, sem a ninguém dever nada.

Cuba e os deveres para com a pátria

“O Estado controla tudo” e “a única esperança de vida para as pessoas é fugir da ilha”, explicou o núncio Musarò, descrevendo a situação de degradação, penúria e opressão dos cubanos. E concluiu dizendo que, inexplicavelmente, “até hoje, transcorrido mais de meio século, continua-se falando da Revolução e se louva-a, enquanto as pessoas não têm trabalho e não sabem como fazer para dar de comer a seus próprios filhos”.

Recebi por email a notícia sobre o núncio e a manchete jornalística. O artigo italiano original está aqui. Não faltou quem dissesse que o prelado devia ser expulso do paraíso caribenho. O fato pode ser novo, mas o drama é antigo; não nos surpreende mas, contudo, ainda nos choca e incomoda.

Lembro-me de um fato curioso da minha adolescência. Eu devia ter lá os meus dezesseis anos; conversava com alguns amigos sobre Cuba, e o assunto versava sobre os cubanos que se lançavam, mar afora, em fuga desesperada da ilha de Castro – sim, já naquela época os cubanos fugiam de Cuba. Um amigo defendeu que, de fato, Cuba não devia permitir que os seus cidadãos abandonassem o país. A justificativa: o governo cubano investia pesadamente na formação dos cubanos, suprindo-lhes as necessidades e (principalmente) dando-lhes educação de qualidade, e simplesmente não era justo que, depois de quinze ou vinte anos recebendo tudo do Estado, os cubanos dessem-lhe as costas e fossem embora, privando-o do retorno que ele esperava e merecia receber.

Não vou entrar no mérito das necessidades supridas ou da qualidade da educação cubana. Vou assumir, para argumentar, que lá na Ilha todos vivam no mais perfeito conforto material e, além disso, recebam, efetivamente, uma educação de ponta. Isso posto, a justificativa procede? Veja-se bem, o dinheiro do Estado é dinheiro público. Teoricamente, foi todo o povo cubano que sacrificou uma parte das suas economias para que um indivíduo recebesse a mais elevada formação científica. Não existe nenhuma dívida desse sujeito para com o povo que o financiou ao longo de sua vida inteira? É correto você tornar-se um profissional altamente qualificado às custas de seus conterrâneos e, depois, deixá-los à própria sorte? Não é justo que as pessoas recebam os benefícios do profissional por cuja formação pagaram?

Não lembro que objeção levantei à época, ou mesmo se levantei alguma. Se a conversa fosse hoje, no entanto, eu perguntaria ao meu amigo se ele estaria disposto a aplicar o mesmo raciocínio para o caso – banal e prosaico – da formação profissional do sujeito ter sido paga não pelo Estado, mas por papai e mamãe. Não têm direito os pais de se beneficiarem, de algum modo, do sucesso dos seus filhos, cuja possibilidade foi por eles proporcionada? Ou quando o Estado exige algo para si é um férreo dever de justiça, mas quando são os pais a reclamarem um quinhão dos haveres dos seus filhos, aí então passa a ser uma opressão medieval do patriarcado que se deve combater a todo custo, uma anacrônica ingerência na livre-determinação dos indivíduos que não pode mais encontrar lugar no nosso século XXI? Alguém seria capaz de defender que um pai proibisse seu filho de deixar a sua cidade natal? Por que, então, há quem defenda com tanto ardor que um país proíba os seus cidadãos de emigrarem?

Reconheço, em suma, certo fundamento no arrazoado; mas não ao ponto de justificar as violações ao direito de ir e vir que as autoridades cubanas praticam há décadas – violações de que desde a minha adolescência, a propósito, eu ouço falar. Sim, há deveres do homem para com a sua pátria; mas não um dever tal cujo cumprimento exija o sacrifício das liberdades individuais mais básicas. A pátria não se confunde com a configuração política da ocasião; patriotismo não é subserviência ao Estado.

É por motivos como esse, aliás, que não vejo com bons olhos que o Estado tome para si, de ordinário, a responsabilidade (quase) integral pelo sustento e formação dos cidadãos: a quem não foi financiado pela ditadura Castro, esta não pode – nem com aparência de propriedade! – exigir os sacrifícios que impõe aos que, de outra sorte, lhe devem algo. O mesmo raciocínio se aplica, guardadas as devidas proporções, para qualquer estrutura política cuja hipertrofia enseje certa desconfiança: que cada um tome cuidado para não depender em excesso dos poderosos do mundo! Mais sábio é, para usar os versos do Rostand, ser responsável por si próprio a ponto de «se acaso a glória entrar pela janela, / a César não dever a mínima parcela».

Papa Francisco: «a melhor herança que possamos dar a alguém: a fé!»

[A] catequese constitui uma coluna para a educação da fé, e são precisos bons catequistas! Obrigado por este serviço à Igreja e na Igreja. Embora possa às vezes ser difícil – trabalha-se tanto, empenha-se e não se vêem os resultados desejados –, mas educar na fé é maravilhoso! É talvez a melhor herança que possamos dar a alguém: a fé! Educar na fé, para que essa pessoa cresça.

[…]

Quando pensamos que temos de ir para longe, para uma periferia extrema, talvez nos assalte um pouco de medo; mas, na realidade, Ele já está lá: Jesus espera-nos no coração daquele irmão, na sua carne ferida, na sua vida oprimida, na sua alma sem fé. Vós sabeis uma das periferias que me faz tão mal, tão mal que me faz doer (senti-o na diocese que tinha antes)? É a das crianças que não sabem fazer o Sinal da Cruz. Em Buenos Aires, há muitas crianças que não sabem fazer o Sinal da Cruz. Esta é uma periferia! É preciso ir lá! E Jesus está lá, espera por ti para ajudares aquela criança a fazer o Sinal da Cruz. Ele sempre nos precede.

– Papa Francisco
Discurso aos catequistas
27 de setembro de 2013

Miscelânea: iPS, Igreja e homossexualismo, soberania pontifícia

– Japão aprova 1º teste do mundo com células iPS humanas. «O comitê deu o sinal verde para a solicitação apresentada conjuntamente pelo Instituto RIKEN de pesquisa e a Fundação para a Pesquisa Biomédica para estudar a possibilidade de regenerar a retina humana mediante o uso dessas células, que têm a capacidade de se transformar em qualquer tipo de tecido». Enquanto isso, por anos a fio nós sacrificamos embriões humanos a troco de nada; por anos a fio, aqui a ideologia abortista prevaleceu sobre o bom senso científico.

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– Cardeal Burke: “A Igreja Católica jamais aprovará as uniões homossexuais”. Leiam na íntegra. Destaco: «É preciso que os pais procurem manter seus filhos longe de tudo isso e explicar-lhes o que é bem e o que é mal. A escola é também um lugar no qual importa investir. É necessário principalmente que o ensino católico seja ainda mais católico do que o é atualmente».

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– Papa é o Chefe inconteste e universal. «Papa Francisco faltou a um compromisso agendado, alegando compromissos mais prementes. […] O fato é que o Santo Padre se pôs num lugar bem mais elevado, agiu como um Soberano que decide por si mesmo o que, quando e como fazer. Um Papa-Rei que estabelece sua própria agenda, prioridades, desconsiderando certas exigências que lhe parecem comezinhas».

«Os filhos passam a ser considerados ou como uma “ameaça” ou como um “direito”, não mais como um dom»

Interessante e muito oportuno este artigo do pe. Anderson Alves sobre filhos e sua educação. Destaco apenas um trecho, que ilustra bem a suprema incoerência dos “valores” atualmente pregados, que se nos apresentam “evoluídos” (isto quando não se pretendem auto-evidentes!) e com base nos quais querem que a sociedade seja regida:

S. Freud, na sua época, sonhava o dia em que fosse separada a geração dos filhos da estrutura familiar, algo que a partir de 68 vem se tornando frequente. Desde então, procura-se incutir nos jovens a idéia de que os filhos são um obstáculo, algo que tolhe a liberdade, a autonomia e que impede a realização pessoal. Os filhos passam a ser considerados como uma ameaça e a gravidez como uma espécie de doença, que deve ser evitada a todo custo. E às pessoas que não são tão jovens, transmete-se a ideia de que os filhos são um “direito”. Desse modo, os filhos passam a ser considerados ou como uma “ameaça” ou como um “direito”, não mais como um dom.

Parece bastante óbvio que a desagregação das famílias vai se seguir ao império de valores tão criminosamente relativistas (e errados tanto num extremo quanto no outro). E é ao inexorável desenrolar deste processo que nós estamos assistindo atônitos, muitas vezes até nos perguntando onde foi que erramos. Como costuma acontecer, os erros são de base: corrigi-los sempre dá muito trabalho, mas precisa ser feito, quando menos por uma questão de sobrevivência, porque uma sociedade não pode subsistir se é solapada em suas bases mais fundamentais.

Os frutos podres da pedagogia de Paulo Freire

Todos conhecem os vergonhosos índices que a Educação Brasileira vem repetindo, ano após ano, com constância e regularidade perturbadoras (o relatório trianual do PISA ainda não divulgou os dados de 2012, mas nada indica que teremos uma melhora significativa neste ranking). A percepção generalizada (facilmente alcançável por meio dos assustadores índices de analfabetismo funcional mesmo dos nossos estudantes com nível superior, ou das políticas do Governo Federal de reduzir as taxas de reprovação escolar dos níveis básicos através da simples aprovação indiscriminada de todos os alunos, entre outros exemplos) de que existe algo de muito errado com o sistema educacional brasileiro reveste-se de cores muito vivas para que se possa simplesmente ignorá-la. O que talvez não esteja ainda muito claro para todos é que estes frutos podres que o Brasil vem amargamente colhendo nos últimos anos são decorrência direta de uma concepção pedagógica deturpada e assustadoramente deficiente que, não obstante, tem sido alegre e hegemonicamente adotada por nossos educadores nas últimas décadas.

O artigo desta quinta-feira do Carlos Ramalhete fala sobre o nosso Patrono da Educação, Paulo Freire, de quem ser conterrâneo não me causa orgulho. As contundentes e verdadeiras palavras do articulista da Gazeta do Povo merecem ser lidas e meditadas: para que nós comecemos ao menos a reconhecer os erros passados, a fim de iniciarmos com eficácia o seu (lento e necessário) processo de correção.

Só o que fez este triste patrono foi descobrir que o aluno é um público cativo para a doutrinação marxista. A educação deixa de ser uma abertura para o mundo, uma chance de tomar posse de nossa herança cultural, e passa a ser apenas a isca com a qual se há de fisgar mais um inocente útil para destruir a herança que não conhece.

As matérias pedagógicas da licenciatura resumem-se hoje à repetição incessante, em palavras levemente diferentes, das mesmas inanidades iconoclastas. Os cursos da área de Humanas, com raras exceções, são mais do mesmo, sem outra preocupação que não acusar aquilo que não se dá ao aluno a chance de conhecer. O que seria direito dele receber como herança.

Os comentários sobre este assunto, como de costume, podem ser enviados à Gazeta do Povo. E, ainda, sob uma ótica mais especificamente católica, vale ler o sempre oportuno Dom Estêvão falando sobre o método Paulo Freire de alfabetização, de quem destaco:

Não há dúvida de que todo mestre há de ser aberto à aprendizagem de novas e novas verdades, como também à reformulação de seus conceitos; o progresso no saber é-lhe muitas vezes ocasionado pelo convívio com os próprios alunos.

Isto, porém, não quer dizer que o professor se deva julgar tão educando quanto o próprio discípulo.  Um tal esvaziamento do conceito de mestre vem a ser nocivo aos alunos, pois estes precisam de sentir firmeza e segurança no seu orientador.  A profissão da verdade deve ser efetuada com desassombro e sem subterfúgio, mas também com humildade.  Pelo fato de ter descoberto a verdade sobre tal ou tal assunto, o mestre é devedor em relação aos seus alunos, e deve pagar-lhes a dívida, comunicando e demonstrando a verdade; proponha os pontos certos e indubitáveis como certos, e os pontos ainda discutíveis como discutíveis.  Esta oferta da verdade, longe de ser desrespeito ao próximo, é precioso serviço prestado ao mesmo.

Por isto também não se pode aceitar a frase: “Ninguém educa ninguém” (Pedagogia do Oprimido, p. 79).  Na verdade, os homens são dependentes uns dos outros para eduzir (educere > educar) as virtualidades latentes no seu íntimo.  Em geral, são os pais, no lar, e os mestres, na escola, que educam os mais jovens; afirmar isto não significa “estar a serviço de algum sistema político opressor”.  O desempenho da autoridade não é algo de vergonhoso que se deva banir, mas, ao contrário, é um serviço que não se pode extinguir e que faz eco às palavras de Cristo: “O Filho do Homem veio não para ser servido, mas para servir” (Mc 10,45).

A semeadura já dura décadas, a colheita já foi realizada por diversas vezes, e a péssima qualidade destas safras já se nos revela mais do que evidente. O Brasil merece mais que isso. Já passou da hora de lançarmos fora estas sementes de joio e passarmos a investir em uma educação verdadeiramente de qualidade: uma educação que possa promover um desenvolvimento integral e (este sim!) verdadeiramente libertador do ser humano, ao invés de transformá-lo em marionete de um processo revolucionário cuja existência ele não é sequer capaz de perceber.

Mais sobre a pornografia infantil estatal

O Carlos me enviou – obrigado mais uma vez, caríssimo! – um vídeo do youtube contendo o livro pornográfico de deseducação sexual infantil que está sendo imposto a crianças a partir de 7 anos, (pelo menos) aqui em Recife, contra a vontade expressa dos seus pais e responsáveis. Vou poupar os leitores da transcrição de algumas passagens. O vídeo segue abaixo, para quem tiver estômago:

E reproduzo o comentário que constava no email por mim recebido, para deixar claro sobre qual problema estamos falando e evitar que o assunto seja novamente desviado:

Pais e mães não são obrigados a aceitar que agentes do Estado venham dizer a seus filhos o que é “a verdade” em matéria de moral. A Convenção Americana de Direitos Humanos — que, no Brasil, tem hierarquia superior à própria lei ordinária — prevê expressamente que “Os pais têm direito a que seus filhos recebam a educação religiosa e moral que esteja de acordo com suas próprias convicções.”

O Estado brasileiro, em qualquer de suas esferas, não pode impedir ou inviabilizar o exercício desse direito.

Um novo santo para os nossos tempos?

[Publico tradução livre de email que recebi  da The Cardinal Newman Society. O email original foi republicado, entre outros, por este blog. É uma excelente notícia! A Buhardilla de Jerónimo também noticiou.]

Um novo santo para os nossos tempos?

É oficial! Em uma atitude extraordinária, o Papa Bento XVI vai pessoalmente betificar o Cardeal John Henry Neman, em setembro próximo, na Inglaterra.

Isso coloca o Cardeal Newman a um passo da canonização!

Isto é imensamente importante para qualquer um que esteja preocupado com a situação da cultura e da Igreja Católica na América. O Cardeal Newman seria um santo perfeito para os nossos tempos.

Ele pode ser um poderoso patrono para a renovação da identidade católica na educação católica… para a adoção [embrace] da autêntica teologia católica… e para a emocionante reunificação com os cristãos anglicanos.

Em oração, Deus nos permite cooperar com os Seus planos para a Igreja e para o mundo. Por este motivo, é muito importante que você se junte a nós em nossa Campanha de Oração pela canonização do Cardeal Newman! Você poderia, por favor, parar por um minuto e fazer duas coisas simples?

1) Rezar a “Oração pela canonização” abaixo [N.T.: Traduzi também a referida oração, apenas para fins de facilitar a compreensão. Lembrando que a minha tradução, obviamente, não tem aprovação eclesiástica; quem puder rezá-la no original, recomendo que o faça].

2) Encaminhar esta mensagem para amigos, que irão ajudar a fazer o céu tremer com suas orações [help storm Heaven with prayer].

[Pai Eterno, Vós levastes JOHN HENRY NEMAN a seguir a bondosa luz da Verdade, e ele obedientemente respondeu ao Vosso celestial chamado a todo custo. Como escritor, pregador, conselheiro e educador, como pastor, Oratoriano e servo dos pobres, ele trabalhou na construção do Vosso Reino.

Concedei que, através do Vosso Vigário na terra, nós possamos ouvir as palavras “Muito bem, servo bom e fiel, entrai na companhia dos santos canonizados”.

Que Vós possais manifestar o poder da intercessão do Vosso servo, por meio de extraordinárias respostas às orações dos fiéis em todo o mundo. Nós rezamos particularmente por nossas intenções, em seu nome e no nome de Jesus Cristo, Vosso Filho e Senhor Nosso.

Amen.]

A Sociedade Cardeal Newman (The Cardinal Newman Society (CNS)) é a patrocinadora do Projeto Legado Newman (Newman Legacy Project), um esforço para preservar e promover o pensamento e a influência do Cardeal Newman, especialmente no que se refere à educação católica.

Este trabalho é feito em parceria com o Oratório de Birmingham, Inglaterra, uma pequena comunidade de padres católicos que foi o lar de Newman depois da sua conversão da Igreja Anglicana e até sua morte em 1890.

O Reverendo Richard Duffield, reitor do Oratório, é o postulador [actor] da Causa de Canonização de Newman. Ele também atua como o John Henry Cardinal Newman Distinguished Fellow, do Centro para o Avanço da Educação Superior Católica [The Center for the Advancement of Catholic Higher Education], uma divisão da CNS.

A Sociedade Cardeal Newman e o Oratório de Birmingham estão promovendo juntos uma peregrinação para a sua beatificação, em setembro, a única peregrinação “oficial” dos Estados Unidos que é endossada pelo Oratório.

Para mais informações sobre esta e outras atividades relacionadas ao Cardeal Newman, acesse www.CardinalNewmanSociety.org.

P.S.: Você poderia, por favor, contribuir para ajudar esta Campanha de Oração e todos os trabalhos da The Cardinal Newman Society para renovar e fortalecer a educação superior católica? Por favor clique aqui. Que Deus o abençoe!

Com atraso, mas registrando

Reinaldo I. “E, se estamos falando de escravidão, não podemos deixar de mencionar os dois movimentos totalitários que a recriaram em partes do mundo que já haviam se livrado dessa instituição: o nazismo e o comunismo. Ambos escravizaram parcelas imensas das populações sobre as quais reinaram ou, em alguns casos, ainda reinam, como na Coréia do Norte e Cuba, país caribenho cuja população pertence ao estado ditatorial marxista e à família de capitães-de-mato que o chefia. É curioso, portanto, ver aqueles que ou fazem a apologia ou simplesmente fecham os olhos à escravização de toda a população cubana culparem pessoas inocentes pela escravização de gente morta há mais de um século”.

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Reinaldo II. “Imaginem Lula como o presidente do Brasil nas décadas de 30 e 40 do século passado. Quando lhe dissessem que na Alemanha — e, depois, nos países ocupados — judeus eram presos, confinados em guetos, assassinados, o valente diria: ‘Temos de respeitar a determinação da Justiça e do governo da Alemanha de prender as pessoas em função da legislação da Alemanha, como quero que respeitem a do Brasil’. Getúlio, outro grande herói das nossas desditas, chegou bem perto disso, é verdade”.

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Escola católica de Denver não permite rematrícula de filhas de casal lésbico e arquidiocese apoia. “A organização de gays e lésbicas católicos dos Estados Unidos DignityUsa afirma que a Arquidiocese de Denver agiu de maneira injusta”. No Fr. Z: aux armes! Votem aqui.

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Pe. Edson e a liberdade de expressão. “Se todos têm direito de defender suas convicções, por que criticar de forma tão insistente á Igreja Católica? Não teria ela também liberdade de opinião? Não poderia ela também expressar-se livremente sobre suas convicções, baseadas na Lei Natural e no Evangelho? Não estaríamos vivendo uma eclesiofobia? Bom pensar nisso”.

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O sal em New York e a síndrome de Paulo Cintura em sua evolução natural. “Ortiz argumenta que banir o sal do preparo dos alimentos em restaurantes vai permitir que os consumidores controlem a quantidade de sódio que estão ingerindo e ainda incentivaria a opçãoschö por um estilo de vida mais saudável. O sódio está ligado ao aumento da pressão arterial e dos riscos de males do coração”.

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Schönborn e o celibato sacerdotal. “El cardenal Christoph Schönborn, arzobispo de Viena, considera que el celibato de los sacerdotes, particularidad de la Iglesia católica, explica en parte los actos de pedofilia cometidos por religiosos, en una publicación de su diócesis este miércoles”. Haja paciência.

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Um médico e o celibato sacerdotal. “Penso que é preciso prestar mais atenção ao imenso número de sacerdotes fiéis à sua vocação. A exceção também se dá na vida sacerdotal, mas é exceção. Ainda que no jornalismo seja muito correto focar a exceção, não podemos ser cegos aos muitíssimos sacerdotes que são leais, que vivem sua vocação plenamente, que são felizes e aos quais o mundo deve sua felicidade. Isso é que precisa ser enfatizado”.

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CNBB prepara documento sobre Reforma do Estado – em plena Quaresma! Senhor, misericórdia. “A reunião do Conselho Permanente da CNBB prossegue até quinta-feira [ontem]. Um dos principais pontos da pauta é a elaboração de um documento sobre a Reforma do Estado que os bispos devem aprovar até o final da reunião”.

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CNBB defende cotas para negros nas universidades. E outras aberrações: “Os bispos aprovaram documento oficial no qual apontam quais são os cinco principais desafios da Pastoral Afro-Brasileira. A CNBB também deu aval para que padres negros adotem, nas celebrações de missas, métodos e culturas utilizadas tradicionalmente por comunidades afro-brasileiras”. Cadê este documento?

A reunião do Conselho Permanente da CNBB prossegue até quinta-feira. Um dos principais pontos da pauta é a elaboração de um documento sobre a Reforma do Estado que os bispos devem aprovar até o final da reunião. Na conclusão, a presidência da CNBB concederá uma coletiva de imprensa. (BF-CNBB)